segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

A Fonte da Juventude

Salve, Buteco! 2018 chega com uma surpresa: o êxito de nossas categorias de base, seja pela semifinal da Copinha com um time sofrendo várias mudanças a cada rodada, seja pela vitória incontestável, fora de casa, pela Taça Guanabara, sobre a "quinta-força" do futebol carioca, o Volta Redonda, que brigou para ascender à Série B do Brasileiro em 2017. Havia tempo que as revelações que efetivamente ajudam no time principal se tornaram raras e esporádicas. Tivemos um sopro de esperança em 2011, ainda na gestão Patrícia Amorim, com a geração campeã. Naquela época Negueba e Diego Maurício chegaram a ajudar bastante no primeiro turno do Brasileiro, porém depois conduziram mal suas carreiras e foram perdendo relevância. Em 2013, Luiz Antonio foi titular do time campeão da Copa do Brasil, mas cometeu o mesmo erro e hoje esforça-se para jogar pelos times menos expressivos da Série A. Lembro-me de Pelaipe destacando em entrevista (que infelizmente não localizei) como outros grandes do futebol brasileiro investiam bem mais nas categorias de base do que o Flamengo.

Felizmente tudo isso parece ter ficado no passado. O investimento aumentou, assim como a qualidade do trabalho. Primeiro veio Jorge e depois o título de 2016 e a geração de Felipe Vizeu e Lucas Paquetá. Com Vinicius Jr., Lincoln e o início de 2018, parece que vivemos um salto de qualidade. Não sei se a consultoria com a empresa belga Double Pass começa a render seus primeiros frutos, mas é certo que hoje temos muito mais perspectivas de aproveitar a base ao menos para compor elenco, diminuindo sensivelmente os investimentos em reforços desse nível. O que mais me chama a atenção é que os times da estreia na Taça Guanabara e Copinha apresentam um claro padrão de jogo. Cuida-se evidentemente de elemento já inserido na própria formação desses jovens atletas. É óbvio que mesmo essa qualidade pode e deve ser bastante aprimorada, mas é fantástico constatar que os meninos jogam um futebol ofensivo com consistência e de forma coletiva, orgânica, neste ponto com bem mais qualidade do que o profissional. Tenho curiosidade para saber como funcionarão quando a equação for inversa, ou seja, precisarem compor o conjunto do time principal, até aqui bem menos harmônico e coeso. Além disso, é claro que jogar o Estadual é diferente do que a Copa do Brasil, o Brasileiro e a Libertadores.

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Parte dos elos fracos se foi e os remanescentes parecem estar "neutralizados". No gol, Muralha deve ser a terceira ou quarta opção e só por muito azar será utilizado, e enquanto Rafael Vaz for a quinta opção para a zaga, atrás de Juan, Réver, Rhodolfo e Léo Duarte (nessa ordem), teremos um avanço no setor defensivo, que passará, em tese, a ter nas laterais o ponto de maior fragilidade. Mas felizmente aqui já falamos de um patamar bem superior ao dos elos fracos.

Na direita, não há sentido na escalação do Pará em 62 (sessenta e dois) jogos e do Rodinei em 42 (quarenta e dois), pois inexiste diferença entre ambos que justifique essa disparidade. Compreenderei se o treinador optar por Pará nos jogos mais decisivos, haja vista sua experiência em competições internacionais e em clubes grandes, mas seu excesso de utilização não é melhor opção do que o revezamento com Rodinei. Já a situação da lateral esquerda é um pouco diferente: Trauco tem visíveis qualidades ofensivas e pode jogar até como meia; Renê é limitado tecnicamente, mas domina o fundamento da marcação, ponto fraco do peruano. O rodízio nesta posição não dispensa a avaliação dos adversários, claro que sem desconsiderar o fator desgaste. 

Passando para o meio, logo me vêm à preocupação os estapafúrdios 65 (sessenta e cinco) jogos disputados por Willian Arão em 2017. Com todo o respeito, é o tipo de número que só veremos, com resultados positivos, em jogadores que, além de muito foco, possuem outra qualidade que falta ao nosso volante: ambição. Aliás, além de Vinícius Jr. e Lucas Paquetá, qual é o jogador do elenco profissional do Flamengo que atualmente se destaca por essa qualidade? É claro que não devemos nos esquecer que essa é uma das maiores críticas que se faz, em nível esportivo, à própria Diretoria do clube. Sou da opinião de que contamina o próprio Departamento de Futebol, ao qual vem faltando competitividade. Willian Arão, que chegou a ser capitão em 2016 (!), é mais um capítulo da série dos jogadores superestimados no Flamengo. Se não há muito sentido em esperar que renda em alto nível com regularidade, que dirá jogando 65 (sessenta e cinco) vezes por temporada? Alguém realmente imagina que seja pior opção a utilização, em parte dos jogos, de Cuéllar, Paquetá, Ronaldo ou Jean Lucas como volante de aproximação?

O "problema Arão" deveria ter sido solucionado com uma boa reformulação do elenco. Sem ela, sobra a rodagem, viável porque o meio campo é o setor mais forte. Considero normal haver uma ordem de preferências do treinador, mas não titulares absolutos. Guardadas as devidas proporções entre salários e expectativas em torno de cada um, o elenco como um todo deixou a desejar, mas nesse quesito as estrelas foram a maior decepção. Lembro-me de que no início de 2017 comentava-se como seria natural escalar Conca e Diego juntos, e no segundo semestre críticas furiosas foram dirigidas a Rueda por não haver escalado Diego e Everton Ribeiro para começar as partidas. Não vejo como o questionamento possa se sustentar sem que esses jogadores produzam efetivos resultados dentro de campo. Aliás, sem titulares absolutos, é bem possível que se acenda a chama da competição e surja um mínimo de ambição nesses jogadores.

Finalmente, por mais que torça por Felipe Vizeu (uma realidade) e Lincoln (esperança), além do também jovem Marlos Moreno (aposta válida), parece-me evidente que falta muito ao ataque. Mesmo que Guerrero retorne, a falta de ritmo de jogo pode comprometer suas atuações. E não sei quanto a vocês, mas já passei da idade de acreditar em lendas urbanas como o Geuvânio. A base é a esperança para o futuro, mas não a solução para o presente, ou seja, para uma Libertadores que está prestes a começar, na qual inacreditavelmente vamos novamente de Everton no ataque.

No final das contas, o elenco poderia ter sido rejuvenescido, melhor composto nas laterais e bem mais reforçado ofensivamente. Apesar disso, com certeza é um dos melhores do Brasil, embora abaixo do Palmeiras. Diante da média de idade das estrelas e da quantidade de jogos a serem disputados, rodá-lo com precisão passa a ser estratégia decisiva para o sucesso do Flamengo na temporada 2018, pois a experiência de 2017 mostrou que não houve resposta positiva a sequências grandes e desgastantes de jogos. Espero ver menos endeusamentos e mais critério.

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No apagar das luzes de domingo, os garotos nos deram outra prova de competência e venceram a Cabofriense na Ilha do Urubu, pela Taça Guanabara. Senhores absolutos da partida, poderiam ter saído de campo com um placar mais elástico. Vi algumas jogadas de efeito desnecessárias, mas nada que o Carpa não possa corrigir.

A base e a torcida são a identidade do Flamengo; a base é a nossa fonte da juventude.

A palavra, como sempre, está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.