Salve,
Buteco! Em duas partidas sob o comando de Dorival, o Flamengo meteu
dois 3x0 nos clássicos disputados contra Corinthians e Fluminense. É
bem verdade que nenhum dos dois anda bem das pernas, mas são dignas
de nota a maior derrota dos “Gambás” na
história de seu novo estádio (“Itaquerão”) e
a ampla superioridade demonstrada nos noventa minutos do Fla-Flu. Afinal de contas, Corinthians
e Fluminense pouco perderam por diferença de três gols nesse campeonato. O Corinthians, apenas para o Flamengo; o Fluminense, nas 11ª e
18ª rodadas, para Atlético/MG (2x5/Independência) e Internacional
(0x3/Maracanã), equipes que disputam respectivamente o G4 e o
título. Concretamente, o Flamengo de Dorival é muito mais dinâmico,
intenso, seguro (“compacto”) e efetivo do que o
de Barbieri. Mas qual seria o motivo? Seria somente porque passou a
disputar uma única competição, após as eliminações na
Libertadores e na Copa do Brasil?
Vejam
bem, eu mesmo cansei de alertar que o time não suportaria uma maratona
de jogos como a de julho a setembro, cujo ápice foi em agosto, sem
rodar o elenco. Também previ um aumento de produção do time
disputando apenas uma competição, mesmo que continuasse a ser
dirigido por Maurício Barbieri. O próprio Barbieri declarou, após
sua demissão, que a decisão de disputar a maratona basicamente com
o time titular foi “institucional” e que “veio
de cima”. Sem a menor sombra de dúvida, Dorival herdou um contexto diferente, a começar pelo Departamento de Futebol pressionado por fortes cobranças internas,
da torcida e da imprensa esportiva. Por isso mesmo, dizem (o
tempo haverá de confirmar ou não), começa com uma liberdade que o
antecessor jamais teve. É que, no mínimo, a famosa “panela” perdeu
muito espaço para dar as cartas e os dirigentes estão desesperados
por um título antes que o segundo mandato bananista se encerre.
Mesmo
fazendo todas as ressalvas em relação às diferenças para o contexto enfrentado pelo sucessor, Dorival, com sua
experiência, parece lidar muito melhor com o plano concreto do que
Barbieri e suas abstrações. Elejo o centroavante Fernando Uribe
como melhor exemplo. Neste
vídeo, que compila todos os 61 (sessenta e um) gols marcados por
Uribe pelo Toluca em competições mexicanas e internacionais,
podemos constatar que o "cruzamento
invertido" ou "de
pé-trocado",
igual ao feito por Vitinho na jogada do primeiro gol no
sábado, funcionou como assistência para o colombiano
por pelo menos seis vezes: 06'07'' (Puebla), 08'19''
(San Lorenzo), 12'37'' (Puebla), 25'21'' (Tijuana), 27'11''
(Santos Laguna) e 27'47'' (Santos Laguna). O vídeo traz muitos
outros tipos de jogada (cruzamentos ou não) que funcionam muito bem
para Uribe finalizar, mas quis ressaltar apenas o que
deu certo no sábado, que nem foi o mais utilizado pelo Toluca para
acionar o colombiano.
A
razão é simples: diferentemente de Vitinho, Uribe chegou ao
Flamengo e foi
apresentado no dia 27 de junho de 2018. Lembrando que o
Flamengo só voltou a jogar após o término da Copa do Mundo, pela
13ª Rodada do Brasileiro, no último 18 de julho, parece-me muito justo
questionar como Barbieri aproveitou todo esse tempo para entrosar o
colombiano com o time titular do Flamengo. Será que passou pela
cabeça do novato treinador fazer o simples, tipo assistir ao vídeo
e tentar repetir as jogadas que dão certo com o novo reforço, ou
seria pedir demais de alguém tão culto e estudioso?
Provavelmente faltou a Maurício Barbieri autoridade para se impor
ao grupo, o que apenas evidencia ainda mais o erro em sua escolha
para dirigir o Flamengo no pós-Copa.
***
É
claro que outros fatores também pesam. Não tenho a pretensão de detectar todos eles. Dos que são visíveis a qualquer
observador externo (meu caso), é evidente que o time se acertou
dentro de campo com Arão e Uribe e sem Diego e sua vã tentativa de
armar o jogo recuado. Um 4-2-3-1 diferente do que tínhamos em 2017,
com Vitinho no lugar de Everton Cardoso e Lucas Paquetá no de Diego.
E
agora, Dorival?
***
Barbas
de molho e pés-no-chão. O Palmeiras, favorito ao título, parece
ter mesmo dois times fortes em seu elenco e até aqui não sentiu as
competições simultâneas. Além disso, sem descartar que eu esteja
sofrendo da "Síndrome da Grama Mais Verde do Vizinho",
a tabela da reta final do Brasileiro parece lhe favorecer em relação
ao Flamengo, pois enfrentará em sequência um maior número de
adversários do "baixo-clero".
A sequência
mais dura do Palmeiras [Ceará (c), Flamengo (f) Santos (c) e
Atlético/MG (f)] será alternada com as as partidas da
semifinal da Libertadores contra o Boca Juniors. Classificando-se
para a final, serão três semanas de alternância entre o Brasileiro
e Libertadores, até a partida contra o Galo em Belo Horizonte. Em
seguida, começará a sequência favorável da tabela: Fluminense (c), talvez com a cabeça na Sula, Paraná (f),
América/MG (c), Vasco da Gama (f) e Vitória (c). Entre 33ª
(Atlético/MG) e a 37ª Rodada, quando jogará em São Januário, o
Palmeiras enfrentará Fluminense, Paraná e América/MG sem
intercalar jogos pela Libertadores, partindo do pressuposto que
chegará à final. Não chegando, a partir da 33ª Rodada se
concentrará apenas no Brasileiro, o que em tese representa um cenário ainda pior para o Flamengo.
Mas nem tudo é revés para o Mais Querido: comparando
o pós-Copa palestrino ao rubro-negro, faço coro com quem destaca
que enfrentar Cerro Porteño e Colo Colo na Libertadores não é o
mesmo que bater de frente com Grêmio e Cruzeiro por três
competições distintas em curto espaço de tempo. Logo, não é
absurdo imaginar uma queda de rendimento do Palmeiras após o
primeiro confronto contra o Boca Juniors (Flamengo/31ª Rodada), lembrando que o Ceará (30ª Rodada) é
um visitante traiçoeiro. Ao mesmo tempo, parece-me claro que o
Flamengo tem até a 33ª Rodada para ultrapassar o rival e abrir
vantagem. Se não conseguir até lá, a tendência é de que o título fique mais distante.
No caminho para o sonho do título, o Mais Querido terá mais jogos de grande
porte do que o concorrente direto: Paraná (f), Palmeiras (c), São
Paulo (f), Botafogo (f), Santos (c), Sport (f), Grêmio (c), Cruzeiro
(f) e Atlético/PR (f). Durante a sequência menos favorável ao
Palmeiras, além do confronto direto, o Mais Querido enfrentará
Paraná, São Paulo e Botafogo. Como se pode perceber, vencer o tricolor paulista no Morumbi, em seguida ao confronto direto contra o Palmeiras no Maracanã, é a única opção. Ou seja, tem que fazer fila e vencer os dois grandes paulistas que disputam o título na mesma semana, um depois do outro.
O futebol talvez seja o esporte com mais variáveis e, portanto, minha opinião não passa de uma mera avaliação isolada de cenário, que pode perfeitamente se desfazer por completo diante de resultados totalmente diferentes. Todavia, hoje, pesando tudo na balança, parece-me inegável que o Flamengo de Dorival Júnior tem a sua frente um desafio gigantesco, já que, para ser campeão brasileiro, precisará subir muito o rendimento nos jogos "grandes", inclusive como visitante, e ainda não tropeçar nos desesperados. Se contar com tropeços do adversário, periga repetir 2016 e não 2009.
***
A
palavra, como sempre, está com vocês.
Bom
dia
e SRN
a tod@s.