Foto de Pedro Vale |
Salve, Buteco! Semana passada destaquei o
Ranking Folha do futebol brasileiro e a primeira colocação ocupada,
já com alguma folga (que tende a aumentar), pelo Mais Querido do
Brasil. Destaquei também como ficaria uma classificação por
títulos conquistados em competições organizadas por CBF, CONMEBOL
e FIFA. Após essas reflexões, ressaltei a importância da
continuidade de Jorge Jesus no Flamengo. Pois bem, hoje percorrerei
outro caminho para chegar ao mesmo lugar. Esse outro caminho começa,
conforme prometido nos debates, com uma breve incursão na polêmica
decisão do então presidente da Confederação Brasileira de
Futebol, Ricardo Teixeira, de “unificar” os títulos brasileiros,
carimbando as edições da Taça Brasil e, a partir de 1967, do
Torneio Roberto Gomes Pedrosa, quando deixou de ser apenas o Rio-São
Paulo e passou a ser também disputado por clubes de outros estados.
Desde
logo afirmo que não sou refratário a uma revisão histórica, desde
que respeite o que chamo de “essência” de cada torneio. Para
resumir: a Taça Brasil, cujo título dava direito a vaga na
Libertadores da América (a partir da criação deste torneio) e
sempre teve formato exclusivamente eliminatório, equivale à Copa do
Brasil; já o “Robertão” deveria ser o único torneio a ter o
status de campeonato brasileiro.
Paulo
Vinícius Coelho traz
uma importante abordagem sobre a unificação, posicionando-se
contrariamente, porém foi
Mauro Betting que, a meu ver, melhor explicou a diferença entre a
Taça Brasil e o Robertão, bem como suas correspondências,
respectivamente, à Copa do Brasil e ao Campeonato Brasileiro. O
argumento mais persuasivo é a comparação com a FA Cup da
Inglaterra. Tal como no país bretão, a Taça Brasil, primeira
competição de caráter nacional organizada pela então CBD, teve
caráter exclusivamente eliminatório, sem que isso representasse
qualquer desprestígio ao campeonato nacional, posteriormente criado.
Quanto
ao Robertão, apesar das cabíveis ponderações quanto à
restritividade de participação de maior número de clubes grandes
em suas primeiras edições, vejo essa questão como um problema
histórico que veio a ser corrigido, especialmente a partir de 1970
(Taça de Prata, vencida pelo Fluminense). Para mim, respeitando as
opiniões em sentido contrário, foi campeonato brasileiro e assim
deve ser considerado.
A
maioria esmagadora das federações dos países nos quais se joga
futebol separa as principais competições que promove entre o
campeonato nacional de pontos corridos e a copa nacional
(exclusivamente eliminatória). Muitas promovem ainda uma copa da
liga, também em sistema exclusivamente eliminatório, e/ou uma
supercopa disputada entre os vencedores das duas primeiras, sempre as
principais.
Fazendo
essa devida separação, os títulos ficariam assim distribuídos:
Campeonato
Brasileiro (incluindo Roberto Gomes Pedrosa): 53 (4 + 49) edições
1)
Palmeiras –
8 títulos (1967, 1969, 1972, 1973, 1993, 1994, 2016 e 2018); 2)
Flamengo
(1980, 1982, 1983, 1987, 1992, 2009 e 2019) e Corinthians
– 7 títulos (1990, 1998, 1999, 2005, 2011, 2015 e 2017); 4)
São
Paulo
– 6 títulos (1977, 1986, 1991, 2006, 2007 e 2008); 5)
Fluminense
(1970, 1984, 2010 e 2012) e Vasco
da
Gama
– 4 títulos (1974, 1989, 1997 e 2000); 7) Santos
(1968, 2002 e 2004), Internacional
– 3 títulos (1975, 1976 e 1977) e Cruzeiro
– 3 títulos (2003, 2013 e 2014); 10) Grêmio
– 2 títulos (1981 e 1996); 11) Atlético/MG
(1971), Guarani
(1978), Coritiba
(1985), Bahia
(1988), Botafogo
(1995) e Athletico/PR
(2001) – 1 título.
Copa
do Brasil (incluindo Taça Brasil): 41 (10 + 31)
edições
1)
Cruzeiro – 7 títulos
(1966, 1993, 1996, 2000, 2003, 2017 e 2018); 2)
Santos
(1961, 1962, 1963, 1964, 1965 e 2010) – 6 títulos; 3)
Palmeiras (1960, 1967, 1998,
2012 e 2015) e Grêmio
(1989, 1994, 1997, 2001 e 2006) – 5 títulos; 5) Flamengo
(1990, 2006 e 2013) e Corinthians
– 3 títulos (1995, 2002 e 2009); 7) Bahia
(1959), Botafogo
(1968), Criciúma
(1991), Internacional (1992),
Juventude (1999), Santo
André (2004), Paulista
de Jundiaí
(2005), Fluminense
(2007), Sport
Recife
(2008), Vasco
da
Gama
(2011), Atlético/MG
(2014) e Athletico/PR (2019) – 1 título.
Esse
é o momento no qual alguns perguntarão: “Gustavo, você está
propondo uma revisão da unificação feita pela CBF em 2010?”.
Não, absolutamente não. Estou bem longe de ter essa pretensão.
Explicarei a seguir por que entendo que a divisão dos títulos das
duas maiores competições nacionais com base nesse critério nos
ajudará, enquanto torcedores do Flamengo, a melhor pensar o futuro
do clube, único motivo que me levou a fazer essa exposição.
***
Ainda
em 2017, logo após a demissão de Zé Ricardo do comando do futebol
do Flamengo, publiquei este
post destacando seus números contra os 4 grandes de São Paulo e
indicando-os como um dos fatores que explicavam a ausência de
títulos conquistados no período. Naquela ocasião, escrevi que a
“cidade
de São Paulo, top
ten
no PIB mundial, não por acaso tem 3 (três) dos maiores clubes de
futebol profissional do Brasil e, portanto, rivais diretos do
Flamengo em qualquer competição importante: Corinthians, Palmeiras
e São Paulo. Pertinho, descendo a Imigrantes, tem o Santos, de
enorme tradição e o maior clube sediado em cidade que não seja
capital (de estado ou do país) no Brasil e na América do Sul. Na
grande maioria das vezes em que disputar um título de grande porte,
o Flamengo enfrentará como rival um desses quatro adversários.”
Não
é difícil perceber que, seguindo o critério proposto nesse post, o
número de conquistas de títulos do Campeonato Brasileiro pelos
grandes clubes do país aponta claramente para o predomínio
histórico dos paulistanos e do Flamengo, que acaba figurando como o
grande intruso entre eles. E é curioso observar que, logo após do
Flamengo e do trio paulistano, figuram justamente os maiores clubes
cariocas depois (bem depois, eu sei) do Mais Querido do Brasil,
reflexo de tempos em que ainda compunham o principal eixo do futebol
nacional.
O
campeonato nacional, com seu formato de pontos corridos, antes
predominantemente (em chaves ou grupos), hoje no modelo todos contra
todos em sistema de ida e volta, exige dos participantes que tenham
mais força, traduzida em investimento e regularidade. Não parece
ser por acaso, aliás, que no “Big 4” do Campeonato Brasileiro
estão justamente os quatro clubes de maior torcida no país. E o
Vasco da Gama, quinta maior torcida, também é o quinto maior
vencedor, ao lado do Fluminense, muito embora o Gigante da Colina
esteja ficando bem para trás em razão da crise que já dura duas
décadas.
Em
sentido contrário ao Campeonato Brasileiro, por ser “mais
democrática”, a Copa do Brasil (lato sensu, incluindo a
Taça Brasil), tal como a Libertadores da América, dá mais chances
a clubes de fora desse eixo com o seu formato exclusivamente
eliminatório (que predomina na Libertadores), no qual o poder do
“Big 4” do Campeonato Brasileiro acaba diluído pelo maior grau
de aleatoriedade existente nesse tipo de competição.
Ainda
assim, mesmo somando o Mundial, a Libertadores e os demais torneios
“longos” (Supercopa, Conmebol, Mercosul e Sul-Americana), nos
quais os grandes brasileiros competem entre si e/ou com outros
sul-americanos, o “Big 4” é ampliado para apenas 7 clubes com as
inclusões de Santos, Cruzeiro e Grêmio entre os que possuem entre
10 e 15 títulos, a demonstrar definitivamente que o principal
indicador de grandeza dos clubes brasileiros é o campeonato
nacional:
Brasileiro
(+ Robertão), Copa do Brasil (+ Taça Brasil), Libertadores, Mundial
e Copas Sul-Americanas (Supercopa, Conmebol, Mercosul e Sul-Americana)
1)
Palmeiras,
Santos
e São
Paulo
– 15 títulos; 4)
Flamengo
e
Cruzeiro
–
14 títulos; 6)
Corinthians
– 13 títulos; 7)
Grêmio
– 11
títulos; 8)
Internacional
e
Vasco
da
Gama
– 8 títulos; 9)
Fluminense
e Atlético/MG
– 5 títulos;
11)
Botafogo
e
Athletico/PR
– 3 títulos; 13)
Bahia
– 2 títulos.
É
curioso constatar que, da configuração originária do Clube dos
Treze, no longínquo 1987, a única mudança foi a substituição do
Coritiba pelo Athletico/PR, o que indica que o quadro dificilmente
terá sua composição alterada no futuro. Já as distâncias entre
os patamares nos quais se posicionam esses mesmos clubes tende a
aumentar porque o desempenho financeiro, conceito que engloba a
qualidade de gestão, chegou para ficar como fator determinante da
performance esportiva.
Por
isso mesmo, o certo é que, no futebol brasileiro, nenhuma competição
“mede” mais o tamanho esportivo dos clubes do que o Campeonato
Brasileiro, o qual, na minha opinião, deve ser sempre o principal
foco e o grande parâmetro para o Flamengo avaliar seu rendimento em
comparação com os demais, por mais que eu seja apaixonado por minha
“Musa”, a Copa Libertadores da América. Afinal de contas,
“beleza não põe mesa”, como sabiamente diz o ditado
popular.
***
No
post da semana passada, voltei a ressaltar que, apesar dos avanços
estruturais, administrativos e mesmo de gestão do futebol
profissional no Flamengo, o “fator Jorge Jesus” é, ao mesmo
tempo que determinante, uma oportunidade histórica para que o
Flamengo assuma o que chamei de “supremacia”. Porém, agora
percebo, o termo é impreciso, até porque cada um pode ter um
conceito diferente do que seria a tal “supremacia” no plano dos
fatos. Então, retificando, acredito que Jorge Jesus possa ser o
divisor de águas para que o Flamengo tome a dianteira do número de
títulos do Campeonato Brasileiro e da Libertadores, os quais, tenho
certeza de que todos concordarão, são nossas principais competições
em âmbito nacional e continental.
Explicando
melhor: não é que, sem Jorge Jesus, o Flamengo voltaria a ficar no
meio da tabela ou até disputaria rebaixamento, sequer se
classificando para a maior competição sul-americana. Muito pelo
contrário, acredito que o clube se consolidou como força definitiva
no primeiro patamar do futebol brasileiro e sempre estará entre os
clubes que com maior frequência conquistam o Brasileirão e disputam
para ganhar a Libertadores. Por isso mesmo, no espaço de uma a duas
décadas, independentemente do quanto Jorge Jesus permaneça no
Flamengo, prevejo que a distância para os demais cariocas e clubes
fora do eixo Rio-São Paulo (capital) aumentará bastante, por conta
da capacidade que o clube desenvolveu para explorar seu potencial
nato, o que antes era apenas um sonho distante.
“Gustavo,
mas então qual é a importância do Mister?” Amigos, o português
pode ser o fator que levará o Flamengo, em curto espapo de tempo
(próximos 2 a 3 anos), a abrir uma vantagem para o trio paulista que
lhe permita não ser alcançado no futuro ou, quando menos, ficar
muito tempo na dianteira. Papo de uma ou duas décadas em dois ou
três anos. Diversos outros fatores concorreriam para esse resultado,
tais como a crise financeira dos rivais paulistas (a qual, não
duvidem, é passageira) e o Flamengo arrecadando cada vez mais
dinheiro e se tornando cada vez mais popular, graças a uma Diretoria
que tem a expertise de gerir grandes empreendimentos. É nesse
contexto que a excepcional qualidade do nosso treinador português
seria otimizada em progressão geométrica, ampliando um já
histórico ciclo virtuoso.
Agora
que expliquei o que queria dizer, permitam-me voltar ao meu conceito
de supremacia. Pessoal, numa boa, esse papo de Bayern de Munique
brasileiro é, mais do que impreciso, pura viagem na maionese. Para
que vocês tenham uma ideia, o Bayern de Munique possui avassaladores
29 (vinte e nove) títulos alemães, enquanto o segundo colocado, o
Nuremberg, que há tempos encolheu, possui “míseros” 9, um a
mais do que a atual e famosa segunda força, o Borussia Dortmund, com
seus 8 títulos nacionais. O cenário é completamente diferente do
que historicamente vivemos no futebol brasileiro, como vocês podem
facilmente perceber.
No
dia em que Jorge Jesus deixar o Flamengo (o qual espero que ainda
demore muitos anos), é bem possível que o clube enfrente um
problema semelhante ao que o Manchester United passou com a sucessão
de Alex Ferguson. É claro, até por sua idade, que o Mister não
dirigirá o Flamengo tanto tempo quanto Ferguson ficou à frente do
United; porém, ainda que o Mais Querido acerte a mão com um nome
como Marcelo Gallardo, Jorge Sampaoli ou mesmo outro treinador
europeu, a tendência é que essa fantástica sintonia que liga o
Flamengo, a Nação Rubro-Negra e o nosso querido Mister não se
repita, ao menos na mesma proporção. Seria fantástico que se
repetisse, mas não seria a tendência natural. Não se pode jamais perder de vista que treinadores desse patamar são, antes de tudo, grandes artesãos, verdadeiros estilistas, cujas características singulares sempre tornam problemática sua substituição.
Portanto,
se a comparação com o Bayern de Munique não faz sentido algum,
2020 e os próximos anos podem levar o Flamengo não a uma supremacia
como a do clube alemão (meu conceito de supremacia), mas a uma
inédita e possivelmente definitiva liderança no ranking nacional e
sul-americano de clubes brasileiros, historicamente muito competitivo
como em nenhum outro país. Para tanto, é imprescindível que o
Mister permaneça o maior tempo que se mostrar possível.
Que
venha logo o “Dia do Fico”.
Bom
dia e SRN a
tod@s.