sábado, 24 de março de 2018

A arte de guerrear


Por Alex do Triplex

Os mais aficionados pelo MMA devem lembrar do evento Pride, que acontecia no Japão mês sim, mês sim, com as principais atrações vindas do Brasil, mais precisamente daqui de Curitiba: Wanderlei Silva e Maurício Shogun. E, naquele tempo, era comum ouvirmos no corner dos lutadores o grito do Muay Thai, sempre vociferado pelos treinadores Rafael Cordeiro e Cristiano Marcelo, com o objetivo de “ligar a máquina”, de fazer o sangue ferver de vez. Havia derrotas, mas havia muitas vitórias contundentes dos brasileiros.

O Flamengo de hoje me leva pra esse patamar de dúvida: O que falta pra esses caras ligarem a máquina? Se os salários estão em dia, se tudo está bom, se o CT é de primeira geração, se o grupo é unido, onde está o fio da meada que insiste em bloquear nosso crescimento?

Eu enumero algumas obviedades repetitivas redundantes:
- Falta chuteira preta, falta bafo de alho, falta entrar fedido em campo. Nossos jogadores parecem que saíram do salão direto pro gramado. E isso não combina com as nossas tradições.
- Falta um pouco mais de boteco, de ser perseguido por algum setorista estagiário e aparecer em foto às 4 da manhã, com uma água de côco pra rebater a manguaça. Hoje, temos um elenco que parece ter aula no Sion, proibido de falar palavrão.
- Falta, PRIMORDIALMENTE, o sangue no olho. Não adianta explodir numa virada “heróica” e “determinante” contra o poderosíssimo Emelec, se num jogo contra os perebas do Fluminense somos incapazes de furar uma retranca do Abel. E essa pasmaceira de achar que o gol pode acontecer a qualquer momento me incomoda muito.

Não podemos afirmar que somos desprovidos de talento. Mas só talento não basta. Correr errado, de forma desgovernada, não me mostra raça. Me passa desorganização, me passa (des)obediência tática (voltarei a falar disso), e me passa um pouco do discurso do Diego ao fim de derrotas ou fracassos.  Não existe um culpado, não existe uma figura determinante no resultado. É aquele discurso pronto, e pronto.

Sobre o jogo de quinta, vou citar “A Arte da Guerra”: “Conheça o seu inimigo e conhece-te a si mesmo e você pode lutar cem batalhas sem desastre.”

Simples, né? Pra que ir de Rever, com Rodolfo bem, contra um ataque de anões velocistas? Pra que Vinícius Jr de banco, sendo que tanto Everton Ribeiro e Diego não estão – NO MEU ENTENDER – essa maravilha toda que muitos afirmam? Pra que Renê, se absolutamente todo mundo sabe que o Everton pode e deve fazer o papel de lateral, ou até mesmo de um ala? E Cuellar, o que ele fez pra merecer banco pro Jonas? Isso, pra começar na escalação. Não consigo compreender o que pensa nosso treinador. “Ok, ele está lá, você não”. Mas sou só eu reclamando dessas escalações? Sou só eu reclamando de termos RÔMULO E ARÃO no banco? Vem aí o desastre, não?

Então o professor resolve escalar o time da galera. E aí nós esbarramos – falei que eu ia voltar – na (des)obediência tática. Não foram poucas as vezes em que ouvi grandes jogadores brasileiro falarem sobre não obedecer às ordens do treinador e o jogo mudar. Sobre o tal improviso, algo que nos era exclusivo, mas que o mundo viu, copiou e venceu. 

Em se falando de Flamengo, tirando Vinicius Jr. e Paquetá, não vejo ninguém arriscar nesse time. E me falta argumento para decidir o que motiva jogadores como Diego e Everton Ribeiro a terem esse comportamento “igual”. A serem jogadores de grupo, quando eles podem e devem ser jogadores únicos, diferenciados, diferentes.

Que nossa torcida é impaciente, é fato. Saudades de títulos de verdade, vontade de ganhar Brasileirão, Libertadores, o mundo. O Carioca não satisfaz muitos faz alguns anos, e eu ouso afirmar que nossos reais rivais são Corinthians e Palmeiras. É neles que devemos mirar nossas forças, e não aporrinhar a própria paciência contra os times frequentadores da série B que vivem e moram no Rio.

O combatente inteligente impõe sua vontade sobre o inimigo, mas não permite que a vontade do inimigo lhe seja aplicada

Pois bem, para terminar, voltamos a Shin Tzu. O Flamengo de nós todos joga com inteligência, mas se permite subjulgar os adversários solenemente, sem pensar na vida. Tira deles a respiração, a vontade de vencer, e impõe o medo. Pois quando o time faz isso, nós vamos juntos. Nós saímos de trás da tv e vestimos a ponta da chuteira. Difícil entender isso? Podem até ser perebas, mas não são cegos ou surdos. Fazer com que compremos essa briga é fácil. Mas, atualmente, não é isso que eles vem merecendo.

Temos 9 meses ainda. Muita bola pra rolar. Mas é necessária uma mudança de postura mental. Muito mais mental do que tática.

Senão, veremos pela tv - de novo - outros levantando as taças que poderiam, SIM, serem nossas.

SRN

CCM

DCF

P.s.: Um convite do meu amigo Rocco é quase uma intimação.  Sinto-me honrado de frequentar seu buteco.

Triplex´s out.