Salve, Buteco! Desde que o Flamengo mudou de patamar, após a contratação de Jorge Jesus, em 2019, a Nação Rubro-Negra viu o nosso time ser desafiado no plano tático por muito poucas vezes. Observem que estou me referindo a duelo tático em alto nível, e não a outras circunstâncias que podem equilibrar uma partida. Em 2019, podemos mencionar o Santos de Sampaoli (1x0 no Maracanã), o River Plate de Marcelo Gallardo (2x1 no Monumental de Lima) e o Liverpool de Jürgen Klopp (0x0 e 0x1 no Khalifa Stadium). Em 2020, talvez o bom Independiente Del Valle de Miguel-Ángel Ramírez possa ser incluído na lista, mas no Campeonato Brasileiro em curso esse tipo de ocorrência é bastante rara. Até a 16ª Rodada, somente os quarenta e cinco minutos iniciais da estreia, contra o Atlético/MG de Jorge Sampaoli, haviam alcançado esse plano. Ontem, Eduardo Coudet, também nos quarenta e cinco minutos iniciais, igualou o feito do seu compatriota Sampaoli e fez o Internacional jogar em altíssimo nível tático contra o Flamengo.
Marcação alta (por pressão) não é exatamente uma novidade no nosso futebol, porém a sua associação ao chamado jogo de intensidade compõe um tipo de estilo de jogo que somente de um ano pra cá, após a chegada de Jorge Jesus, passou a ser executado em um padrão superior nos gramados tupiniquins. Isla e Gustavo Henrique sem dúvida têm sua parcela de culpa nos lances dos dois gols colorados, assim como especialmente o meia Patrick tem o seu mérito do lado adversário, porém é digna de nota a perfeita execução da estratégia pelo Internacional de "Cacho" Coudet, no timing, no desenho tático, na marcação fortíssima, tudo fruto do mérito da atuação do nosso rival. Tanto é verdade, que especialmente o chileno, fora do fatídico lance, atuou muito bem, sempre se infiltrando com perigo no setor esquerdo colorado, invariavelmente desmarcado.
Achei que o time sentiu o segundo gol. Talvez por ter empatado no lance seguinte ao primeiro gol do Inter, até então o jogo estava equilibrado. Depois disso, o time murchou e pareceu sem confiança para desenvolver as jogadas. Foi para o intervalo deixando a torcida ressabiada. Porém, se houve uma partida na qual Domènec transformou completamente o Flamengo no intervalo, certamente foi a de ontem. A troca de posições entre Gérson e Vitinho ajudou e, mais centralizado, o "Coringa" foi um leão em campo em busca do empate. Os números do SofaScore Brazil são impressionantes: 77% de posse de bola, 12x2 em finalizações, 4x0 em finalizações a gol, 12x2 em finalizações na área, 5x0 em chances de gol e 299x66 em passes certos. Um verdadeiro massacre, que só não nos trouxe a vitória pelas chances desperdiçadas e pela arbitragem (VAR incluso) haver ignorado os pênaltis claro cometidos por Heitor e Rodrigo Moledo ao praticamente esmurrarem a bola dentro da grande área colorada, em lances distintos.
Ao mesmo tempo em que me provocou irritação, saber que o time desperdiçou chances claras de gol de certa maneira me tranquiliza, pois pior seria nada criar. Só que ninguém merece aquela "furada" de cabeça do Vitinho, concordam? Everton Ribeiro me irritou profundamente pela fraca atuação, mas é inegável que, por volta dos quinze minutos finais, subiu de produção quando passou a chamar mais a responsabilidade, como um verdadeiro capitão. Quando quer jogo, o Mago da Camisa 7 faz as coisas acontecerem. Contudo, o grande destaque rubro-negro não foi o capitão e sim o centroavante Pedro, autor de um golaço, do tipo que poucos esperavam que pudesse marcar. Além disso, o "Queixada" vem surpreendendo ao demonstrar grande qualidade também fora da área.
Outras atuações dignas de nota foram, mais uma vez, do goleiro Hugo e do quarto-zagueiro Natan, os quais parecem ter nascido craques e veteranos do futebol.
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A estratégia de Eduardo Coudet possivelmente será a mesma que Sebastián Beccacece tentará executar no comando do Racing (ex-clube de Coudet) contra o Flamengo pelas oitavas-de-final da Libertadores. Teremos entre seis e oito jogos, a depender da classificação ou não para as oitavas de final da Copa do Brasil, até o jogo do próximo 24 de novembro, no Cilindro, em Avellaneda/Buenos Aires. Tempo suficiente para Domènec acertar essa saída de bola e contar com a força máxima para seguir adiante até a final no Maracanã.
Por sinal, espero, sinceramente, que a torcida não caia na pilha de ex-treinador rancoroso e xenófobo, humilhado pelo Barcelona e o jogo posicional de Pep Guradiola. Já não se fazem jornalistas como antes. Em outros tempos, não faltaria quem apontasse a contradição entre o discurso boçal e o resultado que seu autor colheu contra esse estilo de jogo. Pelo jeito, dói em suas entranhas assistir a um assistente de Pep desenvolver bem seu trabalho no Mais Querido do Brasil, onde não deixou saudades.
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A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.