segunda-feira, 5 de junho de 2017

Ideologia

Salve, Buteco! Ainda estamos no começo do campeonato, terminando a 4ª Rodada, mas é inegável o sentimento de frustração da torcida diante do distanciamento do pelotão de frente e da falta de poder ofensivo do time do Flamengo. No 1º Tempo do jogo de ontem, a maior preocupação do time foi neutralizar o poder ofensivo do Botafogo. Leia-se contra-ataques. Realmente a equipe alvi-negra criou duas oportunidades no início da partida, tendo posteriormente sido neutralizada, em parte pela alteração de posicionamento dos volantes determinada por Zé Ricardo. Depois, nem o Botafogo, nem o Flamengo criaram chances de gol até o intervalo. Mas será que isso é suficiente para as ambições e elenco de um clube do tamanho do Mais Querido? Penso que não. Os três jogadores mais defensivos do meio (ou volantes, como queiram) jogaram mal. MA contribuiu muito pouco como um "líbero" na cabeça-de-área, enquanto Cuéllar (mal nos "botes" para roubar bolas) e Arão se perderam na função de auxiliar os laterais para liberar Everton e Ederson no ataque. Arão não marcou e nem executou bem a função de "ponta". O time, como já aconteceu em muitos outros jogos, posicionou-se de forma estática tanto no momento da saída de bola, como no setor ofensivo, perdendo-se na marcação adversária. Ederson e Everton, por isso, tentaram jogadas individuais, mas sem êxito. Percebam que o problema não está apenas no desenho tático e na escalação, mas na forma do time se postar e se movimentar dentro de campo.

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No segundo tempo o Flamengo melhorou, primeiro com a entrada do Diego no lugar de um dos volantes, Cuéllar, que já tinha cartão amarelo. É óbvio que a qualidade individual de Diego também ajudou muito, além da mudança tática, e o time ganhou outra feição com a entrada de Vinicius Jr. no lugar de Ederson. O jovem de apenas 16 (dezesseis) anos mostrou, na minha opinião, que tem talento superior até mesmo aos de Diego e Guerrero. Deve ser titular? Até acho que sim, mas será compreensível se houver oscilação no nível das atuações devido à pouca idade.

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O Flamengo do segundo tempo, longe de ser brilhante e apesar da desorganização, teve mais cara Flamengo. Flamengo é sinônimo de ofensividade, de busca incessante pelo gol, de amor pelas vitórias e conquistas. Flamengo não é retranca. Tem a maior torcida do mundo por sua vocação pela busca do gol e não por ocasionalmente, em sua história mais do que centenária, ser treinado por um ou outro medroso e adepto a retrancas. Negar a vocação ofensiva do Flamengo é ignorar sua história, inclusive no estádio mais tradicional do mundo, o Maracanã.

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Oportunidades incríveis foram perdidas no segundo tempo? Sim, por Guerrero e Everton (lindo passe do Trauco!), mas só foram criadas porque o esquema tático era ofensivo. Não dá pra comparar seriamente com o que (não) foi produzido no primeiro tempo. Aliás, como me disse outro dia o meu amigo @bcbfla, o elenco do Flamengo parece ter sido montado para outro tipo de jogo. Voltando um ano e meio no tempo, quando Muricy Ramalho chegou, o discurso era de futebol ofensivo, moderno, Barcelona, mesmo esquema para o profissional e base, blá, blá, blá. O ex-treinador tentou, mas não conseguiu transformar o discurso em prática. Zé Ricardo assumiu, em alguns jogos até executou o plano de seu antecessor, mas pouco a pouco implementou um estilo de jogo totalmente oposto. Veio 2017 e o Flamengo é cada vez mais preocupado em impedir o adversário de jogar do que ele próprio se impor dentro de campo.

Zé Ricardo montou um time que neutraliza as ações do adversário e que ganha o jogo em poucas bolas decididas por seus maiores talentos individuais, já que a criação e o setor ofensivo não são prioridade. A ideia segue a tradição dos treinadores brasileiros influenciados pela escola italiana a partir do final dos anos 80 e início da década de 90. O problema dessa concepção tática é que não existem mais na América do Sul, e portanto no Brasil e no Flamengo, jogadores do porte de Zico, Romário, Adriano e outros (ficando só na história do Mais Querido). Se Diego e Guerrero estivessem nesse patamar, ainda estariam jogando na Europa. Guerrero sobe de produção e se transforma em um centroavante acima da média no continente sul-americano quando joga em uma formação ofensiva, apoiado por jogadores com a mesma vocação. Em um esquema defensivo, e isolado no ataque, nada produzirá sozinho. Discordem a vontade, mas Fred ou Lucas Pratto no mesmo esquema tático também não resolveriam.

Dizem que o Everton Ribeiro está por chegar, mas prefiro ser prático e opinar de acordo com o que realisticamente se tem no elenco de hoje. Como venho escrevendo neste espaço há bastante tempo, as convicções do Zé Ricardo, que está devendo, são conservadoras e propensas a um estilo de jogo mais defensivo. Até mesmo algumas de suas escolhas são altamente questionáveis. A preterição de Felipe Vizeu em favor de Leandro Damião, seja por qual motivo for, é o melhor exemplo, pois definitivamente o critério técnico não é privilegiado, por mais que o nosso treinador diga o contrário.

Minha opinião se baseia nos fatos: em jogos grandes, com os "três volantes", o Flamengo venceu apenas duas vezes, ambas no Estadual, uma na semifinal contra o próprio Botafogo cansado de jogo pela Libertadores e viagem a Quito (Equador), e uma das partidas da final contra o Fluminense. Na Libertadores foram duas derrotas; no Brasileiro um empate. Ontem, cerca de 60 minutos (até entrada do Diego) e mais dois pontos perdidos jogando com essa formação. No Brasileiro são apenas dois gols sofridos, mas dos cinco marcados três foram contra o Atlético/GO e apenas um como mandante em dois jogos, para quem não se lembra, em um golpe de sorte de Matheus Sávio contra o Atlético/MG, que dominou boa parte do jogo. O Flamengo precisa de muito mais apetite por vitória para ser campeão brasileiro. Até mesmo a vaga na Libertadores ficará em risco se tudo continuar como está.

Albert Eistein deixou claro, na metade do Século XX, que é insanidade esperar resultados diferentes continuando a fazer o mesmo. Insistir no erro seria o que, na opinião de vocês? Insegurança, inexperiência?

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Quarta-feira enfrentaremos a "Cachorra-de-Peruca" na Ilha do Retiro pelo Brasileiro. Mandem suas escalações e ideias para esse confronto no qual os 3 (três) pontos serão fundamentais.

Bom dia e SRN a tod@s.