terça-feira, 19 de maio de 2020

Relatos da Glória Eterna

Olá Buteco, bom dia!

No domingo, a Globo reprisou a inesquecível final da Libertadores. Foi a primeira vez que eu assisti ao jogo na íntegra após aquele dia. Um domingo muito agradável, as crianças gritando na varanda na hora dos gols... Depois emendamos com a série sobre a conquista, disponível do Globoplay. 

Ao rever o jogo, fiz várias observações para discutirmos nesta coluna de hoje. Entretando, ao final do dia, com as emoções afloradas e a lembrança do histórico dia 23 de Novembro de 2019, decidi mudar o foco e, ao invés de falar da partida em si, escolhi falar sobre o sentimento vivido naquele dia.

Inspirado também pelo espetacular relato do Jean Valjean publicado aqui, comecei a mandar mensagens aos meus amigos, pedindo que eles fizessem breves relatos do dia, para ajudar no post de hoje. Prontamente, recebi várias respostas e compartilho agora com vocês!

O objetivo é relembrarmos, com muita alegria, daquele dia que ficou marcado na História de todos nós. Peço-lhes que tragam seus relatos também para a seção de comentários.

Quanto ao jogo em si, talvez em outro momento eu detalhe as minhas observações. Queria pontuar apenas que achei a transmissão da Globo muito ruim, com a equipe babando muito o River e não entendendo muito sobre o que o Flamengo estava fazendo. Rodrigo Caio foi um mostro! Gabriel não ficou sumido na partida como disseram.  Bruno Henrique já tinha ensaiado outras três jogadinhas pelo lado esquerdo antes da jogada do gol. O empate estava maduro e a transmissão não percebeu. 

Mas, vamos ao que interessa! Começaremos com um amigo já conhecido de vocês. Com a palavra, Luiz Filho, 37 anos, Historiador e Ex-colunista do Buteco:

Minha estória da final da Libertadores se inicia no jogo contra o Grêmio (óbvio). No jogo do Cincummmm eu penso pela primeira vez como iria assistir à final: com meu pai e minha irmã. Mesmo que naquele momento ainda não tenha decidido onde e como assistir.

Naquele dia 23/10 já tinha amigos com passagem comprada para Santiago (a decisão seria lá), mas decidi esperar e a espera foi como a de muitos, foi ficando cada vez mais caro viajar e indefinido, já que Santiago ficou indisponível e mudou para Lima.

Chegando perto, decido assistir com meu pai e minha irmã, com o Flamengo sempre reforçando nossos vínculos familiares. meu pai teve um AVC em 2016 e isso foi parte decisiva na decisão. Eu fui a todos os jogos do Flamengo como mandante na Libertadores desde 2012, exceto a Flamengo x Emelec de 2019 e com um Flamengo fantástico em 2019 sentia a falta do meu pai comigo.

A verdade é que eu sentia e queria criar mais essa memória afetiva com minha família, e mesmo feliz nas arquibancadas, sentia a falta de meu pai (que vem perdendo a visão e não conseguiria ir ao estádio). A foto é do segundo dia mais feliz, a vitória contra o Grêmio, que mostrou a mim o que fazer na decisão depois de tanto tempo esperando uma Libertadores. Não me arrependo nem por um momento de não ter ido à Lima. Lembrarei sempre do momento com meu pai e minha irmã.

Obrigado, Cincuuummmm!



Luiz Filho é o que está no primeiro plano, ao centro.

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O próximo relato é de Anderson Lima, 39 anos, Feirante:

Quase uma semana sem dormir direito, chegou a manhã do dia do jogo... Já tinha combinado de fazer aquele churrasco na casa do meu primo, junto com uma parte  da família. Cheguei cedo né,  pois sempre sou o churrasqueiro! Tenso e ansioso, matava o tempo na churrasqueira, até  que chegaram vários amigos do meu primo (todos FLAMENGO) que eu não sabia que iriam.

Ficou mais animado...  Mas, faltando 30 minutos para o jogo, parei o churrasco, eu tava muito nervoso... 5 minutos fizemos uma oração todos de mãos dadas... Ah, levei meu são Judas Tadeu da sorte, minhas bandeiras, diversas camisas e minhas duas faixas de CAMPEÃO na bolsa (libertadores e brasileiro)...

Começou o jogo e eu agarrado numa pequena TV no terraço com geral vendo o jogo, tomamos um gol e eu sempre acreditei, acabou o primeiro tempo...

A casa do meu primo tem 3 andares, metade do segundo tempo eu desci para o 1 andar, eu já não aguentava mais a negatividade dos amigos do meu primo, quando tô sossegado vendo o jogo, desce todo mundo atrás de mim pra ver o jogo também lá embaixo. Aí fiquei puto, peguei um fone que tava na minha bolsa e fui pra debaixo da marquise! Nesse momento, já chovia forte, quando saiu o primeiro gol: eu escutava e pedia muito a Papai do Céu e São Judas Tadeu. Foi uma explosão de alegria tão grande, que cheguei a machucar a batata da perna quando pulei com toda minha força!!

Quando ainda me recuperava da emoção, saiu o segundo: quase morri, saí pulando pela chuva numa perna só, os pessimistas que estavam no 1º andar vieram pra chuva me abraçar e foi uma das maiores  emoções que já senti na minha vida.

Meu tio, minha esposa pediam pra eu acalmar e eu chorava muito e  só dizia que tinha esperado uma vida por aquele momento e realmente sempre esperei... Eu tinha exatamente os 38 anos de espera desde o 1º título....Meu primo tomou multa, porque soltamos muita bomba e muita fumaça, mas foi uma emoção que não dá pra descrever, sempre que eu vejo os gols do Gabigol me emociono....

Já ia esquecendo,  quando baixou um pouco a adrenalina, nós fizemos outra reza pra agradecer.

Anderson Lima, as duas faixas de campeão e o copo do Gabigol!

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O próximo relato é de André Lima, 36 anos, Engenheiro de Telecomunicações e irmão do Anderson:

Decidimos nos reunir na casa do nosso primo recém casado, Vinícius, no Valqueire... Fomos de mala e cuia, com esposa e crianças, eu com minhas duas, o Anderson com o dele e as duas esposas, pra piorar, duas tricolores. Quando cheguei, já estava meu tio Neném, pai do Vinícius, meu irmão fazendo o churrasco, pendurando bandeira e jogando cabeção de nego na vila, que só tinha idosos.

Agora sente o drama, no terreno rolava uma super TV de 29" com os bonecos parecendo fazer a dança do robô, de tanto que a net congelava. Mas o churrasco tava rolando e a cerveja tava gelada, então rezamos pra imagem se manter sem chuvisco e travando o menos possível.

Começa o jogo, todo mundo tenso, momentos iniciais, time do River muito perigoso, porém todos estavam confiantes. Após os primeiros toques, chegou mais uns 5 casais, amigos do Vinícius. Todos os olhos no jogo.

Quando saiu o gol do River bateu aquela preocupação, não podia nem imaginar não sair dali sem o título, não queira pensar nisso. O 1° tempo seguiu e apesar do atraso no placar, tínhamos muita esperança na qualidade do elenco e do treinador.

Rola o segundo tempo e todos começam a ficar mais tensos pois, apesar do Flamengo apresentar mais domínio e tranquilidade no toque de bola, o River era muito perigoso... O tempo vai passando e agonia aumentando... As pessoas já se mostravam muito nervosas. Enquanto uma gritava, a outra chorava, tinha gente querendo ensinar o mister a trabalhar, gente se metendo na frente da TV, um inferno!

Eu estava tão concentrado, ou pelo menos tentando me concentrar no jogo, quando Filipe Luiz perdeu aquela na área, que quase foi o segundo do River. Me deparei em pé em frente à TV, só eu e meu tio... Todos os malucos desceram pra ver o jogo em outro lugar. Não aguentei... Tive que abandonar aquele barco. Quando desci... Tava todos os malucos lá embaixo, energia positiva, torcida, fé... Chamem do que quiser, 10 minutos depois o Flamengo empatava o jogo... E todos acreditavam na virada, meu irmão, meu primo, eu e todos os malucos que eu nem conhecia... Tinha a certeza que a gente ia virar.

Enquanto o Diego ainda se preparava para o lançamento mortal que nos daria o título, rolou aquela diferença de fase e ouvi os primeiros gritos da rua. Antes que o Gabigol ludibriasse os dois marcadores, já estava em pé no sofá gritando É GOL, É GOL É GOOOOOLLLL porraaaaaa

Saiu o golaço que nos deu o título merecido 38 anos depois. A chuva não parava de cair, tomava banho de cerveja, todo mundo numa alegria que nem em copa do mundo se viu... E na vila dos velhinhos, ninguém nem saiu de casa enquanto 7 malucos pelo Flamengo corriam, pulavam e se abraçavam... 

Foi um dia inesquecível, coroando um ano magnífico do time brasileiro mais espetacular que já se viu jogar.


André Lima é o do meio, com a cerveja da patrocinadora da Libertadores!

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Segue agora o relato de Diego Ramos, 39 anos, Gerente de Tecnologia.

Machuquei a perna jogando bola no dia anterior e fui no hospital no dia seguinte porque (a dor) não estava passando. 2 horas antes do jogo, com chopp, churrasco e amigos me esperando em casa, descobri que a perna estava quebrada e que precisaria ficar internado até realizar a operação.


Vi o Mengão ser campeão no lugar mais inusitado que poderia imaginar: gritando com os gols e tomando bronca das enfermeiras por causa dos gritos e do descontrole emocional.




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A seguir, Ecner do Nascimento, 57 anos. Professor. O Prof. Ecner lembrou também da 1ª Libertadores:

Recordo-me do terceiro jogo da final da Libertadores, em 1981, entre Flamengo e Cobreloa, disputado no Uruguai, em campo neutro. O lance marcante foi a habilidade e harmonia de Andrade em anular todos os meias e atacantes do Cobreloa. Na frente, Nunes e Lico faziam a festa...

Em 2019, sinceramente, estava ansioso diante da tradição e do bom time do River. O bairro onde resido estava em um intenso clima de euforia: bandeiras, fogos e gritos de "Mengo!" irrompem no 
agitado dia da final. Vigário Geral estava extasiante e, porque não dizermos, exultante de alegria.

Existem diversos aspectos históricos entre os diferentes contextos cronológicos entre as duas conquistas, de relevantes aspectos: sociais, econômicos e políticos. 

Vamos à essência dos títulos... Ambos os times eram excelentes. Na final de 1981, o time do Chile, o Cobreloa, era um time inferior tecnicamente em relação ao time do Flamengo. Apelavam para à violência. Futebol, pouco. Enquanto que a conquista de 2020 foi extasiante, por termos um adversário que tinha condições de impor muitas dificuldades ao time do Flamengo, assim como o fez. O Flamengo, ganhou o jogo nos cinco minutos finais. Foi uma conquista sensacional, onde o mérito foi de todos.

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O próximo relato é de Giuliano Melo, 41 anos, Engenheiro de Software.


Giuliano Melo é o que está à direita. 
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Agora, Leandro Fonseca, 37 anos, Engenheiro de Telecomunicações:

Eu tinha decidido ver o jogo só com flamenguistas, com direito a churrasco na casa de um amigo, para evitar problemas. Mas um amigão nosso, vascaíno, estava passando por uma separação complicada e decidimos acolher ele. 

Quando os caras saíram na frente ele esboçou uma comemoração, eu já fui logo avisando pra ele, "se controla porque senão eu vou ligar pra ex-mulher e dizer onde você está!". Ele se controlou e foi alvo da minha comemoração, no gol pulei no colo dele e comemorei muito. Quem viu a cena ri e comenta até hoje!

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O próximo é Marcos Castor, 38 anos, militar:

Dia de final com o Mengão em campo é sempre dia de ansiedade. A hora do jogo demora uma eternidade.... Prestes a começar, saí pra ver o jogo junto de outros flamenguistas num salão de festas. Éramos uns 30 animados torcedores querendo ver a história acontecer. 

Começa o jogo, olhos grudados no telão e... Gol do River. Silêncio e medo... O jogo é bom, mas nada de sair o empate. Fim do primeiro tempo... Intervalo de resenha... Partiu segundo tempo e nada de gol... Até que no finalzinho...Goool do Gabigol!!!! Naquele momento chovia no RJ e os mais empolgados foram pra chuva... Eu comemorei demais e voltei a rezar... E deu bom! Gabigol, de novo, Mengão 2x1, parti pra chuva e lá fiquei até o apito final!!!! 

Comemorei com a galera e parti pra casa .... Afinal, eu precisa ver a cara da vascaína com quem me casei 😂. Ahhhh... Ainda vale lembrar que os gols só saíram depois que eu tirei a camisa (do Flamengo) que ela me deu. A camisa deveria estar "com urucubaca" mas depois desse título... Ela foi liberta dessa praga !!!

Marcão e a nova camisa da sorte!!!
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O próximo a relatar seu dia é Thiago Alves, 33 anos, Assistente Administrativo. Ele fez um complemento no segundo áudio, falando da emoção em ver a reprise do jogo também:




Thiago Alves é o da esquerda, sem boné.
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Por fim, o meu relato, Leandro Machado, 41 anos, Professor e Colunista do Buteco do Flamengo:

Profissionalmente, 2019 foi um ano muito bacana para mim. O nosso grupo de pesquisa sobre a utilização de Jogos Didáticos no Ensino de Matemática evoluiu bastante e submetemos, no meio do ano, uma proposta de Minicurso em um evento de formação de professores que aconteceria em Vitória, entre os dias 22 e 24 de Novembro. Ficamos todos muito felizes e orgulhosos ao receber o aceite da organização do evento e começamos a fazer os planos para a viagem.

Naquela época, nem me ligava que o fim de semana do Simpósio seria o mesmo fim de semana da final da Libertadores... Na verdade, eu nem lembro mais quando descobri que seria no mesmo fim de semana mas lembro que assim que a ficha caiu, minha maior preocupação era da organização não colocar o nosso Minicurso no horário do jogo. Foram dias de ansiedade até a divulgação do cronograma do evento e... O nosso Minicurso seria oferecido na sexta-feira, dia 22. Ufa! 

A logística então era, além de procurar um hotel próximo ao Simpósio, me informar também sobre os lugares animados para ver o jogo, em Vitória! Que ingenuidade a minha... Quando cheguei na cidade, na sexta de manhã, já havia um clima todo montado pela Nação ES: viam-se inúmeras pessoas com o Manto Sagrado nas ruas, bandeiras desfraldadas nos prédios e percebi que em qualquer lugar do Brasil não se falava em outra coisa. 

A minha ansiedade estava relativamente controlada, porque estava muito focado para que tudo saísse perfeito ao longo do Minicurso, na sexta-feira. Felizmente, foi tudo maravilhoso e, quando saí do evento, já no início da noite, é que a tensão do jogo começou a me atingir mais fortemente. Minha esposa estava comigo e fomos para o show - espetacular, por sinal - da Beatles Big Band, o que ajudou bastante a reduzir a tensão pré-jogo.

No sábado, ficamos no simpósio pela manhã e, no retorno, participei de um minicurso ministrado por um colega. Estava tão bom que esticamos ao máximo, saí de lá por volta das 15h. Óbvio que toda a logística que tínhamos feito para assistir ao jogo fora por água abaixo: quando chegamos no Centro, todos os bares já estavam superlotados e as pessoas estavam disputando lugares pelas calçadas, uma loucura, parecia Carnaval! Carnaval Rubronegro!

Conseguimos, a muito custo, entrar em um barzinho muito maneiro, onde carregávamos crédito em um cartão e, com ele, nós mesmos nos servíamos nos diferentes barris de chopp disponibilizados. Óbviamente, foram várias recargas no cartão, rs...

As TVs do lugar ficaram na Fox Sports e o som estava alto, mas eu não entendia quase nada do que ouvia. Estava em transe, observando o jogo, tentando entender o que acontecia à minha própria maneira, fazendo as devidas pausas para recarregar a tulipa. O River faz 1x0, pessoal fica quieto uns 30 segundos, mas depois começa a empurrar novamente até o fim do primeiro tempo. A minha impressão, na época, era que tínhamos saído no lucro para o intervalo. Mas, revendo o jogo no domingo, acho que essa impressão foi causada mais pela tensão do jogo do que propriamente pelo jogo do River. Eles não jogaram para descer com 2x0 e, mesmo o 1x0, estava muito bom para o que eles propuseram. 

Segundo tempo, não lembro de quase nada. Minha primeira lembrança mais forte já se dá por volta dos 35 minutos, quando a minha esposa cogita uma fraquejada no ânimo. Lembro claramente de ter falado para ela "Não precisamos fazer 2... É um golzinho só, baixar a adrenalina e resolver a parada na prorrogação! Dá pra empatar!". E o jogo foi passando, o Flamengo começa a rondar a área do River e vem o primeiro gol... A multidão enlouquece... Todo mundo pulando, jogando cerveja pro alto, chorando, se abraçando, se beijando... 

Eu, que estava totalmente pilhado, tento me acalmar. É preciso segurar a onda, teremos prorrogação! Vou recarregar o cartão e, do nada, todo mundo começa a pular de novo! É o gol do título! Gol de Gabriel, gol de Gabigol!!! Eu não vi o gol, demorou alguns segundos para eu perceber... Por quê as pessoas estavam gritando e pulando de novo??? Quando eu percebi, chorei igual a uma criança. O Flamengo era bicampeão da Libertadores. 

Abracei forte minha esposa, beijei, me declarei. "Aline de Lima Guedes Machado, você é o Amor da Minha Vida, Obrigado por estar comigo hoje e sempre, em todos os momentos da minha vida!".

Aquele realmente fora um dos dias mais felizes da minha vida, comparável apenas ao dia do nascimento do Pedro e ao dia que o Caio saiu da UTI, 11 dias depois de nascer. 

Eu, ela e o Flamengo. Uma história de amor!




Saudações Rubronegras!!!