segunda-feira, 12 de junho de 2017

Miopia

Salve, Buteco! Mais um empate pelo Campeonato Brasileiro, dessa vez contra o "poderosíssimo" Avaí, enquanto o pelotão da frente cada vez mais se distancia, formado por novos e inesperados candidatos ao título, derrubando os mais prestigiados antes da competição se iniciar. O Flamengo, um dos favoritos que vem decepcionando, repete em inferior patamar de qualidade características do time ao qual faltou fôlego na disputa pelo título durante a reta final do Brasileiro/2016. Para a decepção da torcida, inicia o Brasileiro/2017 tendo uma defesa muito pouco vazada, mas em contrapartida com um ataque ainda menos positivo do que o de 2016.

No primeiro tempo Zé Ricardo, apostando na desgastada dupla de volantes Márcio Araújo e Willian Arão, posicionou-os em linha em um 4-2-3-1, fixando-os na cobertura dos laterais. Márcio Araújo jogou mais à esquerda e Willian Arão à direita. A atuação da equipe foi marcada pela monotonia, com a exceção de uma jogada individual de Everton, interceptada pela zaga catarinense, que impediu a conclusão de Leandro Damião. No segundo tempo Zé Ricardo alterou o esquema para um 4-1-4-1 com a entrada de Mancuello no lugar de Willian Arão. O argentino passou a jogar como meia interno pela esquerda na segunda linha de quatro. O time ficou mais ofensivo, mas o gol só saiu após o adversário abrir o placar em um contra-ataque pelo lado esquerdo da defesa, e depois praticamente nada foi criado, especialmente após a entrada de um segundo centroavante, substituição que não teve o efeito esperado.

A opção de Zé Ricardo por iniciar a partida com um 4-2-3-1 não me surpreendeu, já que era a medida mais conservadora, o que é compatível com o seu perfil e também com sua preferência por formações prioritariamente defensivas. Destaco que Vinicius Jr. me pareceu bem mais a vontade pela esquerda, onde iniciou o jogo, do que na direita, enquanto para Everton, o meia-atacante que mais incomodou a defesa catarinense, a mudança ocorrida ainda no primeiro tempo pareceu ser irrelevante. Observo ainda que Mancuello, embora longe de ser brilhante, rende muito melhor no meio, às vezes caindo pela esquerda, do que na ponta direita.

Todavia, o principal problema segue sendo de ordem tática e não se relaciona com o tipo de formação que Zé Ricardo coloca em campo (4-3-3, 4-1-4-1, 4-4-2 ou 4-2-3-1), mas com sua execução. O time do Flamengo segue sendo estático e previsível quando tem a posse de bola. Acomodado, cede facilmente à marcação adversária, e por isso quando os jogadores de trás (geralmente os zagueiros) tentam sair com a bola apenas enxergam os jogadores de frente marcados e estáticos. Com um ano à frente do Flamengo, Zé Ricardo, que teve a oportunidade de participar do planejamento para a temporada e tempo para fazer o time evoluir, vem produzindo involução.

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Esta reportagem do site Globo Esporte dá conta que atualmente o poder de decisão no âmbito do Departamento de Futebol do Flamengo está concentrado no presidente Eduardo Bandeira de Melo, que acumula a vice-presidência, e Fred Luz. Não é difícil perceber que isso torna Rodrigo Caetano o profissional mais experiente no Departamento de Futebol. Consequência direta desse contexto é a supervisão do trabalho do próprio Rodrigo Caetano ser ineficiente, assim como do próprio Zé Ricardo. Algumas decisões infelizes também podem ser explicadas por esse formato, como por exemplo acreditar que os avanços em infra-estrutura e condições de trabalho deixariam o clube preparado para uma complexa e audaciosa ideia, rarissimamente adotada em clubes de ponta no mundo inteiro, de formar um treinador de primeira linha dentro do Flamengo, iniciando sua carreira no Departamento de Futebol advindo das categorias de base. Muito embora o Flamengo seja um gigante, seu desempenho esportivo no futebol profissional, nas últimas décadas, deixou a desejar, salvo por esporádicos títulos nacionais e um internacional. A ficção embutida no pretenso rápido salto de qualidade é fruto da absoluta incapacidade de se autoavaliar de forma minimamente realista.

Com pouco mais de uma gestão e meia de experiência no futebol, a Diretoria evidentemente se superestima, ilusoriamente enxergando-se muito maior do que é. E como se ilude consigo mesma, por via de consequência enxerga em seus funcionários e suas respectivas decisões méritos em uma escala muito maior do que deveria. Daí advém uma série de erros como superestimar um goleiro de time pequeno, acreditar que um volante ultrapassado e de desempenho limitadíssimo pode ser titular absoluto e líder do elenco; que um razoável volante recém-saído do Botafogo é o novo Elias, com direito a braçadeira de capitão (aconteceu em 2016) e jogador de seleção; que um zagueiro que era reserva no Vasco da Gama pode ser o principal responsável pela saída de bola do time ou que uma "ex-promessa" destaque do Brasileiro de 2012, vindo do Bahia, após quatro temporadas de futebol apagado no clube pode compor um elenco que ambicionava conquistar a Libertadores da América, ainda por cima na condição de uma das principais opções do treinador. E para não dizerem que eu não falei das flores, não é surpresa que enxergue no seu treinador iniciante qualidades de um profissional de ponta e consagrado, bem como em seu trabalho um oásis que na realidade não passa de miragem.

A miopia da Diretoria do Flamengo teria um viés de comédia de pastelão se não atingisse tão duramente os sentimentos da Maior e Melhor Torcida do Mundo. No final das contas, rende somente fracasso e decepção.

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Uma pena que a tão aguardada estreia na Ilha do Urubu se dê em um clima de tanta frustração e desconfiança. Espero que a torcida apoie o time durante os noventa minutos contra a Ponte Preta, adversário difícil nos últimos anos. Que o Flamengo volte ao caminho das vitórias.

Bom dia e SRN a tod@s.