Flamengo é um clube de torcida nacional, mas seu estatuto é de um clube local. Associados, majoritariamente da Zona Sul e entorno, decidem politicamente o presente e futuro do clube. Alguns decidem pela remodelação da piscina que receberam ou deixaram de receber, outros pelas escolinhas de seus filhos, outros decidem pelo critério de afinidade pessoal com candidatos que convivem nos fins de semana. Enfim, o clube de bairro em sua essência. É um modelo que, obviamente, dificulta qualquer tipo de compromisso com modernização e aprimoramento dos processos, embora esta tenha sido a tônica das duas últimas eleições.
A modernização recente do quadro de associados significa, claro, um arejamento maior nas ideias. O que é bom para o Flamengo. Pedra que rola não cria musgo. Mas, ainda assim, é um clube cuja eleição é decidida aqui no Rio de Janeiro, o que, de certa forma, é uma minimização da relevância ao torcedor do Flamengo, cuja grande maioria não está nesta cidade ou mesmo estado.
O que fazer? Abrir o clube. Como? Permitindo o voto à distância. Não há como sustentar o modelo atual de exigir o comparecimento no Rio de Janeiro e ainda em dia útil. Isto inibe qualquer votação. Pense você, associado do Rio de Janeiro, se tivesse que ir em Maceió votar numa segunda-feira. Você poderia ir? Não. E com o tempo você desistiria de participar politicamente do clube. A não ser que tivesse tempo livre, cheio da grana, enfim, condições especiais.
E porque queremos só associados de outros estados em condições especiais? Não tem lógica. Além de ser uma enorme injustiça.
Flamengo precisa se abrir. Até para manter a chama perpétua de interesse de torcedores de outros estados pelo clube.
Isto é algo novo? Não. Internacional permite isto. Clubes como Santos, Fluminense e Bahia lutam para emplacá-lo. Flamengo, pela característica nacional que tem, deveria ser o líder deste processo. É possível haver votos pela internet, desde que com sistemas bem construídos, auditados e com segurança. Acompanhados pelas chapas eleitorais e testados exaustivamente para garantir a fidelidade dos votos.
Por isto é importante que o dito associado off-Rio apoie candidaturas que se comprometam a lutar pela implementação deste sistema. E faça um esforço hercúleo e venha ao Rio votar. O que mesmo assim não será simples. Tem que vencer a resistência do Conselho do Flamengo, composto majoritariamente pelos "associados do clube social". Evidente que o associado off-Rio pode estar com raiva pelo momento do futebol e releve qualquer outro assunto, frustrado pelo 2017 em que acreditava que um técnico iniciante paneleiro, adorador de perebas, levaria o time longe. Junte a isto a miopia técnica do diretor executivo de futebol, e seus profissionais, e das características do EBM frente a pasta do VP de Futebol, e tivemos a "tempestade perfeita". O que faz com que o futebol adquira uma enorme relevância para 2019, passando todos os outros temas (muito) para trás e a maioria dos debates se resuma a quem terá mais pulso que o outro.
Enfim, é chegado a hora e a vez do voto em distância. Claro que não será para a eleição de 2018, infelizmente, mas deve-se lutar para ser a de 2021. Que o Flamengo se adeque a isto com o apoio da maioria dos associados.