Salve, Buteco Superbicampeão! A Supercopa do Brasil/2021 desenhou-se antes da bola rolar como um duelo de estilos entre a busca de controle de jogo com posse de bola pelo Flamengo de Rogério Ceni contra o jogo vertical e de contra-ataques do Palmeiras de Abel Ferreira. O anúncio das escalações praticamente confirmou o que se veria em campo, com a entrada de Wesley no lugar de Willian "Bigode", formando um trio de atacantes velocistas com Rony e Breno Lopes. Contudo, logo no início da partida o português mostrou suas garras "lendo" perfeitamente a fragilidade do sistema defensivo do Flamengo e surpreendendo com uma efetiva marcação alta que garantiu o golaço de Raphael Veiga, após um drible de cinema sobre o improvisado Willian Arão.
O Flamengo demorou para entrar no jogo, mas conseguiu apresentar um pouco do futebol envolvente que havia exibido contra adversários mais fracos no Campeonato Estadual, virando o placar. Digo um pouco porque, apesar do número de chances criadas, aconteceu somente a partir dos 17 minutos, com o arremate de longa distância de Bruno Henrique, e mesmo assim não se tratou de um domínio absoluto, pois o Palmeiras continuou a incomodar a nossa defesa e a criar chances concretas de gol, como o lance em que Diego salvou quase em cima da linha (28 minutos), além das defesas de Diego Alves.
Quando Arrascaeta virou o jogo com um golaço aos 48 minutos, o Flamengo desceu para o vestiário mais aliviado por tomar a frente do placar de um jogo em que, apesar das chances criadas de lado a lado, foi mais controlado taticamente do que controlou.
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A titularidade de Diego Ribas é um dos pontos de maior controvérsia entre os torcedores do Flamengo. Abro um parênteses para tocar nesse assunto, antes de falar sobre o segundo tempo da partida, por achar importante distinguir o que me parece ser um erro conceitual de algumas situações práticas que não podem ser a ele atribuídas, por não terem sido por ele causadas.
Cito o primeiro dos oito gols marcados por Diego Ribas pela Juventus, compilados neste vídeo do YouTube, para servir de exemplo do estilo que marcou o seu jogo na maior parte da carreira e também o seu início no Flamengo. Atribuo à chegada de Diego, muito mais do que a de Paolo Guerrero, à subida de patamar do Flamengo a partir de 2016, não ainda o patamar alcançado em 2019, mas o de "time de G4" ou que chega às finais das copas, do qual nunca mais desceu desde então. Foi, portanto, o passo decisivo, seguido por muitos outros e até mais importantes. Estou longe de ser um "hater" e reconheço a importância de sua passagem (ainda não concluída) pelo clube.
O golaço pela Juventus define o estilo "carregador de bola" de Diego, que sempre foi muito mais um jogador de conduzi-la até as proximidades do espaço vazio do que um meia armador de passes mais longos e desenhados. Ocorre que, na minha opinião, depois da contusão de 2017, sofrida durante a vitória sobre o Athletico/PR na Libertadores, e que acabou sendo uma das causas determinantes da eliminação no Gasómetro, Diego perdeu o dinamismo e nunca mais foi o mesmo, pouco conseguindo ser efetivo jogando como meia mais à frente, encostando nos atacantes. Um dos poucos jogos em que acho que isso ocorreu foi o dos 2x0 sobre o São Paulo, justamente a nossa última vitória sobre o Tricolor do Morumbi, ainda no já distante ano de 2017.
O recuo de Diego Ribas não é novidade no Flamengo. Aconteceu também com Renato Abreu em 2011. Meias que já não conseguem ser efetivos no último terço do campo (nunca foi o forte do Renato), quando recuados para a "volância" (funções táticas mais defensivas), geralmente agregam muita qualidade à construção das jogadas, porém esse recuo exige uma solução tática para a perda de combatividade. Naquele time de 2011, a solução era a escalação de ao menos um "volante de contenção", como Aírton, Maldonado ou Willians.
Já o recuo de Willian Arão para zaga e a escalação de Diego como "primeiro volante" (meia de funções táticas mais defensivas), como em um "segundo recuo" do meia, foi uma boa sacada de Rogério Ceni, porém não chega sequer a ser 100% original, já que não deixa de ser um avanço da ideia concebida por Maurício Barbieri ainda em 2018, como prova o segundo tempo histórico do time na Arena do Grêmio (1x1), com o gol de empate marcado no finalzinho da partida por Lincoln. A questão é que, como bem definiu o meu amigo Adriano Melo (@Adrianomelo72) em um grupo de WhatsApp que integramos, Rogério Ceni "sentou em cima dessa grande sacada", transformando-a imprudentemente em "plano A" para a temporada/2021 do Flamengo.
O que poderia ser uma interessante ferramenta alternativa para determinadas situações de jogo foi imprudentemente convertida em estratégia principal. Imprudente porque, além da perda de combatividade, a "Fórmula Ceni" eleva perigosamente a média de idade do time titular, que já conta com vários veteranos, como Diego Alves, Isla e Filipe Luís, além de ao menos um jogador que vem apresentando problemas físicos, caso de Rodrigo Caio, e de outros que não têm na parte atlética um dos seus principais predicados, casos de Everton Ribeiro e De Arrascaeta.
Eis aqui o erro conceitual ao qual me referi: Ceni gosta e busca o controle de jogo pela posse de bola e marcação com linhas altas, filosofia que exige forma física apurada e muita intensidade nas ações, inclusive de recomposição; contudo, sua "fórmula ideal" para atingir esse objetivo é executada por jogadores veteranos que não conseguem manter esse padrão por muito tempo. E como não bastasse, tudo isso é executado por uma primeira linha "cambaleante", com Willian Arão improvisado, deslocando Rodrigo Caio para a quarta-zaga, e um Isla titubeante na marcação.
O time ideal de Ceni tem qualidades, como a construção de jogadas a partir do bom passe de Willian Arão na zaga e de Diego recuado, porém, em contrapartida, possui curto prazo de validade durante os noventa minutos de jogo contra adversários mais fortes.
Fecho aqui os longos parênteses.
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O mais bacana de se discutir futebol é constatar como a prática derruba ou relativiza conceitos e teorias. Vejam bem, acabei de apontar o que para mim é um erro conceitual do Ceni no seu time ideal (recuos de Willian Arão e Diego), porém os problemas que em tese esse erro pode causar não foram por ele provocados no fraco segundo tempo do Flamengo na partida de notem. Prova disso foi a piora do time com a saída de Diego Ribas. É aqui que, por uma questão de justiça, preciso mencionar as fraquíssimas atuações de Gérson e Everton Ribeiro e até perguntar se era mesmo o Diego que tinha que ter sido substituído.
O maior problema de Rogério Ceni no Flamengo vem sendo a leitura de jogo. A substituição de Diego me leva a crer que Ceni tem plena consciência do risco trazido pelo seu conceito, porém continua a se enrolar no momento tomar decisões no calor das partidas. Diego jogava bem melhor do que Gérson e Everton Ribeiro e não era absurdo temer pelo seu desgaste físico em uma partida tão intensa ou "pegada". Contudo, na prática, Abel Ferreira tirou o volante veterano, pesadão, psicopata e amarelado (Filipe Melo) e colocou dois jovens meias que simplesmente engoliram os opacos e desligados Gérson e Everton Ribeiro, que sobrecarregavam Diego e sobrecarregaram João Gomes. Aliás, foi digna de elogios a atuação do jovem Danilo, que veio a perder a cobrança de pênaltis que determinou a virada da disputa e o título.
Ceni, portanto, tirou de campo o seu melhor meia recuado, destaque do SofaScore Brazil (@SofaScoreBR) no primeiro tempo, e deixou os dois inoperantes, enquanto o seu oponente colocou dois jogadores que elevaram a intensidade da sua equipe.
Isso explica por que o segundo tempo foi taticamente do Palmeiras, que envolveu o Flamengo com um jogo um tanto arcaico de cruzamentos para a área, o qual, porém, evidenciou (mais uma vez) a aguda percepção de Abel Ferreira, que explorou inteligentemente a fragilidade do jogo aéreo da nossa primeira linha. Mas como estamos falando de teorias que desabam na prática, foi o Flamengo, nos minutos finais, que criou duas grandes chances, transformando Weverton no principal personagem da partida com a bola rolando.
Se eu tivesse que usar uma metáfora para definir, no plano tático, o confronto entre Ceni e Abel durante os noventa minutos, usaria uma luta de boxe que terminou sem nocaute. Ceni seria aquele lutador que terminou a partida com os dois olhos "fechados" e o rosto inchado, enquanto Abel Ferreira venceria por pontos, porém com contusões mais leves:
Os 90 minutos terminaram deixando mais dúvidas do que respostas à Nação Rubro-Negra.
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A atuação de Diego Alves na disputa por pênaltis pode ser definida como uma das mais maiores já vistas nos gramados brasileiros. A maneira como, no momento mais decisivo da disputa, agigantou-se e demoliu psicologicamente os cobradores do Palmeiras merece ser imortalizada no vasto rol de conquistas rubro-negras.
Diego Alves conseguiu a proeza de superar o excelente Weverton, para mim o melhor goleiro do futebol brasileiro, que não deve nada aos seus compatriotas e companheiros de posição que jogam no futebol europeu, sendo o elemento determinante para a virada a partir de "dois match points" do adversário.
A polêmica em torno de sua renovação de contrato deixou de fazer sentido.
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Abel Ferreira estava bufando de raiva na entrevista coletiva. Mal conseguiu se conter. Não tenho dúvidas de que colocará como meta nesse ano superar o Flamengo de Rogério Ceni nos pelo menos dois confrontos diretos que os times terão pela frente, pelo Campeonato Brasileiro. O próximo, aliás, será disputado na primeira rodada...
Será interessante acompanhar qual o efeito psicológico que a partida de ontem terá nas futuras. Porém, dá pra cravar com certeza de que Flamengo e Palmeiras estão, jogo a jogo, forjando a maior rivalidade interestadual do futebol brasileiro, maior até do que a que existe entre Flamengo e Atlético/MG.
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A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.