Se por acaso existirem os tais "Deuses do Futebol", ontem certamente divertiram-se caprichosamente. O "Clube do Vinho" foi obrigado a ler e ouvir análises de vários jornalistas, alguns também relativizadores e simpatizantes da pauta esportiva do grupo enófilo, expondo a inexistência do trabalho tático de Abel Braga no Flamengo. A FlaTT e todos os "Abel Haters", por sua vez, tiveram que conviver com a divisão emocional entre o alívio de uma demissão do treinador e uma virada espetacular do time, que demonstrou, mesmo jogando muito mal, a inconformidade com a derrota, aqueles brio e chama por vitórias que há muitos anos haviam desaparecido do clube, marca comum dos escretes que almejam e conquistam os títulos mais importantes. Enfim, todo mundo foi contrariado pelos fatos e caprichos do futebol.
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Aliás, há muitos questionamentos a serem feitos ao trabalho de Abel Braga no Flamengo em 2019. Ontem, por exemplo, a par da deprimente atuação do time contra os reservas do Athletico, a não utilização de De Arrascaeta e a substituição de Gabigol por Lincoln foram verdadeiros flertes com o desastre. Dentre todos esses questionamentos, porém, certamente não estão a combatividade do time dentro das quatro linhas e o bom relacionamento do elenco com o treinador.
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No próximo mês de novembro completarei 50 (cinquenta) anos de idade. Quando o Flamengo conquistou a América do Sul e o Mundo, tinha 12 (doze) recém-completados. Lá se vão, portanto, exaustivos 37 (trinta e sete) anos sem comemorar esses títulos. Não quero comparar a espera, comum a muitos amigos do Buteco que têm a minha faixa de idade, com a de quem é mais novo e não teve a oportunidade de vivenciar os anos mágicos da "Geração Zico", mas gostaria de registrar que estou de saco cheio. Eu, você, nós, enfim, a torcida do Flamengo, estamos fartos dessa fila. Em razão disso, a ansiedade por pelo menos a Libertadores (nem precisa do Mundial) é tão visceral que, honestamente, eu relevaria a figura do Abel. Relevaria, assim, em tese, isto é, se a conquista desse título fosse algo provável, o que, contudo, não está parecendo ser o caso, tornando a relação custo x benefício um tanto duvidosa.
O "Pacote Abel" é muito difícil para a torcida rubro-negra assimilar. Não bastasse o histórico de 2004 e da genitália direcionada a um grupo de torcedores, a versão 2019 tem como "serviços oferecidos" constantes elogios e trocas do nome do clube pelo de seu mais antigo rival; flertes e declarações de admiração e saudades a um concorrente direto (e seu estádio), virtual adversário em eventual cruzamento pelas quartas de final da Libertadores/2019; declarações em entrevistas coletivas qualificando derrotas como visitante como fatos normais; trabalho tático (como dito) inexistente, sistema defensivo vazado como uma peneira e, last, but not least, implicância gratuita e injustificada com a maior contratação da história do clube, antagonizando-o com o atual camisa 10 da Gávea, símbolo máximo de um triênio de sucessivos fracassos em competições de grande porte, numa reedição de muito mau gosto da "saga" de Zé Ricardo, Márcio Araújo e Gustavo Cuéllar entre 2016 e 2017.
Vejam bem, não estou defendendo titularidade de ninguém pelo nome, mas opondo-me à boçalidade boleira que leva o dinossauro enófilo que treina o Flamengo a achar que o uruguaio não seria uma ferramenta útil nem mesmo para entrar no segundo tempo de partidas como a do Peñarol no Maracanã e a de ontem, contra o Athletico, até com o time atrás do placar. Não cabe discussão nesse assunto. Abel não tem o direito de agir de forma tão mesquinha e danosa com um ativo tão valioso e qualificado do clube.
Pior de tudo é que fatos tão estarrecedores ocorrem no meio de indiscreta curtida do vice-presidente de futebol para um tuíte pedindo a cabeça do treinador e notas de apuradores dando conta que o vice-presidente de relações externas, que parece mandar mais no futebol do que o vice-presidente de futebol, é quem isoladamente banca o treinador. Quando a gente liga os pontos e lembra que foi o vice-presidente de futebol que insistiu e batalhou para a contratação do uruguaio, e também lembra das declarações do treinador afirmando à imprensa que não pediu essa contratação, torna-se impossível não desconfiar do que está acontecendo. Não sei se a queda-de-braço político-institucional é a gênese do problema (provavelmente não), mas certamente é um grande facilitador para a indefensável e ridícula postura do treinador.
Sinceramente, tem hora que o Flamengo me cansa.
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Que a Nação Rubro-Negra não se engane: Barbieri e Dorival Júnior comandaram o Flamengo em seus melhores momentos na temporada/2018 durante sequências com jogos exclusivamente pelo Campeonato Brasileiro, exatamente o que começou a ocorrer no jogo de ontem, contra os reservas do Athletico, no Maracanã. A tendência é que o Flamengo marque entre 9 e 12 pontos no Brasileiro/2019 até a Copa América e se classifique para as quartas de final da Copa do Brasil, o que não pode, de maneira alguma, justificar análises descontextualizadas a respeito do, repito, inexistente trabalho tático de Abel Braga no Flamengo.
Até entendo esperar até a parada para a Copa América, mas o destino da temporada/2019 está diretamente ligado a quem comandará o Flamengo no segundo semestre. A Diretoria precisa decidir se deseja repetir 2017 e 2018 ou fazer história, como programou desde antes das eleições de 2013.
A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.