segunda-feira, 3 de setembro de 2018

O Anticampeão

Salve, Buteco! Infelizmente, ontem o título brasileiro subiu de vez no telhado. Tenho há tempos uma opinião, já externada aqui no Buteco, que, por mais fraco que seja, um time de futebol profissional pode dificultar bastante a vida de outro muito mais forte, por melhor que seja, se executar bem a boa e velha retranca. O ferrolho do Ceará já era conhecido pelos mais atentos ao que rola na Série A/2018, pois, além da vitória no Itaquerão, no primeiro turno, recentemente só permitiu ao São Paulo abrir o placar após uma jogada que nasceu da não marcação de uma falta sobre o meia cearense Leandro Carvalho. Portanto, o contexto era mais do que previsível, e quem quer ser campeão tem que superar esse tipo de dificuldade. O problema é que o time pifou às vésperas do segundo confronto direto pela disputa do título brasileiro e com três importantíssimos desfalques garantidos: Cuéllar, Lucas Paquetá e Diego, os dois primeiros convocados e o último suspenso automaticamente após receber o terceiro cartão amarelo. Mas isso não é nada pra quem esperou bovinamente o confronto contra o São Paulo no Maracanã sem providenciar um primeiro volante, concordam?

Quem planeja uma temporada como a Diretoria do Flamengo pode conseguir tudo, menos conquistar os maiores títulos. Ainda em fevereiro, antes da estreia na Libertadores contra o River Plate no Engenhão, alertei quanto à bomba-relógio que armaram para estourar nesse segundo semestre: três meias titulares (às vezes quatro), e nenhum reserva para rodar o elenco, resultado de uma política de acomodar os melhores jogadores no time e não propriamente de uma filosofia de jogo, de um planejamento de temporada calcado em critérios técnicos e meritórios. Não que eu condene o esquema com três ou quatro meias. Pelo contrário, considero-o uma grande evolução, que, todavia, por sua filosofia de valorizar a posse de bola mediante a troca de muitos passes, dificilmente resistiria a uma exaustiva maratona sem um elenco que pudesse rodar e garantir ao time, ao mesmo tempo, manter sua característica essencial e, quando necessário, variar o desenho tático ou mesmo a estratégia de jogo.

Ocorre que não é o caso do atual elenco do Flamengo, ainda que seja um dos melhores do país e do continente. Contrataram dois centroavantes caros, mas nenhum deles joga no estilo do time. Os laterais são notoriamente limitados, o que não ajuda os centroavantes. O elenco não tem um “segundo volante” confiável e os atacantes de lado ou pontas, todos caríssimos, estão bichados ou com enormes dificuldades para se adaptar, inclusive Vitinho, supostamente a reposição de Vinicius Jr. (até agora nada).

O tamanho do problema  foi objeto de post com esse título ainda em abril, com a projeção e transcrição do calendário de jogos envolvendo a Série A, a Copa do Brasil e a Copa Libertadores. Em comentários no Buteco e no Twitter também não faltaram avisos. Dito e feito. Vieram uma parada para a Copa do Mundo e uma janela de transferências internacionais, logo após uma troca de diretoria executiva no Departamento de Futebol, mas a soberba letárgica não permitiu nem mesmo o menor ajuste de rumo. Logo no início da sequência de agosto contra Cruzeiro e Grêmio, destaquei a diferença entre as estratégias adotadas pelo Departamento de Futebol do Flamengo e o do Grêmio, lembrando na ocasião que Renato Gaúcho foi um craque, atleta de ponta dentro das quatro linhas, e disputou as maiores competições do Brasil e da América do Sul por Flamengo e Grêmio, além de uma Copa do Mundo pelo Brasil, enquanto Barbieri e o Departamento de Futebol do Flamengo são teóricos da bola, verdadeiras freiras em um ambiente que não perdoa a inocência nem a soberba, que sobrou ao mandar o time para o Mineirão atrás de uma façanha virtualmente impossível.

Enfim, quis a Diretoria desesperada por um título no último ano de gestão partir para ganhar tudo, sempre superestimando a si própria e o seu trabalho, e por isso ignorando a incongruência entre o que planejou e o elenco que montou para atingir as metas. Aliás, como elogiar um planejamento que, no discurso, exalta a qualidade do próprio trabalho e do elenco, mas, no momento da execução, submete onze jogadores a uma exaustiva e invencível maratona de jogos? Cadê o tal elenco maravilhoso? Alguém pode me explicar?

O mais trágico e inacreditável nisso tudo é que o time titular do Flamengo, com todos os defeitos que possui, ainda é muito competitivo no cenário nacional. Arrisco dizer que é o time mais capacitado a disputar um título brasileiro de pontos corridos que o clube possui desde 2009. Portanto, a perda desse título, cada vez mais próxima, em nível de má-gestão esportiva, consegue superar o desmantelamento do time titular em 2008, com a venda de Renato Augusto. É que agora o clube tem uma estrutura com tecnologia avançada, que permite identificar previamente e minimizar os riscos de lesão dos atletas. Mas como, não importa o tamanho da sequência de jogos, basicamente apenas onze entram em campo, só magia ou tecnologia alienígena poderiam manter o time inteiro.

E nem se tente transferir a responsabilidade para o treinador, o virginal e inseguro Mauricio Barbieri, que prestou um serviço ao clube quando deixou claro na entrevista coletiva pós-eliminação na Libertadores que a ordem para disputar as três competições com a mesma prioridade veio da Diretoria. A mesma que reestruturou o Flamengo em níveis administrativo, financeiro e até mesmo esportivo, nos aspectos patrimonial e estrutural (tecnologia em preparação e recuperação física, medicina e fisiologia esportiva), mas que contraditoriamente foi completamente entorpecida pelo poder, a ponto de agora disputar com uma oposição que não passa confiança o "importantíssimo" (#sqn) direito de usar a cor azul para inscrever a chapa na campanha pela presidência do clube, cargo atualmente ocupado por um cidadão que disputa despudoradamente um cargo eletivo usando o nome do Flamengo. Nada poderia ilustrar melhor uma semana de um ponto conquistado em confrontos contra o América/MG e o Ceará, pelo Brasileiro, e uma eliminação na Libertadores.

Sei que ainda resta a Copa do Brasil e, a rigor, o Flamengo já conquistou títulos brasileiros após se ver em cenários bem mais adversos do que o atual; contudo, o presidente Eduardo Bandeira de Mello, assim como seu séquito de apoiadores, é o protótipo do "anticampeão", de tudo aquilo que não se pode fazer para se tornar vencedor no esporte. Dolorosos quatro meses nos separam do fim dessa maldição.

Bom dia e SRN a tod@s.


Faltam 119 dias para terminar a gestão EBM na Presidência do Flamengo