Prezados amigos do Buteco
Inicio meu primeiro post nesse honrado espaço Rubro Negro me apresentando. Sou André Amaral, autor do blog Ninho da Nação, no ar desde 2008, e com grande alegria fui convidado pela diretoria do Buteco (e eu aceitei com muita honra) para ser colunista quinzenal nesse espaço aos sábados.
E justamente estreio nesse 8 de dezembro de 2018, dia de eleições no Flamengo. Dia histórico para renovar as ideias de democracia e do debate, sempre visando o melhor para a nossa maior paixão.
Um pleito eleitoral que ainda precisa de ajustes. Já foi uma conquista passar para o final de semana, principalmente para quem mora fora do Rio de Janeiro. Agora precisará evoluir, pois é inadmissível que se escolha o presidente do Flamengo apenas em dezembro, uma semana depois do término do campeonato brasileiro.
A eleição precisa ser em outubro, para que não engesse a transição e o planejamento da próxima temporada. Como disse o ex-presidente do Bahia, Marcelo Sant'Ana: "boa parte do futebol que você verá no ano seguinte é jogador agora, nesse período".
Basta ver que o principal adversário do Flamengo, o Palmeiras, já engatilhou a contratação de três jovens jogadores: Arthur Cabral, 20 anos, do Ceará;
Zé Rafael, 25 anos, do Bahia;
Matheus Fernandes, 20 anos, Botafogo.
Talvez Renato Gaúcho pudesse ter aceitado negócio se já tivesse uma diretoria eleita e já tocando o futebol pro próximo triênio. É difícil recusar uma proposta de renovação, em um ambiente já completamente moldado ao seu perfil, quando se tem o risco de nem saber quem vai encontrar no próximo trabalho.
Outra questão que o clube da Gávea precisa prosperar é a implantação da votação on line, via aplicativo, conforme já realizado pelo Internacional, um dos pioneiros em massificar seu pleito eleitoral.
O passo mais decisivo, no entanto, será justamente esse: ampliar o quadro eleitoral Rubro Negro, para que não somente o sócio frequentador da sede social vote, mas o torcedor fanático, aquele que talvez nunca irá pisar na Gávea, mas que tem interesse legítimo em escolher quem vai tocar o futebol do Flamengo.
Essa será a minha segunda eleição. Da primeira vez, meu voto foi na reeleição do Eduardo Bandeira. Dessa vez, no entanto, meu voto será em Rodolfo Landim.
Lá na eleição em 2013, se recordam, ninguém sonhava em ser campeão, em ter uma grande equipe. Os objetivos eram: moralizar financeiramente, eticamente e moralmente o clube, tornar os esportes olímpicos sustentáveis, fazer com que o Manto voltasse a exibir patrocínio. Com uma dívida que passava dos R$ 700 milhões, após uma gestão patética de Patrícia Amorim, o Flamengo precisava se erguer.
Ninguém cobrou desempenho, ninguém sonhava com conquistas, a torcida abraçou a ideia de que seriam três anos duros, de corte na carne, de perder seu principal jogador por simplesmente não ter como pagar. E assim foi feito.
Três anos depois, já com a casa praticamente em ordem, era a hora do futebol começar a ganhar. Após a vitória em 2015, escrevi no Ninho da Nação que Bandeira e sua chapa não teriam mais o direito de errar. Que o foco, a concentração de todo o trabalho deveria ser no futebol, que deveria começar do zero.
Após esse período, infelizmente, a gestão fracassou e se perdeu. A receita do futebol subia a cada ano, o investimento seguia também em uma linha crescente, com uso de softwares, tecnologia, estruturas, processos, protocolos, mas os títulos não vieram.
Toda era parafernália torna-se irrelevante quando o gestor de futebol dito profissional aposta em Carpegiani de treinador, que havia chegado inicialmente para ser coordenador. Em seguida, aposta em um treinador que só havia treinado um time da série B de São Paulo. Ato contínuo, demora dois meses para demitir esse iniciante na função, que não conseguia mais trocar a roda do carro andando.
Enquanto isso, o adversário, que estava oito pontos atrás, demite seu treinador, contrata um experiente, fecha o vestiário e consegue ser campeão com fatídicos oito pontos na frente. O futebol as vezes é simples, basta entender como funciona.
Não há modelo de gestão que resista à escolha de se jogar Brasileirão, Libertadores e Copa do Brasil, três jogos por semana com os mesmos titulares. Era humanamente impossível manter o foco e a pegada em todas as partidas. Principalmente pelo esquema escolhido por Barbieri que precisava ter intensidade em todos os momentos, sem fraquejar.
Ou ainda, quando os reforços só chegam após o recesso da Copa do Mundo.
O modelo atual naufragou. Foram tantos erros, que nem o vice-campeonato dessa temporada pode mascarar o que foi esse ano, desde a saída do Rueda até a venda do Paquetá faltando dez rodadas pro fim do campeonato.
Por isso é hora de mudança. O futebol precisa tomar um novo fôlego, uma nova forma de ser gerido. A escolha agora é na turma que ajudou a pavimentar três anos atrás o clube estruturado que é hoje, longe, portanto, de serem aventureiros.
Quem ganhar a eleição terá um trabalho pesado na reconstrução de um futebol competitivo. Acredito que o primeiro passo seja o incomodo com as derrotas, e não discursos de aceitação de eliminações e fracassos, ou de que, uma hora ou outra a bola passaria a entrar, sem que fizessem nada para corrigir os erros.
O segundo será ter os melhores profissionais à frente do futebol. Começando pelo treinador, que precisa ser tratado como se fosse a contratação de um atacante top do mundo, ou seja, de suma importância, e não mais relegados a meros estagiários, que caem de paraquedas para treinar um time da intensidade que é o Flamengo.
Hoje contrata-se mais analisando o impacto do nome do que pela característica do treinador, alinhando ainda com as características do seu elenco.
Em terceiro, as contratações. Nunca vi um elenco com tantos bons profissionais, que batem seu cartão no horário, que nunca causaram problemas e escândalos, como esse grupo atual, mas que são apenas protocolares no futebol. O CIM não pode ter a última palavra. Talvez, ter mais de uma opinião, possa ajudar a mitigar os erros na contratação. Além de melhorar o perfil dos reforços, sempre muito morno, blasé, sem sal e quase ou acima dos 30 anos. Um exemplo, foi a escolha pelo comportado, educado e profissional Rômulo e não o Felipe Mello, que iria bater de frente ali no vestiário no primeiro que fizesse corpo mole.
Que 2019-2021 o foco seja na atividade fim do Flamengo: vitórias, títulos, conquistas. E que todo restante seja tratado como meio para chegar às conquistas e não o objetivo central.
Quem vencer no dia de hoje não será tratado como mito, herói, ídolo - foi um dos erros que ajudaram a criar esse monstro que se tornou o atual presidente. Agora, o novo mandatário terá a torcida no cangote. Não tem mais discurso que ficará em pé se os títulos não vierem.