Damon Hill, um piloto meia-boca, já ganhou a Fórmula 1. Tinha um grande carro. E este carro sobrepujou os demais pilotos. Não exatamente seu talento, embora para estar na Formula 1, de todo jeito, não é para qualquer um. Dirige-se dentro de um bólido de fibra, cercado de motor e asfalto, em alta velocidade, sujeito a pressões e temperaturas inimagináveis. Além da necessidade de manter o foco todo o momento senão bate na primeira curva.
Um técnico de futebol no Flamengo tem lá suas semelhanças. Uma pressão gigantesca, "temperaturas" oscilantes baseados no desempenho do time e no que milhões de auto-conclamados "técnicos" esperam. Suas escolhas são examinadas com microscópios, suas declarações esmiuçadas em buscas de falhas e enganos. O escrutínio implacável dos torcedores não deixa barato nada. Suas preferências individuais são muitas vezes ridicularizadas e seu papel enquanto profissional menosprezado.
E o Abel? Abel é nosso "Damon Hill" atual. Um técnico não exatamente estado da arte na profissão, porém eficiente dentro de suas propostas um tanto quanto limitadas no futebol moderno mas que ainda se encaixam bem no arcaico sistema de jogo que ainda é disputado no Brasil. Conta com uma boa máquina, que é o valorizado elenco do Flamengo, com jogadores muito qualificados cuja grande maioria seriam titulares em qualquer time brasileiro. Vem obtendo vitórias em que o brilho individual sobressai do esquema tático previsível e antiquado. Sabe comandar o vestiário, tem autoridade, o que basicamente pode ter faltado ao Flamengo nestes anos recentes para conquistar título. Chegou perto com Rueda, que também tem autoridade. Abel é um técnico mais neste estilo. Não é "amigo", não é "estagiário", é um chefe. E isto tomara que seja determinante.
Mas espero que uma vez conquistado estes títulos, o Flamengo, enquanto instituição, busque soluções técnicas modernas para o grande salto de conquistas internacionais relevantes. Para isto aposte em comissões técnicas modernas e eficientes, que use melhor os talentos disponíveis para uma maior supremacia tática em que o domínio do jogo fique em nossas mãos.