Saudações
flamengas a todos,
As
pálidas (sendo condescendente) exibições do Flamengo contra os
reservas de Grêmio e Cruzeiro tornaram a acender a percepção de
que o rubro-negro costuma encontrar problemas quando o adversário
não alinha a sua força máxima em campo. Assim, trago alguns
exemplos de momentos emblemáticos em que o rubro-negro esteve às
voltas com equipes reservas, mistas ou alternativas.
Momentos nem
sempre positivos, como se verá a seguir.
* * *
1
– FLAMENGO 1-0 BANGU, 1987
Estadual RJ, Triangular Final
Nove
dias após derrotar o Fluminense (1-0, Decisão do Terceiro Turno),
intervalo de tempo suficiente para esfalfar o elenco com uma
extenuante viagem a Angola (“precisamos faturar”), o Flamengo
estreia no Triangular Final do Estadual, enfrentando o Bangu numa
noite de quarta-feira. Já eliminados da competição (goleados pelo
Vasco por 4-0 na primeira partida), os de Moça Bonita se
desmobilizam. E, entre lesões, suspensões e contratos vencidos,
mandam ao Maracanã uma equipe esfacelada com seis reservas. Ao invés
de Mauro Galvão, Arturzinho e Nando, vão a campo nomes como
Jacimar, Tobi e Macula. O Flamengo, que vai à Justiça Comum para
conseguir escalar alguns titulares convocados para a Seleção que
irá disputar o Pan-Americano, tenta pressionar, mas o time, nervoso,
sente o cansaço da excursão e não consegue se impor ao adversário.
Somente aos 39 do segundo tempo, quando os 41 mil pagantes já
esboçavam aumentar as vaias, uma cabeçada de Bebeto resvala no
atacante Paulinho Criciúma (ironicamente, um dos poucos titulares
banguenses em campo) e engana o grandalhão goleiro Palmieri. É a
magra vitória, que mantém o Flamengo na briga por um título que
acabará não vindo.
2
- FLAMENGO 1-0 SÃO PAULO, 1992
Campeonato Brasileiro, Segunda Fase
Numa
partida que é marcada, desmarcada e remarcada algumas vezes,
terminando por se realizar numa tarde de um domingo em que vários
Chefes de Estado se encontram no Rio de Janeiro em função da
realização da Conferência ECO92, o Flamengo recebe um São Paulo
que assume a opção de priorizar a Final da Taça Libertadores, a
ser realizada três dias depois, contra o Newell's Old Boys-ARG.
Assim, os paulistas mandam a campo uma formação com apenas dois
titulares (Zetti e Ronaldão). O Flamengo cai na armadilha e sente a
pressão do jogo. Apático, não consegue superar o forte bloqueio
exercido pelo meio-campo adversário e, pior, ainda chega a ser
pressionado em alguns momentos, tendo dificuldades para deter as
investidas do jovem atacante Macedo. Ainda assim, sai de campo com a
vitória, conseguida por meio de um gol marcado ainda aos 16 minutos,
quando Rogério (que, ainda se recuperando de uma lesão no joelho,
só está em campo por causa de contusões de Júnior Baiano e Mauro)
acerta uma bomba que engana Zetti (o goleiro mandara abrir a
barreira) e faz explodir o público de quase 50 mil torcedores. Telê,
ao fim do jogo: “recuperaremos esses pontos”. Não recuperam e a
vitória se mostra decisiva para a classificação do Flamengo à
Final.
3
- SÃO PAULO 3-0 FLAMENGO, 1994
Campeonato Brasileiro, Segunda Fase
Sofrendo
com a instabilidade de uma equipe com muitos jovens, muitos deles sem
demonstrar condições físicas e mesmo técnicas de atuar entre os
profissionais, o Flamengo vai oscilando no Brasileiro. Numa partida
adiada, vai ao Morumbi enfrentar o São Paulo, que prefere mandar a
campo uma equipe reserva, ou quase (apenas Zetti e Júnior Baiano são
os titulares em campo). Entrosada, a formação adversária
(conhecida como “Expressinho”) não encontra nenhuma dificuldade
para superar os inseguros comandados de Carlinhos e, com 35 minutos
de jogo, já vence por 3-0. A perspectiva de uma goleada histórica
se acentua quando Marquinhos e Rodrigo Mendes são expulsos por jogo
violento. Mas o placar é mantido, muito por conta da incompetência
dos atacantes do time da casa, que perde vários gols. O papelão
assinala o segundo jogo sem vitória do rubro-negro, numa sequência
que ainda durará mais seis partidas. E custará o cargo de
Carlinhos.
4
- FLAMENGO 2-2 GRÊMIO, 1995
Campeonato Brasileiro, Primeira Fase
Vivendo
um raro bom momento em um ano em que nada parece dar certo, o
Flamengo embarca para Florianópolis (onde, seguindo sua caravana
pelo País, será o mandante do jogo) em busca da terceira vitória
seguida sob o comando do dublê de treinador e radialista Washington
Rodrigues, o “Apolinho”. E tudo parece convergir favoravelmente.
Mal no Brasileiro, o Grêmio (já classificado para a Libertadores por ser o detentor do título) resolve priorizar a Supercopa
Libertadores. Manda a campo um time infestado de reservas. Apenas
Danrlei, Roger, Dinho e Jardel são os titulares escalados.
Empolgado, o Flamengo já vence por 2-0 aos 25 minutos, ambos os gols
marcados por Romário. No entanto, mesmo com DOIS jogadores a mais (o
Grêmio perde Danrlei e Alexandre, expulsos), o rubro-negro não
consegue segurar a vantagem e cede o empate, com dois gols de Jardel
(um deles, sentado). O vexame acende grave crise no vestiário, com
alguns jogadores entrando em guerra declarada. “Não adianta o
ataque fazer se a defesa desfaz”. E a equipe volta a seguir sua via
crucis, maltratando o torcedor.
5
- FLAMENGO 3-1 SÃO PAULO, 1996
Copa Ouro Conmebol, Final
Ainda
sem atuar desde o opaco desempenho nas Olimpíadas por conta de uma
lesão no tornozelo, o atacante Sávio é o trunfo do Flamengo para a
Final da Copa Ouro, disputada no Estádio Vivaldo Lima, em Manaus-AM,
após a vitória sobre o Rosario Central-ARG por 2-1. O adversário é
o São Paulo de C.A.Parreira, que prefere usar a competição para
dar ritmo de jogo ao elenco. Assim, Zetti, Serginho, Axel, Djair,
Muller e Denilson estão fora da partida. Mesmo assim, nomes como
Valdir, Aristizabal, Belletti e Edmilson inspiram respeito. Mas
Sávio, com fome de bola, não toma conhecimento do adversário e
flutua no gramado amazonense em uma exibição de gala, comparável
às suas melhores atuações pelo Flamengo. Marca três gols e
comanda o Flamengo, que por pouco não aplica uma goleada antológica
no tricolor paulista. No fim, os (baratos) 3-1 e o título festejado
até com alguma discrição, tendo em vista a época de carência (o
próximo troféu só virá em três anos).
6
- BOTAFOGO 1-0 FLAMENGO, 1997
Campeonato Estadual RJ, Taça Guanabara
O
regulamento da Taça Guanabara prevê uma decisão entre os dois
primeiros colocados do turno, após disputa em pontos corridos entre
os 12 participantes. O Botafogo, que vence as dez primeiras partidas,
garante a primeira vaga. O Flamengo, que acaba de atropelar o Vasco
(3-1, em grande exibição de Romário), precisa de apenas um empate
contra os próprios alvinegros para assegurar a passagem para a
final. O Botafogo, temendo lesões e suspensões, manda a campo um
time inteiramente reserva. Até mesmo o treinador Joel Santana é
substituído por seu auxiliar, Valinhos. Desinteressado e relaxado, o
Flamengo toca a bola sem qualquer objetividade em um Maracanã
gelado, com apenas 17 mil pagantes. O panorama “amistoso” da
partida é alterado quando o meia Renato (ex-América, Flamengo e
Fluminense) acerta uma bomba de fora da área sem defesa para o
goleiro Fábio Noronha. O gol desequilibra o rubro-negro, que não
consegue pressionar de forma organizada. Para piorar, Mancuso acerta
uma cotovelada num adversário e é expulso, fulminando com o mínimo
de competitividade da equipe. No final, a derrota elimina o
rubro-negro, que afunda em séria crise, cujo desfecho será a
demissão, dias mais tarde, do treinador Júnior.
7
- CRUZEIRO 2-1 FLAMENGO, 1997
Amistoso - Torneio Centenário de Belo Horizonte
O
Flamengo tenta se reforçar para a sequência do Campeonato
Brasileiro, em que faz péssima campanha. Numa decisão que
surpreende a todos, anuncia a contratação de Renato Gaúcho, ídolo
do Fluminense em litígio com o tricolor. A disputa do Torneio
Centenário de Belo Horizonte parece uma ocasião propícia para dar
tempo e tranquilidade ao treinador Sebastião Rocha, o “Tião”,
cujo cargo já está ameaçado. A equipe estreia com um 2-2 contra o
Olimpia-PAR, depois agrada ao golear (5-2) o Benfica-POR. A decisão da
vaga para a Final se dá contra o Cruzeiro, que manda um time reserva
para a disputa do torneio, uma vez que está na Final da Taça
Libertadores (que vencerá). Assim, em vez de Dida, Gotardo,
Ricardinho, Marcelo e Cleisson, jogam Rodrigo Posso, Feijão, Odair e
dois jovens talentosos: Fábio Júnior e Geovani. Incentivado pelo
público, o jovem time mineiro pressiona e abre 2-0. A seguir o
estreante Renato Gaúcho desconta, mas o Flamengo não consegue
reverter a derrota, que abre uma profunda crise na Gávea (a sede
chega a ser invadida por vândalos, que causam um princípio de
incêndio no Auditório Rogério Steinberg), a qual resultará na
demissão de Tião, ironicamente substituído por Paulo Autuori,
justamente o treinador do Cruzeiro.
8
- FLAMENGO 1-1 VASCO, 1998
Campeonato Brasileiro, Primeira Fase
O
Vasco acaba de conquistar a Libertadores e, quatro dias depois, a
tabela marca um confronto justamente contra o Flamengo, cuja
rivalidade os cruzmaltinos fazem questão de elevar à máxima
fervura, mencionando o rubro-negro em todos os seus festejos e
celebrações. Para completar, avisam que darão folga aos titulares
na partida de domingo. O Flamengo, que faz campanha deprimente no
Brasileiro, enche-se de brios. Mas falta qualidade. Inicia a partida
buscando o gol, alcançado através de Beto, em bela jogada
individual. Mas logo depois a defesa falha e o meia Ramón empata.
Assustado com a perspectiva de protagonizar (mais) um vexame, o time
de Toninho Barroso se fecha e atua em contragolpes. Numa dessas
estocadas, perde chance clara com Romário. No fim, o 1-1 é
celebrado pelos vascaínos, que saem cantando do Estádio. Dali a
poucos meses, viverão o maior momento de sua história. Vice do
Mundo.
9
- FLUMINENSE 0-1 FLAMENGO, 2008
Campeonato Brasileiro
Envolvido
com a disputa das Semifinais da Libertadores, o Fluminense está
“brincando no Brasileiro”, segundo seu treinador, Renato Gaúcho.
E escala um time inteiramente reserva para enfrentar o Flamengo. O
rubro-negro, por outro lado, ainda vivendo o trauma da eliminação
da competição continental, inicia bem o campeonato e briga pela
liderança. E, diante de 19 mil torcedores, busca se impor desde o
início da partida, criando e desperdiçando algumas oportunidades, a
maioria defendida pelo goleiro Fernando Henrique, o nome do jogo. Na
segunda etapa, a forte marcação tricolor vai enervando o
rubro-negro e as coisas se complicam quando Diego Tardelli é expulso
após suposta agressão ao tricolor Maurício. Mas o Flamengo segue
insistindo e é premiado aos 42 minutos, quando o volante Diguinho
perde uma bola na intermediária e Juan, aproveitando o lance, é
derrubado por Fernando Henrique dentro da área. Pênalti, que é
convertido por Leonardo Moura. No fim, 1-0, que devolve o Flamengo à
liderança. Como curiosidades, o Flamengo atuando com uma camisa sem
marca de fornecedor de material esportivo (está em litígio com a
Nike) e o gramado castigado por uma inusitada garoa.
10
– FLAMENGO 4-0 INTERNACIONAL, 2009
Campeonato Brasileiro
O
Flamengo vive seu pior momento no ano. Uma profunda crise de
relacionamento entre as principais lideranças do elenco e o
treinador Cuca começa a afetar o rendimento da equipe, que
surpreendentemente largou bem no Campeonato Brasileiro. Mas a
eliminação da Copa do Brasil, com um gol sofrido nos últimos
minutos contra o Internacional no Beira-Rio reabriu antigas feridas.
Desmotivado e apático, o rubro-negro sofre duas goleadas seguidas
fora do Rio (Sport e Coritiba) e precisa se recuperar no Maracanã
justamente contra seu algoz da Copa do Brasil. O Internacional, que
está nas Finais da competição, descansa seus titulares (alguns
lesionados, outros servindo à Seleção Brasileira) e traz uma
equipe com nomes como Lauro, Leandrão e Alecsandro. A Diretoria do
Flamengo promove uma reunião entre Cuca e o elenco, que
aparentemente sela a paz no vestiário. Diante de um público pequeno
mas irritado, que ostenta faixas como “O Flamengo é Maior que Tudo
e Todos” e que grita o nome de “Pet, Pet, Pet”, em alusão ao
antigo ídolo, o rubro-negro, atuando de forma bem mais intensa e
agressiva, constroi sem dificuldades a goleada, em uma atuação de
gala de Adriano, que marca três gols (Emerson Sheik completa o
placar). Os 4-0 amenizam a crise, que recrudescerá algumas rodadas
mais tarde. Mas, ironicamente, o resultado fará diferença na
classificação final (o Flamengo conquista o Hexa com dois pontos de
diferença sobre o Internacional). Como curiosidade, o zagueiro
Álvaro, que atua (mal) na partida pelo Colorado, será contratado
semanas mais tarde pelo rubro-negro, onde conquistará a posição de
titular absoluto.