Quando aceitei
o convite para fazer parte do time de colunistas do Buteco, a preocupação em
não deixar a peteca cair me fez antecipar alguns textos.
Na coluna
que havia preparado para hoje, eu analisava a ocorrência, no atual Flamengo
vencedor, do fenômeno da formação de uma equipe real, a caminho de se
consolidar como equipe de alto desempenho, e analisava, também, alguns aspectos
interessantes da liderança de Jorge Jesus.
Ocorre que a
vida não é foto, é filme.
O texto que,
muito recentemente, tentava filmar a realidade do futebol do Flamengo a partir
de um ângulo menos explorado pela mídia, permitindo projeções muito otimistas,
só pode ser, agora, a foto de um momento mágico, que não sabemos em que medida
poderá ter continuidade quando controlada a pandemia causada pelo novo
coronavírus.
A coluna
terminava com um apelo pela renovação de contrato do técnico Jorge Jesus,
personagem fundamental na construção do ciclo vitorioso cuja materialização em
conquistas começou a acontecer em 2019.
Neste
assunto da renovação do contrato do Mister, o que tínhamos era uma grande interrogação
sobre o futuro, agravada, no fim da tarde de ontem, com a notícia de que Jorge
Jesus testou positivo para a COVID19 e passou a ser objeto das preocupações e
orações de todos nós.
O mundo vive
uma pandemia e as providências preventivas necessárias à sua contenção em
limites administráveis impõem duras restrições à circulação de pessoas e a consequente
suspensão de eventos de vários tipos, inclusive os esportivos, criando uma nova
realidade ainda impossível de compreender, quanto à sua extensão e aos seus
efeitos.
No primeiro
parágrafo do post de ontem, o Gustavo registrou que, “neste cenário, o futebol
se torna uma preocupação menor”.
Ou, como
disse Camões, nos Lusíadas:
“Cessa tudo
quando a antiga musa canta e um valor mais alto se alevanta.”
O valor mais
alto, no momento, é a luta pela vida das pessoas e a manutenção das melhores
condições operacionais possíveis para as sociedades, durante o período de
combate duro à epidemia.
É difícil,
neste contexto, encontrar motivação para falar de futebol e, até mesmo, da
nossa paixão rubro-negra.
Ainda assim,
o Buteco pode cumprir um importante papel e, com a colaboração dos amigos que
me leem, espero que cumpra.
O Buteco do
Flamengo é, essencialmente, um Ponto de Encontro.
Cumpre tão
bem esse papel que, recentemente, num dia em que o Buteco estava muito devagar,
o Roberto apelou para a hilária criação de um “clone”, desenvolveu um papo
entre Roberto 1 e Roberto 2 e, até mesmo, para não abrir mão do seu lado
polêmico, discordou dele mesmo.
Viveremos um
período de restrição da circulação de pessoas, que deve levar à limitação da
possibilidade de encontrar parentes e amigos por um prazo ainda difícil de
definir.
Os italianos
têm respondido com cantorias nas janelas ao duro isolamento a que estão sendo
submetidos.
Num dos
melhores vídeos que vi a respeito da crise do novo coronavírus, a
neurocientista Cláudia Feitosa Santana comenta que o isolamento social traz
danos psicológicos. Diz ela:
“Nós não
queremos nos sentir aprisionados, não queremos nos sentir isolados. Nós
estávamos, até agora, em contato físico e social o tempo todo, mas ligados no
celular. E agora, vem um vírus que faz com que sejamos obrigados a mudar nosso
comportamento e a fazer um bom uso do celular.”
Parte da
nossa resposta ao provável isolamento que viveremos pode ser continuarmos
falando de Flamengo neste nosso Ponto de Encontro.
Palpites,
cobranças, opiniões convictas e apaixonadas, cornetagens, manifestações de
sentimentos nos dias de alegria e de tristeza, explosões de emoção nas
conquistas memoráveis, tudo isto expressa, em cada momento e à moda de cada
frequentador do Buteco, aquilo que nos une: a paixão pelo Flamengo.
Nos últimos
tempos, o Buteco tem sido corretamente usado para informações e debates
voltados para nosso comportamento frente à pandemia, mas acho que ele pode e
deve continuar sendo, também, um ponto de encontro que nos ajude a passar por
esse período difícil, reduzindo nosso isolamento.
Cada um de
nós, por óbvio, terá suas principais atenções voltadas para as muito justas
preocupações com a grave crise da COVID19, mas pode ser bom nós aparecermos no
Buteco no nosso tempo livre, para nos fazermos companhia, seja no
acompanhamento da saúde do Mister, seja para relembrar histórias do Flamengo, seja,
enfim, para fazer das nossas conversas e do nosso convívio um instrumento de
luta contra o isolamento.
Neste
sentido, para não deixar de falar de Flamengo, transcrevo aqui os dois trechos
finais da coluna que originalmente, com a pretensão de que fosse o começo de um
filme, eu havia preparado.
Pelo menos
por ora, porém, ela é apenas a foto de um lindo momento rubro-negro.
..........
Tudo aponta para estarmos
presenciando o fenômeno de formação e desenvolvimento de uma equipe real que já
colhe alguns resultados espetaculares e, o que é muito bom para a Nação,
vestida com o Manto Sagrado.
Temos um líder que sabe e
ensina muito, mas que se renova ao descobrir a possibilidade e o prazer de
aprender com seus liderados, inclusive sobre amizade e alegria no trabalho.
E temos hoje, no clube,
um suporte orgânico saudável que permite que sonhemos com um ciclo mágico.
O gato escaldado não pode
deixar de registrar que não existe jogo ganho de véspera, mas o caminho que o
Flamengo vem seguindo me entusiasma muito.
..........
Um recado final para
Mister Jorge Jesus:
Eu tive a sorte de fazer
parte de algumas equipes de alto desempenho.
É um privilégio.
Pare de sonhar com a
Europa, Mister.
Fique com a gente.
Você está abraçado com a
felicidade.
E esse abraço não tem
preço.
..........
O pedaço de
coluna acima evidencia a reviravolta que a vida do Flamengo está sofrendo.
Afinal, os
últimos dias atropelaram a realidade mundial com um impacto que ninguém poderia
prever.
Como célula
do mundo, o Flamengo não estava imune a esse impacto e já se via diante de grandes ameaças às perspectivas de sucesso que vinha construindo
com muita competência e engajamento.
Com o teste
positivo do Mister para a COVID19, passa a enfrentar uma ameaça ainda maior.
É prematuro
e inoportuno tentar prever qual será
o futuro deste Flamengo vencedor, quando tiver passado a crise do coronavírus
e, espero, quando Mister Jorge Jesus tiver recuperado sua saúde.
No papel de cidadãos,
cabe colaborarmos para que a sociedade consiga responder bem ao enorme desafio
que enfrenta, cumprindo as determinações e protocolos das autoridades e, tanto
quanto possível, praticando o isolamento, principal arma a que pode recorrer a
pessoa comum.
Na qualidade
de rubro-negros, nosso papel é torcer para que o Mister se recupere bem e sem
sequelas e para que, no campo da nossa paixão clubística, o Flamengo consiga
atravessar bem essa tormenta e saia dela em condições de retomar seu ciclo vitorioso.
Que, com a
ajuda e a força da Nação Rubro-Negra, o Mister e o Mais Querido consigam superar
esses momentos difíceis e se fortaleçam para cumprir seu compromisso e destino:
Vencer, Vencer, Vencer.