segunda-feira, 3 de junho de 2019

No Rumo Certo

Salve, Buteco! O Flamengo errou no planejamento/2019 ao contratar um treinador cujos times que historicamente montou tinham características opostas as dos principais jogadores do elenco. No plano ideal, o discurso de "tirar ou pouco a posse de bola" não refletia esse antagonismo, eis que há bons exemplos no futebol mundial de equipes que, tendo a posse de bola, conseguem jogar de maneira objetiva e incisiva. Além disso, não existe equipe no mundo, por mais qualificada que seja, que, no curso de uma temporada, não passe um jogo sendo pressionada pelo adversário, precisando se defender. Ter mais ou menos a bola, fechar a defesa e contra-atacar, pressionar com marcação alta, "cozinhar o jogo" para esfriar o ímpeto adversário ou tentar abrir sua defesa com triangulações e encaixes, tudo isso reflete situações de jogo que variam de acordo com o contexto. A diferença entre uma equipe e outra é a estratégia de jogo que prioriza e o quanto consegue ser eficiente executando-a. Acrescentaria até mesmo a capacidade de variar de acordo com as circunstâncias. Logo, mesmo uma equipe que prioriza a ideia de ter a posse de bola, até como meio de impedir que o adversário ataque, fatalmente vivenciará situações que a obrigarão a se defender e pedirão o contra-ataque em velocidade, ou seja, o jogo reativo.

Nos cinco primeiros meses do ano, o Flamengo não engrenou e, apesar de ter feito algumas boas apresentações, na maioria das vezes como mandante, tornou-se um time sem identidade, que frequentemente se achava perdido entre o jogo reativo, predileção histórica do treinador, e a posse de bola "contida", que na prática não apresentou os resultados esperados e acabou limitando a estratégia de jogo para a qual o elenco é nitidamente vocacionado. Os surreais laterais cobrados para a área e os escanteios curtos preparando a bola aérea, que está longe de ser a especialidade do nosso ataque, que o digam. O time oscilou entre o perfil eficientemente combativo, oportunidades em que conseguiu alguns bons resultados como visitante (Peñarol e Corinthians), e o velho arame-liso com "queixo-de-vidro" que, também como visitante, perdeu jogos grandes no detalhe (LDU, Internacional e Atlético/MG), marca característica principalmente de 2016 e 2017, mas também presente em 2018. Por sinal, o maior reflexo do desequilíbrio do time pode ser notado no quanto o sistema defensivo foi vazado.

Será que com o tempo esse problema poderia ter sido consertado? Acredito que não, mas o fato do treinador ser tão anti-Flamengo e predisposto a bater de frente com a torcida certamente inviabilizou que se optasse por essa alternativa.

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O Flamengo não tomou gols no sábado, mas é preciso ter cuidado para não comparar o time do Fortaleza que entrou em campo escalado com oito reservas, por conta da decisão da Copa do Nordeste, com adversários de grande porte que o time enfrentou nestes cinco primeiros meses do ano. Marcelo Salles, o "Fera", trazido por Marcos Braz, na entrevista coletiva pareceu orientado a marcar posição antagônica ao que vinha até aqui fazendo o treinador demissionário. Sua crítica ao uso de bolas longas por jogadores predominantemente técnicos, embora procedente, não deixa de ser um bom exemplo. Reflexo da queda de braço entre os vice-presidentes de futebol e relações externas? Positiva ou negativa a resposta, é fato que o Flamengo foi mais solto e, como disse o Gustavo Villani (@gustavovillani) durante a narração, marcou "dois gols de videogame". O time pareceu mais autêntico dentro de campo e, além das jogadas dos gols, outras foram produzidas com interessantes trocas de passes rápidos entre os nossos jogadores, algo que parecia proibido até a partida anterior.

Mas nada está resolvido.

Ao mesmo tempo em que o "Fera" terá a oportunidade de sua vida, não somente por dirigir o time nos próximos três jogos entre a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro, mas por poder se desenvolver ao integrar uma comissão técnica com muitos profissionais europeus, nosso novo treinador, Jorge Jesus, terá a missão de tornar o Flamengo mais eficiente utilizando o que nossos talentosos jogadores de meio campo e ataque possuem de melhor. Alguns ranços de arame-liso ainda estão por lá, e o "queixo-de-vidro" defensivo, mais ainda.

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Falando no nosso treinador português, o diferencial de sua contratação será a qualidade da comissão técnica. Segundo o Paulo Vinicius Coelho (@pvc) neste texto em seu blog:

"O entendimento é que o treinador deve ser estrangeiro e não pode chegar sozinho. Uma andorinha só não faz verão. A lembrança de que Reinaldo Rueda chegou ao Brasil acompanhado de apenas um assistente produz a certeza de que esse foi fator determinante para que aceitasse o primeiro convite que lhe surgiu. Rueda sentiu-se remando contra a maré, numa estrutura viciada do futebol brasileiro. 
É isso o que pensa a cúpula rubro-negra.
Há decepção com a maneira como Abel Braga saiu, mas há também a admissão de que a contratação de Abel se deu pelos motivos aqui já listados. Queria-se um treinador com liderança no vestiário, para acabar com acomodação do elenco nos momentos de derrota. Em dezembro, escolheu-se um líder e uma grife.
Acertar na escolha, agora, e ter um técnico que faça o Flamengo parar de mudar a cada seis meses inclui pensar no conceito. O atual é de que haverá uma comissão técnica grande que acompanhe o novo chefe e ajude a mudar os conceitos na estrutura do clube. A ambição é que dê certo e fique de legado não só na Gávea. Para todo o futebol brasileiro."

É o que se pede nesse blog e por boa parte da FlaTT há um bom tempo... É dar um passo adiante, não se conformando com a mesmice estagnada e retrógrada que se tornou o futebol brasileiro; é fazer uso, na prática, de todo o avanço estrutural do clube desde 2013 em prol da qualidade no Departamento de Futebol. O Flamengo pode e deve ser tornar melhor fazendo. Por que então não fazer?

"Ah, mas o Jorge Jesus é isso, é aquilo, tem ego enorme, é folcórico e intratável". Percebam que não é simplesmente a pessoa ou o profissional Jorge Jesus, que um dia passará, como todos os outros treinadores, nem tampouco o irrelevante fato de não ter nascido no Brasil, mas a ideia da comissão técnica forte trazendo conhecimento atualizado, do primeiro mundo do futebol, do qual hoje, infelizmente, o Brasil não faz parte. Acaso fizesse e aqui estivesse o conhecimento, a busca se daria em território nacional, concordam?

O Flamengo, finalmente, tomou a direção e o rumo certos para o seu Departamento de Futebol.

Deixemos o Clube do Vinho afogar suas mágoas.

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O jovem Marcelo Salles, o "Fera", terá o maior desafio dos seus primeiros jogos como treinador na próxima terça-feira, no Maracanã, contra o Corinthians, no jogo de volta pelas oitavas de final da Copa do Brasil. O adversário teve o jogo da rodada do final de semana adiado e contará com os jogadores convocados por Tite (Cássio e Fágner); já o Flamengo jogou sábado e, ainda sem Jorge Jesus e sua comissão, não contará com duas peças muito importantes (Cuéllar e De Arrascaeta). Mas temos elenco, a vantagem da vitória em Itaquera e a Maior Torcida do Mundo, que certamente fará uma linda festa no Maracanã e nos ajudará a superar o Corinthians e a CBF.

A palavra, como sempre, está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.