Salve,
Buteco! 2017 vai chegando ao fim, completando um quadriênio sem
títulos de maior envergadura. Não é a primeira vez. Finda a
Geração Zico e os títulos de 1990 e 1992 com a presença do
Maestro Júnior, os títulos importantes rarearam: somente em 1999
veio a Mercosul e, neste Século, apenas na segunda metade da
primeira década o clube voltou a conquistar a Copa do Brasil e o
Campeonato Brasileiro (2006 e 2009). Na década corrente, o Flamengo
parou no título da Copa do Brasil em 2013, primeiro ano dos dois
mandados de Eduardo Bandeira de Mello, quando a "Chapa Azul"
ainda tinha unidade. Na segunda metade da última década, cinco
anos de Márcio Braga/Kleber Leite e o primeiro semestre de Patrícia
Amorim produziram mais resultados do que nos últimos cinco. Explico
esse corte temporal: acredito que no primeiro semestre de 2010,
apesar das boas contribuições pontuais de Marcos Braz, o
Departamento de Futebol ainda tinha muito do trabalho de Kleber
Leite, que assumiu com o clube à beira do rebaixamento em 2005 e,
logo em seguida ao final de seu ciclo, o elenco cuja maior parte
havia montado, e que já havia conquistado um tricampeonato estadual,
conquistou o Brasileiro/2009 e chegou às quartas de final da
Libertadores em 2010 (já no primeiro ano da gestão Patrícia
Amorim), repetindo o resultado de 2008 na mesma competição.
Até mesmo durante os três anos de Edmundo Santos Silva foram conquistados mais títulos: o último título internacional (Mercosul/1999), um tricampeonato estadual e uma Copa dos Campeões (2001). Teve até um vice importante (Mercosul/2001).
***
Por
falar nesse assunto (vice-campeonatos), na primeira passagem de
Kleber Leite o Flamengo chegou a vice-campeonatos na Supercopa (1995)
e na Copa do Brasil (Grêmio/1997), repetido por Hélio Paulo Ferraz
(2003) e Márcio Braga/Gerson Biscotto (2004). Em todas essas finais,
à exceção de 2004, não se pode falar em vexame, inclusive porque
o Flamengo perdeu os títulos para gigantes do futebol sul-americano;
só não dá pra afirmar que a atual gestão se distinga por esse
tipo de resultado. Ao contrário, pesa negativamente a manutenção
do padrão de resultados com o clube estando em muito melhor situação
financeira e investindo muito dinheiro no elenco.
O mesmo ocorre na avaliação do desempenho em campeonatos
brasileiros de pontos corridos. É preciso reconhecer que houve um
avanço, já que atualmente o Flamengo não fica mais na parte
debaixo da tabela e se classificou pelo segundo ano consecutivo para
a fase de grupos da Libertadores; contudo, em 2017 a colocação não
foi tão boa (6º) e a classificação para a Libertadores ocorreu
graças aos títulos de Cruzeiro e Grêmio. Portanto, é fato que no
quesito classificação final e regularidade em brasileiros de pontos
corridos a atual gestão ainda perde para a de Kleber Leite (2006 a
2009), valendo lembrar que a gestão Patrícia Amorim também
conseguiu boa posição em uma temporada (2011).
***
Ninguém está com saudades de determinados personagens do passado. A questão é o contraste entre o desempenho e o grande
aumento da estrutura e do investimento financeiro no elenco, que deveria ensejar profunda
reflexão em toda a Diretoria. Afinal de contas, 2017 deveria ser
o “Ano Mágico” de uma gestão que se
autoproclama tão virtuosa. Todavia, estamos falando do
Presidente que se perde em discussões estéreis com a torcida em vez
de enxergar a montanha de erros que se comete na gestão do
Departamento de Futebol; do CEO que visivelmente não entende
absolutamente nada desse esporte e do gerente-executivo cujas
contratações e renovações contratuais, em incômoda proporção,
não encontram explicação racional e meritória, muito menos
avaliação responsável de seus superiores.
Não
é de se estranhar que o elenco tenha comportamento tão dúbio e
errático dentro de campo, nem que a torcida seja torturada com
entrevistas absurdas falando em “ano bom” e “aprendizado”,
sempre relativizando derrotas e ignorando conscientemente a própria
incompetência. Trata-se de padrão comportamental seguido desde a
direção até os atletas.
No
exterior, a gestão esportiva se integra até mesmo ao modelo
tático adotado pelo clube (desde a base), o que no Brasil talvez
apenas o Grêmio tenha começado aplicar (veremos nos próximos anos
se darão sequência ou não). Parece que o Flamengo tenta algo
semelhante na base, porém no futebol profissional a direção
permanece nas décadas passadas. Reinaldo Rueda poderia ser um passo
na direção da modernidade, só que todo mundo se lembra que foi
contratado mais por pressão da torcida do que por convicção de
quem o contratou. Tanto é verdade que, antes do colombiano, essa
mesma direção bancava Zé Ricardo, pensou em Abel e Celso Roth e
fez a primeira proposta para Roger Machado. Nossa Diretoria não
trabalha com conceitos e critérios; ao contrário, trabalha norteando-se pela álea
das "oportunidades de mercado" e pela
blindagem aos "protegidos do presidente".
Por
todos esses motivos, não é sensato ansiar por mudanças profundas
no elenco e, por via de consequência, por um grande salto de
qualidade dentro das quatro linhas, em que pese a presença de
Reinaldo Rueda. Pragmaticamente, é bom lembrar que ainda em dezembro
serão tomadas decisões estratégicas que terão peso decisivo no
ano de 2018, o qual pode vir a ter um número total de partidas
bastante próximo ao de 2017, quando alguns jogadores entraram em
campo muito mais vezes do que deveriam, seja porque foram
superestimados no momento do planejamento, seja porque um dos dois
treinadores do ano não confiava nos substitutos. Por conta disso, o
mínimo que se deveria cobrar da Diretoria e de Rueda é a
montagem de um elenco com pelo menos duas opções de qualidade por
posição, o que viabilizaria, primeiramente, a rodagem e melhor
aproveitamento dos atletas durante as pesadas maratonas de jogos, e,
em segundo lugar, alguma evolução tática da equipe, muitas vezes
impedida por limitações individuais de determinados atletas.
Traduzindo: quarto-zagueiro ou meia ofensivo recuado fazendo a saída de bola por conta da incapacidade do volante de dar um passe vertical; volantes, meias ou atacantes externos compensando falta de capacidade de marcação de lateral. Esse tipo de gambiarra tática não pode em hipótese alguma ser confundido com movimentação e trocas de posições entre jogadores versáteis. Percebam que não estou falando em trabalho tático do mais alto nível e com conceitos mais avançados, o que há décadas o Flamengo não tem, mas em um padrão intermediário minimamente eficiente. O nível tático que uma equipe atinge é determinado por vários fatores, mas inegavelmente alguns dos principais, além da qualidade e dos conceitos adotados, são a versatilidade e homogeneidade do elenco, o que, por sua vez, é fruto direto dos critérios e do grau de seriedade aplicados na escolha das peças.
Quem
acha que está tudo bem, que o trabalho vem sendo bem feito e que os
títulos virão na hora certa, só não se sabe quando, dificilmente
alcançará tais reflexões.
Sem
expectativas e aguardando 2019, passo a palavra a vocês para que
falem sobre dispensas e reforços.
Bom
dia
e SRN
a tod@s.