segunda-feira, 15 de julho de 2019

180 Minutos de Jesus e os Desafios da Semana

Salve, Buteco! Os primeiros 180 minutos de Jorge Jesus no Flamengo foram intensos, como intensas também foram as emoções em ambas as partidas. O jogo de quarta-feira, na Arena da Baixada, foi o do sufoco, muito embora, após rever o videotape da partida por várias vezes no Sportv e no Premiere, fiquei com a impressão de que a derrota não esteve tão próxima como pareceu logo após o término dos 90 minutos. O Furacão, como sempre, pressionou absurdamente, mas se prestarmos atenção, marcou três gols em impedimento e, convenhamos, ataque em impedimento é ataque mal executado, por prevalecer posicionamento defensivo. Não se esqueçam que JJ mencionou expressamente que o posicionamento da linha defensiva não foi casual. E fora os gols em impedimento, que eu me recorde, o Furacão teve duas chances de gol, com Lucas Halter, nos descontos do primeiro tempo, e com Bruno Nazário, no segundo tempo, quando Rodrigo Caio nos salvou. Já o Flamengo, só com Gabigol, teve 3 oportunidades claríssimas desperdiçadas. Daí eu achar que a coisa não foi tão feia assim, como alguns disseram. Mas de fato o time foi muito, muito pressionado. Técnico e esquema novos, características do adversário e grama sintética. O que será que pesou mais?

A impressão geral é de que o novo esquema tático tem por uma das características principais a marcação muito alta, o que, na teoria, faz com o que o time assuma mais riscos defensivos. Não sei até que ponto essa premissa é correta, mas é fato que, enquanto não for bem assimilado, esse efeito será produzido durante as partidas. Aconteceu com o Madureira, no jogo-treino; com o Athletico, na Arena da Baixada, e com o Goiás, no Maracanã, cada jogo em sua proporção. Dentro das quatro linhas, porém, tudo me parece calculadamente previsto por Jorge Jesus. Na Arena da Baixada, vi o time chegar a formar uma linha defensiva com 6 e até 7 jogadores. Num determinado momento, no primeiro tempo, essa linha foi composta por Vitinho, Rodinei, Léo Duarte, Cuéllar, Rodrigo Caio e Renê, com Arão, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol pressionando a posse de bola do adversário. Já no segundo tempo, não nos esqueçamos, Cuéllar e Vitinho saíram de campo aos 18 minutos, mas vi depois por várias vezes a mesma linha formada. Esse desenho tático, prevalente quando o Furacão nos pressionava, não impediu que diversas chances de gol fossem criadas pelo Mais Querido.

Ontem, no Maracanã, contra o Goiás, esse desenho tático defensivo praticamente não foi visto. O mando de campo, o nível e a postura do adversário explicam a diferença, assim como os massacrantes 73% de posse de bola. Após um começo animador e a abertura do placar, os problemas defensivos decorrentes da recente implantação do novo esquema tático foram vistos no empate do Goiás. Claro que a falha individual do Rodrigo Caio foi determinante naquele específico lance, mas tenho para mim que faz parte de um contexto mais amplo: o time está melhorando a olhos vistos, mas ainda não atingiu o grau de entrosamento e concentração necessário para não ser surpreendido pelas inevitáveis tentativas dos adversários de explorar as bolas longas nas costas de nossa linha defensiva. Tendo a achar que esses riscos diminuirão, e até estão diminuindo gradativamente, à medida em que a nova filosofia está vem sendo assimilada. Percebam que isso não se confunde com, por exemplo, achar que o Cuéllar é superior ao Arão na função de "primeiro volante" ou com uma falha individual como a cometida por Rodrigo Caio.

***

Se defensivamente o esquema tático pode despertar alguma dúvida, especialmente quando o time enfrentar adversários mais poderosos do que o Goiás, ofensivamente a intensidade e a qualidade do time impressionaram. Após alguns minutos sentindo o gol adversário, a reação do Mais Querido foi avassaladora. A monumental atuação individual de Giorgian De Arrascaeta certamente ajudou muito o time a desempatar e reverter o quadro negativo, mas para mim é fato que tudo, inclusive os gols e as chances de gol desperdiçadas, que brotaram à exaustão até o último minuto dos descontos do segundo tempo da partida, vieram justamente da formação ofensiva e da boa execução do esquema tático. E falando em desenho tático, agora quando o time estava com a bola, por várias vezes formou-se uma linha de 3 à frente dos dois zagueiros, com 5 jogadores à frente, que, a depender da evolução da jogada, transformavam-se em 6 ou 7. Neste tuíte, o jornalista Bruno Guedes explica como as jogadas nasciam à frente desa linha de 3, com o apoio de 2 por dentro.

Na execução desse desenho tático, o time chegou, como já disse, a fantásticos 73% de posse de bola, mas sem toques para o lado e com a objetividade que Abel almejava, porém não soube como alcançar. Ontem o Flamengo quebrou recordes, como o maior número de gols de uma mesma equipe em partidas da Série A/2019, o maior número de finalizações da história do Brasileiro de pontos corridos em uma mesma partida e o tabu de 15 anos sem marcar seis gols em um jogo. O Goiás não era uma baba e, se tivesse vencido, teria nos superado em pontos ganhos com uma partida a menos.

O padrão do trabalho de Jorge Jesus, a exemplo do de Jorge Sampaoli, é claramente superior ao desenvolvido no Brasil. Nos meus quase 44 anos acompanhando o Flamengo, só vi Cláudio Coutinho e Telê Santana trabalharem nesse nível. Os títulos que cada um conquistou e perdeu, porém, mostram que nem sempre um trabalho de tão alto nível resulta em conquistas dos maiores campeonatos. Tudo na vida é contexto e futebol está longe de ser um esporte previsível. Fatores como estrutura, elenco e, claro, o nível do trabalho dos adversários formam muitas variáveis.

O certo é que, dessa vez, não apenas por conta do nível do treinador, mas pelo trabalho extracampo que vem sendo desenvolvido desde 2013, o Flamengo tem uma chance de ouro não apenas de levantar as taças mais importantes, mas também de elevar de vez o patamar do seu Departamento de Futebol, a exemplo do que já fez nas searas administrativa e financeira. O Centro de Treinamento de primeiro mundo agora conta com uma comissão técnica de primeiro mundo para dele extrair os melhores resultados possíveis.

Agora sim poderemos dizer, sem bananice, que o trabalho no futebol é bem feito e os títulos virão na hora certa. E acredito que chegarão ainda em 2019.

***

O Athletico/PR derrubou Mano Menezes (ou foi o seu pretexto) em 2013, naquele mesmo ano fez um jogo parelho com o Flamengo na final da Copa do Brasil, no Maracanã, e nesta década equilibrou as estatísticas do confronto. Em 2017, fez um duríssimo jogo contra o Flamengo na fase de grupos da  Copa Libertadores da América e nas duas últimas partidas no Maracanã, ambas sob o comando de Tiago Nunes e com formações reservas, carimbou o vice-campeonato em 2018 e, pela 6ª Rodada do Brasileiro em curso, jogando ofensivamente no Maracanã, quase mandou Abel mais cedo para casa, quando uma virada espetacular nos últimos minutos nos deu a vitória por 3x2, após uma atuação titubeante durante os 90 minutos. Tiago Nunes, aliás, é claramente um ponto fora da curva no limitadíssimo mercado nacional de treinadores. O trabalho do jovem treinador do Furacão não tem apenas resultados, mas visível e indiscutível qualidade. 

O jogo de quarta-feira oferece riscos para o Flamengo e não será nada fácil. O Furacão não é mais um time médio, mas um grande do futebol brasileiro.

***

Fiquei muito feliz ao ontem ouvir Jorge Jesus dizer, na coletiva pós-jogo, que está acostumado a jogar "de 2 em 2 dias" e que irá rodar o elenco. Venho insistindo bastante nesse tópico há algum tempo, lembram? Pois domingo o Flamengo precisará de uma boa e eficiente rodagem de elenco para enfrentar e vencer, pela terceira vez seguida (provavelmente inédita), o Corinthians no Itaquerão (ou BNDESÃO, como preferirem). Calculem o ranço que os gambás estão sentindo em relação ao Mais Querido... Por sinal, a rodagem é mais do que necessária porque logo em seguida o time embarcará para Guayaquil, onde na quarta-feira seguinte jogará, no George Capwell, a primeira partida das oitavas de final do Copa Libertadores da América, contra o Emelec. Já os gambás terão a semana livre e só jogarão por outra competição dia 25, pelas oitavas de final da Sul-Americana.

O calendário não dá folga ao Mais Querido do Brasil, mas quem tem Jesus e São Judas Tadeu ao seu lado nada temerá.

A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.