Saudações flamengas a todos,
E
a crise se aprofunda. Num contexto de crise, muitos aparecem com
respostas e verdades. Não as tenho, todavia. Ao invés de palavras
de ordem, perguntas. Ofereço questionamentos. A eles, pois.
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Há alguns anos atrás, uma queixa recorrente da torcida era
direcionada à falta de condicionamento de alguns de seus atletas.
Com efeito, não era raro constatar a presença de jogadores flácidos
e gordos em campo, casos nominais de Diego Souza, Obina, Vagner Love,
André Santos, entre outros. Ao longo da temporada de 2017, temos
visto problemas semelhantes acometendo jogadores como Willian Arão,
Rodinei e Felipe Vizeu. Essa evidência está de acordo com os
princípios de excelência e performance apregoados pelo clube?
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Foi bastante festejada, ano passado, a celebração de um contrato de
prestação de serviços, à guisa de consultoria e transferência de
know-how, com a EXOS, empresa de referência no mercado, com o
objetivo de prover aprimoramento na metodologia de preparação de
profissionais de esporte de alto rendimento. Efetivamente, ano
passado houve uma percepção de evolução nesse sentido. No
entanto, essa percepção, ao longo de 2017, está longe de se
repetir. Donde, o que houve com a EXOS? Ainda presta serviço ao
clube? Porque o desempenho físico e atlético dos jogadores aparenta
ter desabado e regredido em relação à temporada anterior, mesmo
diante de um contexto menos agressivo (menos viagens, mais tempo para
treinos)?
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O Flamengo, ano passado, identificou uma carência em seu plantel de
zagueiros. Buscou alguns nomes no mercado, concentrando-se
especificamente em Alejandro Donatti. Por uma série de
circunstâncias, a negociação se arrastou, mas o clube jamais
desistiu de contar com o jogador e, após um processo que durou
meses, enfim logrou contratá-lo. No entanto, Donatti jamais se
firmou como titular. Sempre que ameaçava engatar uma sequência de
jogos com atuações razoáveis (após um e apenas um jogo ruim),
surgia uma lesão que o tirava de combate por várias semanas.
Donatti, apesar de ser um zagueiro experiente, não tem em sua
carreira um histórico de excesso de contusões. Já é titular e tem
atuado com frequência em seu novo clube, o Tijuana-MEX, para o qual
foi negociado apenas um ano depois. O que aconteceu de fato com Donatti? Por que o clube, que insistiu
tanto na vinda de Donatti, abriu mão do jogador com tanta
facilidade?
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Esse ano foi constatada a necessidade de contratação de um volante.
O clube foi atrás de Rômulo, jogador talentoso que se projetou no
Vasco e foi elogiado em suas primeiras temporadas no futebol russo. A
contratação, após consumada, foi bem recebida pela torcida, uma
vez que, em tese, tratava-se de um jogador com qualificação
suficiente para agregar valor à equipe titular do Flamengo. No
entanto, Rômulo nunca se firmou, e há reiteradas informações e
relatos evidenciando suas precárias condições físicas. Diante do
histórico recente de lesões do volante, o clube agiu com a adequada
cautela e prudência na análise prévia de seu estado clínico? O
Flamengo não se jacta de possuir uma estrutura de prospecção de
mercado que deveria prover esse tipo de informação?
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Afinal, o que há com Darío Conca? Ele está fisicamente e
clinicamente recuperado das intervenções cirúrgicas? Em caso
positivo, por que não é aproveitado? Em caso negativo, o que faz no
banco de reservas nas partidas para as quais é relacionado? Ainda em
caso negativo, por que ele entrou em campo contra Ponte Preta e
Fluminense? O que existe, de fato, no contrato de empréstimo do
jogador?
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O meia Gabriel, eleito revelação do Campeonato Brasileiro de 2012
atuando pelo Bahia, foi contratado pelo Flamengo na temporada
seguinte. A primeira demonstração de prestígio foi a cessão da
simbólica camisa 10 ao jogador que, no entanto, jamais entregou uma
resposta técnica consistente que o credenciasse a desfrutar da
condição de titular do Flamengo ou mesmo de permanecer em seu
plantel. No entanto, Gabriel segue sendo utilizado como ponta, meia,
volante, lateral e inclusive centroavante. O Flamengo já se viu
diante da possibilidade de emprestar o atleta, um recurso muitas
vezes válido para mantê-lo em atividade e com isso valorizá-lo
para transações futuras. No entanto, recusa-se a negociá-lo e
Gabriel segue recebendo oportunidades. Qual o motivo? O Flamengo,
mesmo após cinco temporadas, ainda acredita no jogador?
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Alex Muralha era um goleiro em ascensão na carreira quando foi
contratado pelo Flamengo. Aguardou sua chance e agradou com boas
atuações, que o levaram inclusive à ser lembrado para a Seleção
Brasileira. No entanto, seu rendimento caiu bruscamente nessa
temporada, algo inerente à realidade profissional de qualquer
jogador, sempre sujeito a lesões e outros contratempos. Seu reserva
imediato era um goleiro egresso do Sub-20, que, em caso de contusão,
suspensão ou convocação, deveria assumir a posição. Em resumo,
mesmo que Muralha tivesse mantido o rendimento, foi considerado
adequado confiar a reserva da posição, em caso de contingências, a
um jovem inexperiente para os jogos da temporada, inclusive
Libertadores?
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Por que, afinal de contas, Diego caiu tanto de rendimento? Por que,
sempre que ele se vê na iminência de ser examinado por outro
Departamento Médico (no caso, o da CBF), surgem notícias de lesões
no jogador? O meia, de fato, recuperou-se da cirurgia em seu joelho?
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Às vésperas de, enfim, receber uma chance como titular do Flamengo
nas mãos de Reinaldo Rueda, o volante Ronaldo foi afastado da
partida contra o Paraná, pela Primeira Liga. Foi noticiado que o
jogador teria sofrido uma fratura na costela. Dez dias depois,
Ronaldo estava em campo pelo Atlético-GO, equipe para a qual foi
emprestado. O jogador tem agradado com boas atuações. Donde: Por
que se noticiou, sem desmentido posterior, que o jogador estava com
uma lesão dessa gravidade? Diante das evidentes dificuldades de
Rômulo render em alto nível, das recorrentes convocações de
Cuellar e da consequente constatação de que apenas o controverso
Márcio Araújo tornou-se a única opção efetiva para a posição
de volante, isso para enfrentar três (agora duas) competições, por
que o Flamengo se desfez de Ronaldo? Uma decisão desse nível está
a cargo apenas de uma pessoa?
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O Diretor-Executivo do Futebol do Flamengo é um entusiasta da ideia
de contratar jogadores no meio do ano, “aproveitando as
oportunidades” de mercado. Essa sistemática, na prática, tem
trazido severos prejuízos técnicos ao desempenho da equipe. Por
exemplo, a demora na contratação de zagueiros fez com que o clube
dispusesse, no início do Brasileiro-2016, de apenas dois jogadores
egressos da base para a posição, o que levou à extravagante
necessidade de reaproveitar um atleta já dispensado. Em 2017 o
Flamengo já enfrentou problemas com goleiros e meias. E hoje as
opções de volantes são precárias. Diante das reiteradas
demonstrações de inadequação dessa prática (que é evitada pelas
demais equipes de ponta do país), a Diretoria pensa em rever esse
posicionamento? Ou o Executivo dispõe de autonomia ampla e
irrestrita para montar o elenco da equipe, mesmo subordinado a um
CEO?
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Por que o Estádio da Ilha do Urubu, construído em caráter
provisório para abrigar a maior torcida do país, com capacidade
para cerca de 20 mil torcedores, nunca enche? Além de atribuir o
fato a “elementos externos”, como o Flamengo pensa em enfrentar o
problema?
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O Flamengo é uma das únicas equipes da Série A a dispor de uma
estrutura voltada à preparação psicológica de seus jogadores. O
clube está satisfeito com os resultados colhidos nesse aspecto?
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Por que em 2017 a cúpula do Flamengo, diante da detenção de seu VP
de Futebol, insistiu em recorrer à mesma estrutura de comando
adotada em 2015, que já naquela temporada demonstrou-se severamente
equivocada? E agora, diante dos relatos de sintomas semelhantes aos
vivenciados naquele ano e da repetição da falta de resultados, a
Diretoria pensa em reformular sua linha de pensamento?