Salve, Buteco. Desde que me entendo como torcedor, e já se vão mais de 40 (quarenta) anos acompanhando o Flamengo, noto particular dificuldade no desempenho contra três adversários jogando fora: Grêmio, São Paulo e Atlético/PR. Em campeonatos brasileiros, algo muito curioso acontece contra esses três adversários: o Flamengo jamais chega para esses confrontos em boas condições. Mesmo nos anos em que forma as melhores equipes, curiosamente essas partidas coincidem com os piores momentos da temporada; nos aos ruins, acontecem no pior momento possível. Por exemplo, 2009: o Flamengo tomou uma goleada em Porto Alegre, no antigo Estádio Olímpico, mesmo sendo campeão brasileiro. Calhou, como sempre, do jogo ocorrer no momento mais desfavorável da temporada.
Mas nem tudo decorre do fator (falta de) sorte.
Mas nem tudo decorre do fator (falta de) sorte.
Amo o Flamengo e não consigo me imaginar vivendo sem acompanhá-lo, mas se há uma característica do clube que odeio profundamente é a indiferença com que trata determinadas estatísticas desfavoráveis. Contra esses adversários, fora de casa, o Flamengo tradicionalmente trata os confrontos como algo desimportante, que não justifica a preocupação ou o gasto de energia. Para mim, uma postura indigna, sem brio e que em muito antecede, porém encontra confortável acolhimento na mentalidade da atual Diretoria, aquela do "um dia a gente ganha, só não sei quando".
Reverter estatísticas como essas deveria ser questão de honra e mereceria atenção especial no planejamento.
Reverter estatísticas como essas deveria ser questão de honra e mereceria atenção especial no planejamento.
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Maratona estafante de jogos, sequência de clássicos injusta. Para piorar, as maiores estrelas, Diego e Guerrero, acusam dores musculares que deixam a torcida desconfiada de que suas aspirações em relação às seleções do Brasil e do Peru sejam fator determinante para ficarem de fora do jogo de ontem (Guerrero já se ausentara dos três anteriores). E como se isso não fosse suficiente, inocente ou não, certo ou errado, o peruano é pego no exame antidoping.
É claro que o adversário seguinte só poderia ser o Grêmio, em Porto Alegre, até porque o São Paulo já tinha ganhado com facilidade como mandante no domingo retrasado.
É claro que o adversário seguinte só poderia ser o Grêmio, em Porto Alegre, até porque o São Paulo já tinha ganhado com facilidade como mandante no domingo retrasado.
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É em momentos como esse que as falhas de planejamento cobram a fatura. Já escrevi antes, mas não custa repetir: Reinaldo Rueda não tem a menor responsabilidade por ter Muralha, Rafael Vaz, Gabriel e Márcio Araújo no elenco. Tampouco tem culpa do contexto que envolve Diego e Guerrero, nem muito menos das contusões de Léo Duarte, Réver, Juan e Berrío, da forma com que chegou Geuvânio e da dispensa de Leandro Damião. Rueda também não tem nada a ver com a tabela que montaram para o Flamengo e é compreensível que não tenha profundo conhecimento do histórico de cada confronto interestadual. Enfim, não foi o colombiano que colocou o Flamengo em um contexto tão desfavorável. Longe disso.
Em que pese todas essas ressalvas, nenhuma força no universo conseguirá me fazer entender por que Lucas Paquetá não iniciou o jogo de ontem no meio de campo e como o Márcio Araújo ainda pode ser considerado uma opção válida para começar uma partida como titular. É também difícil entender como um Rodinei inteiro pode valer menos do que uma enorme sequência de jogos com o Pará no time titular, e por que o Vinicius Jr. só entra em campo quando o time está em desvantagem.
O destino não vem ajudando, mas tudo piora ainda mais quando o nosso treinador resolve facilitar para o adversário.
Em que pese todas essas ressalvas, nenhuma força no universo conseguirá me fazer entender por que Lucas Paquetá não iniciou o jogo de ontem no meio de campo e como o Márcio Araújo ainda pode ser considerado uma opção válida para começar uma partida como titular. É também difícil entender como um Rodinei inteiro pode valer menos do que uma enorme sequência de jogos com o Pará no time titular, e por que o Vinicius Jr. só entra em campo quando o time está em desvantagem.
O destino não vem ajudando, mas tudo piora ainda mais quando o nosso treinador resolve facilitar para o adversário.
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Então é ressuscitado o esquema dos "três volantes" ou, se preferirem, três jogadores de contenção, dos quais, todo mundo sabe, apenas Willian Arão possui vocação ofensiva. É aquele mesmo esquema que só colecionou derrotas em confrontos diretos e decisivos, durante os quais, enquanto esteve em campo, o time não marcou um gol sequer. O curioso é que essa formação maldita voltou coincidentemente com a escalação de dois dos principais elos fracos, titulares com o treinador anterior: Rafael Vaz e Márcio Araújo. Como costuma ocorrer quando essa formação vai a campo, o adversário, mandante, foi anulado nos primeiros quarenta e cinco minutos, durante os quais o Flamengo criou as melhores chances e desceu para o vestiário confiante, porém sem marcar gols. Ao contrário do que ocorreu quando essa formação foi usada, Márcio Araújo não jogou na sobra, mas flutuou pelo meio do setor ofensivo, às vezes como um meia atacante. O resultado, na prática, é que o Flamengo teve sempre um na sobra para marcar e um a menos para criar.
O 0x0 na primeira etapa, portanto, não surpreendeu.
O 0x0 na primeira etapa, portanto, não surpreendeu.
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Ainda no início do segundo tempo, Everton Ribeiro, o mais lúcido dos nossos jogadores, fazendo boa apresentação, abriu o placar com uma boa assistência do seu xará. Foi rigorosamente a primeira vez que essa formação tática produziu gol e vantagem fora de casa. Uma agradável surpresa que, porém, provocou uma falsa aparência, já que os últimos minutos do primeiro tempo foram um prenúncio da pressão do Grêmio, que na etapa final encontrou o mapa da mina no Flamengo já disperso e em seus elos fracos. Foi então que Pará, lateral direito "top" no conceito do Presidente Eduardo Bandeira de Mello, não satisfeito com o gol contra no Fla-Flu do returno, entregou dois gols para o seu ex-clube. Dois (1, 2). Vou repetir: DOIS.
Subitamente na frente do placar, o Grêmio sem fazer força chegou ao terceiro. Foi a vez de Rafael Vaz entregar o ouro, não sem a costumeira falha de marcação de Márcio Araújo, e claro que sob o olhar desatento do personagem negativo da tarde de domingo: Pará.
Resultado: o Flamengo, displicente, indiferente e sem brio, e sem suas maiores estrelas, saiu novamente derrotado de Porto Alegre.
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Decepcionado com parte da escalação e com a demora em substituir antes do Grêmio empatar e virar o jogo, presto minha solidariedade ao treinador Reinaldo Rueda, que teve a hombridade de reconhecer que errou na estratégia, postura muito mais digna do que a da Diretoria que protege perebas e ainda afronta a torcida desprezando os resultados e se auto-elogiando, inobstante o desastroso desempenho nas duas maiores competições do ano.
Mas a maratona não pára e quarta-feira o Flamengo receberá o Cruzeiro na Ilha do Urubu. Mandem suas impressões e sugestões, como de praxe.
Bom dia SRN a tod@s.