Quem planeja uma temporada como a Diretoria do Flamengo pode conseguir tudo, menos conquistar os maiores títulos. Ainda em fevereiro, antes da estreia na Libertadores contra o River Plate no Engenhão, alertei quanto à bomba-relógio que armaram para estourar nesse segundo semestre: três meias titulares (às vezes quatro), e nenhum reserva para rodar o elenco, resultado de uma política de acomodar os melhores jogadores no time e não propriamente de uma filosofia de jogo, de um planejamento de temporada calcado em critérios técnicos e meritórios. Não que eu condene o esquema com três ou quatro meias. Pelo contrário, considero-o uma grande evolução, que, todavia, por sua filosofia de valorizar a posse de bola mediante a troca de muitos passes, dificilmente resistiria a uma exaustiva maratona sem um elenco que pudesse rodar e garantir ao time, ao mesmo tempo, manter sua característica essencial e, quando necessário, variar o desenho tático ou mesmo a estratégia de jogo.
Ocorre que não é o caso do atual elenco do Flamengo, ainda que seja um dos melhores do país e do continente. Contrataram dois centroavantes caros, mas nenhum deles joga no estilo do time. Os laterais são notoriamente limitados, o que não ajuda os centroavantes. O elenco não tem um “segundo volante” confiável e os atacantes de lado ou pontas, todos caríssimos, estão bichados ou com enormes dificuldades para se adaptar, inclusive Vitinho, supostamente a reposição de Vinicius Jr. (até agora nada).
O tamanho do problema foi objeto de post com esse título ainda em abril, com a projeção e transcrição do calendário de jogos envolvendo a Série A, a Copa do Brasil e a Copa Libertadores. Em comentários no Buteco e no Twitter também não faltaram avisos. Dito e feito. Vieram uma parada para a Copa do Mundo e uma janela de transferências internacionais, logo após uma troca de diretoria executiva no Departamento de Futebol, mas a soberba letárgica não permitiu nem mesmo o menor ajuste de rumo. Logo no início da sequência de agosto contra Cruzeiro e Grêmio, destaquei a diferença entre as estratégias adotadas pelo Departamento de Futebol do Flamengo e o do Grêmio, lembrando na ocasião que Renato Gaúcho foi um craque, atleta de ponta dentro das quatro linhas, e disputou as maiores competições do Brasil e da América do Sul por Flamengo e Grêmio, além de uma Copa do Mundo pelo Brasil, enquanto Barbieri e o Departamento de Futebol do Flamengo são teóricos da bola, verdadeiras freiras em um ambiente que não perdoa a inocência nem a soberba, que sobrou ao mandar o time para o Mineirão atrás de uma façanha virtualmente impossível.
Enfim, quis a Diretoria desesperada por um título no último ano de gestão partir para ganhar tudo, sempre superestimando a si própria e o seu trabalho, e por isso ignorando a incongruência entre o que planejou e o elenco que montou para atingir as metas. Aliás, como elogiar um planejamento que, no discurso, exalta a qualidade do próprio trabalho e do elenco, mas, no momento da execução, submete onze jogadores a uma exaustiva e invencível maratona de jogos? Cadê o tal elenco maravilhoso? Alguém pode me explicar?
O mais trágico e inacreditável nisso tudo é que o time titular do Flamengo, com todos os defeitos que possui, ainda é muito competitivo no cenário nacional. Arrisco dizer que é o time mais capacitado a disputar um título brasileiro de pontos corridos que o clube possui desde 2009. Portanto, a perda desse título, cada vez mais próxima, em nível de má-gestão esportiva, consegue superar o desmantelamento do time titular em 2008, com a venda de Renato Augusto. É que agora o clube tem uma estrutura com tecnologia avançada, que permite identificar previamente e minimizar os riscos de lesão dos atletas. Mas como, não importa o tamanho da sequência de jogos, basicamente apenas onze entram em campo, só magia ou tecnologia alienígena poderiam manter o time inteiro.
E nem se tente transferir a responsabilidade para o treinador, o virginal e inseguro Mauricio Barbieri, que prestou um serviço ao clube quando deixou claro na entrevista coletiva pós-eliminação na Libertadores que a ordem para disputar as três competições com a mesma prioridade veio da Diretoria. A mesma que reestruturou o Flamengo em níveis administrativo, financeiro e até mesmo esportivo, nos aspectos patrimonial e estrutural (tecnologia em preparação e recuperação física, medicina e fisiologia esportiva), mas que contraditoriamente foi completamente entorpecida pelo poder, a ponto de agora disputar com uma oposição que não passa confiança o "importantíssimo" (#sqn) direito de usar a cor azul para inscrever a chapa na campanha pela presidência do clube, cargo atualmente ocupado por um cidadão que disputa despudoradamente um cargo eletivo usando o nome do Flamengo. Nada poderia ilustrar melhor uma semana de um ponto conquistado em confrontos contra o América/MG e o Ceará, pelo Brasileiro, e uma eliminação na Libertadores.
Sei que ainda resta a Copa do Brasil e, a rigor, o Flamengo já conquistou títulos brasileiros após se ver em cenários bem mais adversos do que o atual; contudo, o presidente Eduardo Bandeira de Mello, assim como seu séquito de apoiadores, é o protótipo do "anticampeão", de tudo aquilo que não se pode fazer para se tornar vencedor no esporte. Dolorosos quatro meses nos separam do fim dessa maldição.
Bom dia e SRN a tod@s.
Faltam 119 dias para terminar a gestão EBM na Presidência do Flamengo |