Salve, Buteco! Com uma apresentação do gênero "sem-vergonha", só perdendo no quesito para o jogo contra o Atlético/MG em Belo Horizonte, o Flamengo cumpriu expediente ontem à tarde no Pacaembu, sendo sobrepujado pelo São Paulo, que luta contra "força gravitacional" da Zona do Rebaixamento. Como em uma tempestade perfeita, a escalação infeliz do setor ofensivo se somou à atuação apática e tecnicamente fraca do time, que basicamente perdeu a maior parte das divididas para um adversário bem mais impetuoso. A escalação de Geuvânio como centroavante não fez o menor sentido, principalmente porque o improvisado Lucas Paquetá, bem ou mal, vinha cumprindo o seu papel na função; porém, Geuvânio não deixa de ser um atacante e nada justifica que abra as pernas quando a bola lhe é cruzada dentro da área, em vez de finalizar a gol. Pra piorar, Berrío teve atuação fraquíssima, o que fez do inoperante Everton nosso atacante mais incisivo, tendo finalizado mal a única chance clara de gol nos primeiros quarenta e cinco minutos. Não foi à toa que o time desceu para o intervalo com zero no placar.
Os problemas, contudo, não se resumiram ao ataque: Trauco, mal posicionado, foi uma verdadeira avenida pela esquerda, e Réver e Arão no mínimo displicentes na marcação no primeiro e no segundo gols. A defesa, setor mais ajustado até aqui com Reinaldo Rueda, teve atuação irreconhecível. Diego Alves impediu um placar mais elástico na primeira etapa.
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Além de melhor postado dentro de campo com a entrada de Lucas Paquetá no lugar de Geuvânio, o Flamengo iniciou com mais ímpeto o segundo tempo. Logo no início, Berrío, no lance em que se contundiu, carimbou a trave esquerda de Sidão em uma das duas melhores oportunidades do time nos quarenta e cinco minutos finais. A outra, já nos descontos, foi o cabeceio de Réver, que obrigou o goleiro sampaolino a praticar grande defesa. Entre um e outro lance, tivemos muita posse de bola e ocupação do setor defensivo do São Paulo, mas poucos lances efetivos, propiciados por conclusões de Paquetá e Cuéllar, numa repetição do padrão de pouca objetividade ofensiva e incapacidade de reverter resultados negativos.
Noventa minutos de tortura para a torcida, que assistiu ao Flamengo perder para um adversário claramente mais fraco.
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Diego Alves; Pará/Rodinei, Réver, Juan (Rhodolfo) e Trauco; Cuéllar e Willian Arão; Everton Ribeiro, Diego e Everton (Berrío); Guerrero. Esse time é razoavelmente competitivo nos cenários brasileiro e sul-americano. Contudo, não poderá jogar todas as vezes. Não sou médico, preparador físico e nem fisiologista, mas é intuitivo que, pela quantidade partidas que o Flamengo disputa no ano, o elenco precisa rodar. Apenas para que se tenha uma visão um pouco mais clara desse cenário, o clube ontem disputou sua 70ª (septuagésima) partida no ano, enquanto seus maiores adversários jogaram menos. Por ordem alfabética: Atlético/MG (63), Atlético/PR (63), Botafogo (64), Corinthians (62), Cruzeiro (66), Fluminense (64), Grêmio (65), Palmeiras (56), Santos (58), São Paulo (55) e Vasco da Gama (52).
O resultado é que o time titular, que está longe de ser o mais impetuoso e agressivo que o Flamengo já teve, "escolhe" as partidas nas quais mais se empenha, enquanto o restante do elenco, em sua maioria (há honrosas exceções), acomoda-se com uma postura odiosa e repugnantemente passiva.
Rueda não participou da montagem do elenco e recebeu o time em queda livre no Campeonato Brasileiro. Tampouco é sua culpa o pouco rendimento de vários jogadores nos quais o clube investiu e esperava mais retorno, exatamente para não ter tantos problemas na rodagem do elenco. Portanto, o Flamengo, clube brasileiro que mais entra em campo na temporada de 2017, fatalmente cairá significativamente de rendimento toda vez que precisar rodar o elenco. É inevitável.
Por isso mesmo, Rueda precisa compreender que, em tal contexto, deve evitar experiências muito ousadas nas escolhas dos atletas. Sua margem é pequena, o que lhe obriga a enxergar quais são os jogadores que até aqui nada renderam com o Manto Sagrado. Já é o segundo clássico fora-de-casa (Botafogo no Engenhão e São Paulo no Pacaembu) em que, apesar das limitações, o treinador não foi feliz na escalação que mandou a campo. A derrota de ontem colocou mais pressão no time para os dois clássicos estaduais da semana, o que poderia ter sido evitado.
Além disso, dentro de sua pequena margem para rodar de modo eficiente o elenco, Rueda precisa tentar escapar velho esquema do "arame-liso", que sobrevive desde 2016 e dificilmente levará o time a resultados muito diferentes dos obtidos até aqui. A única alternativa que vejo é tentar sair do formato com dois pontas corredores, que tiram o poder de articulação do time. Alguma variação tem acontecido quando Everton Ribeiro e Diego jogam juntos. As melhores alternativas parecem ser Lucas Paquetá e Vinícius Jr. (quando se recuperar), que em tese poderiam viabilizar triangulações eficientes e os jogadores atacarem mais próximos entre si.
A tarefa do treinador colombiano, porém, não é nada fácil, eis que a sequência de jogos do Flamengo é ainda pior do que a que derrubou Zé Ricardo, justamente quando, pressionado pelos resultados negativos, tentou tornar o time mais ofensivo.
A tarefa do treinador colombiano, porém, não é nada fácil, eis que a sequência de jogos do Flamengo é ainda pior do que a que derrubou Zé Ricardo, justamente quando, pressionado pelos resultados negativos, tentou tornar o time mais ofensivo.
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Como de costume, a palavra está com vocês para suas impressões e expectativas para a semana, além das sugestões de escalação.
Bom dia e SRN a tod@s.