segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Retrancas e Rodeios


Salve, Buteco! Ainda não havia nascido em 1958, mas a maior referência em nível de retranca, desde que comecei a acompanhar futebol, foi a da seleção do País de Gales nas quartas-de-final da Copa do Mundo da França, ao enfrentar o Brasil. Um selecionado que tinha nada menos do que Nilton Santos, o "inventor" da função ofensiva dos laterais, Didi, Mané Garrincha e Pelé só conseguiu marcar o único tento da vitória aos 21 (vinte e um ) minutos da etapa final após jogada individual (e genial) do maior de todos os tempos, que marcou na ocasião seu primeiro gol em mundiais. A principal característica da retranca é que pode ser eficiente mesmo executada por jogadores medíocres e limitados tecnicamente. No futebol, a retranca é a salvação dos humildes e indefesos, sejam de Cardiff, Saquarema ou de Nova Iguaçu. Sobram rodeios e faltam gols. Contra ela, a retranca, persistência e paciência são a chave do ferrolho; pressa e afobação o ouro dos tolos.

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É bem difícil comparar, mas o time do glorioso Boavista, de Bacaxá, distrito de Saquarema/RJ, provavelmente é inferior ao escrete galês quadrifinalista em 1958. Em contrapartida, no Flamengo também não há nenhum Nilton Santos ou Didi, que dirá Garrincha ou Pelé. Tampouco joga fácil como a Seleção Canarinho de 1958. Todavia, guardadas as devidas proporções, a "marcação dobrada" do alviverde da Região dos Lagos, que só foi ao ataque nos minutos iniciais, incomodou e foi eficiente no primeiro tempo. Do outro lado, o Mais Querido e seus "três tenores" deixaram a desejar. Faltou intensidade e sobretudo paciência na troca de bolas. O time se afobou, não por estar ansioso em uma decisão, mas pela falta de tenacidade para rodar a bola até aparecer a oportunidade de furar o ferrolho. Carpegiani, à beira do campo, enfatizou esse aspecto durante os noventa minutos, como informou a reportagem de campo da Rede Globo. Embora isolado, o lance no qual Diego esticou uma bola alta em profundidade para Henrique Dourado, devidamente vigiado pela "Geladeira de Bacaxá", espelhou bem como faltou inspiração ao time na etapa inaugural. O Flamengo pareceu estar com preguiça de ser mais imaginativo.

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Lucas Paquetá e Everton Ribeiro deram o ar de suas graças na etapa final. O primeiro lance de gol foi construído por insinuante tabela entre os dois. De maneira geral, os jogadores pareceram estar mais ligados. A entrada de Rodinei no lugar de Pará ajudou por tornar o time mais ofensivo diante de um adversário que sempre foi tímido em suas incursões pela nossa defesa. Quando o Boavista ensaiava crescer no jogo, Carpegiani lançou Vinicius Jr. no lugar de Lucas Paquetá. A torcida capixaba não gostou da saída do xodó da Nação e sua canhota nervosa, porém já pedia aos gritos a entrada de nossa milionária estrela.

Veio em boa hora o dinheiro da venda dos direitos federativos de Vinicius Jr., mas a cada jogo meu coração de torcedor lamenta mais a sua inevitável partida. Por mais que a entrada de qualquer acante tornasse o time mais arejado e ofensivo, as coisas são diferentes quando o menino entra em campo e desfila com seu exuberante talento. Seu futebol cheio de magia, alegria e criatividade transforma a monotonia em vibração e dá cores ao que está pálido. 

Não demorou e o Flamengo abriu o placar em um belo lançamento pelo alto de Diego para Réver, quando o zagueiro Kadu impediu que o passe de cabeça feito por nosso campeão alcançasse Henrique Dourado ou Vinicius Jr., porém ao mesmo tempo abriu o placar com um oportuno "gol contra". Furada a retranca bacaxaense, o jogo ganhou em fluidez e foi a vez de Everton Ribeiro dar um passe obsceno para Vinicius Jr. tocar de leve e tirar do goleiro, dando números finais à partida, em que pese a goleada haver se desenhado e parecer apenas questão de tempo.

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A postura desse mesmo elenco nos jogos da Libertadores/2017 (à exceção do jogo no Nuevo Gasómetro) me dá certeza de que o jogo contra o River Plate será disputado em rotação bem mais rápida. Se funcionará serão outros quinhentos, inclusive porque até aqui o sistema defensivo não foi devidamente testado, embora sejam dignos de registro os esforços dos nossos meias nesse sentido. O mais importante é que as orientações de Carpegiani à beira do campo mostram que nosso treinador sabe exatamente aonde o time precisa evoluir. O novo esquema tático e os jogadores escolhidos para executá-lo pedem maior refinamento e cuidado na articulação ofensiva, especialmente nas trocas de passe. Carpa detectou o problema e pediu "mais calma", o que para mim significa jogar sem afobação, mas com inteligência. Futebol é um esporte que deve ser jogado com intensidade e entrega, o que é bem diferente do esforço inútil e impensado. Os esticões e chuveirinhos diminuíram e acho que o trabalho até aqui é muito positivo, mas ainda há muito o que melhorar com a posse de bola.

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Carpa acertou na estratégia de lançar Vinicius Jr. contra uma defesa mais cansada, porém não falta muito para o garoto conquistar sua vaga de titular. Será mesmo que é Lucas Paquetá que precisa sair?

Outra dúvida é se estamos vivendo o verão das retrancas no futebol carioca ou está faltando "punch" ao nosso ataque. O que me dizem?

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A estreia na Libertadores contra o River Plate se aproxima e o time teve poucos confrontos de maior envergadura, o que é indesejável, mas comum em início de temporada. Qual será a melhor estratégia: poupar contra Madureira ou Fluminense?

A palavra, como sempre, está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.