segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Pela Volta do Foco

Salve, Buteco! Hoje vou direto ao ponto: o Flamengo pós-pandemia não é o mesmo que encantou o Brasil, a América do Sul e o Mundo em 2019 e mesmo em 2020, até a paralisação das competições. Nos posts que escrevi durante o Estadual, ressaltei que o time parecia ter descido do "outro patamar", aparentando ter menos intensidade dentro de um volume de jogo grande, mas improdutivo; um time que finaliza bem menos do que antes e cria menos oportunidades claras de gol; que parece que vai engrenar a qualquer momento, mas têm esbarrado nas defesas adversárias; um time que lembra o velho arame-liso, talvez com trio elétrico, suspensão ativa e rodas de liga leve; enfim, um Flamengo frustrante, visivelmente abaixo daquele que nos deixou mal acostumados. Só que ontem desci um patamar além da frustração e cheguei à zona do aborrecimento. Acidentes acontecem, todos sabemos, e os atletas, como seres humanos, não são infalíveis. Difícil, porém, é lidar com a sensação de acomodação e falta de foco. Se vocês acham que eu estou falando de Filipe Luís, não estão equivocados, porém acho que isso aqui foi bem pior do que o gol-contra marcado pelo nosso estimado lateral esquerdo:

Nosso ex-centroavante Bujica, neste tuíte, resumiu bem com uma palavra o que aconteceu no lance: displicência. Para piorar, o uruguaio De Arrascaeta, sumido dentro de campo desde a volta da pandemia, tratou de desperdiçar a outra chance claríssima de gol que poderia ao menos ter evitado a derrota. Aliás, três jogadores me parecem bem abaixo do que rendiam anteriormente: Everton Ribeiro, De Arrascaeta e Bruno Henrique. A queda de rendimento dos dois primeiros talvez ajude a explicar o momento que o time vive e a sensação de que está jogando em algumas rotações abaixo do normal. O capitão, por sinal, não deve ter ganhado uma disputa individual desde a volta do futebol.

Dome tem por desafio recuperar o meio de campo. Como disse no post da semana passada, a Diretoria deve ficar de olhos abertos não só para a lateral direita reserva, como também para o meio de campo nesse elenco. Éverton Ribeiro e De Arrascaeta não se notabilizam pelo vigor físico e o reserva, Diego Ribas, é veterano em claro processo de declínio atlético. Sem a recuperação especialmente dos dois primeiros, dificilmente a formação titular voltará a colher os mesmos resultados de antes. 

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Na primeira etapa, o time me pareceu melhor do que no Estadual, porém ontem o sarrafo foi bem mais alto, talvez acima até mesmo do que a média que o time enfrentará durante o campeonato. Gostei bastante do jogo nos primeiros 45 minutos. Foi um senhor duelo de desenhos táticos e pressão na saída de bola, estratégia exercida por ambas as equipes. Inclusive tudo indica que, com Dome, seu uso será intensificado, ideia que me soa excelente, dado o nível dos adversários nacionais. Nesse interessante duelo tático, não só pela obrigação de buscar o resultado após o gol-contra de Filipe Luís, o Flamengo teve mais volume e oportunidades de gol, todas desperdiçadas. A sensação, quando o time desceu para o intervalo, é que a virada seria questão de tempo na etapa final, tanto que, antes disso, levou Sampaoli a, com uma substituição, desfazer a linha de três zagueiros ainda com a bola rolando.

Contudo, o Galo voltou melhor do intervalo e nenhuma das substituições conseguiu mudar o cenário, o que, sem prejuízo do trabalho do ótimo treinador argentino, pode também ser fruto do maior ritmo de jogo de sua equipe, em razão dos jogos recentes pelo Campeonato Mineiro, notadamente as semifinais. O Flamengo chegou a planejar um torneio em Brasília para tentar contornar o problema, porém a saída de Jorge Jesus e a necessidade de cuidar de sua sucessão acabaram por inviabilizar a ideia. Sempre muito elegante com o Mais Querido, o treinador argentino ressaltou o nível da equipe e que se tratou de um jogo isolado, que, digo eu, não pode e não deve propiciar juízos de valor catastróficos e desconectados com o passado recente do multi-campeão brasileiro e sul-americano, porém também não pode nos fazer fechar os olhos para o que está acontecendo.

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Nesta entrevista concedida para a FlaTV, ao ser indagado sobre as principais metas e objetivos para o início de trabalho, Dome deixou claro (a partir dos 15'16") que o seu maior desafio é não deixar o time se acomodar, justamente por haver vários exemplos de equipes que conquistaram grandes títulos encontrarem dificuldades para se manter motivadas. Os primeiros 45' do jogo de ontem mostram que o problema não é técnico nem tático; pode também ser físico, mas sem dúvida envolve foco e motivação. Não se trata de nenhum bicho de sete cabeças, mas a reação precisa ser imediata.

A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.