quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Alfarrábios do Melo


Saudações flamengas a todos,

As pálidas (sendo condescendente) exibições do Flamengo contra os reservas de Grêmio e Cruzeiro tornaram a acender a percepção de que o rubro-negro costuma encontrar problemas quando o adversário não alinha a sua força máxima em campo. Assim, trago alguns exemplos de momentos emblemáticos em que o rubro-negro esteve às voltas com equipes reservas, mistas ou alternativas. 
Momentos nem sempre positivos, como se verá a seguir.

* * *

1 – FLAMENGO 1-0 BANGU, 1987
Estadual RJ, Triangular Final
Nove dias após derrotar o Fluminense (1-0, Decisão do Terceiro Turno), intervalo de tempo suficiente para esfalfar o elenco com uma extenuante viagem a Angola (“precisamos faturar”), o Flamengo estreia no Triangular Final do Estadual, enfrentando o Bangu numa noite de quarta-feira. Já eliminados da competição (goleados pelo Vasco por 4-0 na primeira partida), os de Moça Bonita se desmobilizam. E, entre lesões, suspensões e contratos vencidos, mandam ao Maracanã uma equipe esfacelada com seis reservas. Ao invés de Mauro Galvão, Arturzinho e Nando, vão a campo nomes como Jacimar, Tobi e Macula. O Flamengo, que vai à Justiça Comum para conseguir escalar alguns titulares convocados para a Seleção que irá disputar o Pan-Americano, tenta pressionar, mas o time, nervoso, sente o cansaço da excursão e não consegue se impor ao adversário. Somente aos 39 do segundo tempo, quando os 41 mil pagantes já esboçavam aumentar as vaias, uma cabeçada de Bebeto resvala no atacante Paulinho Criciúma (ironicamente, um dos poucos titulares banguenses em campo) e engana o grandalhão goleiro Palmieri. É a magra vitória, que mantém o Flamengo na briga por um título que acabará não vindo.


2 - FLAMENGO 1-0 SÃO PAULO, 1992
Campeonato Brasileiro, Segunda Fase
Numa partida que é marcada, desmarcada e remarcada algumas vezes, terminando por se realizar numa tarde de um domingo em que vários Chefes de Estado se encontram no Rio de Janeiro em função da realização da Conferência ECO92, o Flamengo recebe um São Paulo que assume a opção de priorizar a Final da Taça Libertadores, a ser realizada três dias depois, contra o Newell's Old Boys-ARG. Assim, os paulistas mandam a campo uma formação com apenas dois titulares (Zetti e Ronaldão). O Flamengo cai na armadilha e sente a pressão do jogo. Apático, não consegue superar o forte bloqueio exercido pelo meio-campo adversário e, pior, ainda chega a ser pressionado em alguns momentos, tendo dificuldades para deter as investidas do jovem atacante Macedo. Ainda assim, sai de campo com a vitória, conseguida por meio de um gol marcado ainda aos 16 minutos, quando Rogério (que, ainda se recuperando de uma lesão no joelho, só está em campo por causa de contusões de Júnior Baiano e Mauro) acerta uma bomba que engana Zetti (o goleiro mandara abrir a barreira) e faz explodir o público de quase 50 mil torcedores. Telê, ao fim do jogo: “recuperaremos esses pontos”. Não recuperam e a vitória se mostra decisiva para a classificação do Flamengo à Final.


3 - SÃO PAULO 3-0 FLAMENGO, 1994
Campeonato Brasileiro, Segunda Fase
Sofrendo com a instabilidade de uma equipe com muitos jovens, muitos deles sem demonstrar condições físicas e mesmo técnicas de atuar entre os profissionais, o Flamengo vai oscilando no Brasileiro. Numa partida adiada, vai ao Morumbi enfrentar o São Paulo, que prefere mandar a campo uma equipe reserva, ou quase (apenas Zetti e Júnior Baiano são os titulares em campo). Entrosada, a formação adversária (conhecida como “Expressinho”) não encontra nenhuma dificuldade para superar os inseguros comandados de Carlinhos e, com 35 minutos de jogo, já vence por 3-0. A perspectiva de uma goleada histórica se acentua quando Marquinhos e Rodrigo Mendes são expulsos por jogo violento. Mas o placar é mantido, muito por conta da incompetência dos atacantes do time da casa, que perde vários gols. O papelão assinala o segundo jogo sem vitória do rubro-negro, numa sequência que ainda durará mais seis partidas. E custará o cargo de Carlinhos.


4 - FLAMENGO 2-2 GRÊMIO, 1995
Campeonato Brasileiro, Primeira Fase
Vivendo um raro bom momento em um ano em que nada parece dar certo, o Flamengo embarca para Florianópolis (onde, seguindo sua caravana pelo País, será o mandante do jogo) em busca da terceira vitória seguida sob o comando do dublê de treinador e radialista Washington Rodrigues, o “Apolinho”. E tudo parece convergir favoravelmente. Mal no Brasileiro, o Grêmio (já classificado para a Libertadores por ser o detentor do título) resolve priorizar a Supercopa Libertadores. Manda a campo um time infestado de reservas. Apenas Danrlei, Roger, Dinho e Jardel são os titulares escalados. Empolgado, o Flamengo já vence por 2-0 aos 25 minutos, ambos os gols marcados por Romário. No entanto, mesmo com DOIS jogadores a mais (o Grêmio perde Danrlei e Alexandre, expulsos), o rubro-negro não consegue segurar a vantagem e cede o empate, com dois gols de Jardel (um deles, sentado). O vexame acende grave crise no vestiário, com alguns jogadores entrando em guerra declarada. “Não adianta o ataque fazer se a defesa desfaz”. E a equipe volta a seguir sua via crucis, maltratando o torcedor.


5 - FLAMENGO 3-1 SÃO PAULO, 1996
Copa Ouro Conmebol, Final
Ainda sem atuar desde o opaco desempenho nas Olimpíadas por conta de uma lesão no tornozelo, o atacante Sávio é o trunfo do Flamengo para a Final da Copa Ouro, disputada no Estádio Vivaldo Lima, em Manaus-AM, após a vitória sobre o Rosario Central-ARG por 2-1. O adversário é o São Paulo de C.A.Parreira, que prefere usar a competição para dar ritmo de jogo ao elenco. Assim, Zetti, Serginho, Axel, Djair, Muller e Denilson estão fora da partida. Mesmo assim, nomes como Valdir, Aristizabal, Belletti e Edmilson inspiram respeito. Mas Sávio, com fome de bola, não toma conhecimento do adversário e flutua no gramado amazonense em uma exibição de gala, comparável às suas melhores atuações pelo Flamengo. Marca três gols e comanda o Flamengo, que por pouco não aplica uma goleada antológica no tricolor paulista. No fim, os (baratos) 3-1 e o título festejado até com alguma discrição, tendo em vista a época de carência (o próximo troféu só virá em três anos).


6 - BOTAFOGO 1-0 FLAMENGO, 1997
Campeonato Estadual RJ, Taça Guanabara
O regulamento da Taça Guanabara prevê uma decisão entre os dois primeiros colocados do turno, após disputa em pontos corridos entre os 12 participantes. O Botafogo, que vence as dez primeiras partidas, garante a primeira vaga. O Flamengo, que acaba de atropelar o Vasco (3-1, em grande exibição de Romário), precisa de apenas um empate contra os próprios alvinegros para assegurar a passagem para a final. O Botafogo, temendo lesões e suspensões, manda a campo um time inteiramente reserva. Até mesmo o treinador Joel Santana é substituído por seu auxiliar, Valinhos. Desinteressado e relaxado, o Flamengo toca a bola sem qualquer objetividade em um Maracanã gelado, com apenas 17 mil pagantes. O panorama “amistoso” da partida é alterado quando o meia Renato (ex-América, Flamengo e Fluminense) acerta uma bomba de fora da área sem defesa para o goleiro Fábio Noronha. O gol desequilibra o rubro-negro, que não consegue pressionar de forma organizada. Para piorar, Mancuso acerta uma cotovelada num adversário e é expulso, fulminando com o mínimo de competitividade da equipe. No final, a derrota elimina o rubro-negro, que afunda em séria crise, cujo desfecho será a demissão, dias mais tarde, do treinador Júnior.


7 - CRUZEIRO 2-1 FLAMENGO, 1997
Amistoso - Torneio Centenário de Belo Horizonte
O Flamengo tenta se reforçar para a sequência do Campeonato Brasileiro, em que faz péssima campanha. Numa decisão que surpreende a todos, anuncia a contratação de Renato Gaúcho, ídolo do Fluminense em litígio com o tricolor. A disputa do Torneio Centenário de Belo Horizonte parece uma ocasião propícia para dar tempo e tranquilidade ao treinador Sebastião Rocha, o “Tião”, cujo cargo já está ameaçado. A equipe estreia com um 2-2 contra o Olimpia-PAR, depois agrada ao golear (5-2) o Benfica-POR. A decisão da vaga para a Final se dá contra o Cruzeiro, que manda um time reserva para a disputa do torneio, uma vez que está na Final da Taça Libertadores (que vencerá). Assim, em vez de Dida, Gotardo, Ricardinho, Marcelo e Cleisson, jogam Rodrigo Posso, Feijão, Odair e dois jovens talentosos: Fábio Júnior e Geovani. Incentivado pelo público, o jovem time mineiro pressiona e abre 2-0. A seguir o estreante Renato Gaúcho desconta, mas o Flamengo não consegue reverter a derrota, que abre uma profunda crise na Gávea (a sede chega a ser invadida por vândalos, que causam um princípio de incêndio no Auditório Rogério Steinberg), a qual resultará na demissão de Tião, ironicamente substituído por Paulo Autuori, justamente o treinador do Cruzeiro.


8 - FLAMENGO 1-1 VASCO, 1998
Campeonato Brasileiro, Primeira Fase
O Vasco acaba de conquistar a Libertadores e, quatro dias depois, a tabela marca um confronto justamente contra o Flamengo, cuja rivalidade os cruzmaltinos fazem questão de elevar à máxima fervura, mencionando o rubro-negro em todos os seus festejos e celebrações. Para completar, avisam que darão folga aos titulares na partida de domingo. O Flamengo, que faz campanha deprimente no Brasileiro, enche-se de brios. Mas falta qualidade. Inicia a partida buscando o gol, alcançado através de Beto, em bela jogada individual. Mas logo depois a defesa falha e o meia Ramón empata. Assustado com a perspectiva de protagonizar (mais) um vexame, o time de Toninho Barroso se fecha e atua em contragolpes. Numa dessas estocadas, perde chance clara com Romário. No fim, o 1-1 é celebrado pelos vascaínos, que saem cantando do Estádio. Dali a poucos meses, viverão o maior momento de sua história. Vice do Mundo.


9 - FLUMINENSE 0-1 FLAMENGO, 2008
Campeonato Brasileiro
Envolvido com a disputa das Semifinais da Libertadores, o Fluminense está “brincando no Brasileiro”, segundo seu treinador, Renato Gaúcho. E escala um time inteiramente reserva para enfrentar o Flamengo. O rubro-negro, por outro lado, ainda vivendo o trauma da eliminação da competição continental, inicia bem o campeonato e briga pela liderança. E, diante de 19 mil torcedores, busca se impor desde o início da partida, criando e desperdiçando algumas oportunidades, a maioria defendida pelo goleiro Fernando Henrique, o nome do jogo. Na segunda etapa, a forte marcação tricolor vai enervando o rubro-negro e as coisas se complicam quando Diego Tardelli é expulso após suposta agressão ao tricolor Maurício. Mas o Flamengo segue insistindo e é premiado aos 42 minutos, quando o volante Diguinho perde uma bola na intermediária e Juan, aproveitando o lance, é derrubado por Fernando Henrique dentro da área. Pênalti, que é convertido por Leonardo Moura. No fim, 1-0, que devolve o Flamengo à liderança. Como curiosidades, o Flamengo atuando com uma camisa sem marca de fornecedor de material esportivo (está em litígio com a Nike) e o gramado castigado por uma inusitada garoa.


10 – FLAMENGO 4-0 INTERNACIONAL, 2009
Campeonato Brasileiro
O Flamengo vive seu pior momento no ano. Uma profunda crise de relacionamento entre as principais lideranças do elenco e o treinador Cuca começa a afetar o rendimento da equipe, que surpreendentemente largou bem no Campeonato Brasileiro. Mas a eliminação da Copa do Brasil, com um gol sofrido nos últimos minutos contra o Internacional no Beira-Rio reabriu antigas feridas. Desmotivado e apático, o rubro-negro sofre duas goleadas seguidas fora do Rio (Sport e Coritiba) e precisa se recuperar no Maracanã justamente contra seu algoz da Copa do Brasil. O Internacional, que está nas Finais da competição, descansa seus titulares (alguns lesionados, outros servindo à Seleção Brasileira) e traz uma equipe com nomes como Lauro, Leandrão e Alecsandro. A Diretoria do Flamengo promove uma reunião entre Cuca e o elenco, que aparentemente sela a paz no vestiário. Diante de um público pequeno mas irritado, que ostenta faixas como “O Flamengo é Maior que Tudo e Todos” e que grita o nome de “Pet, Pet, Pet”, em alusão ao antigo ídolo, o rubro-negro, atuando de forma bem mais intensa e agressiva, constroi sem dificuldades a goleada, em uma atuação de gala de Adriano, que marca três gols (Emerson Sheik completa o placar). Os 4-0 amenizam a crise, que recrudescerá algumas rodadas mais tarde. Mas, ironicamente, o resultado fará diferença na classificação final (o Flamengo conquista o Hexa com dois pontos de diferença sobre o Internacional). Como curiosidade, o zagueiro Álvaro, que atua (mal) na partida pelo Colorado, será contratado semanas mais tarde pelo rubro-negro, onde conquistará a posição de titular absoluto.