Uma
questão recorrente tem repousado acerca do nível do elenco montado
pelo Flamengo para a temporada. As opiniões agora parecem convergir
para o reconhecimento de que o rubro-negro enfim dispõe de um
plantel capaz de disputar títulos em âmbito nacional e mesmo
internacional, em que pese o fracasso na Libertadores ter feito
jorrar uma cachoeira de água gelada em muitos torcedores. Enfim, a
proposta de hoje é apresentar os reservas que compuseram o elenco
completo da equipe mais vitoriosa da história flamenga. Perfil,
trajetória, nível dos jogadores e qual sua participação na
temporada de 1981. É o que se começa a partir de agora. Que cada um
tire suas próprias conclusões.
CANTARELE
Revelado
nas divisões de base, chega a conquistar a condição de titular sob
o comando de Dino Sani, irritado com a sistemática aversão de Raul
aos treinamentos. No entanto, falhas nas partidas contra Atlético-MG
e Olimpia pela Libertadores, além da troca de treinador, relegam
Cantarele de volta à condição de reserva, que mantém até o final
da temporada, atuando em partidas esporádicas (a mais importante
delas, a derrota para o Vasco na segunda Final do Estadual, sob
pesado dilúvio). Permanece no elenco do Flamengo (salvo um breve
período em que é emprestado ao Náutico), quase sempre como
reserva, até 1989, quando abandona a carreira.
NEI
DIAS
Irmão
do atacante Nilson Dias (que fez certo barulho defendendo o Botafogo
e o Santos). Lateral-direito revelado no Botafogo e com passagem pelo
Atlético-MG, chega ao Flamengo com 28 anos, quando sua carreira já
parecia seguir curva descendente. Atuando no XV de Jaú, é indicado
por Dino Sani, que deseja um jogador de força para a função. Mas
não consegue inicialmente desenvolver uma sequência de jogos, por
conta da pesada concorrência (Leandro e Carlos Alberto). Apenas na
reta final da temporada é mais solicitado por Carpegiani, após a
lesão de Carlos Alberto, o reserva imediato das laterais. Nei Dias,
por conta de sua postura defensiva e de sua experiência, torna-se um
dos reservas mais utilizados, sempre entrando na equipe quando algum
titular se lesiona ou está suspenso. Assim, participa, com boas
atuações, dos três jogos finais do Estadual e de duas partidas da
Final da Libertadores (os jogos de Santiago e Montevideo). No
entanto, ao final da temporada o Flamengo não exerce a prioridade de
compra junto ao XV de Jaú (o clube julga alto o preço do atleta e
aposta no jovem Antunes como opção para o setor), e Nei Dias vai
atuar no Fluminense (onde reencontra Dino Sani). Anos mais tarde,
aparece como titular da equipe do Brasil de Pelotas que elimina o
rubro-negro carioca do Brasileiro de 1985.
RONDINELLI
O
Deus da Raça inicia a temporada na reserva da dupla formada por
Marinho e Luís Pereira. No entanto, com a eliminação do Brasileiro
e a negociação de Luís Pereira, retorna ao time titular, e nessa
condição atua na conquista da Taça Guanabara. É um dos pivôs
involuntários da demissão de Dino Sani (após uma confusão
envolvendo o jovem Mozer). Com Carpegiani segue titular e capitão,
mas sofre séria lesão no tornozelo na partida contra o Cerro
Porteño em Assunção, que o tira de combate por alguns meses. De
volta no final do ano, já se vê sem espaço diante da ótima fase
de Marinho, Mozer e do jovem Figueiredo, e é negociado com o
Corinthians ainda em 1981, não fazendo parte, portanto, do elenco
durante a disputa dos jogos decisivos da temporada. Após passagem
discreta pela equipe paulista, vai defender o Vasco, também sem
brilho. Encerra a carreira em 1987, atuando pelo Goiás.
FIGUEIREDO
Revelado
nas divisões de base do Palmeiras, chega ao Flamengo ainda
pertencendo aos juniores (hoje categoria Sub-20), onde permanece por
dois anos até ser definitivamente incorporado aos profissionais,
justamente em 1981. Inicia o ano com o status de “quinto zagueiro”
do elenco (atrás de Luís Pereira, Marinho, Rondinelli e Mozer), mas
com a má fase de alguns titulares (Luís Pereira é negociado e
Rondinelli não vem agradando), começa a ganhar espaço. Atua em
algumas partidas da Libertadores e vai tão bem que chega a ser
cogitado para a posição de titular. Com a lesão de Rondinelli,
assume de vez a condição de reserva imediato, frequentando com
notável assiduidade o “onze” titular, a ponto de chegar a
confundir o torcedor acerca de qual seria a dupla de zaga principal
do rubro-negro. Está em campo nos 6-0 contra o Botafogo, nas duas
primeiras Finais contra o Cobreloa e na Final do Estadual contra o
Vasco. Nos anos seguintes segue ganhando espaço até conquistar de
vez a posição de titular em 1983. Mas sua trajetória é
atrapalhada por sucessivas lesões. Falece precocemente aos 24 anos,
num acidente aéreo em dezembro de 1984, tragédia em que também
perece Niltinho, irmão mais velho e procurador do atacante Bebeto.
CARLOS
ALBERTO
O
habilidoso e ofensivo lateral-direito trazido no ano anterior do
Joinville inicia o ano como titular, e assim permanece durante toda a
disputa do Brasileiro, a despeito da ascensão do jovem Leandro, que
vem chamando a atenção e parece pedir passagem. E assim acontece.
Já na Taça Guanabara, Carlos Alberto sofre uma lesão e perde a
vaga para Leandro, para não recuperá-la mais. Mesmo assim, vem
sendo um dos jogadores mais utilizados na trajetória do Flamengo,
inclusive porque também é capaz de jogar na esquerda, substituindo
Júnior. Participando de vários jogos importantes, especialmente se
aproveitando da versatilidade de Leandro (utilizado por Carpegiani
como zagueiro e volante, o que abre vaga na equipe para Carlos
Alberto). É titular, com boa atuação, na controversa partida
contra o Atlético-MG no Serra Dourada, Jogo Extra que decide uma
vaga para as Semifinais da Libertadores. Porém, logo depois, durante
o Segundo Turno do Estadual, sofre séria lesão no joelho, que o
tira do restante da temporada, o que promove a ascensão de Nei Dias.
Carlos Alberto jamais consegue retomar a sequência de jogos pelo
Flamengo, seja por conta da condição de Leandro (que se torna um
dos principais jogadores da equipe), seja pela dificuldade em se
recuperar da contusão (que lhe exige longos meses de tratamento).
Apenas em 1983 volta a atuar com certa regularidade. É negociado com
o Cruzeiro e poucos anos depois encerra a carreira, já no Londrina.
VÍTOR
Se
há algum jogador que pode ser considerado o “décimo-segundo
titular” da equipe, este é Vítor, jogador revelado pelas divisões
de base do Flamengo. O talentoso volante, dono de um futebol
vigoroso, de forte marcação mas dotado de exímia condição
técnica (destaca-se pelo chute forte), é o único reserva do elenco
que é escalado eventualmente por opção do treinador, mesmo sem
nenhum titular lesionado ou suspenso. A qualidade de Vítor é tão
saliente que o jogador, mesmo na reserva do Flamengo, é
sistematicamente convocado para a Seleção Brasileira por Telê
Santana, que ignora solenemente o titular Andrade (aliás, Vítor por
pouco não disputa a Copa de 1982, sendo preterido por Batista, que
se recupera de uma fratura). Assim, Vítor participa de praticamente
todos os jogos do primeiro semestre. Atua em seis das sete partidas
da Primeira Fase da Libertadores, mas logo depois do Jogo Extra
contra o Atlético-MG sofre uma contusão que o afasta do restante da
temporada (o que faz com que Carpegiani aproveite Leandro como
volante em diversos jogos). Retorna apenas em 1982, sempre mantendo o
status de “primeiro reserva”. Irritado por nunca conseguir se
firmar como titular absoluto, consegue ser transferido para o
Atlético-MG em 1984. Ainda atua pelos três rivais cariocas (Vasco,
Botafogo e Fluminense), destacando-se na conquista do Estadual de
1989 pelo alvinegro. Encerra a carreira em 1997.
PEU
Meia-atacante
egresso do CSA, onde se destacou na disputa da Taça de Prata (Série
B) de 1980, é intensamente utilizado durante a disputa do
Brasileiro-81, por conta da disputa das Eliminatórias pela Seleção
(fazendo com que Zico desfalque o rubro-negro). E Peu não
decepciona, agradando com gols e boas atuações, que lhe asseguram a
permanência no elenco para a sequência da temporada. Com o retorno
do Galinho, Peu passa a ser utilizado apenas em momentos esporádicos,
entrando no final de alguns jogos quando se deseja que Zico seja
poupado. Sua participação na campanha de 1981, assim, é bastante
discreta, e Peu é mais lembrado por ser alvo de brincadeiras por
parte do restante do elenco, que se valem de seu temperamento simples
e descontraído. Em 1982, tentando fugir da sombra de Zico, Peu passa
a ser utilizado no comando do ataque, com razoável aproveitamento,
em que pese certa irregularidade. Permanece no Flamengo até 1983. É
emprestado ao Atlético-PR, retorna, e depois é negociado com o
Santa Cruz. Após perambular por diversas equipes, encerra a carreira
no CSA, em 1994.
CHIQUINHO
Ponta-direita
arisco e goleador (embora não muito cerebral e algo inconstante,
capaz de empilhar lances bestas e bestiais), chama a atenção
atuando pelo modesto Olaria, o que faz o Flamengo apostar em seu
futebol, repondo a saída de Luís Fumanchu, que não emplacara no
rubro-negro. Pouco antes de seu primeiro clássico contra o Vasco,
demonstra personalidade: “não vejo nenhum problema em enfrentar o
Vasco. Cansei de fazer gol neles jogando pelo Olaria. Aqui vai ser
até mais fácil”. Chiquinho não marca gol, mas agrada. E chega a
ganhar a posição de titular, mantendo uma sequência de jogos
enquanto Tita, afastado por indisciplina, discute sua situação com
a Diretoria. Com a volta do Camisa 7, Chiquinho retorna à reserva,
onde se mostra um jogador útil, entrando sempre que Carpegiani
precisa de mais contundência no ataque. Participa de praticamente
toda a Libertadores e atua na Final do Estadual. No ano seguinte
lesiona-se e cai de produção. É negociado com o Sport, mas irá se
destacar anos mais tarde, defendendo o Guarani, onde será peça
importante, ao lado de Evair, João Paulo e Ricardo Rocha, no Vice
Brasileiro de 1986. Depois, radica-se no futebol português, onde
encerra a carreira, com 38 anos.
ANSELMO
Revelado
no Flamengo e figura frequente nas convocações para as Seleções
de Base, é uma aposta da Diretoria rubro-negra. No ano anterior, já
demonstrara evolução, marcando gols, alguns importantes. Reserva
imediato de Nunes, participa de algumas partidas no Brasileiro. Mas
se lesiona e perde espaço. Com um jogo mais físico e de pouca
movimentação, tem dificuldades para se adaptar ao esquema de
Carpegiani, que exige deslocamentos permanentes. Assim, praticamente
não joga no segundo semestre, entrando apenas na partida contra o
Wilstermann pela Libertadores, de caráter “amistoso” (o
Flamengo já está classificado para as Finais). Mesmo assim, deixa
sua marca, com um gol no final. Anselmo somente volta a ser lembrado
quando é requisitado nos minutos finais da Decisão da Libertadores.
Sua função: dar um soco e nocautear o zagueiro Mario Soto, que se
dedicara a agredir vários jogadores flamengos no jogo de Santiago.
Executa a instrução, é expulso e vira herói. Mas o lance o
estigmatiza, e Anselmo jamais consegue decolar no Flamengo. Atua no
Brasileiro de 1982, sem brilho, e é negociado. Perambula por várias
equipes, tem excelente passagem no Ceará (onde vira ídolo) e
encerra a carreira atuando no futebol português.
REINALDO
No
Brasileiro de 1980 o Flamengo vai atuar em Recife, contra o Náutico.
No empate de 2-2, a grande figura em campo é o atacante Reinaldo, da
equipe pernambucana, que enlouquece a defesa rubro-negra e encanta o
treinador Coutinho, que pede a contratação do jogador. No entanto,
Reinaldo, já com 28 anos, é pivô de uma briga judicial entre
Santos e Náutico, que disputam seu passe. A confusão dura meses, e
apenas em 1981 o Flamengo consegue trazer o jogador. Driblador e
veloz, Reinaldo é um atacante versátil, capaz de atuar como
centroavante e ponta-direita. Revelado no América-RN, acumula
passagens por Santos e Internacional. No entanto, ao chegar ao
Flamengo sofre com a concorrência de outros atacantes, e não
desfruta, com Dino Sani e depois Carpegiani, do mesmo prestígio que
angariava com Coutinho. Praticamente não é utilizado na trajetória
de 1981 (atua na Segunda Final do Estadual, contra o Vasco). No
Brasileiro do ano seguinte ganha mais chances, e seu grande momento
se dá no Beira-Rio, quando sua entrada é fundamental para virar uma
partida complicada contra o Internacional (marca, inclusive, um gol
na vitória por 3-2). Mas não consegue se firmar, e no segundo
semestre o Flamengo o negocia com o Vila Nova-GO. Pouco depois,
retorna ao futebol potiguar, onde encerra a carreira.
BARONINHO
Uma
das conclusões da Diretoria após a eliminação precoce no
Brasileiro-81 aponta para a necessidade de se contratar um jogador
agudo para a ponta-esquerda. Após a venda de Júlio César “Uri
Geller” para o futebol argentino, a tentativa de fixar Adílio na
função se mostrou infrutífera (muito por conta da resistência do
jogador). Assim, o Flamengo traz do Palmeiras, por empréstimo, o
principal atacante da equipe alviverde, o irrequieto Baroninho, numa
transação que também envolve o zagueiro Luís Pereira (de passagem
esquecível pela Gávea). Forte fisicamente, de grande explosão e
dono de um chute violento, Baroninho é um jogador de notável
presença ofensiva, mostrando índole goleadora. Rapidamente
conquista a posição de titular, que mantém ao longo de todo o
segundo semestre. Marca 9 gols, sendo o mais importante o que abre
caminho para a árdua vitória contra o Wilsterman (2-1) em
Cochabamba, num tiro de longe. No entanto, na reta final da temporada
Carpegiani o saca da equipe, promovendo a entrada de Lico, o que
incomoda e aborrece o jogador. Mas Lico arredonda a equipe, que
cresce assustadoramente de produção, e Baroninho praticamente não
é mais aproveitado. Ao final do ano, o Flamengo não se interessa em
exercer a opção de compra, assustado com o valor do preço do
passe. Baroninho retorna ao Palmeiras e depois vai perambular por
várias equipes de menor porte (a maioria do interior paulista), até
encerrar a carreira, em 1993.
TAMBÉM
ATUARAM
Hamilton
– lateral-direito da base, atua na vitória contra o Campo Grande
(2-1, Terceiro Turno do Estadual), em sua única partida pelo
Flamengo. Mais tarde, radica-se no Mato Grosso.
Manguito
– zagueiro titular no final dos anos 70, retorna de lesão e entra
nos minutos finais da vitória sobre o Campo Grande (3-0, Segundo
Turno do Estadual). Logo depois, entra em um Fla-Flu (1-1, Segundo
Turno do Estadual), em seu último jogo pelo Flamengo. Pouco depois,
é negociado.
Carlinhos
– ponta-direita com passagens por Corinthians e Avaí. Atua contra
Botafogo (1-2) e Campo Grande (2-1), pouco mostra e, sem espaço,
logo é negociado.
Ronaldo
Marques – goleador joia da base, é lançado aos poucos, atuando
pelo Brasileiro. No segundo semestre entra em momentos esporádicos
(participa do 0-0 com o Botafogo que dá o título da Taça
Guanabara). Nos anos seguintes ganha mais chances, mas não
corresponde. É negociado e roda por vários clubes, destacando-se no
Bahia, no Cruzeiro e na Portuguesa.
Edson
– ponta-esquerda baixinho e arisco, revelado na base. Com a venda
de Júlio César, ganha algumas chances no Brasileiro, mas ainda está
novo e “verde”. Estoura apenas em 1983 mas, sem espaço, acaba
negociado. Destaca-se no Cruzeiro e no Coritiba.