segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Primeiros Desafios de 2021


Salve, Buteco! Feliz 2021 a tod@s! Espero que passemos mais um ano juntos dividindo o amor e a paixão pelo Mais Querido do Brasil, com muita saúde, felicidade e harmonia!

2021 chegou sobrecarregado com a obrigação de superar as frustrações do famigerado 2020. No futebol, herdou a inacabada temporada do "Ano da Pandemia", na qual o Mais Querido ainda tem chances concretas de disputar o título brasileiro. Sim, está difícil, eu sei. As últimas atuações do time não convencem. A peneira defensiva continua a preocupar, como mostraram os gols sofridos para o São Paulo e o Bahia, e o time volta e meia esbarra em sistemas defensivos mais fechados. Quase aconteceu com o Botafogo e aconteceu com o Fortaleza. 

Já discutimos as causas internas para esses problemas, que vão desde o desastre logístico e de planejamento na sucessão de Jorge Jesus, a escolha do bitolado Domènec Torrent, vulgo "Tonho da Lua", até mudanças incompreensíveis no Departamento Médico, passando pelas atenções do vice-presidente de futebol com a política partidária. Acredito que com elas coexistam causas externas, de natureza macro, relacionadas com o longo tempo de inatividade durante a paralisação do futebol para a pandemia, que no mundo todo, em geral, não durou menos do que um trimestre. 

É claro que o futebol tem exemplos de atletas que passaram por períodos até maiores do que esse em inatividade, mas desde a década de 70, quando comecei a acompanhar o futebol, não me lembro de um tão longo e no qual tenha ocorrido uma paralisação geral, como a que vivenciamos em 2020. Até então, a tendência mundial era o "futebol-total" e as várias diferentes leituras da Holanda de 1974, a mítica "Laranja Mecânica", estilo de jogo marcado, dentre outras estratégias, pela chamada "marcação alta" ou em linha alta, cuja execução exige preparação física em altíssimo patamar.

Mas como manter a condição física dos elencos nesse nível após tão longo período de inatividade, especialmente com elencos com variados percentuais de jogadores que foram infectados pelo COVID-19? A ressureição de José Mourinho e o seu estilo reativo, de jogar com sistema defensivo plantado em linhas baixas e jogando por uma bola, não me surpreende, assim como, pesando esse fator e os referidos problemas internos, o time do Flamengo ter descido do "Outro Patamar" que o fez multi-campeão entre 2019 e o início de 2020. E como se tudo isso já não fosse suficiente, como todo mundo sabe, mais difícil do que chegar ao topo é nele se manter. Lembrando o que disse o Klopp, todo time vencedor passa por esse desafio, seja porque é exaustivamente estudado pelos adversários, seja porque não é nada simples manter a concentração e o foco. Tudo é causa e tem seu respectivo peso.

Vejo um Rogério Ceni inseguro e dividido entre a preocupação de evitar problemas com o elenco, tais como ocorridos no Cruzeiro em 2019, a necessidade de se provar como treinador brasileiro de uma nova safra, que faria frente aos estrangeiros, e a dificuldade em implantar uma filosofia de jogo no contexto pandêmico atual. Não é que seja de impossível execução, mas exemplos no mundo todo, especialmente na crème de la crème do futebol mundial, a Premier League inglesa, mostram que o abismo que separava os melhores dos medianos e piores não existe mais, dando lugar a uma distância vencível, pois apenas sete pontos (mesma distância entre Flamengo e São Paulo) separam os líderes do 10º colocado. 

Tomando por referência o cenário brasileiro, é como se subitamente houvesse recuperado parte do espaço a filosofia de jogo que teve seu auge em 2017 com aquele Corinthians ultra-reativo e de alta precisão treinado por Fábio Carille, ou as temporadas de 2016 e 2018 com o Palmeiras do "Cucabol" e do Felipão. Claro que o futebol-total ainda é competitivo, como o Atlético/MG de Sampaoli e o São Paulo de Diniz demonstram, mas não predomina como fazia antes da paralisação, fato que o "subitamente reativo" Grêmio de Renato Gaúcho também tratou de demonstrar. Ou seja, o futebol "reativo" não voltou a predominar, mas retomou terreno e voltou a se tornar competitivo.

Desse modo, não é difícil perceber que o novíssimo cenário exige adaptações, o que, percebam, não tem nada a ver com exigir que o time se torne "reativo" e vire um Tottenham do Mourinho ou um Corinthians do Carille. Trata-se, isto sim, de perguntar o que é ideal para o Flamengo: ser um pouco menos futebol total em determinadas partidas (blocos médios, por exemplo) ou variar de esquema tático conforme o adversário? 

Gostaria de saber se os jogadores teriam a humildade de, diante de algum adversário ou contexto, recuar e jogar com menos posse de bola, porém o problema é mais amplo e passa também por identificar as causas do rombudo time do 0x0 contra o Fortaleza, quando o time não encontrou espaços para tabelas pelo meio e nem explorou o jogo da amplitude. Por acaso tem jogador achando ruim jogar aberto pela ponta ou mais recuado? 

Dá perfeitamente pra tentar sufocar com linhas altas um adversário retrancado, desde que as condições físicas permitam e a estratégia seja a que melhor convier para o momento, como também é possível que em outro jogo seja melhor deixar com a bola um adversário mais inteiro fisicamente, obviedade ululante desconsiderada na sequência contra São Paulo e Atlético/MG pelo Brasileiro, que derrubou Domènec Torrent. Da mesma forma, jogar explorando os espaços pelo meio ou a amplitude (e quem a executaria) deveria ser decisão tomada de acordo com as dificuldades impostas ao adversário e não por ideologia do treinador ou preferência desse ou daquele atleta. Daqui de longe, tenho a impressão de que o melhor para o Flamengo foi deixado de lado pelo cabo de guerra entre a franquia ideológica do catalão e seu Mestre e as preferências táticas dos jogadores.

Estaria Ceni se perdendo nesses dilemas, embora sem os atritos com o grupo que marcaram a passagem de Torrent? O desafio do nosso jovem treinador é o de todo aquele que deseja vencer no futebol. Aliás, há quem diga que, nessa profissão, tão ou mais importante do que ter conhecimento e experiência é ser gestor de grupo ou o famoso fazer o elenco "comprar a ideia". A vida não é estática, mas dinâmica. Sobrevive quem consegue se adaptar ao seu constante movimento de renovação, inescapável também ao universo do futebol.

***

A primeira semana do futebol em 2021 será animada pelas semifinais da Libertadores da América. No caso do Mais Querido, enquanto o Fluminense se caracteriza pela irregularidade, o Ceará de Guto Ferreira, o "Gordiola", chama a atenção por seu retrospecto recente como visitante:

1x2 Palmeiras (BR, 3/10), 0x0 Athletico/PR (BR, 8/10), 0x0 Santos (CB, 28/10), 2x2 Fluminense (BR, 17/10), 0x1 Fortaleza (CE, 21/10), 2x2 Botafogo (BR, 31/10), 0x3 Palmeiras (CB, 11/11), 2x4 Grêmio (BR, 14/11), 4x1 Vasco da Gama (BR, 30/11), 2x0 Bahia (BR, 5/12), 2x0 Fortaleza (BR, 20/12) e 1x1 Santos (BR, 27/12)

Percebe-se claramente que o Vovô se enrolou entre os confrontos por duas competições simultâneas, mas no geral, pelo Campeonato Brasileiro, foi um visitante indigesto e impiedoso com quem vivia o mesmo problema que o afligira algumas semanas antes.

O Gustavômetro prevê vitória segura sobre o Fluminense e muitas dificuldades contra o reativo e pragmático Ceará, que, lembrando o alerta deste post, é um dos adversários que pode vir a ser o fiel da balança entre Flamengo e São Paulo nesta reta final de Campeonato Brasileiro. Quebrar a sequência de bons resultados do Vovô como visitante será o maior desafio da semana, superando até mesmo o Fla-Flu.

Concordam ou discordam? A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.