Não há algo mais frio que a roda do tempo. Ela é inexorável. Ela vai destruindo o presente enquanto gira. E o que ela deixa para trás são cinzas e memórias.
E tivemos boas memórias de 2019. E como! E tristes também, como a morte de 10 garotos do Ninho naquele incêndio terrível que ainda precisa ser devidamente apurado porque não foi espontâneo. Foi resultado de má manutenção de equipamento, falta de vigilância, falta de treinamento de combate a incêndio, container inflamável, descaso com licenciamento, postergação de uso do container ainda que um prédio já tivesse sido construído para acomodar os meninos. Enfim, morreram os garotos. E isto é algo que carregaremos para sempre. Espero que as famílias ao fim de 2020 já estejam todas devidamente indenizadas em acordo na Justiça.
Mas neste ano montanha-russa, desta tristeza infinita virou um ano mágico futebolístico ao fim de 2019, à partir da contratação de reforços sem margem de erro e de Mister Jesus. Tudo encaixou como um jogo de Tetris. E foi um encaixe explosivo. Simplesmente o Flamengo montou um elenco com jogadores talentosos e um técnico com padrão de jogo europeu e ofensivo. À partir daí foi como colonizadores com armas de fogo invadindo territórios defendidos com arco e flecha. Não haveria como segurar. Flamengo deitou e rolou no campeonato brasileiro. E ganhou a final das Libertadores contra o bom time do River de forma emocionante. Fez a final do Mundial com Liverpool onde só perdeu na prorrogação.
Enfim, futebol foi um sucesso creio de difícil repetição, até pela forma que se deu.
E 2020? Algumas destas "tribos de índios" já encomendaram suas "armas de fogo" e agora a parada será outra. Flamengo virou o "time a ser batido". E temos o problema da permanência dos destaques de nosso elenco e do Mister. O sucesso é atrativo para contratações de fora. Flamengo, como sempre fez e fará em sua vida, certamente terá que se reinventar em algum (ou alguns) momento.
E já começamos 2020 com um erro de planejamento de nosso futebol que não pensou no porvir, ainda que tivessem todos os instrumentos para isto, e não inscreveu o sub17 a tempo na Copinha, visto a utilização do sub20 no execrável e arcaico campeonato carioca. Com isto perde o Flamengo e sua torcida a chance de ver seu elenco enfrentando times fortes na maior competição de base do país.
Mas erros acontecem. Mudanças de ideia de ultima hora também. O Flamengo agora vive o presente. E o presente tá zerado esperando os times se postarem em campo para suas mais de 70 batalhas por ano neste calendário insano e agora agravado por Copa América e Eliminatórias.