“Tecnocracia:
modelo de governabilidade funcional fundado na supremacia dos técnicos.”
Saudações flamengas a todos,
Toda eleição, sem
exceção, seja para o que for, é a principal ferramenta à disposição de um
regime democrático para ouvir o que pensam e querem os respectivos votantes. É,
no caso do Flamengo, onde se estabelece a comunicação entre o corpo dirigente e
seus associados. Que indicam, de forma clara e insofismável, o que desejam do
clube para os anos vindouros.
Em 2015, a Situação
pleiteava a reeleição de Eduardo Bandeira de Mello, cujo mandato, até então, havia
se notabilizado por protagonizar o mais espetacular e bem-sucedido resgate da
viabilidade administrativa da Instituição desde o trabalho desenvolvido pela
FAF no final dos anos 70. Acenava com a continuidade do projeto de restauração do
protagonismo do Flamengo, agora com ênfase no campo esportivo, notadamente no
futebol, onde os resultados ainda não refletiam a percepção de excelência
auferida em outras áreas da gestão. Para tal, prometia a construção de um
Centro de Treinamento de vanguarda, o aprimoramento de equipamentos e
instalações, dotando o clube de uma estrutura de primeira linha, a contratação
de empresas de consultoria reconhecidas mundialmente, e a montagem de um elenco
de profissionais (jogadores e comissão técnica) de nível compatível com a dimensão
e o porte de um clube como o CR Flamengo.
Em contraponto, uma
Oposição, liderada pelo grupo que, em 2015, cindiu a dita Chapa Azul original
por questões de divergência política, despendia tempo e energia repetindo ao
eleitor uma triste história acerca de uma suposta “traição” a um acordo que
previa um revezamento no cargo de Presidente. Negava a pecha de “oposição”, com
uma mensagem confusa sobre a paternidade de acertos e erros da Diretoria.
Criava factoides, “anunciando” o interesse em alguns profissionais, o que era
rechaçado pelos mesmos. Notabilizava-se pelo uso de ferramentas controversas de
disseminação de mensagens nas redes sociais. Não conseguia ser clara acerca do
que queria. Carrancuda, abraçava-se em uma agenda negativa de rancor e
ressentimento.
Diante desse quadro, não
foi difícil escolher quem deveria seguir com o mandato de Presidente.
Passaram-se três anos. E,
de fato, os avanços estruturais prometidos pela “Chapa Azul” foram, em grande
parte, alcançados. O Flamengo hoje dispõe de dois Centros de Treinamento de
bom/ótimo nível, a estrutura de equipamentos posta à disposição dos atletas é reputada
como de excelência, o clube se cerca, de fato, de robustos trabalhos de
consultoria que efetivamente trouxeram resultados (ao menos enquanto presentes
no clube), o elenco realmente foi aprimorado, enfim, os principais pontos da
plataforma da campanha “azul” estão aí. Com efeito, cenas como as entrevistas
em containers improvisados em meio a lodaçais, ou jogadores sendo removidos de
campo carregados em carrinhos de obras, fazem parte de um indesejado passado. O
plantel, ao invés de sumidades como Thalysson, Bruninho, Val, Wallace e Feijão,
agora conta com Éverton Ribeiro, Vitinho, Diego Alves, Cuellar, Diego e outros
atletas de qualidade.
No entanto, a avaliação
do segundo mandato de Eduardo Bandeira de Mello, em nível global, é a de um
perfeito, clamoroso e retumbante fracasso. O que não é difícil constatar, uma
vez que a cada jogo do Flamengo no Maracanã o mandatário é agraciado com toda a
sorte de xingamentos e impropérios desferidos por quase todo o estádio. E, ao
contrário do que sibila o Presidente, são 30, 40, 50 mil vozes espontâneas. Não
remuneradas.
Mas o que deu errado?
A Chapa Azul, agora transmudada
em Rosa, prega, em sua campanha, que pretende alçar o VP de Futebol Ricardo Lomba
à Presidência, “Seguir Avançando”. A mensagem parece bastante didática. O clube
está no caminho certo e, com a estrutura e os processos já implementados, encontra-se
pronto para conseguir as vitórias. Em uma linguagem mais coloquial (que não
pode ser estampada em folders e banners), a Diretoria irá se livrar da incômoda
presença de Eduardo Bandeira de Mello e colocará, em seu lugar, alguém mais
capaz de fazer funcionar todo esse aparato estrutural que já foi aportado no
clube.
É certo que o segundo
mandato do atual Presidente terá sido, utilizando uma palavra amena, frustrante.
Porque, apesar de toda essa traquitana, dessa numeralha, desses processos e
sistemas, o Flamengo não vence. Não “performa”, no linguajar tão caro à
Diretoria. Não conquista. Diante da adversidade, soçobra. Perde sistematicamente
e com inquietante regularidade todo e qualquer título de expressão que se propõe
a disputar. Dizia-se, “jogar no Maracanã é um inferno”. Pois. Se, neste 2018,
elaborarmos uma lista de uns nove ou dez jogos de caráter decisivo disputados
no Maracanã, veremos que o estrelado elenco do Flamengo terá amealhado o
triunfo em dois ou três deles. Uma cifra irrisória e absolutamente inaceitável.
O Flamengo, de lema seminal “Tua Glória é Lutar”, transformou-se em um ajuntamento
“limpo, recatado e do lar”. Burocrático. Frio. Resignado.
Pode-se, em uma abordagem
superficial e cômoda (embora não necessariamente improcedente) reputar a
responsabilidade desse fiasco ao desempenho de seu Presidente, que, com efeito,
demonstrou, nesse segundo mandato, não reunir a mais remota condição de liderar
qualquer agrupamento que se pretenda vencedor. Ensimesmado em convicções dogmáticas,
munido de renhida, quase religiosa, necessidade de se arrogar o monopólio das
verdades, impondo suas certezas a opositores e detratores, apondo ao âmbito
pessoal toda e qualquer acepção crítica ao seu mandato, desenvolvendo uma
relação promíscua com seus subordinados, demonstrando publicamente afeto e
apreço por profissionais medíocres, enfim, toda sorte de inapeláveis e
inescapáveis sinais de despreparo e falta de estatura compatível com o
exercício da presidência de um clube da dimensão que ele mesmo ajudou a erigir
no triênio anterior.
No entanto, em todo
regime presidencialista existe uma base política que confere ao detentor da
caneta o respaldo e o suporte às suas ações. E, em que pese certos pontos de
divergência (alguns deles quase criando dissensões), existe, sim, uma defesa
clara do que foi construído no triênio 2015-18. A falta de resultados é
mascarada por argumentos digressionistas como “melhor campanha nos pontos
corridos”, “participações recorrentes em Libertadores”, temperadas por adágios
capazes de desafiar o mais paciente dos monges: “o dia que a bola entrar, ninguém
segura”, “se fulano não tivesse perdido aquele gol”, subterfúgios que traduzem
a tal “muleta do longo prazo”. Um dia, venceremos. Enquanto isso, vamos distribuindo
bônus e premiações por derrotas.
Mais do que uma
necessidade meramente eleitoral de defender suas ações, a Situação realmente reúne
a crença de que a excelência de processos, a robustez de dados e estatísticas,
a montagem de elencos qualificados e bem remunerados, e a entrega de toda essa
estrutura ao comando de profissionais de bom nível, trará, por si só, os resultados
desejados. A premissa é estruturar. A intervenção, caso necessária, tem que ser
focada no aprimoramento dos meios. A energia está na melhora das condições. E
os resultados virão. Um dia.
Como nas tecnocracias.
A candidatura de Rodolfo
Landim, de uma Oposição que é formada fundamentalmente pelo mesmo grupo
dissidente de 2015, mas agora amplificada pelo apoio de vários outros grupos e
lideranças, desta vez acena com um tipo de mensagem mais propositiva e menos rancorosa,
sugerindo outro tipo de abordagem para a administração do futebol. Transmite um
diagnóstico bastante claro e direto: o Flamengo não vence porque não QUER vencer.
Porque falta, aos seus Dirigentes, gerir com foco nos resultados. E propõe uma forma
de administração mais intervencionista, que deixe menos “solta” a condução do
dia-a-dia pelos profissionais da área. Uma administração que não marginalize o conhecimento gerado pela experiência prática da vivência dentro dos gramados. Que confira à expertise de campo valor tão alto quanto à das planilhas e análises teóricas/estatísticas. Que entenda o jogador, além de profissional de futebol, como um boleiro, susceptível a uma liderança típica de um clube de ponta.
É bem verdade que falta
certa coesão à Chapa Verde que virou Roxa. Que a presença de alguns integrantes
(que terão voz ativa no cotidiano do clube) inquieta e incomoda. Que mesmo a
cúpula, o “núcleo duro” de seus membros dispõe de alguns quadros que, exercendo
determinados cargos diretivos, exibiram cintilante incompetência. Que existe o
risco real de alguns avanços, notadamente no que diz respeito ao Futebol de
Base (o ponto onde a Situação realmente apresenta resultados reais, sólidos e
concretos), serem mitigados. Tudo isso corresponde à verdade.
Mas uma eleição se propõe
a mais do que “fulanizar” propostas (até porque a Situação também recebe alguns
apoios controversos). O mais importante, o mais relevante, o fundamental,
quando se coloca diante das urnas, é avaliar e sopesar qual a mensagem que cada
uma das Chapas tem a transmitir para o eleitorado. E, diante de cada
posicionamento, optar pela que reúne mais condições de seguir o caminho que se
pensa para o clube.
Particularmente, acredito
que o Flamengo ainda pode e deve evoluir, crescer, equipar-se, consolidar-se
como ator relevante no nosso futebol. No entanto, penso que nenhum trabalho,
nenhum projeto, nenhuma iniciativa em gestão esportiva sobrevive sem auferir
RESULTADOS. E, em um clube como o Flamengo, o único resultado a ser perseguido
são os TÍTULOS. A Instituição deverá se mover, de forma orgânica e obsessiva,
na persecução de TÍTULOS. VITÓRIAS. A busca por TÍTULOS deve ser enérgica e
incondicional. Se houver dez títulos a serem disputados, o Flamengo terá que
tentar colher os dez. Não ganhará todos. Mas, dentre os eventuais motivos para
uma derrota, jamais estará a falta de luta, de ardor, de denodo. Porque isso é
o que somos. Nascemos para guerrear os grandes combates. Para os grandes
palcos. Para o protagonismo e para a glória. A Glória de Lutar. Lutar, hoje e
sempre, por vitórias. Recusar-se a perder. Está na nossa História. Está na
nossa alma.
Não queremos mais esperar
o amanhã. O amanhã é hoje. O hoje é agora.
E, diante disso, foi
possível exercer minha escolha.
Boa semana e boa eleição
a quem for votar,