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Salve, Buteco! E aí? Suave?
Depois do “Agosto Azul”, com seis confrontos diretos
contra Cruzeiro e Grêmio por três competições diferentes, o Mais
Querido terá mais uma “semana daquelas”, até aqui comuns
no insano calendário “pós-Copa” do futebol brasileiro,
com o confronto de ida contra o Corinthians pela Copa do Brasil, no
Maracanã, e a 25ª Rodada do Campeonato Brasileiro, contra o Vasco
da Gama, no Mané Garrincha (mando de campo cruzmaltino). Uma
superficial comparação já é suficiente para percebermos que tanto o
Cruzeiro, como o Grêmio são adversários bem mais fortes
do que Corinthians e Vasco da Gama. Com melhores elencos, treinadores
e situação financeira, não é à toa que os azuis de agosto são
os atuais campeões e fortes candidatos, um a manter o título da
Copa do Brasil, o outro a manter o da Libertadores da América.
Todavia, quando se trata dos alvinegros de setembro a rivalidade pesa muito. O
endividado Corinthians, atual campeão brasileiro e campeão de tudo neste Século, muito embora desmantelado após a segunda janela de
transferências internacionais, quando menos disputa espaço com o
Flamengo como clube mais popular do país. A Copa do Brasil é a
última oportunidade de disputar um título relevante e ter alívio
financeiro em 2018. Já o Vasco da Gama dispensa apresentações.
Mesmo vivendo o pior momento de sua importante e secular história,
geralmente transforma-se quando enfrenta o maior rival, algo que nos
acostumamos a fazer no período entre o final do Século XX e início
do Século XXI, quando a relação de forças era proporcionalmente
inversa. Vindo de quatro derrotas consecutivas no campeonato, o Mais Querido enfrentará um adversário no mínimo "mordido" no próximo sábado.
Típico jogo no qual o Flamengo "gosta" de se complicar. Como ressaltei no post da semana passada, as dificuldades da maratona de agosto a novembro/2018 não deveriam surpreender ninguém. E convenhamos, não era e não é
racional imaginar o clube, no estágio atual de gestão de futebol,
conquistando duas dessas competições, quanto mais três. Ocorre que a sequência de agosto e início de setembro está sendo marcada por uma vertiginosa queda de rendimento do time. Para tentarmos entender os motivos, é importante lançar luzes sobre o trabalho do
nosso trabalhador e o histórico de Maurício Barbieri no comando
técnico do Flamengo.
***
A “era Barbieri” teve
início 7 de abril, em Goiânia, quando o Mais Querido,
recém-eliminado do Campeonato Estadual nas semifinais pelo Botafogo
e em plena crise que culminou nas demissões de Rodrigo Caetano e
Paulo César Carpegiani, derrotou, em amistoso, o Atlético/GO por
3x1 no remodelado Estádio Olímpico daquela cidade. A partir de
então, o Flamengo só disputou jogos oficiais pelas três
competições mais importantes – Campeonato Brasileiro, Copa do
Brasil e Copa Libertadores da América. Enquanto no Brasileiro e na
Copa do Brasil Barbieri vem sendo o único treinador, desde o início,
na Libertadores literalmente “pegou o bonde andando” e
comandou a equipe nos dois confrontos contra o Santa Fé e nos jogos
“de returno” do Grupo IV contra Emelec (Maracanã) e River
Plate (Monumental de Nuñez). O início de trabalho foi marcado com
uma campanha mediana e até certo ponto irregular, tendo como
destaques as vitórias da classificação sobre o Emelec e a solidez
defensiva no empate contra o River Plate no Monumental de Nuñez,
partida que, na minha opinião, foi o marco inicial do melhor momento
do treinador e da equipe na temporada.
Não é que tenha sido uma
atuação memorável, e sim que, antes do Monumental de Nuñez, o
Flamengo de Barbieri oscilava entre sólidas apresentações, como as
vitórias sobre o Internacional (Maracanã) e Ceará (Castelão), e
outras de grande instabilidade, a ponto de transmitir certa
insegurança, como na derrota para a Chapecoense (Índio Condá) ou
nos empates com Ponte Preta e Vasco da Gama (Maracanã). Mesmo
algumas vitórias, como sobre o América Mineiro no Maracanã, foram
recebidas com reticências. Ocorre que, a partir do Monumental de
Nuñez, o Flamengo demonstrou pela primeira vez grande capacidade de
resistir a uma forte pressão adversária. É curioso observar que,
dois jogos antes, Juan disputou sua última partida (Emelec no
Maracanã), e no jogo imediatamente anterior, contra o Vasco da Gama,
Réver sentiu e precisou ser substituído por Rhodolfo, que jogou em
Buenos Aires, mas também sentiu (após o jogo), motivo pelo qual, a
partir de então, a zaga passou a ser formada pelos jovens Léo
Duarte e Matheus Thuler.
O adversário seguinte
era nada mais, nada menos do que o arquirrival interestadual Atlético
Mineiro, no Independência. Por isso mesmo, a apreensão foi geral e
irrestrita, como todo mundo se recorda. Apesar disso, o "Círculo
Virtuoso da Era Barbieri”, que havia se iniciado em
Buenos Aires, surpreendentemente teve seu momento mais marcante
exatamente naquela partida, no Horto, quando o Flamengo suportou
grande pressão e no finalzinho marcou o gol da vitória com Éverton
Ribeiro, após a arrancada impressionante de Vinícius Jr. Do
Monumental de Nuñez, última partida pelo Grupo IV da Libertadores,
até o Allianz Arena, no empate por 1x1 com o Palmeiras, última
partida antes da Copa do Mundo, o Flamengo viveu seu melhor momento
em 2018, jogando a partir de então apenas pelo Campeonato
Brasileiro, e chegou à parada para a Copa na liderança da
competição, além de classificado para as oitavas de final da
Libertadores e quartas de final da Copa do Brasil. Os números
traduzem com grande precisão aquele especial momento.
***
Até
a Copa do Mundo (“Pré-Copa”)
e sob o comando de Barbieri, o Flamengo disputou 18
(dezoito)
jogos,
alcançando 10
(dez)
vitórias, 7 (sete) empates e 1 (uma) derrota,
marcando 25 (vinte e cinco) gols e sofrendo 8
(oito).
Na sequência ou
“Círculo
Virtuoso”
entre
o River Plate (Monumental de Nuñez) e o Palmeiras (Allianz Arena),
com Léo Duarte e Matheus Thuler na zaga, o
Flamengo jogou 7 (sete) vezes, 1 (uma) vez pela Libertadores e 6
(seis) vezes pelo Brasileiro, vencendo 5 (cinco) e empatando 2 (duas)
partidas,
marcando 10 (dez) gols e sofrendo 1 (um). Até então, sob o comando
de Barbieri, e
com pelo menos Réver ou Juan na zaga, o
Flamengo havia jogado 11 (onze) vezes pelas
três competições, vencendo 5 (cinco), empatando 6 (seis) e
perdendo 1 (um) jogo, marcando 16 (dezesseis) vezes e sofrendo 7
(sete) gols.
***
O
Flamengo “Pós-Copa” disputou 15 (quinze) jogos, com 6 (seis) vitórias,
3 (três) empates e 6 (seis) derrotas, com 15 (quinze) gols marcados
e 16 (dezesseis) sofridos (!).
Isto significa que, até a vitória de sábado contra a Chapecoense (2x0), o saldo era de três gols negativos (!!). A queda de rendimento, portanto, é vertiginosa e justificadamente
preocupante.
O Flamengo “Pós-Copa” é marcado por duas coincidências em relação à sequência inicial do trabalho, a qual antecedeu o que eu chamei de “Círculo Virtuoso da Era Barbieri”: jogos por três competições simultâneas e a volta de Réver à zaga.
O Flamengo “Pós-Copa” é marcado por duas coincidências em relação à sequência inicial do trabalho, a qual antecedeu o que eu chamei de “Círculo Virtuoso da Era Barbieri”: jogos por três competições simultâneas e a volta de Réver à zaga.
Ao mesmo tempo, e a despeito dessas inegáveis coincidências, a sequência “Pós-Copa”
também
tem algumas
importantes diferenças em relação ao início
do trabalho, anterior ao período
“Círculo
Virtuoso”
na
sequência
“Pré-Copa”:
a) no formato “mata-mata”
o Flamengo havia
enfrentado apenas
a Ponte Preta (dois
jogos),
enquanto no “Pós-Copa”
jogou
contra Cruzeiro e Grêmio (quatro jogos ao todo), e
b) o time não contou mais com o (para mim) insubstituível Vinícius Jr. (minha
opinião a respeito da saída da jovem estrela da base pode ser lida aqui, aqui, aqui ou aqui).
***
A análise do trabalho de Maurício Barbieri não dispensa considerações de ordem técnica e tática, como esta, o que, porém, não é objeto deste post. Contudo, vista a “Era Barbieri” dentro de parâmetros contextuais, constata-se que a melhor fase (“Círculo Virtuoso”)
ocorreu durante uma sequência de jogos por praticamente uma só
competição, no formato pontos corridos, ou
seja, sem jogos no formato “mata-mata”, e com um time mais
jovem e mais forte fisicamente, notadamente na zaga. Aquele contexto favoreceu a superação dos defeitos do time (limitações táticas inclusas) por suas qualidades positivas.
Já a pior fase, o período “Pós-Copa”, coincide o envelhecimento da zaga dentro de uma sequência muito mais intensa de jogos, incluindo o número de confrontos contra adversários de ponta, e com o enfraquecimento técnico do time, seja pela saída de Vinícius Jr., seja porque, na prática, os reforços vindos do exterior ainda não conseguiram render de acordo com a expectativa. O contexto atual maximiza as limitações do time, que igualam ou não raro superam as qualidades positivas.
Diante disso, surge a pergunta que não quer calar: demitir ou não Barbieri?
Já a pior fase, o período “Pós-Copa”, coincide o envelhecimento da zaga dentro de uma sequência muito mais intensa de jogos, incluindo o número de confrontos contra adversários de ponta, e com o enfraquecimento técnico do time, seja pela saída de Vinícius Jr., seja porque, na prática, os reforços vindos do exterior ainda não conseguiram render de acordo com a expectativa. O contexto atual maximiza as limitações do time, que igualam ou não raro superam as qualidades positivas.
Diante disso, surge a pergunta que não quer calar: demitir ou não Barbieri?
Ouso afirmar que o
problema principal do Flamengo, hoje, passa longe do treinador, em que pese idealmente
o clube precisar de um profissional melhor e mais experiente para
a função. Qualquer um, por melhor que fosse,
acaso submetido ao contexto “Pós-Copa”, teria
dificuldades para manter o rendimento do período que aqui chamo de
“Círculo Virtuoso”, dada a flagrante diferença entre as duas situações. Entretanto, mesmo pensando dessa
forma, concordo com quem acha que um treinador de bom nível e mais
experiente poderia lidar melhor com o atual momento e aumentar a
performance em ambas as competições, especialmente as chances de
classificação e posterior conquista da Copa do Brasil (não me iludo mais em relação ao Brasileiro).
Essa ideia, porém, esbarra em
ao menos três obstáculos concretos: primeiro, não há profissional
desse quilate disponível no Brasil, ou seja, atualmente não há
profissionais disponíveis no mercado brasileiro que possam melhorar
significativamente o trabalho do Barbieri. Percebam que falo em
qualidade e não em experiência, bem como de profissionais
disponíveis e não de quem está atualmente empregado. O mercado, hoje, oferece "alternativas" como Vanderlei Luxemburgo, Celso Roth, Vagner Mancini e Roger Machado. Melhoraria ou pioraria? Ou será que ficaria na mesma?
O segundo obstáculo é, supondo que esse
profissional fosse encontrado e contratado, como lidaria com o poder que os jogadores mais experientes do elenco do Flamengo ainda possuem, a
ponto de influenciarem na escalação dos titulares e até mesmo na
escolha da função tática que cada um desempenha dentro das quatro
linhas. Vale lembrar a pública reação de alguns
atletas quando, ano passado, Reinaldo Rueda tentou revezar Diego e Éverton Ribeiro em algumas ocasiões, este último recém-chegado do Oriente Médio e apresentando
dificuldades para jogar em alto nível na sequência de jogos.
Cuida-se de problema até certo ponto comum no futebol, porém
historicamente potencializado no Flamengo a partir do
final da “Geração Zico” e reavivado com bastante intensidade no segundo mandato de Eduardo
Bandeira de Mello. A questão é como cada clube lida com o assunto. No Flamengo de hoje, não é difícil perceber que a maratona de jogos sacrifica o meio campo que tem um só volante e três meias técnicos. Rodar o elenco é uma ideia intangível.
Por último, a Diretoria,
desesperada por um título relevante, e apesar de todas as evidências
em sentido contrário, permanece convencida de que a melhor
estratégia é escalar preferencialmente os titulares em todas as
partidas da maratona, o que, como visto, embora não seja a única causa, tem relação direta com a
vertiginosa queda de rendimento do time, que, por aposta da própria
Diretoria, possui, entre titulares e reservas, um número significativo de jogadores com mais de
trinta anos de idade ou próximos disso.
Portanto, Barbieri ou um eventual sucessor não terão facilidades. Em um plano ideal, Barbieri seria até hoje auxiliar em
treinamento de um treinador de ponta. No plano concreto, sua substituição, para ser efetiva, teria que superar todos os três obstáculos expostos.
E aí? Consideram possível?
E aí? Consideram possível?
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Tenho as mesmas dúvidas e muito do ceticismo que vários torcedores vêm externando ultimamente. Faltando menos de três meses de competição até o final do ano, e com tantos erros de planejamento cometidos, acho que não há muito o que ser feito e por isso estou tentando viver um dia de cada vez. Na Copa do Brasil, o Corinthians certamente
endurecerá muito, mas o vejo muito longe de ser favorito, quanto
mais um obstáculo intransponível. No Campeonato Brasileiro, no sábado farei a minha parte. Os ingressos já estão comprados.
A palavra, como sempre, está
com vocês.
Bom
dia e SRN a
tod@s.