segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Em busca de respostas e ideias para o futuro do futebol do Flamengo


flamengo braz spindel
Bruno Spindel e Marcos Braz em coletiva. Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

Durante esta semana que passou pipocaram notícias sobre insatisfações, grupos paralelos, cobranças (ou falta de), erros de diagnósticos e outras falhas de gestão no Departamento de Futebol do Flamengo. A temporada 2020 parece uma versão mal acabada e rica de 2010, uma “2010_v2”.

É preciso observar e discutir a questão da profissionalização, da estrutura e do funcionamento do DF, inclusive o papel da vice-presidência. Todos esperam por respostas, notícias e informações que podem ser publicadas e de alguma forma divulgadas no site do clube ou que esteja disponível nos conselhos. Questão de transparência.

Pouco se sabe sobre o organograma do clube, a descrição das funções no Departamento de futebol, as atribuições dos funcionários do clube e sobre os próprios profissionais que lá estão.

Algumas destas informações estão praticamente escondidas em UM dos vídeos da FlaTV no YouTube. Por que não publicá-las no site oficial do Flamengo? Não há o desejo de se saber do salário de ninguém, apenas das atribuições e funções (organograma e job discription). A estrutura hoje está indisponível na maior parte das plataformas oficiais de comunicação.

O deslocamento do antigo gerente para um novo cargo, uma gerência de transição (base-profissional) e o coordenador de futebol demitido não reposto servem de exemplo. Aparentemente, o diretor-executivo funciona mais como um trader executando as ordens de um conselho amador, do que como peça responsável pelo todo. São raras as entrevistas como homem forte em derrotas e vitórias, não apenas em contratações de atletas, como o habitual. Seria um diretor-financeiro específico para o futebol ou não?  

A estrutura não se basta. O desempenho é ruim. Insatisfatório pelo investimento empregado. Não houve a reposição posterior de profissionais com a saída de Jorge Jesus (scouters, auxiliares e um psicólogo), assim como em outras especialidades dentro do departamento.

Talvez falte mão de obra qualificada para fazer o departamento andar, a estrutura parece enxuta demais. Há um vazio onde um supervisor é o entremeio sem gerência, nem coordenação no futebol, com o diretor-executivo numa ponta e o treinador na outra. Hoje estão apenas o supervisor e o diretor-executivo, talvez acumulando funções dentro do escopo do DF. As únicas funções não acumuladas são as de Saúde (comandadas por Márcio Tannure) e as de campo, inclusive as de observação e prospecção.

O time parece sofrer no campo com a falta de um gerente ou coordenador técnico, e até de auxiliares administrativos, mesmo com enorme qualidade técnica e diferença para os adversários a diferença não se faz presente por problemas de gestão. Qual seria o diagnóstico dos dias de imersão no Centro de Treinamento experienciado pelo Presidente Landim?

Um olhar atento consegue perceber que dentro do campo despencou o rendimento do elenco nas quatro valências fundamentais de um atleta (física, técnica, tática e psicológica). O time do Flamengo como um todo parece mais frágil, amorfo. O índice de lesões subiu na temporada 2020, o propalado protocolo não funcionou a contento e o clube foi incapaz de oferecer gramados em condições razoáveis para os atletas treinarem e jogarem.

Aliás, quem cuida da questão do gramado no organograma atual? Gramado é investimento, não custo. Pelo bem do espetáculo, pelo bem dos atletas e pelo resultado no campo.  

As cobranças de desempenho no Departamento de Futebol não surtem efeitos positivos neste momento. Temos o time mais técnico do país e o elenco mais variado. Provavelmente existem relatórios e procedimentos documentados que nos ajudarão a retomar o rumo das vitórias e controlar ações e tomadas de decisões ruins, tanto pelo software de gestão SAP (do clube como um todo), quanto por outras ferramentas especificas para a melhor gestão do DF.

Cabe lembrar que a gestão não se faz apenas por “planilhas”, mas por pessoas e a gestão destas pessoas. E uma vez quebrada a confiança de alguma das peças, fica mais difícil recuperar.

Outra preocupação está no processo atual de formação das categorias de base. Foram 15 contratações apenas para o sub-20 no ano passado, o que leva a crer que diminuímos nosso potencial formador. É claro que devemos contratar para preencher lacunas ou buscar grandes oportunidades de mercado, mas 15 contratações? QUINZE? Deixamos de jogar a Copinha de 2020 com direito a WO nos três jogos. Em 2020 não levantamos taças na categoria. 

O sub-20 foi a categoria campeã da Taça Guanabara, Bicampeã do Torneio OPG, Bicampeã Estadual, Campeã Brasileira e Campeã Supercopa do Brasil do ano anterior. No ano mais vitorioso em muitos anos (talvez o maior da História do futebol de base do clube), com 27 títulos no total – apenas o futebol de base em 2019. Preocupa a opção e o investimento em atletas de “meia-fornada” imediatamente às portas da equipe profissional.

É preciso saber sobre as mudanças de metodologia e políticas para a formação de atletas de base, principalmente para as equipes abaixo do sub-14, nosso futuro. Os atletas que iremos formar em todos os aspectos (socioeducacionais e esportivos).  

Chegou a hora das propostas. Dependendo dos cenários que se apresentem no futuro próximo, todas as ideias abaixo parecem plausíveis. A perspectiva traz um pouco de ousadia no olhar para futuro do futebol do clube. A primeira medida (não a mais simples) seria contratar um diretor-esportivo. 

A ideia da busca de um diretor-esportivo passa fundamentalmente em prospectar fora do pais. A estrutura profissional parece falha desde a “cabeça” do departamento, com um “diretor” cuja única função é financeira (aos olhos do grande público).

Obviamente sei que não se resume a isso, mas se observa Bruno Spindel praticamente como um “trader”. Principalmente, quando surge em viagens de negociações e apresentações de contratações de atletas, raramente em crises do departamento para dar explicações.

O diretor-esportivo ficaria abaixo do diretor-executivo no organograma. Hoje o nome mais proeminente do mercado (e disponível) é Luis Campos, que está livre desde sua saída do Lille. Seria ótima uma conversa franca e um projeto de longo prazo (em se tratando de Brasil), um contrato de quatro anos. Ele não deve ficar livre por muito tempo. A hora de uma conversa é agora! Campos deu uma excelente entrevista ao podcast “The Pitch Invaders”, do site Footure.

Caso não aceite trabalho no clube, pediria indicações de profissionais. Sem vergonha nenhuma, com humildade. Sondaria também Ramón Rodríguez Verdejo, o Monchi. Pelas mesmas razões, bases e com as mesmas motivações. Um grande projeto.  

Depois do diretor-esportivo, o ideal é procurar um novo treinador. Ambições maiores. Reafirmo que treinador somente após a contratação do gestor esportivo. Não seria apenas para a temporada de 2021, e sim para um longo prazo, pensando em legado, mas com taças. 

Falando em questões orçamentárias, reduzir a folha salarial do elenco em busca de um projeto esportivo de longo prazo ou a tentativa de um projeto ousado e forte poderá valer a pena. Investir em material humano fora do campo pode ser a receita das taças para o curto, o médio e o longo prazo. Qualidade de treino e gestão. Dois grandes nomes favoritos para uma tentativa dessa magnitude seriam Leonardo Jardim e Marcelo Gallardo. Por nome e pelo resultado. 

Existem outros nomes menos famosos, mas não faria diferença pro entendimento do que se deseja explicar. Quatro anos de contrato em uma tentativa de projeto supra político, acima de qualquer ideologia dentro do clube. Um projeto para o clube, de clube. Projeto de Estado, não de governo. Depois destes passos, é fundamental iniciar o aprofundamento do profissionalismo do departamento, inclusive com medidas estatutárias, de governança, via Conselho Deliberativo.

Contratando e treinando os profissionais lá presentes, principalmente, formando, estruturando e… vencendo!

Sobre o comando da pasta, há confusão sobre atribuições e eficácia na ideia de um Conselho de Futebol. Já existe um Conselho Diretor. Está comprovado em duas gestões que um “conselhinho” de futebol ocasiona guerra fratricida por poder. E o termo “conselhinho” não é uma forma pejorativa trazida por este texto, sim a forma como os membros e a própria gestão se referem (ou se referiram) ao mesmo.   

Mais produtivo e eficaz do que um conselho amador seria a formação de um conselho profissional pago e qualificado, com pessoas do mercado. Na mais segura das hipóteses, apenas o VP é o suficiente para orientação e fiscalização, já que existe o Conselho Diretor, repito.

A estrutura atual parece inchada demais em cima e demasiadamente vazia embaixo (Diretor-Executivo/”financeiro”, Gerente de Transição, Supervisor, Treinador. Está no site do clube)

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Não faz sentido! O investimento no profissionalismo e em postos-chave, hoje inexistentes, garantirá e calcará um presente e um futuro melhor estruturado.   

O futebol do Flamengo precisa de excelência, buscar os melhores profissionais e as melhores práticas de gestão esportiva, trabalhar com mais tecnologia, serviços e conhecimento em prol do futebol. Essa busca não pode esperar, deveria começar agora!

Flamengo hic et Ubique

P.S.: Texto originalmente publicado na última sexta-feira no MRN.

P.S.2: Um prazer e uma honra voltar a esta casa e ter meu pedido de publicação do texto pré-jogo pelo Gustavo, Becêba e pelo Rocco. Obrigado por tudo! Mais uma vez e sempre! É ótimo estar em casa!