quarta-feira, 13 de março de 2019

Alfarrábios do Melo


Saudações flamengas a todos,
Breves reflexões em pastilhas sobre o involuntário recesso de Carnaval em pastilhas, inspiradas no célebre “Triplex Top Ten”, do colega Alex Souteiro.

  • Jogos do Flamengo costumam levar à euforia, à alegria desmedida, à tristeza, ao desânimo, ao sarcasmo, à vontade de celebrar, à frustração. Mas poucos, muito poucos jogos me fizeram rebentar tanta irritação quando o empate dos reservas contra o Vasco, sábado passado. Um ataque apoplético de fúria, com ganas de arrebentar a tudo e a todos, a ira dardejando dos olhos injetados de sangue, a boca febril espumando correntezas salivares de ódio. Durou dias. E ainda não passou de todo. O Flamengo JOGOU NO LIXO o que teria sido uma vitória consagradora, marcante, daquelas de se comentar por anos.

  • O que mais incomoda é que, pasmem, o time comportou-se relativamente bem, dentro da controversa proposta “reativa” de Abel, fechando-se razoavelmente bem no meio e, a rigor, somente sofrendo perigo por conta da inexperiência da dupla de zaga (ainda não se falará de arbitragem aqui). Contragolpes armados em velocidade e tal. Mas a crônica incapacidade de matar jogos seguiu dando o tom. E a bola puniu, aos gargalhos.

  • Jogos de times reservas são interessantes para avaliar atuações individuais, a despeito das formações coletivas algo modificadas. Nesse contexto, a meu ver aproveitaram suas oportunidades e foram bem: César (dessa vez seguro, mesmo nas saídas de gol, seu ponto fraco), Thuler (soube sofrer na marcação do encrenqueiro ataque vascaíno), Trauco (apesar de certos problemas na segunda etapa, foi perigoso no apoio), Piris (limitado mas aguerrido, jogador de jogo grande), Arrascaeta (além do gol, mostrou objetividade), Éverton Ribeiro (a qualidade de sempre) e Vitinho (começou mal, mas depois se soltou e foi um tormento no ataque).

  • Por outro lado, acredito que não foram bem Hugo Moura (errou vários botes, por cima e por baixo), Vitor Gabriel (apanhou bastante, é verdade, mas mostrou-se muito tímido ainda), Lucas Silva (embolou-se com a bola em vários momentos. Mas a seu favor conta a personalidade. Não tem medo) e Bruno Henrique (errou vários lances por displicência e sentiu a pressão de matar a bola do jogo, transferindo a responsabilidade para Rodinei). Avaliação neutra, com viés de baixa, para Klebinho (correu muito e fechou o lado direito, mas mostrou certa incompatibilidade com a bola).

  • Deixei tópicos em separado para falar de dois jogadores. O primeiro, Ronaldo. O volante queridinho das redes sociais apresentou notória aversão ao contato físico e às bolas divididas. Errou alguns passes na intermediária (um deles com poucos segundos de jogo), que felizmente não resultaram em nada mais grave. Muitas vezes pareceu desconectado da partida, trotando para recompor e demorando para tomar decisões. Mas, quando entrou no jogo, foi sempre perigoso, com finalizações e passes verticais e de bom nível, como o que originou a jogada do gol. Prendeu bem a bola, soube rodar. A avaliação, para mim, foi neutra. Acho um bom jogador. Mas ainda correndo sério risco de se tornar algo como Muralha (o volante de 2011-13) ou Júnior Boneca.

  • O outro é a personagem negativa da partida. Rodinei. Jogador que costuma apresentar graves problemas cognitivos e de leitura de jogo, o que o fez, por exemplo, passar os noventa minutos atirando a esmo bolas a escanteio, proporcionando a única jogada de real perigo dos vascaínos, é voluntarioso e possui bom rendimento físico. No entanto, já demonstrou, ao longo de três temporadas que não reúne condição técnica de integrar um elenco com as aspirações do nível das que o Flamengo apregoa possuir. O lance de sábado me fez desistir, em caráter irrevogável e irreversível, do jogador. Típico lateral que vai voar num Grêmio ou Cruzeiro da vida. Aqui, não vai se criar. Que a chegada de Rafinha ou do Matheuzinho encerre de vez sua opaca passagem pela Gávea.

  • É aquilo. À inacreditável chance perdida por Rodinei, pode-se acrescentar os pênaltis do Diego (Palmeiras e Cruzeiro em 2017), o gol perdido pelo Éverton diante do goleiro do Independiente (2017), o gol perdido pelo Diego (ele de novo) contra o Corinthians em 2017, a bola, e o título, que o Paquetá mandou pro espaço ano passado contra o Palmeiras, o gol perdido pelo Uribe contra o São Paulo (sem goleiro), o Vitinho atirando na lua a vitória contra o mesmo São Paulo (dessa vez, no Morumbi)… O Flamengo tem se especializado em se recusar a vencer. A glória se lhe esfrega à cara. Mas o time simplesmente refuga. Por que?

  • Rever, Diego, Arão, Pará. No final do ano passado, eu identificava que nenhum processo de reformulação seria bem-sucedido se algum desses nomes fosse mantido no elenco. Depois, até mudei de ideia com relação ao Diego, que poderia se tornar um bom nome “de elenco”. Pois. Dos quatro, apenas o primeiro saiu. Os demais são titulares absolutos e aparentemente intocáveis. Talvez isso ajude a responder à pergunta anterior.

  • Desnecessário se estender mais detalhadamente sobre a atuação da arbitragem no sábado. Que, após o gol de Arrascaeta, dedicou-se, com ímpeto raras vezes visto num campo de futebol, a cavar o “honroso” empate para os de São Januário, cuja derrota para nossos reservas poderia fazer do seu já turbulento ambiente político um real inferno. E nisso, tome faltinhas inventadas na beira da área, pescoções e voadoras nos nossos ignoradas olimpicamente, e o previsível desfecho final de pastelão (ficou claro o movimento sincronizado dos vascaínos começando a cair na área assim que o relógio marcou 40 minutos). A questão é: “time que não mata jogos”, “elenco mal formado (agora sem volantes e tendo que recorrer a zagueiro improvisado)”, “dirigente saindo de férias”, “dirigente que só mostra a cara na vitória”, “escalação de jogador 'da panela'”, “time sendo perseguido e roubado nos campeonatos”… Está-se falando de 2017, 18? Ou de agora? Ainda é cedo para avaliar o desempenho da administração nova, e não vou fazê-lo por ora. Mas que se travestir de pedra soa bem menos oneroso do que se expor a vidraça, ah isso é.

  • Vi LDU x Peñarol. Jogo de nível (técnico e tático) bem mais baixo que os de River Plate, Emelec e Santa Fé ano passado. Mas bem mais baixo mesmo. Os dois times são “ganháveis”. Mas extremamente perigosos, ainda assim. Até porque, em Libertadores, qualquer time contra o Flamengo é perigoso. Mas, enfim. A LDU é um time leve, veloz, que troca passes com objetividade e usa muito o lado do campo, especialmente com Ayovi, que tocou o terror contra os uruguaios. O ataque cria (e perde) muitos gols. O meio é espaçado e de marcação gentil (o fraco Orejuela, ex-Fluminense, é titular). A defesa não me pareceu sólida. É aquele tipo de equipe que parece “jogar e deixar jogar”. Ou, no caso, fortíssima em casa e vulnerável fora. Mas essa é a lógica. Que nem sempre dá as caras. O Peñarol, por seu turno, faz (ou tenta fazer) jogo reativo, de contragolpe. O goleiro é bom, a defesa se vira. No meio, há uns dois jogadores de bom nível. Mas o resto do time é tecnicamente pavoroso. Briga com a bola. Mas a raça, a entrega e a atitude estão ali. Tiveram duas chances claras de empatar o jogo em Quito, mas a ruindade dos atacantes o impediu. Os dois jogos contra eles, especialmente o de Montevideo, serão encardidos e catimbados. Tipo de contexto que, como sabemos, ultimamente tem trazido problemas para o nosso time de rapazes “do bem”.

  • Vejo muitos nas redes sociais falando em “classificação antecipada” nesses três jogos do Maracanã e tal. Até acho que é algo possível, sim. Mas não custa lembrar que na edição passada da Libertadores o Flamengo, das quatro partidas que fez no Rio, ganhou apenas uma. Sempre é bom respeitar o contexto.

  • Finalizando. Diego Alves, Pará, Léo Duarte, Rodrigo Caio, Renê, Piris, Cuellar, Arrascaeta, Éverton Ribeiro, Gabigol, Bruno Henrique. Essa é a escalação que considero, hoje, que deveria ser a base da equipe. Que, se pretende ser reativa, precisa dispor de jogadores verticais e velozes. E, principalmente, saber se compactar atrás. Até porque hoje não temos nem uma coisa (agressividade no contragolpe), nem outra (compactação na defesa).

Boa semana a todos,