OS DOZE - PARTE II
(Continuação - Primeira Parte aqui)
7
- CRISTÓVÃO BORGES (Maio 2015 – Agosto 2015)
PERFIL
Jovem,
estudioso, razoáveis a bons trabalhos recentes (Vasco, Bahia,
Fluminense), conhecimento do futebol carioca, boa relação com os
jogadores, dificuldades de impor disciplina.
CONTEXTO
Mais
uma vez, o Flamengo larga mal no Brasileiro, mas dessa vez não teme
o rebaixamento. O elenco é nitidamente mais qualificado que nos anos
anteriores. É confirmada a primeira contratação de primeira linha
da Administração, o atacante Paolo Guerrero, artilheiro da Copa
América e titular do Corinthians. O objetivo da temporada é
conquistar uma vaga para a Libertadores.
RESULTADOS
Cristóvão
perde cinco dos primeiros oito jogos e não consegue tirar o Flamengo
da parte de baixo da tabela. O time se propõe a exercer marcação
alta e intensa mobilidade, filosofia de jogo incompatível com o
nível do elenco (ainda limitado, apesar da melhora). O comportamento
hesitante de Cristóvão (chega a demonstrar indecisão em alterações
durante os jogos) não ajuda. O treinador ganha sobrevida com a
estreia de Guerrero e a empolgação e as vitórias dela decorrentes.
Mas a irregularidade da equipe, que jamais decola, faz a torcida
perder a paciência com Cristóvão, que reage invocando “excessivas
e estranhas” cobranças. Muito querido entre os jogadores, conta
com a simpatia do Presidente, que resiste a demiti-lo. Mas uma
derrota para o Vasco, no jogo de ida das Oitavas de Final da Copa do
Brasil, é a gota d’água.
8
- OSWALDO DE OLIVEIRA (Agosto 2015 – Novembro 2015)
PERFIL
Experiente,
com várias passagens por equipes de ponta, com alguns bons trabalhos
recentes (Botafogo e Santos, junto com um mau desempenho no
Palmeiras), de excelente relacionamento com jogadores, capaz de
mobilizar líderes de elenco, é considerado uma opção de
“continuidade” a Cristóvão. A exemplo de seu antecessor, não
lida bem com casos de indisciplina.
CONTEXTO
O
Flamengo já conta com alguns bons jogadores, mas o conjunto é
fraco. O time é instável, irregular e sofre muitos gols,
especialmente pelo alto. O ambiente interno é bom, embora haja
rumores de problemas isolados de relacionamento. Há relatos de
comportamento extracampo inadequado de alguns jogadores.
RESULTADOS
Oswaldo
“eletriza” o elenco, dando confiança aos jogadores. Esperto,
pede apoio da torcida (que anda ressabiada). Apesar de não conseguir
reverter a desvantagem para o Vasco na Copa do Brasil, consegue uma
sequência de seis vitórias seguidas que leva a equipe ao G4 do
Brasileiro. Mas a possibilidade de classificação à Libertadores é
afastada após três derrotas seguidas, que desmotivam os jogadores.
Com a política do clube fervendo pelas eleições que se aproximam,
Oswaldo perde o comando do grupo, que se arrasta até o final da
temporada. O escândalo do “Bonde da Stella” simboliza o final
melancólico de uma temporada frustrante. Oswaldo não tem seu
contrato renovado e, de comum acordo, deixa o clube antes da
penúltima rodada. Ironicamente, é o único treinador dentre os doze
a, de certa forma, cumprir seu contrato até o final.
9
- MURICY RAMALHO (Janeiro 2016 – Maio 2016)
PERFIL
Experiente,
currículo vastamente vitorioso, tido como capaz de reestruturar o
Departamento de Futebol do Flamengo através do desenvolvimento de
uma filosofia de jogo que abrange desde a base até os profissionais.
Notório adepto do futebol defensivo, acena com a perspectiva de
arejar suas ideias de montagem de equipes, após um curto intercâmbio
com o Barcelona.
CONTEXTO
Renovação
e recomeço. O Flamengo reformula seu elenco, trazendo vários
reforços dos mais distintos perfis. A ideia é iniciar um trabalho
duradouro, mas capaz de render resultados imediatos.
RESULTADOS
Muricy
não consegue êxito na tentativa de montar uma equipe de posse de
bola e marcação alta. O Flamengo se mostra vulnerável e pouco
contundente. Falhas individuais sistemáticas de alguns jogadores
comprometem o trabalho, mas Muricy se mostra reticente em promover
alterações radicais. O relacionamento com o plantel é delicado,
jamais harmonioso. O efeito em campo logo se faz sentir. O time sofre
derrotas humilhantes para equipes inexpressivas, é eliminado do
Estadual, da Copa do Brasil e da Primeira Liga. Com poucos meses de
trabalho, Muricy enfrenta severos questionamentos e vê seu cargo
ameaçado. Na estreia do Brasileiro, surpreende e monta uma equipe
de postura mais conservadora. A vitória por 1-0 sobre o Sport se dá
sem encanto, mas sem sustos. No entanto, o treinador sofre com a
reincidência de problemas de saúde e acaba sendo forçado a
entregar o cargo.
10
– ZÉ RICARDO (Maio 2016 – Agosto 2017)
PERFIL
Treinador
campeão da Copa SP de Juniores em 2016, apresentando um futebol
pragmático, compacto, de forte índole defensiva e com ênfase no
conjunto, em detrimento das individualidades. Surge como alternativa
para assumir a equipe em caráter interino em função do forte
desgaste do auxiliar Jayme de Almeida. A ideia é mantê-lo no cargo
enquanto a Diretoria conclui as negociações com Abel Braga,
escolhido para ser o sucessor de Muricy.
CONTEXTO
O
desastroso primeiro semestre afunda o Flamengo em séria crise. Antes
da primeira rodada do Brasileiro, o contestado zagueiro Wallace pede
para não mais atuar pelo clube, o que, com a lesão de Juan e a
recusa do Benfica em negociar o limitado César Martins, faz com que
o Flamengo se veja na quase inverossímil situação de iniciar o
Brasileiro sem uma dupla de zaga profissional. O time não chega nem
perto de apresentar algo semelhante a um jogo coletivo estruturado. O
elenco se queixa das excessivas viagens, decorrentes do fechamento do
Maracanã. Para complicar, a torcida demonstra forte rejeição à
escolha de Abel Braga, que, ressentido, paralisa as negociações.
RESULTADOS
Zé
Ricardo demonstra estrela logo na sua estreia, ao derrotar a Ponte
Preta, de virada (2-1) em pleno Moisés Lucarelli. O jovem treinador
rapidamente consegue organizar defensivamente a equipe, e, mesmo com
as alterações decorrentes da chegada de vários reforços, não
demora a construir uma equipe sólida e consistente. Assim, acaba
sendo efetivado, até por conta do impasse com Abel. Com isso, o
Flamengo ascende na tabela e, impulsionado pela chegada de Diego,
chega à inesperada condição de sério postulante ao título. Mas
sucumbe às próprias limitações e acaba em um frustrante terceiro
lugar. No ano seguinte, Zé Ricardo (repetindo erros de antecessores
de perfil semelhante) encontra sérias dificuldades para desenvolver
variações táticas, resiste a revezar o elenco e apresenta excessivo
apego aos jogadores com que contou no início do caminho (segrega
alguns jogadores nitidamente superiores aos titulares das respectivas
posições). Conquista o Estadual, mas acaba eliminado precocemente da Libertadores. O trauma
que se segue implode seu trabalho, mas, por insistência da
Diretoria, Zé Ricardo ainda vagueia moribundo por um turno inteiro
do Brasileiro, até ser tardiamente demitido após a derrota para o
Vitória (0-2) na Ilha do Urubu.
11
– REINALDO RUEDA (Agosto 2017 – Dezembro 2017)
PERFIL
Treinador
colombiano, experiente, com bons trabalhos nas Seleções de Honduras e
Equador, vive seu auge na carreira ao comandar o Atlético
Nacional-COL, levando os “verdolagas” à conquista da
Libertadores. Recentemente desligado do clube de Medellín, é
contratado após intensa pressão das redes sociais, que durante
alguns dias exerce um verdadeiro “efeito manada” sobre a
Diretoria, que vê frustrada a tentativa de trazer Roger Machado e
cogita trazer de volta Jorginho.
CONTEXTO
O
Flamengo vive a mais séria crise desde que a Administração Eduardo
Bandeira de Mello assumiu o clube, em 2013. A eliminação da
Libertadores abre forte fissura entre o elenco e a torcida, farta dos
reveses recentes e já impaciente com a limitação de alguns
jogadores. A postura do Presidente, que desafia abertamente as vozes
contrárias e admite isolar e “proteger” certos jogadores, joga
gasolina na fogueira. Enquanto se concluem as negociações com
Rueda, o time “caminha” em campo numa derrota para o Atlético-MG.
Na quarta seguinte, há uma partida decisiva com o Botafogo, pela
Copa do Brasil, num momento em que a rivalidade entre os dois clubes
está acirrada e o alvinegro vive seu melhor momento na década.
RESULTADOS
Rueda,
apesar de uma rejeição de um nível de agressividade sem
precedentes por parte de imprensa, profissionais e mesmo alguns
ex-dirigentes rubro-negros, consegue rapidamente reorganizar o
sistema defensivo da equipe. Identifica um crônico problema de falta
de competitividade, que tenta atacar, entre outras formas, através
de entrevistas contundentes. Apesar de não conseguir fazer o
Flamengo jogar um futebol vistoso (é uma equipe que abusa das bolas
paradas), constroi uma equipe aguerrida, apropriada para a disputa de
torneios eliminatórios. O Flamengo elimina de forma apoteótica o
Botafogo e vai avançando na Sul-Americana. No entanto, sucumbe na
Final graças a (mais) uma deficiência de gestão de elenco. Dessa
vez, é a falta de um goleiro de alto nível que cobra seu preço. Na
Sul-Americana, o time se classifica de forma dramática contra
Fluminense e Junior-COL, e também chega às Finais, não resistindo
ao Independiente-ARG. A priorização das competições “matamata”
por pouco não tira do Flamengo a vaga direta à Libertadores através
do Brasileiro. Em dezembro, Rueda, ainda bombardeado por sucessivas
críticas, sai de férias. Há rumores, cada vez mais fortes
(inclusive expressos em reportagens) de aumento de rejeição ao
colombiano por parte de jogadores e mesmo membros da comissão
técnica. Em janeiro, ao se reapresentar ao clube, Rueda anuncia ter
aceitado dirigir a Seleção Chilena, dando fim a um rumoroso e
mal-explicado processo de negociação que se arrastou por semanas.
Como legado, Rueda deixa a recuperação do volante Cuellar
(praticamente marginalizado por Zé Ricardo) e o aproveitamento mais
intenso de jogadores como Lucas Paquetá, Vinicius Jr e Felipe Vizeu.
12
– PAULO CÉSAR CARPEGIANI (Janeiro 2018 – Março 2018)
PERFIL
Treinador
old-school, com carreira iniciada há 37 anos, com o último título
de expressão conquistado em 1994 (campeão paraguaio), vindo de dois
trabalhos razoáveis por Coritiba e Bahia, afastando-os do risco de
rebaixamento. Inicialmente contatado para trabalhar como Coordenador
Técnico, é efetivado treinador após a saída de Rueda. Adepto da
posse de bola e da marcação em bloco, costuma enfrentar problemas
de relacionamento com os jogadores, em função de seu temperamento
difícil.
CONTEXTO
A
perda da Sul-Americana e a saída de Rueda volta a provocar forte
onda de pessimismo entre a torcida. A efetivação de Carpegiani
(apresentado numa atrapalhada entrevista coletiva) não ajuda.
Começam a transbordar indícios de desavenças entre o Presidente e
o Vice Ricardo Lomba. O elenco é enxugado, com a saída de alguns
jogadores fortemente contestados. Alegando falta de recursos, o
Flamengo praticamente não se reforça. A ideia é “apostar na
base” que, de fato, já demonstra resultados consistentes, tanto em
títulos quanto na revelação de talentos.
RESULTADOS
Em
função das férias do elenco titular, o Flamengo atua com uma
formação improvisada nos primeiros jogos do Estadual, repleta de
jovens das Divisões de Base. E surpreende, com um futebol alegre e
aplicado. Mas a empolgação se esvai quando o time titular retorna
aos gramados. A equipe até conquista a Taça Guanabara (com apenas uma
exibição realmente boa, contra o Botafogo), mas acaba estagnando.
Apresenta espasmos de competitividade nos dois primeiros jogos pela
Libertadores (uma partida fraca, no empate contra o River Plate, e
uma boa atuação coletiva contra o Emelec). Mas cai assustadoramente
de rendimento no Estadual. É eliminado, com sobras, da Taça Rio
pelo Fluminense. E, dias depois, cai diante do Botafogo nas
Semifinais da competição, na pior exibição da equipe sob o
comando do treinador (que abusa do direito de errar na escalação).
O resultado faz com que o Vice-Presidente dê declarações
inflamadas à imprensa, das quais logo se retrata. Mas o estrago está
feito. Carpegiani não resiste e é demitido, juntamente com o
Executivo Rodrigo Caetano e alguns membros da Comissão Técnica. O
Flamengo afunda em crise. E, sem norte, mergulha em incertezas.