Salve, Buteco! Sábado o Flamengo completou um mês de partidas disputadas sob o comando de Jorge Jesus. Foram nove partidas, com cinco vitórias, dois empates e duas derrotas, nas quais marcou dezessete gols e sofreu doze. O treinador português chegou como um verdadeiro tsunami, implementando uma filosofia de jogo ofensiva e à base de uma marcação alta, sob pressão, no campo do adversário, asfixiando-o. Não foi à toa que o primeiro jogo no Maracanã acabou com o placar de 6x1, aplicado sobre o então sexto colocado Goiás. Nesses trinta e um dias, a Nação Rubro-Negra viveu intensas emoções, que variaram entre a frustração pela eliminação da Copa do Brasil e seguidas contusões, passando pelo temor de eliminação na Libertadores após a derrota para o Emelec em Guayaquil, até o êxtase pela classificação. É visível a satisfação com as inovações táticas promovidas por Jorge Jesus, que tornaram o time ofensivo do jeito que costuma "inflamar" a torcida, porém ao mesmo tempo as seguidas contusões assustaram o torcedor. É bem verdade que apenas parte delas foi muscular, enquanto outras se deram por desleais entradas dos adversários, vitimando Vitinho e Diego, e no caso de Everton Ribeiro o próprio treinador português esclareceu na coletiva pós-jogo de sábado que não vem jogando em condições clínicas perfeitas. Contudo, não há como deixar de perguntar se existe uma explicação comum para o número tão alto de contusões. Pode ser uma simples pergunta de leigo, mas será que um atleta mal preparado fisicamente não se torna mais propenso a se lesionar, mesmo que por trauma?
Lembrando do início do ano, muitos torcedores questionaram o porquê da demissão do preparador físico da comissão técnica de 2018 e a contratação de um profissional que até então vinha ministrando treinamentos físicos funcionais nas praias do Rio de Janeiro. Sendo ou não essa a explicação para uma eventual preparação física frágil, não há como deixar de perguntar se a nova comissão técnica não pisou demais no acelerador. Tudo na vida é contexto e o torcedor não dispõe de todas as informações para uma avaliação precisa, nem muito menos para dizer se, no concurso de mais de uma causa, qual prevalece e em que proporção. Os amigos do Buteco estão acostumados com a minha defesa da rodagem de elenco como forma de minimizar os efeitos da insana maratona de jogos do calendário do futebol brasileiro. Portanto, não estranharão essas dúvidas.
O jogo de sábado, porém, representou para mim um alívio. O tempo que jogadores como Filipe Luis e Cuéllar permaneceram em campo, somados à própria utilização de Everton Ribeiro apenas no segundo tempo, ao menos para mim, foram um sinal de que o nosso treinador português está preocupado com as lesões e em levar o time inteiro para a dura sequência que se iniciará contra o Vasco da Gama, envolverá os confrontos contra o Internacional pela Libertadores e terá uma insana conexão entre Fortaleza e Porto Alegre, que não pode ser desprezada no planejamento do Departamento de Futebol para as viagens e partidas. Somada a isso, a vitória tranquila, como se o time estivesse com o freio de mão puxado, sem forçar o jogo e executar a marcação alta no campo do adversário, mostrou que o treinador se preocupa também com a variação de estratégia. Longe de ter sido uma maravilha, surge como indispensável alternativa para jogos que, intercalados com os mais pesados, podem trazer os três pontos no Campeonato Brasileiro, cuja fórmula de pontos corridos exige mais regularidade do que espetáculo.
O calendário não perdoa ninguém e quem acompanhou o 0x0 de ontem entre Internacional x Corinthians pôde constatar que os gaúchos não tiveram pernas para pressionar como habitualmente fazem no Beira-Rio. Outra boa notícia, considerando que até então o nosso próximo adversário na Libertadores transmitia a impressão de que estava a ponto de bala, como que pairando acima dos concorrentes. Como o Flamengo tem no elenco importantes jogadores (Arrascaeta e Cuéllar) que não participaram da mini pré-temporada durante a Copa América, por terem disputado-a, e outros que chegaram depois (Filipe Luís e Gérson), além da já mencionada situação do Everton Ribeiro, e somando ainda as contusões de Gabigol e Rodrigo Caio, é inevitável perguntar em qual estado o time chegará para o confronto do Maracanã contra o próprio Internacional, preocupação que é um tanto arrefecida por o adversário haver mostrado que está longe de ser onipotente.
Rodar bem o elenco no jogo contra o Ceará será um elemento estratégico nos confrontos da Libertadores, lembrando que, como o primeiro jogo será no Maracanã, o Flamengo é praticamente obrigado a abrir boa vantagem, sob pena de colocar a classificação em risco. Estará o time pronto para jogar com a alta intensidade que marca a preferência tática de Jorge Jesus? Vejo a questão física como pressuposto para a boa execução do esquema, independentemente dos ajustes necessários na primeira linha, os quais acredito que virão com a sequência de jogos. Ocorre que esses mesmos problemas defensivos já existiam no primeiro semestre, mas ainda não melhoraram no meio da intensa maratona e das inúmeras contusões. E para passar às semifinais, o time precisará subir de degrau nesse quesito. Logo, o tempo é curto e a pressão a de sempre, rotina para o Mais Querido do Brasil.
Antes disso, porém, enfrentaremos o Vasco da Gama em Brasília, embalado pela vitória de ontem no Serra Dourada. Jorge Jesus deseja contar com Gabigol, o qual chama de "artilheiro do Brasil". Teremos mais da atuação "dosada" de sábado ou uma intensa pressão sobre as bigodudas?
A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.