“Desastrosa,
não. Chegamos na semifinal da Copa do Brasil, passamos de fase na
Libertadores, que não vinha acontecendo e estamos brigando pelo
Brasileiro. Sou flamenguista e lembro que antes a briga era embaixo.”
(Duarte, Léo – 08 de novembro de 2018)
Saudações
flamengas a todos.
Não
sei qual o nível de catecismo que se pratica dentro da torre de
cristal encerrada pelas quatro paredes do ermo Ninho do Urubu. Também
nunca fui muito de prestar atenção a entrevistas de jogadores que,
garroteadas pelas regras impostas pela postura politicamente correta
de um código tácito de ética ou pelo mero “media-training” dos
mais abastados, exalam declarações plásticas e anódinas de pouco
efeito prático. No entanto, a repetição “ad nauseam” de
platitudes como as desferidas pelo zagueiro Léo Duarte na
antevéspera do vexame protagonizado no Engenhão (em que um time
omisso, apático e frouxo tangenciou a perspectiva de sofrer uma
goleada histórica), usualmente eivadas de auto-indulgência,
conformismo, resignação e inaceitável familiaridade com a prática
de se deleitar no fétido lodaçal em que se emporcalham os
derrotados, não deixa de chamar indignada atenção para a mais
absoluta desconexão entre o estranho CR Flamengo de hoje e os
anseios e expectativas de sua gente.
Os
alienados petardos expelidos pelo talentoso zagueiro evocam antigos
subterfúgios entoados de forma quase dogmática pela entourage que,
há seis anos, recebeu a incumbência de resgatar a dignidade de uma
instituição solapada por anos e anos de administrações infelizes.
Nas palavras do ilustre Duarte, ecoam-se, de forma subliminar e algo
sutil, ou nem tanto, surrados bordões, como: “quem reclama quer a
Patrícia de volta”, “mudamos de patamar”, “quando a bola
entrar ninguém vai segurar”, entre outras direcionadas
manifestações de uma conveniente fé.
Conveniente,
visto que alude a espectros de uma percepção geral que se pretende
transmudar qualquer elemento do passado mais recente do CR Flamengo
em algo deplorável, ultrajante, indigno de qualquer cotejo com as
práticas “modernas”, “sofisticadas” e, principalmente,
“profissionais” dos eleitos a “salvar o Flamengo” de seus
deletérios dirigentes pretéritos.
Pouparei
a nós todos de pontuar que o Flamengo realmente subiu de patamar
administrativo, que o trabalho de resgate foi fantástico, e blá,
blá, blá. Qual o saudoso Odorico, sairei desses entretantos e
migrarei logo para os finalmentes.
E
nesses finalmentes os convido a imaginar o que o dileto Léo Duarte,
ou qualquer membro deste Flamengo de hoje, diria ao ser confrontado
com alguns cestos de resultados que a seguir serão apresentados.
Vamos
ao primeiro:
“Quartas-de-final
da Libertadores. Quarto lugar no Brasileiro. Quartas-de-final da Copa
do Brasil. Campeão Estadual invicto”
Se o
atingimento das Oitavas da Libertadores é tão celebrado no discurso
atual, chegar às Quartas teria um efeito quase que de bálsamo, é
de se concluir. E fico a pensar, diante de um trabalho que festeja um
sexto lugar de Brasileiro, o que aconteceria diante de uma quarta
colocação. Ocorreu-me imaginar a execução de uma animada volta
olímpica.
Próximo
pacote:
“Quartas-de-final
da Libertadores. Final de Torneio Continental. Fase semifinal do
Brasileiro. Semifinal da Copa do Brasil”
Pois.
Mais um pacote bastante atrativo, na régua de avaliação de
resultados da atual Diretoria. Quartas da Libertadores (com o adicional de ter sido eliminado pelo campeão). Finalista de um torneio
sul-americano. E classificações “de protagonista” em
competições nacionais, algo que, como se depreende das palavras do
Sr. Duarte, é bastante valorizado pelo trabalho atual. Pode-se,
portanto, inferir que os “donos do destino” do Flamengo apreciariam com certo gáudio encerrar uma temporada com tal coleta
de êxitos. Haja bônus.
Encerro
com uma derradeira coleção, para não tornar a brincadeira
cansativa. Aí vai.
“Final
de Torneio Continental. Final de Copa do Brasil. Semifinal de
Brasileiro. Outras duas vezes semifinalista de Copa do Brasil. Campeão
Estadual invicto. Final de Torneio Rio-São Paulo.”
Não
é difícil imaginar o nível de entusiasmo com que esse conjunto de
realizações seria tratado pelos paredros flamengos de hoje, haja
vista o descomunal esforço de transformar em positiva a frustrante
temporada de 2017.
Muito
bem. Se vislumbrarmos que cada pacote de resultados aqui citado foi
amealhado, cada um, ao longo de períodos de um a três anos,
podemos, não sem certa razão, assumir que se trataram de momentos
em que o clube desfrutou de certo protagonismo. Afinal, e sempre
harmonizando-nos com a linha de pensamento azul-rosada, torna-se
necessário manter a coerência.
Os
mais sagazes certamente já terão percebido que os conjuntos de
resultados aqui estampados se reportam, respectivamente, aos anos de 2010-2011, 1993 e ao período 1995-1997. Ou, em linguagem mais direta, aos
“êxitos” enfeixados quando o clube estava sob o comando de
Patrícia Amorim, Luís Augusto Velloso e Kléber Leite. Nomes que,
fora de períodos eleitorais, costumam emular incontida repulsa dos
arautos do “novo”.
O que não deixa de suscitar certa confusão. Pois, a despeito de terem (com inteira justiça, diga-se) entrado para a história como administrações lastimáveis, apresentaram resultados esportivos equivalentes ou melhores do que os deste "Flamengo de notáveis" de respostas prontas e unidimensionais.
O
Flamengo já viveu outros momentos difíceis em sua história.
Eras de escassez. Épocas de dor, sofrimento, derrota.
Não é, especificamente, a falta de resultados expressivos a
principal fonte de indignação, irritação. O que entorpece a um
rubro furor de cólera, o que nos faz rebentar em caudais impropérios
de fúria, é a cínica tranquilidade com que este Flamengo de hoje
se atira à prática de se irmanar em inarredável comunhão com os
preceitos da derrota. De dardejar alegremente subterfúgios e
respostas prontas, de enlaçar números e os dispor da maneira mais
adequada às teorias do momento, de repetir sempre as mesmas e mesmas
práticas com o fito de, algum dia, pretensamente demonstrar o êxito
de suas certezas.
Mais
do que perder, o que incomoda nesse Flamengo de hoje é saber perder.
* Em tempo: assumindo que as recentes declarações do volante Cuellar, exprimindo inconformismo e indignação, são sinceras e espontâneas, há que se reconhecer talvez um sopro de vida nesse elenco letárgico. Que disso emerja, a partir de 2019, algo mais compatível com aquilo que todos nós ansiamos ver representado dentro de campo. Onze jogadores honrando o mais caro dos lemas flamengos: "Tua Glória é Lutar". Frase que hoje soa tão etérea e distante quanto os longínquos anos de ouro que muitos ainda insistem em evocar.
* Em tempo: assumindo que as recentes declarações do volante Cuellar, exprimindo inconformismo e indignação, são sinceras e espontâneas, há que se reconhecer talvez um sopro de vida nesse elenco letárgico. Que disso emerja, a partir de 2019, algo mais compatível com aquilo que todos nós ansiamos ver representado dentro de campo. Onze jogadores honrando o mais caro dos lemas flamengos: "Tua Glória é Lutar". Frase que hoje soa tão etérea e distante quanto os longínquos anos de ouro que muitos ainda insistem em evocar.