Saudações
flamengas a todos,
Tendo
em vista as notícias sobre a provável contratação do
atacante Henrique Dourado pelo Flamengo, e a controvérsia por ela
gerada, uma linha de argumentação chamou a atenção. Jogadores
revelados, ou com passagens marcantes em clubes rivais, efetivamente
logram êxito no Flamengo?
Os
exemplos negativos de Edmundo, Robertinho, Wilsinho, Leandro Amaral,
Yan, William e Luís Carlos Wink, entre inúmeros outros que
certamente serão lembrados, depõem contra a prática. As
trajetórias, por enquanto, instáveis (para usar um termo ameno) dos
atuais Willian Arão, Rômulo e Rafael Vaz e do recente Conca também
ajudam a consolidar uma percepção negativa. No entanto, há
exemplos positivos, a guisa de contraponto, que indicam que,
esporadicamente, é possível, sim, algum ex-rival prosperar no
Flamengo.
Donde,
sem entrar no mérito da busca pelo “Ceifador”, segue uma
“escalação” de jogadores que, com passagens anteriores por
outro (ou outros) clubes do Rio, conseguiram entregar algum tipo de
resultado com a camisa do Flamengo, mesmo, em alguns casos, não
tendo se conectado com nossa torcida.
(Em
tempo: o caso de Romário, por ser o mais controverso, não será
analisado nesse texto. Sucesso, fracasso? A passagem do Baixinho pelo Flamengo
mereceria, por si só, um post exclusivo. Por conta disso, não será
aqui tratada.)
*
* *
1
- UBIRAJARA MOTTA (1972-1977)
Após
passagens vitoriosas por Bangu e Botafogo nos anos 1960 (chegou a ser
convocado para a Seleção Brasileira que disputaria o Mundial de
1966 mas acabou cortado), é contratado para formar, junto com
Renato, o plantel de goleiros do Flamengo, que monta um elenco forte
para a temporada de 1972. Curiosamente, o rubro-negro conta com outro
Ubirajara (Alcântara) na equipe, e assim "Bira" passa a
ser identificado por seu sobrenome. Já no final da carreira,
participa de alguns jogos e se revela um reserva confiável, ajudando
na orientação de jovens como Cantarele. Em sua passagem pelo
Flamengo, conquista os Estaduais de 1972 e 1974. Encerra a carreira
pelo rubro-negro em 1977.
2
- LEONARDO MOURA (2005-2015)
Revelado
pelo Botafogo, vive passagem bem-sucedida no Vasco, de onde se
transfere para Palmeiras (participando da campanha do rebaixamento
alviverde em 2002 para a Série B do Brasileiro) e São Paulo (onde
"ganha" o sobrenome Moura). Do futebol paulista sai sem
deixar saudades, mas reencontra o bom futebol no Fluminense, onde
conquista o Estadual de 2005. No segundo semestre da mesma temporada,
divergências de seu empresário com o clube das Laranjeiras
facilitam sua transferência para o Flamengo. No rubro-negro vive o
auge técnico da carreira, sendo muitas vezes considerado o melhor
lateral-direito em atividade no país, o que lhe vale uma convocação
para a Seleção Brasileira. No entanto, a partir do início da
década de 2010 passa a viver relação conturbada com a torcida, em
função da irregularidade de suas atuações. Com a prisão do
goleiro Bruno, ascende à condição de capitão da equipe, que
ostenta até deixar o clube, no início de 2015. Embora tenha sido
agraciado com a rara honraria de um jogo de despedida, dá sequência
à carreira, seguindo em atividade. Algumas declarações e atitudes
controversas o fazem cair em desgraça com o torcedor rubro-negro.
Pelo Flamengo, vence o Brasileiro de 2009, as Copas do Brasil de 2006
e 2013 e os Estaduais de 2007, 2008, 2009, 2011 e 2014.
3
- WILSON GOTARDO (1991-1993)
Após
perder o jovem meia Carlos Alberto Dias (por conta de uma negociação
"atravessada") e o atacante Renato Gaúcho para o Botafogo,
o Flamengo espera o momento de dar o troco no rival. E a oportunidade
surge quando Wilson Gottardo entra em litígio com os de General
Severiano, em função de problemas na renovação contratual.
Precisando de um zagueiro experiente, o Flamengo se intromete no
negócio e acaba conseguindo recrutar o jogador, um dos pilares do
bicampeonato estadual alvinegro de 89-90. Na Gávea logo impressiona
pela segurança e seriedade, tomando conta da posição. Gotardo,
além do futebol vigoroso, torna-se um líder positivo para talentos
em ascensão como Rogério, Júnior Baiano e Gélson Baresi. Sempre
como titular, conquista o Brasileiro de 1992 e o Estadual de 1991.
Permanece no rubro-negro até a disputa da Libertadores de 1993, após
a qual é negociado com o futebol português.
4
- EDINHO (1987-1988)
Profundamente
identificado com o Fluminense, do qual saiu como o maior ídolo em
1982 para uma bem-sucedida passagem pela Udinese, retorna ao futebol
brasileiro em 1987 sem jamais esconder seu desejo em voltar às
Laranjeiras. No entanto, o tricolor vive grave crise financeira e não
reúne condições de competir com uma proposta bem mais consistente
apresentada pelo Flamengo. O rubro-negro precisa de um zagueiro de
ponta, uma vez que acaba de negociar Mozer com o Benfica-POR. Dessa
forma, consegue se impor e contrata Edinho para assumir a zaga ao
lado de Leandro. No entanto, Edinho jamais demonstra estar à vontade
na Gávea, e por pouco o negócio não se desfaz antes mesmo da
apresentação (em uma entrevista a uma revista, quase lamenta a
opção pelo Flamengo, dizendo não ter havido outra alternativa, o
que irrita os dirigentes e obriga o jogador a se retratar). No
Brasileiro de 1987, mais problemas. Já no segundo jogo é agredido
pelo meia vascaíno Geovani, sofrendo afundamento no malar, em um
caso que vai parar na Justiça. Volta justamente na estreia do
Segundo Turno e enfim justifica a contratação, com grandes
atuações, estabilizando o sistema defensivo da equipe, que arranca
para o Tetracampeonato Brasileiro. Na virada para o ano seguinte,
tenta se transferir para o Palmeiras mas é bloqueado por uma
Diretoria irritada com a postura do jogador. Desmotivado, disputa o
Estadual sem o mesmo brilho. Na preparação para o Brasileiro,
desentende-se com o novo treinador Candinho, que recomenda sua
dispensa ("lento e decadente"). E, enfim, o Flamengo
facilita sua transferência para o Fluminense. Pelo Flamengo, além
do Brasileiro de 1987, conquista a Copa Kirin de 1988, no Japão.
5
– LEANDRO ÁVILA (1998-2002)
Volante
clássico, de desarme limpo e bom passe, com trajetórias vencedoras
no Vasco (onde foi revelado) e no Botafogo, chegando a ter defendido
a Seleção Brasileira. Antigo sonho de consumo do Flamengo, que
enfim consegue contratá-lo para o Brasileiro de 1998, rapidamente se
torna titular absoluto, resolvendo antiga carência do rubro-negro.
Tímido e avesso aos holofotes, torna-se referência e um daqueles
jogadores “discretos mas indispensáveis”. Sua importância para
a equipe se faz notar quando está ausente, vítima de um crônico
problema no joelho, lesão recorrente que acaba por abreviar sua
carreira. Pelo Flamengo, conquista a Copa Mercosul de 1999, os
Estaduais de 1999, 2000 e 2001 e a Copa dos Campeões de 2001.
6
- JUAN (2006-2010)
Lateral-esquerdo
revelado pelo São Paulo e com anônima passagem pelo futebol inglês,
"estoura" com grandes atuações pelo Fluminense, por onde
conquista o Estadual de 2005. No entanto, no final da temporada
acerta sua transferência para o Flamengo (novamente por conta de
problemas de seu empresário com o tricolor). No rubro-negro demora a
se firmar, chegando, na primeira temporada, a ser barrado. Começa a
crescer com a chegada de Ney Franco, que o fixa na equipe e monta um
esquema que favorece seu potencial ofensivo. Marca, contra o Vasco, o
gol do título da Copa do Brasil de 2006. Mas apenas no ano seguinte
seu futebol de fato explode, com atuações exuberantes durante a
espetacular arrancada no Brasileiro que leva o rubro-negro à
Libertadores. Irrequieto e enfezado, ganha a alcunha de
“Marrentinho”. Enfim titular absoluto e destaque da equipe, Juan
chega à Seleção Brasileira e segue como referência do Flamengo.
No entanto, a relação com a torcida, que sempre o elege “bode
expiatório” em algum momento ruim (como a eliminação da Copa do
Brasil de 2009), jamais deixa de ser conturbada. No Brasileiro de
2009 sofre séria lesão, mas se recupera a tempo de participar da
reta final e da arrancada para o Hexacampeonato. Ainda permanece mais
um ano no Flamengo mas, em declínio, é negociado. Na Gávea,
conquista o Brasileiro de 2009, a Copa do Brasil de 2006 e os
Estaduais de 2007, 2008 e 2009.
7
– BETO (1998-2002)
Revelado
no futebol matogrossense, chega ao Botafogo trocado por bolas e
chuteiras. No alvinegro rapidamente se destaca, conquistando títulos
e chegando à Seleção Brasileira, o que lhe vale uma transferência
para o futebol italiano. Ao retornar, passa pelo Grêmio e chega ao
Flamengo, onde não demora a se identificar com o torcedor.
Declarar-se rubro-negro de coração ajuda, mas é dentro de campo,
onde exibe fôlego incansável, disciplina tática, alguma técnica e
mesmo bom senso goleador, que conquista a nação flamenga, a
despeito do seu controverso comportamento extracampo. Coadjuvante
indispensável, vê, sempre como titular, chegarem e saírem
jogadores, alguns renomados. Marca vários gols importantes, mas é
na Final do Estadual de 2000 que vive seu grande momento, ao executar
uma sequência de embaixadinhas contra o Vasco, em resposta a atitude
semelhante de um rival em um jogo anterior. Desgasta-se com o início
da crise que assolaria o clube no início da Década de 2000 e acaba
negociado. Pelo Flamengo, conquista uma Mercosul (1999), uma Copa dos
Campeões (2001) e um Tricampeonato Estadual (1999, 2000, 2001).
8
– FELIPE (2003-2004)
Um
dos principais jogadores da equipe do Vasco que marcou história no
final dos anos 1990, atuando como lateral-esquerdo, vê abreviada sua
passagem pelo cruzmaltino ao se desentender com a Diretoria dos de
São Januário. Chega a ser vendido à Roma, mas o negócio “mela”
e Felipe posteriormente vai parar na Turquia, de onde retorna após
desempenho discreto. Ainda em litígio com a Diretoria vascaína,
aceita a proposta do Flamengo, agora para atuar como meia. No
rubro-negro logo se mostra tecnicamente diferenciado, tornando-se um
dos destaques de uma equipe limitada. Conduz o Flamengo à Final da
Copa do Brasil, mas não resiste ao melhor conjunto do Cruzeiro. No
ano seguinte vive seu grande momento no Flamengo, onde assume um
inédito protagonismo na carreira. Com atuações exuberantes e
mostrando imparável capacidade de se livrar de marcações
individuais, leva o rubro-negro, com um time bastante modesto, à
conquista indiscutível do Estadual de 2004. Num Flamengo x Vasco
transmitido pela TV, o narrador compara sua atuação à dos “grandes
momentos de Garrincha”. Volta à Seleção Brasileira. Mas, no
segundo semestre, a traumática perda da Copa do Brasil para o Santo
André e os atritos decorrentes dos crônicos atrasos salariais, além
de sucessivas lesões, o desgastam com a torcida. Na última partida
da temporada, o Flamengo goleia o Cruzeiro por 6-2, jogo que salva o
rubro-negro do rebaixamento. Felipe marca um gol de placa, o último,
e na comemoração atira a camisa ao chão, gesto jamais perdoado
pelos flamengos. É o fim da linha para o jogador na Gávea.
9
– NUNES (1980-1982, 1984, 1987)
Dispensado
das divisões de base do Flamengo, vai embora prometendo retornar um
dia. Começa a se destacar no futebol nordestino, atingindo o auge em
1975, comandando o ataque do Santa Cruz que surpreendeu o país,
Semifinalista do Brasileiro. Pouco tempo depois, vai jogar no
Fluminense, onde suscita reações de amor e ódio, pela facilidade
de marcar e perder gols. Estigmatizado por uma época sem títulos
nas Laranjeiras, é transferido para o futebol mexicano. Em 1980,
precisando energicamente de um centroavante após Cláudio Adão ter
brigado com Coutinho, o Flamengo tenta, e quase consegue, repatriar
Roberto Dinamite junto ao Barcelona-ESP, mas o Vasco logra reverter a
transação. O jeito é recorrer ao Plano B, e assim vem Nunes, que
cumpre sua promessa, retornando à Gávea. De futebol tecnicamente
limitado mas de muita movimentação, Nunes encaixa-se como uma luva
na equipe de Coutinho, que arranca para a conquista do Brasileiro.
Nunes marca dois gols na Final contra o Atlético-MG, estabelecendo o
apelido de “Artilheiro das Decisões”, que ratificará em vários
outros momentos, como o Mundial do ano seguinte, contra o
Liverpool-ING. No entanto, apesar de contar com a admiração do
torcedor, Nunes possui temperamento difícil e personalidade
controversa, o que lhe faz angariar uma série de desavenças.
Desentende-se com Coutinho em 1980 e, principalmente, com Carpegiani
no final de 1982 e, após ofender o treinador pelos jornais, acaba
emprestado para o Botafogo. Retorna em 1984, já sem exibir a mesma
explosão. No final da temporada, é negociado com o Náutico. Ainda
retorna ao Flamengo em 1987, numa passagem efêmera, polêmica e sem
brilho. Seu currículo de títulos na Gávea impressiona. Campeão
Mundial (1981), da Libertadores (1981), Brasileiro (1980, 1982, 1987)
e Estadual (1981), entre outras conquistas.
10
– IRANILDO (1996-2000, 2002-2003)
“Vamos
anunciar amanhã um jogador de Seleção Brasileira”. A bombástica
entrevista do Presidente do Flamengo acende aguda nuvem de
expectativa, que se esfuma em certa decepção quando se revela o
nome do contratado. Iranildo, o Chuchu, é um jovem talentoso, mas
até então, sua passagem pela Seleção Brasileira havia sido
incidental, impulsionada por alguns bons, mas efêmeros, momentos
exibidos no Botafogo-1995. De qualquer forma, Iranildo, apesar do
físico franzino e das dificuldades em atuar com consistência
durante 90 minutos, impressiona com sua rapidez e capacidade técnica.
Vive bons momentos na conquista do Estadual de 1996 (chega a barrar o
consagrado Amoroso), dando a impressão de constante evolução. Mas
sente a instabilidade rubro-negra e jamais consegue se firmar de
fato. Esporadicamente vive de lampejos e boas fases (como no
Brasileiro de 1997 e, principalmente, no Brasileiro de 1998 onde, sob
Evaristo, coleciona suas melhores atuações pelo Flamengo), mas aos
poucos vai perdendo espaço. Com a enxurrada de medalhões chegada em
2000, vê suas portas fechadas e é transferido para o Bahia. Volta
ao Flamengo em 2002, mas sucumbe diante da pesada crise por que passa
o clube. Pelo Flamengo, conquista a Mercosul de 1999, a Copa Ouro de
1996 e os Estaduais de 1996, 1999 e 2000.
11
– MARQUINHO (1985-1987)
Lembrado
com carinho pela torcida vascaína pelo gol do título do Estadual em
1982, encerra seu ciclo em São Januário no final de 1984, quando a
Diretoria cruzmaltina entende ser necessário renovar seu elenco.
Assim, surge a oportunidade de uma troca com o Flamengo, que manda ao
Vasco o volante Vítor, recebendo em troca o “falso ponta”
Marquinho. Tipo de jogador que agrada em cheio aos treinadores, é um
típico “motorzinho” que, sem a bola, fecha o meio e exerce
marcação implacável e, com a pelota, sabe triangular, infiltrar e
mesmo driblar, em que pese certas deficiências no passe e na
finalização. Prestigiado com Zagalo e, principalmente, com
Sebastião Lazaroni, é sempre titular e peça-chave da equipe, em
termos táticos. Seus melhores momentos são o “hat-trick” em um
7-0 contra o Santa Cruz, pelo Brasileiro-85, a assistência para
Bebeto marcar o primeiro gol nos 2-0 contra o Vasco na Final do
Estadual-86 e o gol do título do Terceiro Turno do Estadual-87
(muito parecido, aliás, com que marcara na fatídica final de 82).
Perde espaço com a saída de Lazaroni e a chegada de Antonio Lopes,
com quem tivera problemas no passado, e com a ascensão de Zinho,
igualmente disciplinado taticamente, porém mais jovem e melhor
tecnicamente. No segundo semestre, é vendido ao Atlético-MG. Pelo
Flamengo, conquista o Estadual de 1986.