Estamos chegando, enfim, ao dia da eleição no Flamengo dia 08 de dezembro. E, mais uma vez, o debate sobre propostas fica em segundo plano, com as chapas preferindo o ataque entre si. Em meio a este tiroteio, cheguei a conclusão que há, entre as chapas que realmente disputam, duas filosofias de propostas para o futebol. Uma mais amadora, preferindo a montagem de um conselho de dirigentes amadores para chegar a decisões inclusive operacionais no Departamento, o que, claramente, pode conflitar com as decisões especializadas e técnicas tanto do Diretor Executivo como da Comissão Técnica. Não é um modelo que me agrade. Do outro lado, a proposta de investir na melhoria do setor de análise e captação, assim como na contratação de uma coordenação técnica, para fundamentar o estilo de jogo, facilitando contratações e mesmo, penso eu, tornar o processo decisório em termos táticos e operacionais mais balizadas, ainda que o VP de futebol tenha aquela "palavra final", não-especializada e por isto, ao meu ver, temerária.
Como então seria, na minha opinião, o funcionamento ótimo de um Departamento Profissional de Futebol? Lembrando que isto é apenas um exercício teórico.
O Flamengo tem um estatuto para obedecer. E neste estatuto o sistema é presidencialista. Logo, temos um Presidente. Este Presidente, tem um vice-presidente geral, eleito junto com ele, e nomeia livremente seus vice-presidentes, podendo criar mais pastas se quiser. São cargos voluntários não-remunerados. Normalmente o presidente escolhe como VP´s pessoas que tenham expertise nas áreas. Mas não é obrigação. São cargos eminentemente políticos. O dever deles é zelar pelo ótimo funcionamento das áreas em que são dirigentes, e planejar estratégias para melhorias e acertos de erros. Só que o Flamengo é um clube eminentemente voltado para o futebol. Quase todos seus recursos são dirigidos para este departamento. O que fez, historicamente, faltar recursos para avanços em outras áreas, muitas vezes obrigando estes VP´s a intervenções operacionais. Com o clube mais profissionalizado, com mais recursos, este tipo de ocorrência deve ficar cada vez menor, cuidando o VP de cobrar ao executivo de sua área o cumprimento das metas pré-estabelecidas e garantir politicamente os recursos para estas ocorrerem.
E quanto ao futebol? Temos a figura do VP de Futebol. Quase o peso de um presidente do Flamengo, embora não eleito. É nomeado. Mas na mídia, nos torcedores, no clube, adquire status bem elevado. É o responsável pela pasta que move o coração da grande maioria. Diante deste status, do poder que isto gera, pode pensar em uma participação mais operacional, mesmo que precária, pois, lembramos, é amador, não-especializado, com tempo não totalmente dedicado, e com uma visão de futebol romântica de seus tempos de torcedor. Desconhecendo as entranhas do sistema, ou, "de como é feito, afinal, este salame". Não é fácil. O conhecimento adquirido, que envolve agentes, contratos, jogadores, profissionais, não pode ser divulgado, falado em público, etc. Deve ser mantido em segredo, o que faz com que muitas decisões, que para os olhos do público soam absurdas, são perfeitamente justificáveis através deste conhecimento que não pode ser divulgado, embora por vezes, tentem dizer nas entrelinhas. E isto demora tempo. Acarreta decepções e frustrações. Embora sirva por vezes como combustível para tentar melhorar estas condições.
Enfim, como dirimir isto? Primeiro. Um VP de Futebol não deveria cuidar do operacional. Seu Diretor Executivo de Futebol deve se tornar a cara do departamento, com responsabilidade tática e operacional sobre todos os funcionários do Departamento. Como as decisões de um departamento de Futebol não são só operacionais, como técnicas e esportivas, seria mandatório a contratação de uma coordenação técnica, que tomasse estas decisões. Esta coordenação técnica seria responsável por preservar o sistema de jogo adotado pelo clube,o qual facilitaria a contratação de comissões técnicas que fossem identificadas como passíveis de não só respeitá-lo como aprimorá-lo, e consequentemente a contratação de jogadores que pudessem suprir adequadamente as necessidades táticas e técnicas deste sistema. Evitando a contratação de jogadores inadequados, mesmo que por "oportunidade".
Diante da presença constante do Flamengo em grandes competições, o planejamento ideal seria suprir o Flamengo de Time A + Time B. O Time A para enfrentamentos decisivos e partidas contra times maiores. Meta de jogar apenas uma vez por semana. O Time B para enfrentar times de menor porte, com obrigação de vencer, preservando fisicamente e psicologicamente o Time A. Um elenco de 38 jogadores em tese, poderia suprir esta necessidade.
A comissão técnica deveria constar de: Um técnico principal, que seria auxiliado por: Auxiliar técnico Time B, Auxiliar técnico de defesa, auxiliar técnico de ataque, auxiliar técnico de fundamentos, analistas táticos dos próximos adversários (chegando a viajar p/ver em atuação in loco), e um auxiliar direto, também para treinos. O Flamengo, junto a este conceito de filosofia de jogo, formaria estes profissionais e capacitaria auxiliares técnicos para serem futuros treinadores, atuando em parcerias junto a outros clubes para cedê-los como técnicos, acompanhando seu desenvolvimento e performance, avaliando se podem ser aprimorados com cursos na área, mesmo na UEFA, ou retirados do programa. O objetivo é formar comissões técnicas futuras para funcionarem adequadamente no sistema de jogo do Flamengo, que, seria, em todo caso, constantemente adaptado para acompanhar evoluções táticas recentes.
As contratações atenderiam as solicitações da comissão técnica com o aval da coordenação técnica e diretor executivo, dentro do orçamento permitido. As vendas também atenderiam ao orçamento e também ocorreriam com o aval da comissão técnica, coordenação técnica e diretor executivo. Ao VP de Futebol caberia o papel político de solicitar aumento de verba, cobrar as metas estipuladas junto a Direção Executiva e aparecer para a mídia e associados como representante da torcida e associados junto ao departamento. Mas, deixando claro, que as decisões táticas e operacionais são do Diretor Executivo. Ele que manda e é obedecido no Departamento. Caberia ao VP e mesmo presidente, quando necessário, se reunirem com profissionais e jogadores, em discursos de cobrança ou mesmo motivacionais, desde que previamente combinados com Diretor executivo para não lhe retirar a autoridade.
Um departamento de futebol que mescla amadorismo com profissionalismo não me parece opção para o futebol do século XXI e hoje super competitivo, a ponto de nossos melhores valores saírem facilmente para centros mais valorizados. Para evitar isto e reter talentos e valores, temos que pensar profissionalmente. Reunir sempre as melhores condições estruturais, médicas, contratuais, logística, financeira, etc para que o clube vire objeto de desejo da maioria dos jogadores e se esforcem demais para não saírem daqui. Também defendo que jogadores que não conquistarem títulos relevantes, independente de suas atuações, não podem ter o contrato renovado. Jogador no Flamengo tem que ganhar título.