Salve, Buteco! Vocês já pararam pra refletir sobre o tempo que levou até a Diretoria do Flamengo (ou ao menos a maior parte dela) se convencer da necessidade de passar para frente os perebas ou que o trabalho do Zé Ricardo já havia se desintegrado completamente? Quando esse tema vem à minha mente sempre me pergunto qual é o critério que prevalece para a insistência com o que obviamente não está dando resultado. Será que é o simples fato da torcida perceber antes da Diretoria (e da maior parte da imprensa)? Imagino que, para um dirigente de futebol (ou jornalista esportivo) emocionalmente inseguro o pior dos mundos é constatar que sua avaliação é inferior à feita pela torcida. Puxa vida, logo o torcedor, aquele ser "apaixonado" que, portanto, não analisa os fatos racionalmente? Como ele pode ter percebido, e não eu, que aquele jogador não passa de um pereba? Como pode ele ter percebido as falhas de planejamento antes de mim? Pior é quando antes de mim descobre aquele jogador que seria perfeito para time. O que faço agora?
É uma constante, especialmente no segundo mandato da atual gestão, a torcida alertar muito antes para problemas que efetivamente acabam ocorrendo depois. Não faltam exemplos nas temporadas anteriores, como Márcio Araújo, Rafael Vaz, Muralha, Zé Ricardo e a dificuldade que teria para planejar 2017, além das negociatas e dos obscuros critérios de Rodrigo Caetano. O mesmo se diga em relação à temporada atual, como provam o envelhecimento do elenco, especialmente da zaga, fato que havia sido apontado por Reinaldo Rueda; a incompatibilidade de Henrique Dourado com o estilo de jogo que se tenta (sem sucesso, a não ser por apresentações esporádicas) implementar, a falta de atualização de Paulo César Carpegiani ou a instabilidade nas laterais.
É nesse ponto que os debates costumam se direcionar para o modorrento e boçal terreno das relativizações e das lembranças dos avanços na administração e nas finanças. Poupem-me, por favor. Nada disso se confunde com gestão de futebol. Além disso, culpar a torcida é covardia e canalhice. Até as pedras sabiam da dificuldade que o clube teria disputando três competições do tamanho da Copa do Brasil, da Copa Libertadores da América e do Campeonato Brasileiro. Depois de Rueda, a insistência no trabalho de Rodrigo Caetano e em suas escolhas é fruto de nada mais do que da incapacidade pessoal dos membros da Diretoria de exercer um pingo de autocrítica. Carpegiani entrou e saiu por conta disso e agora agora chegou a vez da obviedade ululante do momento: Maurício Barbieri pode até ser um bom auxiliar, mas é absolutamente evidente que ainda não reúne as melhores condições para estar no comando técnico da equipe profissional do Flamengo, seja em nível de planejamento, seja de execução durante as competições. No final das contas, cabe ao treinador fazer as escolhas certas em um cenário de longas sequências de jogos decisivos.
Mas imaginem se isso é problema. Claro que não. Afinal, só existem treinadores interinos no futebol brasileiro. E vamos levando!
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Desconfio de que estão tentando imitar o Grêmio/2017, apostando tudo na Libertadores/2018 e na Copa do Brasil, e deixando o Brasileiro para administrar a vaga para a Libertadores/2019. Há uma falha evidente nesse plano: os mesmos problemas (todos apontados pela torcida, todos) que dificultam o Flamengo disputar as três competições simultaneamente também podem impedir o sucesso na priorização de qualquer dessas competições, cuja conquista depende de times e elencos equilibrados. Afinal de contas, para ser campeão é preciso treinador, zaga, laterais, centroavante...
Há um timing para se tomar as decisões que levam aos títulos. O timing da Diretoria do Flamengo é o do eterno adiamento dessas decisões. É campeã da Copa das Ilusões.
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O discurso de Barbieri é de ir a Buenos Aires em busca da liderança. Gosto da ideia. Se houver um mínimo de competência e responsabilidade no Departamento de Futebol, já discutiram se é melhor mandar o primeiro ou o segundo jogo das oitavas-de-final. Eu escolheria o jogo de volta. Além disso, há tempos o Flamengo não se impõe fora de casa em jogos realmente grandes, seja nas competições nacionais, seja nas internacionais. Quarta-feira, portanto, é jogo decisivo, grande, que pode fazer a diferença no segundo semestre. É muito difícil imaginar que a longo prazo o trabalho de Barbieri alcance as aspirações da torcida do Flamengo, mas se porventura existir a mínima chance do nosso jovem treinador interino se firmar, passa por vencer esse tipo de jogo com frequência.
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Não foi Barbieri que planejou 2018. É sem dúvida o menos culpado.
A palavra está com vocês.