segunda-feira, 11 de junho de 2018

Nos Braços da Nação (As Lágrimas de Vinícius)

Salve, Buteco! Antes do pontapé inicial da partida de ontem, o treinador paranista Rogério Micale mencionou a necessidade de seu time atacar e não apenas se plantar na defesa, inclusive pelo que ele definiu como "ambiente" criado pela condensação entre Maracanã, Flamengo e a Nação. Até que conseguiu exercer uma marcação por pressão nos minutos iniciais, mas depois disso se trancou até o primeiro gol do Flamengo. De sua parte, o Mais Querido jogava com menos intensidade, como se estivesse em uma rotação menor do que nos jogos anteriores. Quando ameaçou imprimir um ritmo maior, veio a falta cometida sobre Diego na entrada da grande área, que ele próprio cobrou, contando com a sorte no desvio que acabou abrindo o placar. Então arrisco dizer que o gol veio sem muito esforço e talvez por isso o time em seguida reduziu novamente o ritmo e o Paraná ensaiou algumas jogadas de perigo antes do intervalo. Gostei do Everton Ribeiro e do posicionamento do Jean Lucas, que fez um bom primeiro tempo como se fosse um misto de segundo volante e meia interno na segunda linha.

No segundo tempo, o Flamengo voltou mais ligado do vestiário, pressionou e deu menos espaços ao adversário, que sempre esbarrava no melhor posicionamento da defesa e no implacável Gustavo Cuéllar. Apesar da melhora de rendimento, o curioso é que o segundo gol só veio após duas substituições feitas por Barbieri: Vizeu no lugar do inoperante Henrique Dourado e Willian Arão no de Jean Lucas, que havia caído de rendimento. Foi audível na transmissão da partida a decepção da torcida com a entrada do volante cabeludo. Contudo, no primeiro lance após sua entrada Everton Ribeiro o lançou brilhantemente para, na sua melhor característica, infiltrar-se na grande área paranista e cruzar para o arremate de Vizeu. A torcida, que não parou de cantar um minuto, como se houvesse escutado a "dica" de Rogério Micale, foi ao delírio e aumentou a intensidade, despertando a nossa principal joia da base de seu transe.

Discretíssimo nos quarenta e cinco minutos iniciais, Vinicius Jr., o grande personagem da partida, dada a sua aparente despedida da Nação no Maracanã, foi aos poucos se soltando e com ele o time subiu de produção na segunda etapa, principalmente quando o placar já estava definido. Numa sucessão de boas jogadas, o terceiro gol acabou se desenhando, mas não acontecendo por um capricho do destino. Destaque para um lindo voleio de Everton Ribeiro após magistral lançamento de Vinicius Jr. por cima da zaga. 

Tudo isso ocorreu tendo como incessante "trilha sonora" o afinado repertório da Nação, que sentiu o momento especial do adeus ao seu mais jovem e recente ídolo, cujas lágrimas comoveram todos os legítimos e saudáveis corações rubro-negros. Como disse o rubro-negro @notavel neste tuíte"foi preciso amargar dolorosamente uma despedida para compreender o que somos" diante do poderio econômico do futebol europeu. Um misto de alegria e tristeza, uma espécie de alegria triste, comum às despedidas, marcou a derradeira apresentação de nossa mais valiosa joia com o Manto Sagrado no Maracanã, ao menos até seu hoje incerto retorno.

Já vivi tempos em que todos os principais jogadores do futebol brasileiro atuavam em gramados nacionais e esse é um dos principais motivos pelos quais considero único e especial o título brasileiro de 1980. Espero estar vivo para presenciar os torcedores rubro-negros mais jovens curtirem um momento semelhante.

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Apesar de momentaneamente ultrapassado pelo Atlético/MG como ataque mais positivo, é evidente que o Flamengo tem o time mais equilibrado, não apenas porque agora tem a segunda defesa menos vazada e, disparado, o melhor saldo de gols, mas sobretudo porque demonstra ser um time seguro, que sabe alternar a forma de jogar conforme as necessidades e oportunidades durante os noventa minutos. Apesar de ainda ter muito o que melhorar, o Flamengo de Barbieri não rifa a bola, seja na defesa, meio campo ou ataque; trabalha os lances com paciência e qualidade como regra e recurso estratégico, o que não o impede de se valer de fulminantes contra-ataques quando surgem os espaços para tanto. E tudo isso acontece sem que se descuide do setor defensivo em momento algum. É essa variação que me agrada e transmite confiança para o restante do campeonato, mesmo com a aparentemente irreversível saída de Vinicius Jr.

A propósito, o jovem Vinicius é o tipo de jogador insubstituível individualmente. É tolice se iludir e pensar o contrário. Somente ajustes táticos viabilizarão a manutenção do ritmo empregado pelo líder do campeonato até aqui, na 11ª Rodada, o que evidentemente não descarta a necessidade da reposição ser a melhor possível. Esses são os grandes desafios de Barbieri e da Diretoria, um para treinar, a outra para reforçar e repor. Barbieri terá que forçosamente trabalhar o grupo a ser entregue durante o recesso da Copa, com ou sem os reforços e reposições de qualidade que lhe deveriam entregar, mas que todo torcedor, lá no fundo, conhecendo a tradição do clube, teme que não cheguem. No final das contas, de uma maneira ou outra, nosso jovem treinador terá que se provar no segundo semestre.

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Correspondendo à dedicação apresentada dentro de campo e, claro, aos resultados, a Nação Rubro-Negra tem sido uma aliada inseparável do time, carregando-o nos braços e dando-lhe força para sobrepujar os adversários. Tradicionalmente, é difícil bater o Mais Querido quando entra em sintonia com a Nação.

Quarta-feira teremos uma prova de fogo. Desde que o Palmeiras voltou para a Série A, em 2014, o Flamengo só venceu o primeiro e hoje distante confronto, no Maracanã, pelo Campeonato Brasileiro, quando Henrique Dourado, autor do segundo gol palestrino, estreava pelo adversário e Paulinho ainda jogava um futebol de qualidade pelo Mais Querido. Para vocês terem uma ideia, teve até boa atuação do Mugni, com direito a participação em dois gols, um deles uma assistência de quarenta metros (!), e atuação de gala do Márcio Araújo, que pela primeira vez enfrentava seu ex-clube e, extremamente motivado, marcou o segundo e foi autor de uma jogada de craque e da assistência pro quarto (!!). Desde então ocorreram três empates e quatro derrotas, como se o Flamengo tivesse sido amaldiçoado pelos Deuses do Futebol por ter sido tão favorecido pelo inusitado naquele confronto (muitos risos).

O jogo é decisivo não apenas para abrir margem na liderança contra o time que pode ser um dos principais concorrentes ao título, mas também para, desvirando o fio, quebrar o feitiço, fortalecer psicologicamente o grupo na luta pelo título e abalar de vez o adversário.

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Passo a bola correndo para vocês falarem sobre o jogo, bem como as expectativas para quarta-feira e a retomada das competições após a Copa do Mundo.

Bom dia e SRN a tod@s.