Espero não ser mal
interpretado nas minhas palavras, mas acho que a grandeza de um clube se mostra
tanto nas vitórias quanto nas derrotas, talvez ainda mais nos momentos de
revés.
Eu tenho orgulho de duas
derrotas do Flamengo, a desse último sábado contra o Liverpool e contra o São
Paulo bicampeão da Libertadores e campeão mundial, na final da Supercopa de
1993.
Nos dois casos perdemos
jogando de igual para igual com equipes superiores, talvez as melhores equipes
da história dos respectivos clubes, mostrando assim também a nossa grandeza.
Especificamente sobre a final
do Mundial, vou analisar o jogo sob três aspectos, o jogo em si, o legado dessa
partida e as lições que dela podemos tirar.
A partida foi muito bem
disputada, ambos os times buscando o gol mas sofrendo forte marcação do
adversário; no primeiro tempo após um começo muito forte dos ingleses, o
Flamengo se encontrou na partida e na minha modesta opinião, foi bem superior e
não seria nenhuma injustiça se tivesse virado o intervalo vencendo a partida.
Na segunda metade, no entanto,
o Liverpool voltou com mais intensidade, como seria de se esperar, e passou a
controlar o jogo que continuou disputado, mas com superioridade inglesa.
Um momento chave da partida se
deu quando o Mister tirou nossos dois meias, extenuados, e colocou Vitinho e
Diego que não conseguiram jogar, encaixotados pelo jogo do adversário.
Falaremos mais sobre isso adiante.
Pois bem, acaba o tempo
regulamentar e a impressão era que o Flamengo estava no limite físico, e o
Liverpool não, o que fazia crer que no tempo extra o Flamengo teria problemas e
de fato os teve.
Tomamos um gol na jogada mais
utilizada pelos “reds” no jogo, a bola longa, e uma jogada que nenhuma outra
equipe do mundo consegue fazer com a qualidade deles, visto que tem 3 ou 4
grandes passadores e 3 ou 4 grandes opções de passe, o que quer dizer, em
outras palavras, que essa jogada pode sair praticamente a qualquer momento.
Passe perfeito, conclusão
perfeita, gol. Perdemos o jogo e acho que a derrota foi merecida pelo que os
times jogaram, mas a derrota por 1x0 na prorrogação disse exatamente o que foi
o jogo: duas grandes equipes se enfrentando, e no final venceu a melhor, a
melhor da Europa, a melhor do Mundo.
Ok, perder é uma merda, mas e
agora? O que esse jogo deixa de legado? Acho que a forma como o Flamengo jogou
contra o Liverpool deixa uma poderosa mensagem para o Brasil e para a América,
de que um time local bem montado, bem organizado e acima de tudo, bem treinado,
pode produzir um futebol de muito mais qualidade do que vinha sendo feito
anteriormente, não precisamos nos contentar em ser saco de pancadas dos
gringos.
Outra coisa é que o Flamengo
mostrou, especialmente aos jovens que jogam videogames com o time do Liverpool
como se fossem jogadores da NBA em comparação com os que jogam no Brasil, que
podemos fazer frente, que estamos no mesmo planeta que eles, ainda que sejamos
piores no momento.
Uma geração inteira que
acreditava que o futebol europeu era “outro esporte” viu um time brasileiro
jogando esse outro esporte. Isso muda tudo.
Por fim, as lições desse jogo,
e elas são muitas. Por exemplo, por que o JJ teve que tirar nossos dois meias?
Pela mesma razão que o futebol europeu não se interessou por nenhum dos dois: a
questão ali nunca foi técnica, os dois são muito bons e tem bola pra jogar em
qualquer canto do mundo, mas não tem intensidade para jogar um jogo de entrega
máxima durante 90 minutos.
Duas jogadas do Bruno Henrique
mostram por que o Liverpool é campeão da UCL e agora mundial: em uma delas, ele
recebe na frente do Trent Alexander Arnold e explode em direção ao gol. Aqui na
América do Sul ele iria dentro do gol, mas não contra esse Liverpool, com o zagueiro Joe Gomez conseguindo cortar o chute do BH na hora derradeira.
Outro lance, talvez o mais
bonito do Flamengo no jogo: BH faz tabela, acho que com ER, dá e recebe em
velocidade, pela direita, e entra sozinho na área. Aqui na América do Sul ele
teria duas ou três opções de passe para dar uma assistência para gol, mas não
contra esse Liverpool que, de maneira espetacular, teve uns 5 jogadores se
recuperando e fechando as linhas de passe, povoando a área com velocidade
estonteante, fazendo com que a única opção do BH fosse um passe longo, cruzando
a área e que a defesa conseguiu conter.
Futebol atual é velocidade para
atacar e recompor na defesa, é jogar com intensidade e objetividade e para isso
o perfil dos jogadores tem que ser de atletas velozes e intensos, o Liverpool tem 7 ou 8 desses grandes
atletas, o Flamengo no máximo uns 3.
Para competir no nível
continental, jogadores como Arrascaeta, ER, Pitty Martinez e tantos outros são
excelentes, mas a nível mundial, falta-lhes força e velocidade.
Enfim, perdemos, mas saímos
desse jogo, saímos desse ano espetacular, muito maiores do que entramos.
Cabeça erguida, peito
estufado, alegria e gratidão. Sou mais Flamengo hoje, pós derrota, do que nunca
e que venha 2020!
Fraternas saudações aos amigos
do Buteco pela companhia nessa temporada inesquecível e que venham muitas
outras, além de um especial agradecimento ao meu amigo Gustavo Brasília por me
permitir escrever essas singelas palavras em um momento tão importante.
SRN
Bcbfla.