segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Identidade

Salve, Buteco! Convido vocês a voltarem comigo dois anos no tempo para o segundo semestre de 2015. Após demitir Vanderlei Luxemburgo no mês de maio, o Flamengo contratou, em sequência, [Cristóvão Borges e Oswaldo de Oliveira, que finalizou a temporada no comando da equipe. Três técnicos em uma só temporada ou média de um treinador por a cada quatro meses. Com Oswaldo o Flamengo chegou a emplacar seis vitórias seguidas, atingindo um recorde histórico e dando a impressão que poderia disputar o título ou, no mínimo, obter uma vaga na Copa Libertadores da América/2016. Como todo mundo se lembra, nada disso aconteceu, para frustração geral. Era ano eleitoral e o pleito que culminou na eleição de Eduardo Bandeira de Mello se caracterizou pela polarização dos debates entre as Chapas Azul e Verde, que no pleito anterior eram uma só, que derrotou Patrícia Amorim em sua tentativa de reeleição.

Enquanto a Chapa Verde afirmava que tinha acordo com Jorge Sampaoli, então doido pra deixar a Seleção Chilena, a Chapa Azul fechou com Muricy Ramalho. O discurso era importar o conhecimento tático e de treinamentos implantados em grandes e vitoriosos clubes europeus como o Barcelona. O clube deveria ter uma identidade traduzida por um mesmo esquema tático e uma mesma forma de jogar desde as categorias de base. A expressão da moda era "reciclagem na Europa". Muricy, em quatro meses e meio no comando do clube, conseguiu fazer o time render em bom nível contra adversários de maior porte apenas duas vezes: 2x0 sobre o então "bicho-papão" Atlético/MG no Mineirão, pela Primeira Liga, e 2x1 no Fla-Flu de Brasília, no Mané Garrincha, pela Taça Guanabara. Derrotado nas semifinais do Estadual pelo Vasco da Gama (Manaus) e na semifinal da Primeira Liga pelo Atlético/PR (Juiz-de-Fora), Muricy dirigiu o Flamengo em apenas uma partida no Brasileiro: 1x0 sobre o Sport (Volta Redonda). Vitimado por problemas de saúde, pediu demissão e encerrou a carreira. Esteve bem longe de implementar o futebol moderno que se propôs.

No lugar de Muricy veio Zé Ricardo, que aos poucos direcionou seu trabalho em direção oposta. Mais efetivo entregando a bola para o adversário e jogando principalmente à base de lançamentos longos e cruzamentos, definitivamente Zé Ricardo apostou no estilo de jogo que marca, com mais ou menos sucesso, o trabalho da esmagadora maioria dos treinadores brasileiros. O resto dessa historia já conhecemos: insucesso na disputa do título Brasileiro/2016 e classificação direta para a Libertadores/2017, transformada em grande frustração com a eliminação ainda na fase de grupos, sentimento que aumentou em razão da campanha decepcionante no Brasileiro/2017. Com a demissão de Zé Ricardo, Reinaldo Rueda foi contratado após a recusa de Roger Machado.

Com Reinaldo Rueda o Flamengo tem uma oportunidade concreta para implementar aquilo que Muricy se propunha, mas tudo indica que não tinha condições de fazer. Contudo, diante de tantas idas e vindas da Diretoria, é justo perguntar: ainda existe a meta de criar (ou resgatar) uma identidade para o futebol do clube?

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Reinaldo Rueda tem em seu trabalho características que inevitavelmente levarão a uma espécie de "choque cultural" no Departamento de Futebol do Flamengo. Vejamos algumas delas: rodízio de jogadores, mudanças de posição, escalação do time titular segundo critérios de mérito e não do prestígio (interno ou externo), treinamentos buscando aprimoramento das condições físicas e intensidade de jogo, valorização da posse de bola pela troca de passes verticais com qualidade, saída de bola com participação dos volantes e compactação tática no setor defensivo.

Não é que Rueda seja uma espécie de Rinnus Mitchel, Pep Guardiola ou Jorge Sampaoli. Se fosse, estaria na Europa! Trata-se de como se joga e trabalha hoje em dia no primeiro mundo do futebol e o nosso novo treinador é estudioso e praticante desses conceitos. Se conseguirá executá-los com sucesso no Flamengo só o tempo dirá; certeza é de que esse sucesso depende, dentre outros fatores, dos jogadores acreditarem e se engajarem no trabalho.

É neste ponto que se torna relevante responder a pergunta que fiz logo acima. Seja qual for a resposta, tenho certeza de que tanto a nova Comissão Técnica como a própria Diretoria terão trabalho com resistências do tipo que demonstraram Everton e Rafael Vaz, respectivamente, por substituição e escalação em posição diferente da qual jogava. Os jogadores do Flamengo estão acostumados a trabalhar em um ambiente no qual a "relação de lealdade" (palavras de Zé Ricardo) entre eles e o treinador têm um peso maior do que deveriam em contraste com o critério de mérito. Estão acostumados com a dinâmica do mercado brasileiro, até porque foram formados nela, na qual os atletas formam "grupos internos" que influenciam em escalações e até nas trocas de comando técnico, em contraste com o poder de decisão que deveria ter o treinador.

O Flamengo acertou ao contratar um treinador (e comissão técnica) muito experiente, com passagens por duas Eliminatórias e Copas do Mundo, campeão da Libertadores e colombiano, e que, portanto, já viu e viveu muito no cenário futebolístico. Todavia, se não bancar a proposta de trabalho que contratou, arrisco afirmar que as chances de sucesso não serão maiores do que as de retroceder a 2015.

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A semana será cheia com duas pedreiras: quarta-feira, jogo de volta pela semifinais da Copa do Brasil contra o Botafogo no Maracanã, e no domingo, pela 22ª Rodada do Brasileiro, o confronto contra o indigesto visitante Atlético/PR na Ilha do Urubu.

A palavra, como sempre, está com vocês para que mandem sugestões de escalação e suas impressões sobre os próximos desafios.

Bom dia e SRN a tod@s.