Chega ao Flamengo em 2007.
Vem indicado pelo treinador Ney Franco, juntamente com outros atletas egressos do Ipatinga FC, Campeão Mineiro de 2004 e Semifinalista da Copa do Brasil do ano anterior. Além dele, em momentos diferentes, desembarcam na Gávea o meia Walter Minhoca, os volantes Leandro Salino, Paulinho e Léo Medeiros, o lateral Luizinho, o zagueiro Irineu e o atacante Diego Silva. Grupo apelidado jocosamente de “República do Pão de Queijo”.
Nenhum
conseguirá mostrar condições de desenvolver uma longa sequência
como titular.
Exceto
ele. Justamente o menos cotado.
No
início, mantém-se na reserva de uma equipe montada com três
volantes (Paulinho, Claiton e Renato Abreu). Entra esporadicamente em
uma ou outra partida, normalmente com a função de segurar alguma
vitória, papel revezado com Toró e Léo Medeiros, num setor onde se
vislumbra forte concorrência e aridez de talento.
O
Flamengo, apesar de uma campanha discreta, conquista o Estadual. Na
Libertadores faz Primeira Fase melhor que o esperado, mas sucumbe
diante do subestimado Defensor-URU. A derrota abate a equipe, que
inicia muito mal o Brasileiro (o que se agrava com a saída de Renato
Abreu, em grande fase, negociado com o exterior). Desgastado e já
vivendo atritos com o elenco, Ney Franco não resiste à péssima
campanha e é demitido com a equipe na Zona de Rebaixamento.
Assume
Joel Santana, que logo identifica severos problemas no sistema
defensivo. Afasta alguns zagueiros, recebe reforços e remonta a
equipe. Mantém a ideia do antecessor de utilizar os laterais Léo
Moura e Juan como os pilares ofensivos do time, mas cria um cinturão
no meio-campo para que a dupla possa atuar com inteira liberdade. É
um meio-campo com nada menos que quatro volantes (Rômulo, Cristian,
Toró e Ibson). Nasce a Tropa de Elite.
Com
o novo conceito de montagem da equipe, o volante enfim começa a
ganhar oportunidades. Seu futebol duro, fortemente físico e de viva
aplicação tática agradam o novo treinador, que o “promove” a
reserva imediato. O volante começa a frequentar o time quando algum
dos titulares se lesiona ou está suspenso.
Na
reta final do Brasileiro, o jovem volante Rômulo sofre séria lesão.
É a chance que enfim surge.
JAILTON é o novo membro da Tropa de Elite. E, como titular, ajuda a equipe a
conquistar a vaga para a Libertadores, numa façanha espetacular e
inimaginável meses antes.
No
ano seguinte, o Flamengo pensa em conquistar a Libertadores e o
Brasileiro. Avalia-se a necessidade de se contar com peças que dêem
mais opções ofensivas. Entende-se que, apesar de muito bem
executado, o Esquema da “Tropa de Elite” é previsível. Assim,
desembarcam jogadores como o volante Kleberson (de futebol mais
técnico) e os atacantes Diego Tardelli e Marcinho, entre outros
reforços para composição do elenco.
A
chegada dos reforços sacrifica um dos volantes. E o “escolhido”
é exatamente Jaílton, que perde a vaga de titular, em uma
formação-base que conta com Cristian, Toró, Ibson e Kleberson. No
entanto, recupera a vaga na reta final do semestre, quando Joel opta
por formações mais conservadoras. O Flamengo conquista o Bi
Estadual ao bater novamente o Botafogo nas Finais, mas protagoniza um
dos maiores vexames de sua história, ao perder de forma
inacreditável a vaga nas Quartas-de-Final da Libertadores para o
América-MEX, em partida que assinala a despedida de Joel Santana,
que assume a Seleção da África do Sul.
O
novo treinador, Caio Júnior, chega com a intenção de montar uma
equipe fundamentada numa
filosofia de jogo mais moderna, baseada na posse de bola e marcação
alta, sem abrir mão de um jogo veloz e intenso.
Mantém boa parte da base deixada por Joel, mas traz Renato Augusto
para o meio-campo (o jogador, com Joel, atuava como falso atacante,
opção muito criticada pela torcida) e passa a utilizar dois
atacantes de ofício (Marcinho ou Tardelli juntamente com Souza). Com
isso, resolve montar um sistema defensivo mais pesado, e com isso
mantém Jailton na equipe. Com um meio-campo formado por Jailton,
Ibson, Kleberson (Cristian) e Renato Augusto, o Flamengo voa nas
rodadas iniciais e assume a liderança isolada do Brasileiro,
praticando um futebol vistoso e extremamente eficiente.
Os
problemas começam na janela de transferências.
O
Flamengo perde de uma só vez seu tripé ofensivo (Renato Augusto,
Marcinho e Souza). Vê Caio Jr. ser assediado por uma suposta oferta
do futebol árabe, e equipara seus vencimentos aos de treinadores de
primeira linha. O volante Cristian entra em choque com o treinador e
é negociado com o Corinthians. O atacante Diego Tardelli, que já dava
mostras de não conseguir assumir a responsabilidade de, sozinho,
comandar o ataque rubro-negro, sofre séria lesão e se afasta por
três meses. Com tantos problemas, o rendimento do Flamengo desaba, e
o clube vive uma penosa sequência de sete jogos sem vitórias, o que
provoca uma crise quase incontrolável.
Já
sem muita paciência e traumatizada com o vexame na Libertadores, a
torcida reage com fúria. Entre vaias ostensivas, críticas
estridentes e mesmo uma invasão à Gávea em que chega a atirar
bombas no campo de treinamento, a massa avisa que o copo transbordou
e a paciência está no fim.
Nesse
contexto, rapidamente aparece o bode.
Outros
nomes já haviam ensaiado exercer o papel expiatório tão comum nos
momentos difíceis. Juan (sempre criticado), Kleberson (tido como
“sem sangue”), Toró (pela insipiência técnica de seu jogo) e
mesmo Bruno (por algumas falhas em jogos pontuais) andaram roçando o
papel de vilões, mas o “eleito” pela torcida é mesmo Jailton.
Não
sem fundamento.
Com
efeito, nos tempos da “Tropa de Elite”, em que o time praticava
um futebol de transpiração, as limitações técnicas do volante eram mitigadas pelo próprio perfil do “onze” titular. Sob Caio
Júnior, cuja proposta é um jogo mais de toque de bola, voltado para
o gol, a relação estritamente formal de Jailton com a bola passa a
ser mais exposta. Com sólidas dificuldades para executar passes simples e mesmo
dominar uma bola, o volante, até então, justificara sua presença
no time titular pelos bons números defensivos (é o líder de
desarmes da equipe no Brasileiro). No entanto, Caio Jr, buscando
encontrar alternativas para a falta de opções ofensivas do
Flamengo, agora recua Jailton para a zaga, formando um esquema com
três zagueiros com a ideia de voltar a usar os laterais Léo Moura e
Juan como o esteio ofensivo do time.
O
resultado é desastroso.
Sem
o menor cacoete para atuar na zaga, Jailton se atrapalha na execução
de noções básicas de combate e cobertura. Erra vários botes. É
envolvido no combate direto a atacantes mais velozes e ágeis.
E
passa a falhar sistematicamente.
Erra
contra Vitória, Palmeiras, Goiás, Santos, Portuguesa, Fluminense.
Falhas que tiram pontos preciosos da equipe. Erros que não passam
despercebidos por uma torcida ansiosa por uma cabeça que possa
pregar em uma estaca. E tem início um verdadeiro massacre.
Jailton
é ostensivamente vaiado sempre que entra em campo. É vaiado ao
tocar na bola. Vaiado ao dar um carrinho. Escorraçado ao menor erro.
A rejeição ao volante é verborrágica e logo transborda as quatro
linhas. Comentaristas esportivos analisam a função tática do
jogador, e muitos engrossam as críticas da torcida. Irritado, Caio
Jr reage mencionando a “ignorância alheia” para defender a
escalação do jogador. Encontra coro nos líderes do elenco, como
Bruno e Fábio Luciano, que se referem a Jaílton como “o ponto de
equilíbrio da equipe”.
No
entanto, levantamento feito pelo Jornal O Globo na reta final do
Brasileiro apura que, dos 43 gols sofridos pelo Flamengo até então,
Jailton pode ser responsabilizado direta ou indiretamente por 22
deles. Números acintosos, incompatíveis com a condição de “ponto
de equilíbrio” imputada pelos colegas. Aliás, a manutenção do
volante entre os titulares se torna tão inexplicável que logo
espocam teorias acerca de influências externas para a escalação do
jogador, especialmente por parte dos líderes do time sobre o jovem e
pouco hábil treinador. Com efeito, Jailton é daqueles que “correm
pros outros”, executando o serviço sujo, algo particularmente
importante numa formação desequilibrada, com um meio-campo leve,
laterais que não marcam e zagueiros veteranos.
Chegam
reforços para reposição. Os atacantes Marcelinho Paraíba,
Vandinho e Fernandão. Os meias Fierro, Everton e Sambueza. O lateral
Eltinho e outros menos cotados. O time reage, volta a vencer jogos e
se aproxima do topo da tabela. Jailton vive um breve momento de
redenção, ao marcar, de cabeça, o gol da vitória contra o
Atlético-PR, quebrando o incômodo jejum de sete jogos. Na
comemoração, é puxado pelos companheiros, que impedem que vá
comemorar junto à torcida.
Mas
o novo Flamengo de Caio Júnior está longe da equipe azeitada do
início da competição. É frágil defensivamente. Marca e sofre
muitos gols. Não transmite, em nenhum momento, a sensação de que
será um sério postulante ao título. No entanto, a vaga para a
Libertadores, destinada aos quatro primeiros colocados, parece um
objetivo bem mais viável.
Mas
Jailton continua falhando e acumulando atuações ruins. E a
irritação da torcida aumenta quando se percebe que seu reserva
imediato, o jovem volante Airton, demonstra nítida superioridade em
capacidade técnica e tática. Com Aírton, a equipe é mais bem
defendida e funciona com mais fluidez no meio. Aírton está em campo
nas melhores partidas do Flamengo na competição, a contundente
vitória sobre o Vasco (3-1) e as goleadas sobre Coritiba (5-0) e
Palmeiras (5-2).
No
entanto, Caio Jr. não dá o mais remoto sinal de que pretende
promover mudanças no setor defensivo. O Flamengo segue sua
instabilidade, exposta em uma crua estatística. Nas últimas seis
partidas do Brasileiro, sofre assombrosos 15 gols. Uma inacreditável
média de 2,5 gols sofridos por jogo. Alguém vaticina: “Caio Jr e
Jailton vão morrer abraçados”.
Numa
delas, a partida que efetivamente define a sorte do Flamengo na briga
pela vaga na Libertadores, o rubro-negro, em 35 minutos, abre 3-0
contra um desinteressado Goiás, no Maracanã. A partida parece
tranquila, mas Jailton comete um pênalti infantil ainda na primeira
etapa. O volante falha novamente antes do intervalo, e, na segunda
etapa, o Goiás chega ao vergonhoso 3-3 que virtualmente elimina o
Flamengo da disputa pelo torneio continental.
Ratificada
a desclassificação na última rodada (constrangedores 3-5 na Arena da
Baixada, jogo em que Jailton comete mais um punhado de falhas), a
Diretoria do Flamengo acena com um discurso de mudanças e
reformulação. O treinador Caio Jr é demitido. Jailton não tem seu
contrato renovado. Vai atuar no Fluminense, onde se lesiona. Acaba
transferido para o Coritiba, onde participará da campanha do
rebaixamento da equipe paranaense para a Série B. O goleiro Bruno e
o capitão Fábio Luciano, principais líderes do elenco, são
mantidos.
E
o vaticínio se consuma.