sexta-feira, 19 de maio de 2017

Mentalidade







Irmãos rubro-negros,


de quem é a culpa? Do presidente? Do Vice-presidente de futebol? Do diretor de futebol? Do gerente de futebol? Do técnico? Dos jogadores? Do departamento médico?

Enfim, culpados não faltam.

Podemos, portanto, fazer nosso próprio Holodomor, a nossa perseguição aos kulaks e aos opositores do regime, ou, melhor dizendo, aos culpados por mais um vexame inaceitável.  

Mais que indicar nomes, contudo, gostaria de refletir sobre o contexto, sobre o que deseja o Clube de Regatas do Flamengo.

E quando penso nisso, percebo que, antes de tudo, o clube precisa mudar a sua mentalidade.

Sim, mudar a mentalidade, de alto a baixo. Mudar para uma mentalidade vencedora, porque essa visão conformista, que se resigna com derrotas e vexames tem impregnado o clube nos últimos anos.

Com apoio no ótimo trabalho feito fora de campo, vergonhas são relativizadas e a humilhação passa a ser a tônica.

Essa mentalidade pouco assertiva, que se acostuma com o revés e aceita passivamente as maiores infâmias, tem se espraiado para todo o futebol do clube, com tristes reflexos dentro de campo.

É evidente que o elenco possui severas carências e que isso, cedo ou tarde, iria trazer consequências.

Para além de nossas deficiências técnicas, chamo atenção para necessidade do clube refletir sobre o que deseja para si.

O que o Flamengo almeja?

Porque com essa visão de que "está tudo bem" e de que “vamos melhorar da próxima vez, vamos consertar os erros, é só uma derrota", não chegaremos longe.

Essa mentalidade afeta diretamente o futebol, que acaba por se comportar de maneira hesitante, fragilizada, embora eu não tenha visto corpo mole recentemente.

A verdade é que o time na quarta-feira se acovardou, parou de jogar, deu campo e bola para o adversário e foi castigado por isso. 

Não se trata apenas de técnico, estrutura e elenco, embora reforços de qualidade sejam imprescindíveis, mas também de mentalidade.

Vou pontuar essa questão da mentalidade sob o prisma muito específico da Libertadores deste ano.

Mentalidade fraca que se revela na falta de prioridade.

Amigos, nosso elenco é heterogêneo; o time titular é bom, com dois foras-de-série, Guerrero e Diego, mas quando precisa do banco para modificar um panorama ou manter uma postura favorável, é uma lástima.

Mesmo o time titular do Flamengo, para jogar realmente bem, precisa estar concentrado e focado, entregando o máximo dentro de campo.

Qualquer distração e, podem notar, o rendimento cai.

O time ainda possui uma deficiência grave, que é a enorme dificuldade de traduzir em gols as oportunidades criadas.

Isso é fatal em um futebol no qual a eficiência, em todos os setores, é a regra básica.

Tudo isso serve apenas para ressaltar o que eu disse acima, de que o grande problema é a mentalidade pequena que assola a instituição.







E por que digo isso?

Meus amigos, vocês notaram quantos jogos decisivos o Flamengo disputou desde a semifinal do Campeonato Carioca com o Botafogo?

Entre Carioca, Libertadores, Copa do Brasil e Brasileiro?

Os jogadores são esforçados, mas como evidenciado em várias ocasiões, precisam estar inteiramente dedicados a um jogo, a um objetivo.

No que se alarga o horizonte, aumenta-se também a possibilidade de um fracasso.

Times limitados são assim. Precisam traçar um objetivo, fechar os olhos ao resto e seguir firme na direção pretendida.

Daí eu lhes pergunto: qual era o grande objetivo do Clube de Regatas do Flamengo neste primeiro semestre?

A classificação para as oitavas-de-final da Taça Libertadores da América.

Esse era o grande objetivo.

Mas o que o clube fez quanto a esse objetivo?

Repartiu-o, fragmentou-o e dividiu a sua atenção com a disputa do Campeonato Carioca.

O Flamengo vem de uma sequência muito intensa de jogos decisivos. Um após o outro.

Por que tirar o foco da disputa principal e arrefecer o ânimo na Libertadores em favor da final do Carioca?

Não tenham dúvidas de que jogador não é uma máquina ou interruptor de luz, que basta apertar o botão para ligar e desligar.

A cabeça, as emoções de um título, o cansaço físico e mental cobram um preço; e no nosso caso, esse preço foi bastante alto.

O Flamengo jogou o primeiro jogo da final do Carioca, jogou pela Libertadores no meio de semana, jogou o segundo jogo da final do Carioca, estreou na Copa do Brasil, em seguida no Brasileiro e, logo depois, foi disputar a sua mais importante partida no semestre, quiçá no ano.

Tudo isso num espaço de quinze ou dezoito dias, sem olvidar que no meio disso houve as comemorações e a ressaca pelo título do Campeonato Carioca.

É razoável supor que em um contexto como esse, e sem seu principal articulador de jogadas, o time, que já é limitado, conseguiria render o máximo na quarta-feira?

Reparem, amigos, que dos seis jogos que o Flamengo fez pela Libertadores, o time foi superior ao adversário em cinco.

O único em que jogamos mal e sofremos pressão foi o último. O time na quarta-feira não apenas recuou demasiadamente, mas abdicou de jogar futebol. O segundo tempo quase inteiro foi disputado na nossa intermediária. É facilitar muito para o adversário.

Isso foi coincidência?

Será coincidência o fato de que, salvo o Atlético-MG e a Chapecoense, todos os brasileiros classificados ou ignoraram ou foram eliminados precocemente no Estadual, podendo assim se dedicar integralmente à Libertadores?

Temos um exemplo no nosso próprio grupo: um time inferior ao nosso classificou-se, tendo ignorado o Estadual.

Será coincidência o fato de que em 2007, 2008, 2010 (não vencemos, mas disputamos pra valer e fomos para a final), 2014 e em 2017, o Flamengo conquistou o Campeonato Carioca, sempre disputando em paralelo com a Libertadores e em todos esses anos fomos eliminados de modo lamentável na competição continental?

Se a Libertadores era realmente o objetivo principal, deveria ser tratada como tal.

O jogo de quarta-feira era uma verdadeira final. Mas preferiu-se sacrificar a potencialidade máxima para esse jogo diluindo a atenção, o esforço e a dedicação com o Campeonato Carioca.

Talvez perguntem: “mas qual era a garantia de que poupando os titulares no Carioca, o time obteria a vaga na Libertadores?”

Respondo: nenhuma. Nenhuma garantia.

Mas uma certeza se teria: o clube, a instituição fez o seu melhor, fez tudo o que podia, tudo o que estava ao seu alcance para proporcionar todas as condições de classificação para a próxima fase da Libertadores.

“Vencendo ou não, o Flamengo fará de tudo para conquistar a Libertadores e nada, nem nenhuma outra competição ou disputa, atrapalhará esse objetivo.”

É a isso que me refiro: tomar uma decisão, respeitá-la de verdade e não ceder, mesmo diante de uma tentadora possibilidade de êxito, ainda mais se for um êxito efêmero, como é o Carioca, cuja alegria para nós não durou nem quinze dias.

Alguém acha que o título do Carioca amenizará as críticas?

Nao creio. No meu caso, aliás, é motivo para reverberá-las ainda mais, porque vejo que houve, nem que seja do ponto de vista do foco e do físico, um prejuízo evidente à disputa da Libertadores.

Prejuízo que nossa história recente demonstra que é real, mas foi solenemente ignorado.

Bem, diziam que a diretoria, o time e o Zé Ricardo precisavam de um título para tirar a pressão e o Carioca atenderia a esse desiderato.

Infelizmente, não foi esse o efeito e a pressão agora será maior que nunca.








Abraços e Saudações Rubro-Negras.

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.