Saudações
flamengas a todos,
Findo
o relaxante descanso da Copa do Mundo, o Flamengo volta nos provocar,
mobilizar, fazer emergir nossas reações, sensações e emoções
mais primitivas, convidando-nos a sair do eixo ao nos expor as mais
diversas oportunidades de lidar com situações que, à primeira
vista, recendem completamente divorciadas de qualquer cântico
entoado pelo que se julgou denominar senso comum, testando nossos
limites, transportando-nos aos etéreos e cinzentos recônditos onde
repousam os últimos traços de sanidade.
Tava
fazendo falta.
Assim,
à guisa de reinauguração do hábito de construir estes rabiscos
semanais, deixo nas próximas linhas minha impressão de torcedor,
logo leigo, acerca de alguns assuntos que têm permeado a realidade
flamenga nesses meados do ano da graça de dois mil e dezoito.
Preocupado.
VINICIUS
JR.

Vinicius
Jr, mais do que identificado, encarnava a verdadeira personificação
do jogador do Flamengo. Cara de moleque marrento, folgado, abusado,
ignorando adversário, competição, estádio. Nutrindo pelo Flamengo
uma reverência quase religiosa, rapidamente galopava para a condição
de ídolo maior de uma Nação órfã desde 2009. Garoto de luz
própria, capaz de transformar em espetáculo midiático qualquer
pelada de aterro. Vinicius fazia notícia. Vinicius era a notícia.
Não por acaso, nele se galvanizavam as mais diversas reações de
ódio, inveja, ressentimento e recalque dos torcedores (entre eles,
jornalistas) de outros clubes. Porque, mais do que craque do
Flamengo, Vinicius era “o” Flamengo.
Não
houve tempo, mas Vinícius teria sido o ídolo de cuja falta nos
ressentimos desde 2009 (salvo um breve soluço com Ronaldinho). O
cara que estamparia o nome em milhares de camisas de adultos e
crianças. A referência. O craque.
Nesse
papel que cabe aos clubes brasileiros (sem exceção) de mero
exportador de matéria-prima barata para os europeus jogarem sua
“NBA”, não havia muito a fazer. O talento e a luz própria de
Vinicius eram de uma cintilância tão retumbante que soa de um
lirismo “poliânico” conceber ser possível retê-lo por aqui em
sua idade mais valiosa. E se foi.
Vai
com Deus, Vinicius!
REFORÇOS
Parecia
simples. Do time que terminou o semestre, houve duas saídas já
previstas, o já citado Vinicius Jr e o atacante Felipe Vizeu, e
outra baixa um tanto surpreendente, o volante reserva Jonas.
Especulava-se a possibilidade de mais três perdas, no caso o volante
William Arão, o lateral Trauco e o atacante Guerrero.

E aí
começou o drama.
Compreensivelmente,
o Flamengo entendeu que, para a saída de Vinicius Jr, um jogador de
alto nível deveria ser trazido, até para prover o elenco de um
atleta capaz de emular os expressivos números produzidos pelo
precoce craque. E, depois de marchas e contramarchas, “elegeu” o
atacante Vitinho, rubro-negro declarado, que mantém com o clube um
longo flerte desde o final de 2016. Seguiu-se um dramalhão digno dos
novelões de priscas eras, uma história enjoativa, quase
insuportável.
Flamengo
acerta salário/contrato com o jogador, consulta o clube, assusta-se
com os valores e deixa que o jogador se entenda com seu empregador. E
espera. Enquanto isso, cede ao canto da sereia da ostentação de
novo-rico e pensa em trazer um jogador “de griffe”, selo europeu
de qualidade (vive sendo convocado para a Seleção de seu país).
Tal como ocorrera com Vitinho, acerta-se com o holandês Ryan Babbel,
mas se assusta com os valores pedidos pelo clube do atleta. E arrasta
uma negociação que dura semanas, sem resultado. E, quando
finalmente entende que Babbel, no frigir dos ovos, apenas desejava um
contrato melhor com seu clube, volta-se novamente para… Vitinho. E,
após mais algumas voltas e contravoltas, enfim o dramalhão parece
se encaminhar para um final satisfatório.
Só
que nisso passou-se uma Copa do Mundo inteira e mais dez dias de
troco. E contando.
Na
outra posição, o quadro se revelou ainda mais desolador. Porque,
após o problemático Walace permanecer no futebol alemão (trocando
apenas de agremiação), o clube aparentemente se resignou em
conceder a enésima oportunidade para Rômulo, que reiteradas vezes
tem demonstrado sua incapacidade de produzir futebol num nível
suficiente para pleitear fazer parte de um elenco como o do Flamengo.
Evidentemente,
a opção se revelou desastrosa e o preço foi cobrado.
Essa
semana, enfim, o clube parece dar sinais mais concretos de que
efetivamente logrará consumar as desejadas reposições. Caso os
sólidos rumores recente não se esfumem em novas novelões
cansativos, o Flamengo terá à sua disposição, além do já citado
Vitinho, um volante paraguaio de Seleção e uma obscura promessa
revelada em um centro menor, cuja contratação já se reveste
polêmica, por conta de algumas peripécias desagradáveis do garoto
nas redes sociais e de seu duvidoso estado físico.
As
reposições, enfim, sairão da cartola. No entanto, impossível
deixar de manifestar desapontamento e preocupação com a condução
de todo o processo por parte da Diretoria. A realidade atual é que o
time voltou da Copa mais fraco do que antes, chegando a apresentar
deficiências que pareciam sanadas.
Haverá
um lapso para incorporar os novos jogadores ao elenco. E,
incorporados, ainda surgirá a questão da adaptação, do encaixe,
essas coisas.
Que
esse lapso temporal não sepulte a temporada do Flamengo.
CAMISA
AZUL
Antes
de encerrar, breve observação sobre o terceiro uniforme, que
estreia hoje à noite, segundo informações.

A
questão que se coloca não é, portanto, de “quebra de
identidade”, “fuga das raízes” ou “camisa feia/bonita”. É
algo um tanto mais delicado.
Ao
final do ano haverá eleições, que se anunciam renhidas, duras, com
dedo na cara e cadeira voando. Fazer o time ir a campo ostentando uma
camisa azul, cor que caracteriza a Situação, justamente em um ano
eleitoral, soa algo evitável e desnecessário. E sabemos que em
política pode-se atribuir tudo a qualquer coisa. Menos à
ingenuidade.
Ficou longo. Paro por aqui.
Boa
semana a todos,