Saudações
flamengas a todos.
Quando
o Flamengo sofreu o primeiro gol do Bangu domingo passado, certa
sensação de déjà-vu me passou pela cabeça. Algo como: “já vi
esse filme antes”. Com efeito, após o final da partida fui
consultar meus alfarrábios e constatei que minha memória não me
havia traído. Pois. O enredo usual dos encontros entre Flamengo e
Bangu tem sido marcado por um favoritismo claro dos nossos e a
expectativa de um placar elástico sempre quebrada por aquele
golzinho inoportuno, que ao menos é incapaz de evitar o final feliz.
E nisso lá vai 2-1 pra lá e pra cá. Nada, nada, ao menos ano que
vem, quando de novo encontro entre as duas equipes, os que apreciam
apostar em bolões e quetais já dispõem de um bom palpite.
Segue
breve histórico da saga.
* * *
BANGU 1-2 FLAMENGO,
2009
Raulino
de Oliveira, Volta Redonda-RJ
Partida
válida pela segunda rodada da Taça Guanabara. O Flamengo busca nova
trajetória após o traumático desfecho da temporada anterior. E,
ainda assimilando a forma de jogo do novo treinador Cuca, o
rubro-negro quase se trai pelos nervos diante do frágil Bangu
(recém-promovido da Série B). Diante de uma torcida ainda
ressentida das frustrações de 2008, e por isso mesmo já disposta a
vaiar qualquer lance errado, o time, nervoso, constroi e desperdiça
inúmeras oportunidades de gol, especialmente com Obina, que,
visivelmente fora de condições atléticas, não consegue dar
sequência aos lances. Ainda assim, o baiano protagoniza o principal
lance da primeira etapa, ao acertar um belo chapéu em um zagueiro e
emendar pela linha de fundo. No entanto, Obina enfurece o torcedor ao
mandar na trave uma cobrança de pênalti. Na volta do intervalo, o
Flamengo aperta a pressão, mas quando o gol parece iminente o Bangu,
num contragolpe, abre o marcador, por meio de Rafael Soeiro,
aproveitando um rebote que espirra ainda no atacante Somália (em
impedimento). O revés descontrola a equipe, que passa a pressionar
de forma desgovernada. No fim, quando a partida parece caminhar para
um desastre, Maxi saracoteia na frente de um zagueiro e é derrubado.
Pênalti, que o controverso Marcelinho Paraíba (que contesta o clube
por atrasos de salários e já entra em rota de colisão com Cuca,
que o barra) cobra com categoria e empata. E Marcelinho, que entrara
no jogo na segunda etapa, cobra escanteio na cabeça de Ronaldo
Angelim, que manda no canto, sem defesa para o arqueiro Diogo. Aos 45
da segunda etapa, o Flamengo vira para 2-1 e se livra da primeira
crise do ano. Mas não irá demorar.
BANGU
1-2 FLAMENGO, 2010
Engenhão-RJ
Terceira
rodada da Taça Guanabara. O Flamengo vive dias de festa, ainda na
ressaca do Hexacampeonato conquistado pouco mais de um mês antes. E,
como se não bastasse, celebra a chegada do atacante Vágner Love
que, hostilizado pela torcida palmeirense após a perda do
Brasileiro, tem seu empréstimo junto ao CSKA-RUS repassado ao
rubro-negro. A expectativa pela formação de um ataque devastador
com Adriano faz o torcedor sonhar com a conquista da Libertadores e
do Mundial. Surge o Império do Amor. No entanto, a realidade mostra
uma equipe desfigurada em relação à que conquistou o Brasileiro.
Com jogadores negociados, devolvidos ou lesionados, e repostos por
outros reforços de nível duvidoso, um Flamengo bastante diferente
daquele que povoa o imaginário inicia sua caminhada na temporada.
Após duas vitórias mais difíceis que o esperado, o rubro-negro
alinha para enfrentar o Bangu, na estreia do seu poderoso ataque. E
Vágner Love não decepciona. Mostrando muita raça e uma genuína
vontade de defender o rubro-negro, o novo Camisa 9 é, com sobras, o
melhor em campo. O Bangu (lanterna da competição) começa
assustando, mas o Flamengo, comandado por Love e Adriano, logo passa
a controlar as ações. E, num chute de Fernando que o goleiro Marcos
Leandro solta, Vágner Love leva ao delírio os 15 mil torcedores
presentes no Engenhão, abrindo o marcador. Embalado, o Flamengo
ainda pressiona, acerta várias vezes a trave do Bangu e chega ao
segundo gol já aos 46 da primeira etapa, quando Adriano ganha uma
disputa pelo alto e na sobra um Vágner Love completamente sozinho
apenas tem o trabalho de se livrar do goleiro e empurrar para o gol
vazio. No entanto, o que parecia desaguar em uma goleada tem seu
curso mudado ainda nos descontos do primeiro tempo, quando um
esbaforido Vinícius Pacheco derruba o banguense Abílio dentro da
área. Pênalti, que Tiano converte, trazendo indesejáveis momentos
de sufoco e apreensão na segunda etapa, em que o goleiro Bruno é
forçado a intervir para garantir a estreia vitoriosa do Império do
Amor. Mais uma vez, o Flamengo vence, mas não convence. O
desequilíbrio da equipe cobrará seu preço mais tarde.
BANGU
1-2 FLAMENGO, 2011
Cláudio
Moacyr, Macaé-RJ
Taça
Rio, segunda rodada. O Flamengo, no embalo da conquista da Taça
Guanabara, enfrenta o Bangu buscando consolidar a liderança de seu
grupo também no Returno do Estadual. A equipe comandada por
Ronaldinho Gaúcho começa a mostrar um futebol competitivo e
eficiente. E que sufoca o adversário nos primeiros quinze minutos.
Mas o gol não sai, por conta dos erros de finalização (efeito
colateral de não contar com um atacante de referência, em função
do deslocamento de Ronaldinho para a posição de “falso nove”).
O Bangu, espremido, tem seu desafogo no inusitado atacante Pipico,
que começa a infernizar a defesa rubro-negra, levando à loucura o
(criticado) zagueiro Wellinton. Mas a primeira palavra é mesmo do
Flamengo. Aos 24, Léo Moura (em grande atuação) arranca pela
direita e se trança dentro da área com o lateral Fabiano Silva. O
árbitro Djalma Beltrami assinala o duvidoso pênalti, que Ronaldinho
converte com precisão. Gol e Bonde do Mengão Sem Freio, para festa
da torcida. Mas não dá para comemorar muito. Dois minutos depois,
Pipico, sempre ele, saracoteia na frente de Wellinton e se esbarra
nas pernas do zagueiro. O árbitro, para “compensar”, também
marca o pênalti inexistente. Pipico, o nome da noite, cobra e
empata. O gol desnorteia o Flamengo, que somente se reencontra na
segunda etapa. O treinador Vanderlei Luxemburgo coloca os atacantes
Diego Maurício e Wanderley (o amuleto da equipe) em campo, mas o
Flamengo não consegue transpor a defesa banguense. Acerta a trave,
faz o goleiro Thiago Leal trabalhar com grandes defesas, mas o tempo
vai passando e o 1-1 resiste teimosamente no placar. Para piorar,
Pipico segue encontrando espaços e levando perigo em contragolpes
mortais. É somente nos descontos que o Flamengo consegue exercer uma
pressão insana, ao limite do insuportável. Cria e empilha uma
chance de gol atrás de outra. E, aos 50 minutos, tem enfim seu
esforço recompensado, quando Diego Maurício, após cobrança de
escanteio, consegue mergulhar de cabeça para o gol, soltando o grito
que estava entalado na garganta do torcedor. O Flamengo mostra
estrela, vence mais uma partida nos minutos finais e segue sua
caminhada para o título que conquistará invicto.
FLAMENGO
2-1 BANGU, 2012
Cláudio
Moacyr, Macaé-RJ
Sexta
rodada, Taça Rio. O início de 2012 é envolto em crise e
turbulência. A demissão de Vanderlei Luxemburgo, as revelações
sobre o comportamento extracampo de Ronaldinho Gaúcho, a contratação
de Joel Santana, que jamais conta com o apoio de uma torcida de redes
sociais cada vez mais estridente, a corrosão do prestígio da
Diretoria e, principalmente, os resultados erráticos dentro de campo
fazem o Flamengo viver algo semelhante a um inferno astral. E é
assim que o rubro-negro vai a Macaé enfrentar o Bangu. O ambiente é
tenso. A derrota para o Olimpia-PAR, na quarta-feira anterior, torna
real o risco de eliminação da Libertadores ainda na Primeira Fase.
Mas o time de Moça Bonita, que briga contra o rebaixamento, parece o
adversário ideal para uma reabilitação. Espaçado e lento, o
alvirrubro concede ao Flamengo os espaços suculentos para as
evoluções de Ronaldinho, Deivid e Vágner Love. E as chances se
multiplicam. Aos 16 minutos, após belíssima tabela com Ronaldinho,
Vágner Love abre o marcador. O Flamengo segue pressionando e
perdendo uma chance atrás da outra (numa delas, Ronaldinho, sem
goleiro, escora sobre o gol), mas chega aos 2-0 num contragolpe em
que Deivid serve Vágner Love. O goleador das tranças anota seu
segundo tento e a goleada parece iminente. Mas a displicência nas
finalizações impede que o placar seja alterado. Na segunda etapa, o
Flamengo, preocupado com a viagem para o jogo crucial de Guayaquil,
reduz o ritmo e com isso um desesperado Bangu avança suas linhas e
começa a pressionar. Dá certo. Após algumas defesas espetaculares
de Felipe, o alvirrubro enfim chega a seu gol, quando Sérgio Júnior
sobe mais que Gonzalez e cabeceia para as redes. Os últimos quinze
minutos são de um jogo franco, em que o empate chega a se tornar
palpável. Mas o Flamengo (que também desperdiça inúmeras chances
de ampliar), consegue manter os 2-1 que lhe alçam à liderança de
sua chave. A tormenta parece debelada. Mas logo voltará. Ainda mais
forte.
BANGU
1-2 FLAMENGO, 2013
Raulino
de Oliveira, Volta Redonda-RJ
Taça
Rio, terceira rodada. Vivendo forte crise, o Flamengo precisa
desesperadamente de uma vitória que traga paz ao trabalho do novo
treinador Jorginho. Mas, sofrendo com desfalques, Jorginho é
obrigado a improvisar o volante Luiz Antonio na lateral-direita. E
justamente Luiz Antonio, aos três minutos de jogo, chega atrasado na
marcação ao atacante Sérgio Júnior, que escora um cruzamento
rasteiro e abre o marcador para o Bangu. O gol prematuro esfacela o
controle mental do rubro-negro, que não consegue criar rigorosamente
nada. Apenas o meia Gabriel mostra alguma movimentação, mas em duas
oportunidades desperdiça a chance do empate com finalizações
erradas. O primeiro tempo termina com o placar adverso e o Flamengo
descendo para o vestiário ostensivamente vaiado pelos 1.600
espectadores, que escolhem o apático e desinteressado Carlos Eduardo
como seu alvo principal. Jorginho saca Carlos Eduardo e Luiz Antônio,
desloca o volante Elias para a lateral-direita e manda o jovem
Rodolfo a campo. Rodolfo, egresso do Madureira, muda radicalmente os
rumos da partida. Mostrando mobilidade, dinâmica e um jogo curto,
faz o Flamengo amassar o Bangu em seu campo e enfim impor um futebol
superior. Aos 20, recebe de Rafinha e acerta um chute espetacular no
ângulo de Getúlio Vargas, um golaço sensacional que empata a
partida. O Flamengo se anima e passa a acossar a meta adversária,
mas somente chega à vitória aos 42 minutos, numa cobrança de falta
de João Paulo que atravessa toda a área, resvala num zagueiro e vai
às redes. Esse jogo marcará uma espécie de relação platônica
entre a torcida e Rodolfo, que jamais voltará a atuar nesse nível.
Por fim, os 2-1 trarão um breve hiato de alívio, logo sobreposto
por dias difíceis. São tempos difíceis.
FLAMENGO
2-1 BANGU, 2015
Maracanã-RJ
Taça
Guanabara, 12ª rodada. O Flamengo de Vanderlei Luxemburgo segue
buscando encaixar suas peças. Mas, em um Maracanã para 6 mil
presentes, o rubro-negro segue encontrando dificuldades para fazer
seu jogo fluir. Numa primeira etapa de nível técnico muito baixo,
onde são dignos de registro apenas duas bolas mandadas na trave
pelos flamengos e um gol do Bangu corretamente anulado, o 0-0
maltrata os olhos dos espectadores. Na segunda etapa, Luxemburgo
promove a entrada do jovem lateral-esquerdo Jorge, em substituição
ao inoperante Thalyson. Mas é pela direita que o Flamengo consegue
imprimir uma blitz que resulta em dois gols relâmpago, ambos
protagonizado por boas jogadas de Marcelo Cirino. Na primeira, o
atacante encontra Alecsandro livre dentro da área, aos 6 minutos. E,
aos 8, Cirino aciona Pará, que invade a área e coloca na saída do
goleiro Márcio. Mas o Bangu não desiste e, comandado pelo
experiente meia Almir, começa a explorar os espaços deixados por
Jorge. Num desses lances, Almir recebe na esquerda, corta pro meio e
manda rasteiro, diminuindo a desvantagem. Mas o alvirrubro sente o
desgaste e não consegue pressionar. O Flamengo cadencia o jogo e
mantém a vitória sem dificuldades. A atuação de Almir lhe renderá
uma (contestada) contratação pelo Flamengo. Luxemburgo, por sua
vez, jamais conseguirá dar o desejado padrão à equipe, e será
tragado pelo desfecho do semestre. E sairá atirando.