Salve, Buteco! Dando um passo (bem) maior do que as pernas, a Diretoria do Flamengo contratou a plataforma MyCujoo para a transmissão da semifinal de ontem contra o Volta Redonda. É claro que as coisas não saíram como se esperava. Aliás, ia escrever "como se planejava", porém desisti porque é impossível algo tão improvisado haver sido devidamente planejado. Qualquer torcedor minimamente informado se preocupou assim que soube do anúncio do clube. Uma plataforma habituada a transmitir partidas das ligas bielorrussa e mongol, das terceira e quarta divisões da Suíça e da liga feminina da Dinamarca obviamente não poderia sustentar a demanda de um jogo de semifinal do Mais Querido do Brasil, mesmo que na Taça Rio, em plena pandemia e contra o Voltaço da Cidade do Aço.
É de obviedade translúcida que qualquer plataforma de transmissão de jogos do Flamengo precisa atender a avassaladora demanda da Nação Rubro-Negra, a maior torcida do mundo. O Flamengo é popular porque é de todos e não tem dono, o que não se confunde com almoço grátis. Não é difícil de entender: a cobrança ou não de R$ 10,00 (dez reais) seria uma polêmica menor, tendente a desaparecer já durante a partida, acaso o acesso ao serviço fosse simples e o produto chegasse ao seu destinatário final em perfeitas condições de imagem e som. Futebol é sobretudo paixão e o grande coração da Nação provavelmente a faria se acostumar rapidamente com a nova realidade. Contudo, a desastrosa escolha de uma plataforma incapaz de suportar a demanda amplificou de forma absolutamente evitável e desnecessária essa polêmica que, repito, nasceu para se tornar insignificante.
Além disso, o MyCujoo não é disponibilizado nos aparelhos de smart tv comercializados no Brasil. Daí já surge um obstáculo evidente, até transponível, porém um bocado complicador: nem todo mundo domina a técnica de "emparelhar" ou "espelhar" o conteúdo de um notebook, tablet ou mesmo celular em uma televisão. É muito mais fácil (e provável) fazer uma "vaquinha" para assistir a uma partida no sistema pay-per-view em uma televisão do que em um notebook ou celular. Para piorar, e apesar de ser uma empreitada nova, para a qual ainda não se assimilou o "know-how", o clube não ofereceu suporte para a grande massa de interessados em adquirir o produto e aos sócios-torcedores que teriam o acesso gratuito à transmissão. Para que facilitar, se é possível complicar, certo?
Com todo o respeito a essa Diretoria, composta por pessoas que tão bem administram o clube e, no início da década passada, participaram da elaboração do projeto que hoje rende tantos frutos, por qualquer ângulo que se analise os fatos chega-se à mesma conclusão: foi uma tremenda mancada, piorada pelas acacianas declarações do (ótimo) presidente Landim, já que até as pedras sabem que não existe almoço grátis e que o Flamengo precisa arrecadar para sustentar um time com Arrascaeta, Bruno Henrique, Gabigol, Gérson, Vitinho e outros. Porém, não menos óbvio é que (p. ex.) o YouTube cobra 30% (trinta por cento) das transmissões monetizadas pelo mesmo motivo que o Flamengo não fechou com a Globo um acordo pelos direitos de transmissão do Estadual: a qualidade do produto ou do serviço ofertado.
Se o Flamengo não pode contratar qualquer plataforma para sustentar a avassaladora demanda de sua torcida, é óbvio que a margem de lucro inicial, nesse novo mundo que começa a ser explorado, poderá não ser tão grande, o que está longe de ser o fim do mundo. O que não pode é o Flamengo achar que só ele tem o direito de cobrar o preço justo por seu produto, certo? Além disso, não custa checar as alternativas oferecidas pela modalidade freeming, que pode perfeitamente se tornar uma opção válida.
Se o Flamengo não pode contratar qualquer plataforma para sustentar a avassaladora demanda de sua torcida, é óbvio que a margem de lucro inicial, nesse novo mundo que começa a ser explorado, poderá não ser tão grande, o que está longe de ser o fim do mundo. O que não pode é o Flamengo achar que só ele tem o direito de cobrar o preço justo por seu produto, certo? Além disso, não custa checar as alternativas oferecidas pela modalidade freeming, que pode perfeitamente se tornar uma opção válida.
Por outro lado, também não é o fim do mundo o insucesso de ontem da transmissão apenas via MyCujoo. O clube só não pode insistir no erro, acaso seja contemplado pelo sorteio do mando de campo do Fla-Flu que decidirá a Taça Rio e talvez o campeonato. O novo formato de transmissões tem tudo para ser um sucesso, desde que seja dado um passo de cada vez.
***
Após dois protocolares 2x0, com o Mister trocando todo o meio de campo, acabou a fase de treinos e chegou a hora de um Fla-Flu decisivo que certamente exigirá bem mais do time. Vale lembrar foi o Fluminense o responsável pela única derrota do Flamengo no campeonato e pelo único susto que o time titular tomou, após abrir 3x0, tomar dois gols e um sufoco no final. Também não se pode esquecer que esse Fla-Flu de 12 de fevereiro, vencido por 3x2 pelo Mais Querido do Brasil, foi justamente o terceiro jogo dos titulares após a volta das férias e do período de pré-temporada.
Como o Fla-Flu é o jogo do sobrenatural, não custa observar essa curiosa coincidência, pois o confronto da próxima quarta-feira também será o terceiro do Flamengo após a suspensão da temporada por conta da pandemia de COVID-19. Dessa vez, porém, o Flamengo parece estar fisicamente melhor preparado e com bem mais ritmo de jogo. Só não pode achar que enfrentará o Boavista ou o Volta Redonda: por mais que exista uma distância oceânica entre os times atuais de Flamengo e Fluminense, o jogo é jogado e o lambari é pescado. Ainda mais em um Fla-Flu decisivo.
***
Sendo muito sincero com vocês, enfrentaremos o adversário da minha preferência. Como ressaltei neste post há quase um mês, o Fla-Flu é um clássico envelhecido, que só decidiu estaduais, finais em que "a vantagem tricolor de 4 (quatro) jogos (4x8) foi construída em dois períodos bem definidos: antes da década de 60 e no biênio pós-partida do Zico para a Udinese. E mesmo em campeonatos estaduais, desde a década de 90 o clássico só decidiu 3 (três) títulos, com duas conquistas do Flamengo (1991 e 2017), em que pesse a importância histórica do título tricolor no nosso centenário (1995). O certo é que Fla-Flu's decisivos são e vêm se tornando cada vez mais uma raridade, o que, a meu ver, pode ser explicado pelo franco processo de decadência do adversário, vivido a partir da segunda metade da década de 80 e bastante acelerado na década de 90 pelos humilhantes rebaixamentos para as Séries B e C do futebol brasileiro."
A incompetência do Fluminense não é problema do Flamengo. Justamente por isso, quarta-feira gostaria de uma vitória com requintes de crueldade, se o Mister e grande elenco me permitirem esse pequeno capricho.
A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.