Tragédias como a da última sexta-feira costumam levar a reflexões a respeito do que somos, de onde viemos, para onde iremos após a morte e, por que não dizer, se existe algo pré-traçado por algum ente ou força. Sempre encontrei na palavra de Cristo, para mim o ser mais iluminado que já andou por esse planeta, o norte para as pessoas se inter-relacionarem. Ainda assim, nunca consegui me encaixar na maneira pela qual a maioria das pessoas a interpreta e aplica a religião em suas vidas. Há alguns anos tive a oportunidade de conhecer melhor as filosofias orientais. O taoismo explica o universo de uma maneira que pacificou muitas dúvidas que me inquietavam. A mim, é o que até hoje fez mais sentido. Tento esvaziar minha mente sempre que me percebo abraçando alguma premissa inquestionável, dos menores detalhes ao que para mim é mais complexo ou às vezes definido. Aprendi que a suprema euforia e a profunda tristeza são sentimentos próximos, irreais. De uma certa maneira, deixa a gente "menos emotivo", para o bem e para o mal. Mas o que são o bem e o mal senão a interpretação de fatos segundo as nossas próprias lentes, os nossos dogmas, a nossa visão, individual e restrita, de algo que é maior, multidimensional e infinito?
Desenvolvi a capacidade de ceder. É como dizem: o galho que não verga se quebra. Porém, mesmo convicto de que o certo é saber se renovar e que as certezas podem ser as paredes de uma prisão psicológica, mesmo achando que nada começa ou termina por aqui, e que esta vida é uma passagem, minhas limitações dificultam a compreensão da tragédia que vitimou os meninos. Talvez o sentido não seja compreender, mas aprender a superar e se posicionar diante do todo. Onde enxergo sofrimento, pode existir a libertação. Porém, as lágrimas definem o momento, e nem a mais bonita e profunda filosofia supera o pesar por ter sido tão curto, entre nós, o caminho daqueles dez jovens atletas rubro-negros.
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Tenho o futebol como uma válvula de escape. É como se fosse uma guerra simulada, com regras de disputa, na qual ninguém deveria se machucar. Uma permissão para darmos vazão a sentimentos às vezes primitivos, embora o propósito, talvez contraditório, seja o de promover a convivência sadia entre as pessoas. Na prática, contudo, atletas, dirigentes, torcedores, jornalistas e outros profissionais se desviam da proposta original e muitas vezes se ferem de maneira egoísta, disparando ódio e intolerância uns contra os outros.
Até que a tragédia nos une novamente.
Era pra ser apenas diversão, mas o futebol se tornou uma mera repetição de outros setores da vida. Superado o luto, as pessoas voltam a enxergar apenas o que querem, com os medos e feridas determinando suas ações.
Deveria acontecer o contrário.
Deveria acontecer o contrário.
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O torcedor do Flamengo aprendeu a ter zelo pelo clube; a valorizar vetores como uma gestão cidadã, saneada e profissional, assim como a relação sadia com funcionários e atletas. Voltou a ter orgulho do desempenho e das revelações da base, a sentir o gosto de disputar os títulos mais importantes. Puro DNA rubro-negro. O Ninho do Urubu é o hoje o maior símbolo da nossa autoestima. Com certeza queremos mais e criticamos certa hesitação do clube em adotar postura mais competitiva dentro das quatro linhas, mas ninguém o imagina retrocedendo ao cenário do início do Século XXI.
É difícil aceitar que logo o clube que consolidou essa fantástica mudança cultural, infelizmente não reconhecida como deveria pela confusa imprensa esportiva brasileira, passou nos últimos doze meses por situações como o desmoronamento de uma torre de iluminação do estádio da Ilha do Urubu e, nos últimos dias, a tragédia do Ninho do Urubu, logo no Ninho do Urubu. Logo o clube que mais investe na formação de atletas no país, talvez nas três Américas.
Dizem que a crise é a força-motriz do crescimento. O tempo forçará o Flamengo olhar para dentro de si, possivelmente até por uma investigação interna, e tentar encontrar explicações e respostas para o que ocorreu. Parece-me claro que, para prosseguir no caminho do crescimento, o clube terá que aprender a lidar melhor com o pleito eleitoral e a possibilidade de mudança de poder a cada triênio.
Nenhuma disputa justifica deixar de lado os fantásticos avanços que conquistamos.
Bom dia e SRN a tod@s.
É difícil aceitar que logo o clube que consolidou essa fantástica mudança cultural, infelizmente não reconhecida como deveria pela confusa imprensa esportiva brasileira, passou nos últimos doze meses por situações como o desmoronamento de uma torre de iluminação do estádio da Ilha do Urubu e, nos últimos dias, a tragédia do Ninho do Urubu, logo no Ninho do Urubu. Logo o clube que mais investe na formação de atletas no país, talvez nas três Américas.
Dizem que a crise é a força-motriz do crescimento. O tempo forçará o Flamengo olhar para dentro de si, possivelmente até por uma investigação interna, e tentar encontrar explicações e respostas para o que ocorreu. Parece-me claro que, para prosseguir no caminho do crescimento, o clube terá que aprender a lidar melhor com o pleito eleitoral e a possibilidade de mudança de poder a cada triênio.
Nenhuma disputa justifica deixar de lado os fantásticos avanços que conquistamos.
Bom dia e SRN a tod@s.