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Saudações flamengas a todos.

Abel inicia a temporada com o seguinte
time-base: Júlio César, Rafael, Júnior Baiano, Fabiano Eller, Roger; Da Silva,
Ibson, Fábio Baiano, Felipe; Jean, Andrezinho.

E o treinador não titubeia. Saca Júnior
Baiano, Andrezinho e Fábio Baiano da equipe, promove o retorno do veterano
Zinho ao meio e efetiva o jovem Henrique na zaga. Na frente, o garoto Diogo
(que estreara de forma retumbante, marcando quatro gols em dois jogos) ocupa o
lugar de Andrezinho. Dá certo de início, mas Abel, sentindo a necessidade de
compactar ainda mais o meio, saca Diogo e entra com mais um volante, no caso
Douglas Silva. Felipe vai para a frente, jogar na ponta-direita. Com essa
formação (e poucas variações), o Flamengo, com um time substancialmente
defensivo, conquista, com inesperada facilidade, o Estadual e chega às Finais da
Copa do Brasil, comandado por Felipe, que chega à Seleção. Depois, sucumbirá às
limitações do elenco e do próprio treinador, o que foge ao escopo dessas
linhas.
Mexer no que não está funcionando.
Passam-se quinze anos.
2019. O Flamengo mudou. Saneado e capaz de
grandes investimentos, o rubro-negro monta um dos mais fortes elencos do país.
Um plantel que, a despeito de alguns pontos fracos, reveste-se de plena
capacidade de conquistar os principais títulos em disputa e, principalmente,
quebrar um jejum nacional/internacional de taças que já avança para o seu sexto
ano, marca sem precedentes na história recente do clube. E, para comandar um
grupo formado por nomes como Arrascaeta, Gabigol, Bruno Henrique, Rodrigo Caio,
Diego Alves, Everton Ribeiro, Diego Ribas, Vitinho, Cuellar etc, o rubro-negro recorre a Abel
Braga.
Abel, que vê se aproximar o crepúsculo de uma
carreira vitoriosa, Campeão Brasileiro, Continental e Mundial, é escolhido por
seu perfil experiente e pragmático, capaz de trazer competitividade a um elenco
que havia demonstrado, nas últimas temporadas, certa incapacidade de lidar com
momentos de pressão extrema. A opção flamenga (decorrente da recusa de Renato
Gaúcho à proposta do clube) é repelida pela torcida, que ansiava por um nome
mais “antenado” e “moderno”, preferencialmente estrangeiro.
Cinco meses depois, a avaliação do trabalho de
Abel Braga converge, na mais benevolente das abordagens, à sensação de que
falta algo. Ao senso comum, é ruim mesmo. Bem ruim. Abaixo da crítica.
Medíocre. A ponto de ter sua permanência no comando do clube seriamente questionada,
mesmo (segundo alguns) em caso de classificação logo mais, na “guerra” contra o
Peñarol em Montevideo.
O que está dando errado?
Abel sempre foi um expoente do tal “futebol
reativo”, nome moderninho para designar as equipes que gostam de atuar retraídas,
em velocidade, no contragolpe. Seus times, por mais qualificados que fossem,
usualmente atuavam exercendo pressão inicial e, conquistada a vantagem no
marcador, entrincheiravam-se atrás da linha da bola para, aproveitando o
desespero do oponente, fustigá-lo e abatê-lo em estocadas certeiras. Ou, em
contingência, “estacionar o ônibus” na porta da área e garantir o resultado com
suor e sofrimento.
Assim o treinador construiu sua carreira.
Assim ganhou e perdeu. Assim se fez admirado, respeitado, rejeitado e odiado.

Problema é que Abelão nunca foi disso.

Repetindo o que se foi escrito por aqui, Abel
não foi contratado pra dar espetáculo, pra emular o Flamengo de Coutinho, pra
revolucionar o futebol brasileiro. Abel veio pra competir, guerrear e vencer,
mesmo que jogando lateral na área. Pra fazer o que sabe. Estacionar ônibus e
meter contragolpe. Seguir sua natureza. A partir do momento em que tenta emular
uma forma de jogo cuja execução não é simples e com a qual não está habituado,
cai na vala comum dos jovens imberbes ou dos nomes inexpressivos de mercado.
Torna-se incapaz de repetir o desempenho de um Dorival. De um Barbieri. Porque
não é a sua praia. Seu métier. Sua expertise.

Desnecessário pontuar que o contexto que
enfeixa as coisas do futebol monta-se e se desfaz como nuvens. As verdades
absolutas de hoje são desmentidas em minutos (como mostrou o hilário Grêmio 4-5
Fluminense, com o superestimado Fernando Diniz sendo “demitido” e “recontratado”
um cacho de vezes durante o jogo). De qualquer forma, o ambiente rubro-negro
segue fortemente carregado e adverso, quase hostil, à permanência de Abel Braga
no comando técnico do plantel. Não acredito em demissão em caso de
classificação no “Campeón del Siglo” (e vamos nos classificar, com toda a força
da fé flamenga), mas igualmente não creio em um ciclo muito duradouro além
disso. Ao primeiro tropeço, bandeiras e hashtags tremularão fortes e vibrantes,
troando seus “Fora Abel” aos quatro cantos. Como tem sido desde janeiro.

Do contrário, sairá pela porta dos fundos.
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Em
tempo: caso a trajetória de Abel no Flamengo seja encerrada, que a Diretoria do
Flamengo, tão diligente em enaltecer os fracassos da mal-sucedida gestão do
Futebol no triênio anterior, adote CRITÉRIOS coerentes para escolher o próximo
treinador. Que traga alguém sabendo o que quer e o que o contratado é capaz de
entregar. Do contrário, daqui a três ou quatro meses estaremos tornando a esse
tipo de discussão. Que já anda bastante cansativa, aliás.