Hoje teremos uma coluna especialmente produzida pelo meu primo, Luiz Filho, sobre a chegada do português Jorge Jesus.
Com a palavra, Luiz!
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Fala Butecada! Beleza?
Depois de algum tempo e depois de
uma conversa com o Leandro, dono do espaço, fui instado a escrever
sobre Jorge Jesus. Escrever pro Buteco e voltar pra casa é sempre
reconfortante e muito bom! O problema é que a tal conversa se deu
antes da confirmação da contratação feita pelo clube, e já
saíram diversas matérias sobre a forma em que joga, o perfil, etc,
etc, etc. Como ser “criativo”? Complicado não ser repetitivo
neste momento. Tentarei. E trarei aspectos sobre o que penso para o
Flamengo após a Copa América.
Perfil
Jorge Jesus (o salvador e novo
treinador do Flamengo) tem 64 anos é português e foi um jogador
mediano, que chegou a jogar no Sporting. Como treinador passou
novamente pelo Sporting e pelo Benfica, sendo o recordista de
temporadas consecutivas no comando (seis). Evoluiu na carreira com
clubes desde a terceira até a primeira divisão portuguesa e é
considerado por muitos o melhor treinador de Portugal (dentro do
mercado interno deles, não o melhor português, diga-se). Por não
dominar a língua inglesa, e talvez, por ter um linguajar popular,
não conseguiu migrar para outras grandes ligas na Europa (esteve com
um pé no Milan).
Tem qualidade para ser testado em
liga maior na Europa e bom conhecimento sobre o futebol do Brasil. É
‘workaholic’,
focado em questões táticas e personalidade muito forte. Enxerga o
trabalho do particular para o geral, conversa diretamente com os
atletas do elenco, com instruções individuais e encaixe coletivo
no campo e por vídeo em palestras. A comunicação é simples e
meticulosa, o treinamento é mecânico, em
busca padrões, repetições, e após, variações dentro desse
padrão atingido. É bastante exigente taticamente. Obsessivamente.
Sistema de Jogo e Características
Seu esquema principal, o 4132 não
é muito usual nem na Europa, já que “espeta” os dois atacantes
nos zagueiros adversários. Deve jogar com os três meias
(Arrascaeta, Diego e Éverton Ribeiro) e linha defensiva com quatro
jogadores e às vezes um quinto jogador, o volante central (à
frente explicaremos). Esta linha de três meias tem jogadores de
diversas características, e neste aspecto um
elenco tão heterogêneo, como o do Flamengo leva vantagem na
montagem e na rodagem dos atletas quando o calendário apertar. Suas
equipes são competitivas e tem a mentalidade ofensiva e organizada,
intensidade alta, principalmente sem a bola. É
provável que deva
acelerar
o jogo.
Organização Defensiva
A
característica principal do jogo de Jesus é a recuperação da
posse e o posicionamento defensivo. A preferência, na verdade o
treino,
se dá no sentido de que os atacantes ocupem os espaços vazios, sem
pressionar “diretamente” o portador da bola. Buscar o erro do
passe, sem dobra de marcação e com a subida da linha de zaga para
sufocar, sem deixar espaços vazios em que o adversário escape.
Quanto mais rápido se recuperar a bola perto do gol adversário,
melhor. Quando o adversário gira a bola e “inverte” o jogo, a
defesa se reposiciona da mesma forma, mesmo que andando para trás.
O
objetivo é a recuperação da posse com intensidade no perde e
pressiona, via fechamento de linhas de passe e compensação com
cobertura. Atacantes que povoam a faixa central, flutuam para o lado
apenas na pressão defensiva. Na virada de bola, o time acompanha,
povoando o setor da bola. A ilustração tenta demonstrar o
posicionamento dos jogadores no campo. Diego, Arão e Arrascaeta,
principalmente, vão ter dificuldade neste sentido, sofrer na
cobertura eventual de companheiros que tenham sido sobrepujados, mas
nada que o treinador não resolva. Cuellar sobra neste aspecto.
A
“novidade” se dá em relação ao posicionamento defensivo, a
linha baixa em "L", sempre deixando um dos dois atacantes
pronto para o contragolpe e o volante vem pra linha dos zagueiros.
Jesus gosta da defesa com linha de cinco “flutuante”, sempre
protegendo o centro do campo (frente do gol). Posiciona ao menos três
jogadores para fechar a linha de passe ofensiva. Um dos dois
atacantes estará sempre disponível para contragolpear o adversário.
Vale repetir e salientar que são aspectos fundamentais para o novo
treinador a recuperação
da bola e pressão no adversário, transição defensiva e proteção
à área, além do escape (bote) para um contragolpe veloz e direto.
Saída de Bola e Organização do Ataque
Jesus
tem como preferência o recuo do primeiro volante para a saída de
bola, colocando em linha os zagueiros e abrindo os laterais. O meia
central também tem papel importante na movimentação, flutuando e
buscando se opção de passe. Não gosta de rifar a bola e a
transição objetiva apenas atrair o adversário, alargando a
marcação oponente em rápida passagem do campo de defesa para o
campo de ataque, tentando pegar o adversário “distraído”. O
goleiro joga e laterais saem com a bola, assim como o volante volta
para iniciar está saída. A amplitude se dá no segundo momento com
a bola. Depois da chegada da bola aos meias. Passe direto e
velocidade.
Com
o ataque organizado, busca dar liberdade aos homens criativos, mas
quase sempre buscando jogadas com os dois atacantes,
preferencialmente um pivô. Como não temos centroavantes com esta
característica, penso que ele privilegiará triangulações com
estes atacantes, tirando os zagueiros adversários da zona de
conforto. Com isso, sempre um dos atacantes ficará dentro da área
para finalizar. ER, Arrascaeta e Diego tem chances de jogarem juntos,
desde que se encaixem na questão defensiva (perde e pressiona).
Abre
o campo adversário com os laterais (amplitude), pode deixar buracos.
Gosta de que a equipe entre com grande número de atletas na área
pra finalizar e exige a recuperação rápida da bola. Busca a posse
objetiva para definir o jogo. Em tese jogaremos com o Diego no lugar
do Arão, por conta do meia central, articulador. Nosso elenco é bem
versátil, vamos ver se utilizará peças diferentes em situações
de jogo diferentes, inclusive variações de peças e características
do meia central. Temos diversos jogadores que podem jogar em duas ou
três posições diferentes, e caso queira, até com um time 1 e time
2, já que a única coisa fixa será o padrão.
Bola Parada
Não
tenho imagens de bola parada, mas alguns dos podcasts e palestras que
ouvi sobre a bola parada ofensiva do nosso treinador falam sobre
bloqueios e atletas posicionados estrategicamente para levarem
superioridade na área adversária. Na bola parada defensiva, protege
o gol em zona, também em “L” desde o primeiro poste. Marca com
nove jogadores dentro da área, três soltos em zonas para
movimentação e um solto para a segunda bola fora da área. Para
esta tem um link no You Tube.
Equipe, Treino e Preparação.
Minha grande preocupação são
as relações interpessoais, que podem desgastar rápido. Jogador
brasileiro é cheio de melindres. Só pelo intercâmbio já vejo como
positivo. Espero que o time aceite. A nova comissão técnica precisa
dar atenção ao clima, ao calendário e ao cansaço mental também,
pela intensidade aplicada e pelo desgaste ao fim da temporada,
observando viagens longas e partidas sequenciais.
Os auxiliares parecem muito
atentos aos processos, no auxílio à equipe, vem para ajudar em
aspectos extracampo, inclusive em possível prospecção de jogadores
(atenção à base e jogadores de clubes pequenos). O projeto me
anima pela intensidade que ele deverá aplicar ao elenco e ao campo,
mas particularmente não gosto muito desse tipo de ataque direto.
Exatamente o que Abel Braga tentava aplicar ao time. Prefiro um
controle pela posse, evitando que o adversário fique com a bola, mas
sem esterilidade. Abrir espaço e atacar, voltar, mudar para ferir o
adversário. As situações e técnicas de treinamento devem diferir
do aplicado por Abel Braga. A diferença entre os dois estará no
tipo do sistema de marcação e defesa. Intensidade altíssima!
A escola portuguesa tem muitas
nuances, como as nossas aqui, portanto é terrível igualar nomes e
estilos, comparar coisas às vezes incomparáveis. Vivem muito o jogo
e seus atletas também tem que vibrar na mesma energia. Todos tem que
ter compromisso com O JOGO, com os detalhes, com a preparação,
tudo. São estudiosos. Espero sinceramente que eleve o Flamengo a um
patamar ainda não atingido, um patamar de enfrentamento europeu, de
quem chegou longe em ligas Europa e competiu em Champions League. A
ver o que se pratica e como se aplica ao Brasil. De toda forma,
bem-vindo JJ! Sucesso!
FLAMENGO HIC ET UBIQUE!
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Fontes