Nesses tempos difíceis de coronavírus, a genial pergunta
feita pelo grande Moraes Moreira, querido rubro-negro falecido ontem, ganhou
outro sentido e passou a ser feita por torcedores de todos os clubes, saudosos
de seus times e do futebol das tarde de domingo.
Mas ela é, acima de tudo, uma pergunta nossa, rubro-negra.
Futebol não é um simples entretenimento.
Encanta pela arte e pela competição a ele inerentes, mas vai
além, ao abrir campo para a projeção do torcedor.
Que projeção?
Em artigo escrito há décadas, o intelectual e ótimo cronista
Arthur da Távola analisou a paixão do torcedor, ao observar que ele se projeta
no time e nos seus heróis e, embalado pelas vitórias e conquistas em que se
envolve emocionalmente, assim se torna um vencedor.
Num texto inspirado, Mestre Arthur abriu as entranhas dessa
paixão, mostrando-nos que a tensão que a gente vive nas partidas de nossos
times está relacionada com uma projeção que fazemos, na qual nossa expectativa
de vitória na vida é projetada em nossos ídolos e em nosso time.
Traduzindo: O torcedor leva porrada daqui, porrada dali, mas,
de repente, num domingo de Maracanã, nosso time vai lá, “passa por cima do
inimigo” e a gente sente a compensação das agruras da vida, a gente VENCE!!!,
ainda que na fantasia de fugazes noventa minutos.
Tempos depois, com a sensibilidade e o poder de síntese dos
poetas, Moraes Moreira pegou na veia, quando cantou, na transferência de Zico
para a Itália:
E agora, como é que eu fico
Nas tardes de domingo
Sem Zico, no Maracanã
E agora, como é que eu me vingo
Das duras derrotas da vida
Se a cada gol do Flamengo
Eu me sentia um vencedor...
No post de hoje, presto homenagem ao grande rubro-negro
Moraes Moreira, artista que soube sintetizar e eternizar, em alguns poucos
versos, o que Zico foi para o Flamengo e para cada torcedor da Nação
Rubro-Negra.
Ele era um de nós.
Ele nos entendia.
Ele nos representou.
Saudações Rubro-Negras.