sexta-feira, 9 de junho de 2017

O apreço pelo vexame





A barriga pornográfica do Willian Arão é o retrato perfeito da pusilanimidade na condução do futebol do clube





Irmãos rubro-negros,



mais um vexame, mais uma humilhação.

Está evidente para todos que o Zé Ricardo apostou alto na segurança da panela. Apostou e perdeu. Se na minha vida eu vi um técnico paneleiro estragar um trabalho por teimosia e falta de ousadia, foi o Zé Ricardo.

Mas equivoca-se grandemente quem supõe que o maior dos problemas do futebol do Flamengo é o Zé Ricardo.

A questão começa na presidência e na vice-presidência de futebol, passa pelos grupos políticos que apoiam a diretoria, permeia parte da torcida, que bate palminha para tudo, e vai desaguar nos profissionais do departamento de futebol, incluindo o CEO, Fred Luz, o diretor, Rodrigo Caetano e a comissão técnica.

O problema do futebol do Flamengo, antes de tudo, é de mentalidade.

Mentalidade.

Isso se tornou evidente para mim desde 2015.

Um presidente que elogia tudo, ao fim e ao cabo, não elogia nada.

Quantas vezes nesses anos vocês já ouviram a ladainha de que “as cobranças são feitas internamente”, “o trabalho é bom”, “ninguém está conformado”.

Alguém ainda acredita nessas bobagens repetidas e reverberadas amiúde?

Aliás, outro ponto importante, a explicar parcialmente essa vergonha que se tornou o futebol do clube, é o comportamento de parte da torcida rubro-negra.

Para algumas pessoas há um tabu que elas não ousam jamais transpor: criticar a diretoria.

Nunca, jamais, em hipótese alguma, critica-se a diretoria.

Isso faz um mal gigantesco à instituição.

Ladeada pela turma, que não é diminuta, de bajuladores, de lambedores de sola de sapato, a diretoria permanece confortável, segura, autossuficiente, para usar de uma expressão do meu amigo, Gustavo Brasília.

Afora a babação barata, esse pessoal, e aqui a questão ganha contornos realmente graves, satisfaz-se com empate, “porque foi na casa do adversário”; ou, se é na nossa, “porque o adversário é postulante ao título, ou o time estava desfalcado ou era o gramado que estava ruim”.

E tendo assim, por princípio de vida, relativizar vexames, ignorar derrotas e bater palmas para qualquer porcaria que venha da diretoria, essa parte da nossa torcida cumpre, bovina e fielmente, o seu papel de apequenar o Clube de Regatas do Flamengo.

Naturalmente, a diretoria, que já possui forte inclinação para o comodismo, estimulada por esses aduladores, sente-se em plena confiança para prosseguir com a sua política de se conformar tranquilamente com toda sorte de vexames dentro de campo.

Essa mentalidade influencia todo o departamento de futebol, em que a regra sempre é: “está tudo bem, o trabalho é bem feito, precisamos blindar a comissão técnica e o elenco.”

É muito tranquilo trabalhar no Flamengo. Ganha-se muito bem, em dia, e não é necessário entregar resultados. Qualquer porcaria serve. Os empregadores não se impõem como chefes, mas como coleguinhas dos profissionais.

Não vai dar certo nunca, porque não há comando, não há liderança, não há um ambiente que estimule a competição e o melhor de cada um. Está tudo sempre muito bem para o comando máximo da instituição.

Desde 2015 o futebol do Flamengo foi terceirizado ao Rodrigo Caetano.

Quantos técnicos já passaram pelo clube desde 2013? Uma dezena?

E foram treinadores de todas as tendências (novos ou experientes, estudiosos ou motivadores, ofensivos ou retranqueiros). O elenco já foi montado, desmontado e remontado. O Flamengo possui estrutura de ponta, dinheiro, paga os salários em dia e tem uma das mais altas folhas salariais do país.

Por que os vexames se repetem?

Onde realmente está o problema?

Ninguém aparece para se desculpar com a torcida do Flamengo, que nos últimos anos é só sofrimento.

Curioso que após uma vitória ou título, todos fazem questão de posar para foto no gramado, na festinha, aparecer na tv ou dar entrevista. 

Mas quando a crise estoura, quando a incompetência no lidar com o futebol, traduzida em resultados pífios, se torna incontestável, some todo mundo. Não tem um para se apresentar e assumir a bronca.

Assim é fácil, né?

O mais preocupante é que, analisando o quadro político do clube, não há oposição a esse estado de coisas.

Isso é muito preocupante.

O que a diretoria atual quiser, ela aprova. Aprova-se até camisa com listras verticais, cópia simplória de modelos usados por clubes de outros países, em reprovável desrespeito à tradição flamenga.

Perdeu-se o respeito, o orgulho pela instituição.

Retomo o que disse no início: na minha modesta opinião, o Zé Ricardo tem de sair. Ontem. Anteontem, melhor dizendo.

Ele e toda a comissão técnica, inclusive o Jayme de Almeida.

Mozer também. Pode pegar o boné e seguir a vida. Ninguém sabe o que ele faz no clube.

Aliás, o futebol do Flamengo é conduzido de maneira obscura, hermética. Não se sabe o que acontece lá. Mais importante que os resultados e a transparência é a blindagem.

Rodrigo Caetano, Fred Luz e Fernando Gonçalves também já deram a sua importante contribuição para o estado lastimável do futebol do clube.

Olha-se em volta do departamento de futebol do Flamengo e só tem forasteiro, gente de fora, que não tem a menor noção do que é o clube, da sua história e da sua torcida.

Mesmo que saiam todos, porém, o problema persistirá, pois se trata de uma questão de mentalidade.

E assim nós vamos, de vexame em vexame, de humilhação em humilhação, para o quinto ano de gestão.





Abraços e Saudações Rubro-Negras.

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.