segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Aguardo 2019

Salve, Buteco! 2017 vai chegando ao fim, completando um quadriênio sem títulos de maior envergadura. Não é a primeira vez. Finda a Geração Zico e os títulos de 1990 e 1992 com a presença do Maestro Júnior, os títulos importantes rarearam: somente em 1999 veio a Mercosul e, neste Século, apenas na segunda metade da primeira década o clube voltou a conquistar a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro (2006 e 2009). Na década corrente, o Flamengo parou no título da Copa do Brasil em 2013, primeiro ano dos dois mandados de Eduardo Bandeira de Mello, quando a "Chapa Azul" ainda tinha unidade. Na segunda metade da última década, cinco anos de Márcio Braga/Kleber Leite e o primeiro semestre de Patrícia Amorim produziram mais resultados do que nos últimos cinco. Explico esse corte temporal: acredito que no primeiro semestre de 2010, apesar das boas contribuições pontuais de Marcos Braz, o Departamento de Futebol ainda tinha muito do trabalho de Kleber Leite, que assumiu com o clube à beira do rebaixamento em 2005 e, logo em seguida ao final de seu ciclo, o elenco cuja maior parte havia montado, e que já havia conquistado um tricampeonato estadual, conquistou o Brasileiro/2009 e chegou às quartas de final da Libertadores em 2010 (já no primeiro ano da gestão Patrícia Amorim), repetindo o resultado de 2008 na mesma competição.

Até mesmo durante os três anos de Edmundo Santos Silva foram conquistados mais títulos: o último título internacional (Mercosul/1999), um tricampeonato estadual e uma Copa dos Campeões (2001). Teve até um vice importante (Mercosul/2001).

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Por falar nesse assunto (vice-campeonatos), na primeira passagem de Kleber Leite o Flamengo chegou a vice-campeonatos na Supercopa (1995) e na Copa do Brasil (Grêmio/1997), repetido por Hélio Paulo Ferraz (2003) e Márcio Braga/Gerson Biscotto (2004). Em todas essas finais, à exceção de 2004, não se pode falar em vexame, inclusive porque o Flamengo perdeu os títulos para gigantes do futebol sul-americano; só não dá pra afirmar que a atual gestão se distinga por esse tipo de resultado. Ao contrário, pesa negativamente a manutenção do padrão de resultados com o clube estando em muito melhor situação financeira e investindo muito dinheiro no elenco.

O mesmo ocorre na avaliação do desempenho em campeonatos brasileiros de pontos corridos. É preciso reconhecer que houve um avanço, já que atualmente o Flamengo não fica mais na parte debaixo da tabela e se classificou pelo segundo ano consecutivo para a fase de grupos da Libertadores; contudo, em 2017 a colocação não foi tão boa (6º) e a classificação para a Libertadores ocorreu graças aos títulos de Cruzeiro e Grêmio. Portanto, é fato que no quesito classificação final e regularidade em brasileiros de pontos corridos a atual gestão ainda perde para a de Kleber Leite (2006 a 2009), valendo lembrar que a gestão Patrícia Amorim também conseguiu boa posição em uma temporada (2011).

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Ninguém está com saudades de determinados personagens do passado. A questão é o contraste entre o desempenho e o grande aumento da estrutura e do investimento financeiro no elenco, que deveria ensejar profunda reflexão em toda a Diretoria. Afinal de contas, 2017 deveria ser o “Ano Mágico” de uma gestão que se autoproclama tão virtuosa. Todavia, estamos falando do Presidente que se perde em discussões estéreis com a torcida em vez de enxergar a montanha de erros que se comete na gestão do Departamento de Futebol; do CEO que visivelmente não entende absolutamente nada desse esporte e do gerente-executivo cujas contratações e renovações contratuais, em incômoda proporção, não encontram explicação racional e meritória, muito menos avaliação responsável de seus superiores.

Não é de se estranhar que o elenco tenha comportamento tão dúbio e errático dentro de campo, nem que a torcida seja torturada com entrevistas absurdas falando em “ano bom” e “aprendizado”, sempre relativizando derrotas e ignorando conscientemente a própria incompetência. Trata-se de padrão comportamental seguido desde a direção até os atletas. 

No exterior, a gestão esportiva se integra até mesmo ao modelo tático adotado pelo clube (desde a base), o que no Brasil talvez apenas o Grêmio tenha começado aplicar (veremos nos próximos anos se darão sequência ou não). Parece que o Flamengo tenta algo semelhante na base, porém no futebol profissional a direção permanece nas décadas passadas. Reinaldo Rueda poderia ser um passo na direção da modernidade, só que todo mundo se lembra que foi contratado mais por pressão da torcida do que por convicção de quem o contratou. Tanto é verdade que, antes do colombiano, essa mesma direção bancava Zé Ricardo, pensou em Abel e Celso Roth e fez a primeira proposta para Roger Machado. Nossa Diretoria não trabalha com conceitos e critérios; ao contrário, trabalha norteando-se pela álea das "oportunidades de mercado" e pela blindagem aos "protegidos do presidente".

Por todos esses motivos, não é sensato ansiar por mudanças profundas no elenco e, por via de consequência, por um grande salto de qualidade dentro das quatro linhas, em que pese a presença de Reinaldo Rueda. Pragmaticamente, é bom lembrar que ainda em dezembro serão tomadas decisões estratégicas que terão peso decisivo no ano de 2018, o qual pode vir a ter um número total de partidas bastante próximo ao de 2017, quando alguns jogadores entraram em campo muito mais vezes do que deveriam, seja porque foram superestimados no momento do planejamento, seja porque um dos dois treinadores do ano não confiava nos substitutos. Por conta disso, o mínimo que se deveria cobrar da Diretoria e de Rueda é a montagem de um elenco com pelo menos duas opções de qualidade por posição, o que viabilizaria, primeiramente, a rodagem e melhor aproveitamento dos atletas durante as pesadas maratonas de jogos, e, em segundo lugar, alguma evolução tática da equipe, muitas vezes impedida por limitações individuais de determinados atletas.

Traduzindo: quarto-zagueiro ou meia ofensivo recuado fazendo a saída de bola por conta da incapacidade do volante de dar um passe vertical; volantes, meias ou atacantes externos compensando falta de capacidade de marcação de lateral. Esse tipo de gambiarra tática não pode em hipótese alguma ser confundido com movimentação e trocas de posições entre jogadores versáteis. Percebam que não estou falando em trabalho tático do mais alto nível e com conceitos mais avançados, o que há décadas o Flamengo não tem, mas em um padrão intermediário minimamente eficiente. O nível tático que uma equipe atinge é determinado por vários fatores, mas inegavelmente alguns dos principais, além da qualidade e dos conceitos adotados, são a versatilidade e homogeneidade do elenco, o que, por sua vez, é fruto direto dos critérios e do grau de seriedade aplicados na escolha das peças.

Quem acha que está tudo bem, que o trabalho vem sendo bem feito e que os títulos virão na hora certa, só não se sabe quando, dificilmente alcançará tais reflexões.

Sem expectativas e aguardando 2019, passo a palavra a vocês para que falem sobre dispensas e reforços.

Bom dia e SRN a tod@s.